Conferência VII
A MONOGAMIA EXIGE A FIDELIDADE CONJUGAL.
Parte 3/5
É preciso que o casamento seja monogâmico, pois a monogamia faz brotar a flor mais bela do matrimônio: a fidelidade conjugal.
A fidelidade absoluta guardada reciprocamente pelos esposos até o túmulo é, de uma parte, um mandamento expresso de Cristo e, de outra parte, é também a prova do amor mais terno, e da maior generosidade, e a flor mais santa da vida conjugal. É isto um fato bem conhecido, uma verdade tão evidente, que dispensa outras explicações.
A - Infelizmente precisamos insistir sobre um outro ponto da questão. É que se ouvem, muito frequentemente em nossos dias, palavras como estas: "Tudo isto é muito bonito. Mas não será ingenuidade falar, hoje, em fidelidade até o túmulo... Pode-se, mesmo, guardar ainda esta fidelidade conjugal?"
a - É assim que se põe a questão, e ao mesmo tempo se dá esta resposta: "A fidelidade perfeita, a monogamia total, o homem de hoje não a pode observar. Há os que a admitem, o os que não a admitem, poucos os que a observam... "
Não nos envergonhamos ouvindo semelhante coisa? ouvindo tais afirmações frívolas nos lábios da "gente do mundo", e de "gente sensata?" Homens que por coisa alguma diriam, por exemplo: "A fraqueza perfeita, a lealdade absoluta em negócios, a honestidade em questão de dinheiro, nada disto se pode observar. Há os que admitem, e há os que não a admitem, pouco os que a observam".
b - Quantos alaridos se alguém aventurasse tal opinião! Pois tocar no dinheiro de outrem não é lícito. Mentir e faltar a sua palavra não é permitido. Mentir, porém à sua esposa, faltar à palavra que se empenhou, e arruinar a felicidade de uma outra família, será permitido? "Como se faria bem, escreve uma mulher a quem uma secretária roubara seu marido, como se faria bem, explicando a estes gangsters, que roubar o esposo de uma outra é um pecado maior, um crime mais desprezível que roubar seu dinheiro".
Tem perfeitamente razão esta pobre mulher. Não é uma inconsequência funesta, que ninguém tenha ideia de defender o roubo ou a mentira, e no entanto tenta-se, com a alma tranquila, subtrair as questões sexuais ao âmbito da lei moral.
Com efeito, o sexto mandamento nada mais é que a aplicação da honestidade do domínio sexual, como no domínio da justiça, no sétimo, e no domínio da verdade, no oitavo, domínios onde a honestidade é tida por todos como evidente e natural.
Que responderemos à questão: Pode-se observar a fidelidade conjugal, como Deus a prescreveu?
Pode-se guardar a fidelidade conjugal até o túmulo, mas aquele que quer guardá-la deve evitar tudo o que possa dificultar a sua observância e fazer tudo para facilitá-la.
B - Aquele que quiser guardar a fidelidade conjugal deve evitar tudo o que possa dificultar sua observância.
a - Torna-se difícil a fidelidade conjugal, por uma conduta leviana, por divertir-se com a tentação e a imaginação desregrada. "Principiis obsta!" Resisti desde o primeiro instante, e lembrai-vos do aviso severo de Nosso Senhor Jesus Cristo, no sermão da montanha: "Quem olha para uma mulher, para cobiça-la, já adulterou com ela, no coração!" (Mt 5, 28).
Poder-se-á dizer, talvez: "É um modo de ver muito severo". "Um pecado de pensamento não pode ser tão grave como um de ação".
Examinemos a profunda psicologia do Salvador nesta questão. A essência do pecado consiste sempre na determinação da vontade, e não no gesto exterior, na execução. Aquele que voluntariamente se ocupa com pensamentos imorais, que entretém desejos e sentimentos culpáveis, esta num declive do qual não se pode afastar.
Por que não pode afastar-se? Porque o processo psicológico, por ordem de sua natureza, contínua a agir; a imaginação cientemente excitada irrita o sistema nervoso, e o sistema nervoso abalado exige o pecado.
b - Pode-se guardar a fidelidade conjugal? Sim, caso não se torne difícil a lei, pela sua própria cegueira, leviandade ou frivolidade. Pode-se guardá-la, caso não se esqueça do aviso de São Pedro: "Sede sóbrios e vigiai porque vosso adversário, o diabo, rodeia-vos como o leão que ruge, procurando alguém para devorar" (1 Ped 5, 8). Como este aviso é bastante oportuno! Como seria pequeno o número dos lares destruídos, como seriam diminutos os pecados cometidos contra a fidelidade conjugal, se estas palavras do apóstolo ecoassem aos ouvidos, ao menos daqueles que, não as leviandades, mas as obrigações, os deveres, os trabalhos de vida expõem a este perigo!
Se elas ecoassem aos ouvidos de chefes de escritório, dos diretores, dos patrões, que durante todo o ano se assentam a uma escrivaninha, onde há uma datilógrafa ou contadora, ou uma secretária... O trabalho vos reuniu no mesmo escritório, mas, atendei, nunca estais sós os dois, há sempre um terceiro, em um canto, o diabo, "procurando, como o leão que ruge, alguém para devorar".