31 de maio de 2009

Comentário à Missa do Domingo de Pentecostes

DOMINICA PENTECOSTES
Hoc est quod dictum est per prophetam Joël

Eis realizada a profecia de Joel: o Espírito Santo desce sobre Maria e os Apóstolos; e as maravilhas de Deus vão ser pregadas no mundo inteiro.


COMENTÁRIO DA SANTA MISSA DE PENTECOSTES

Por: Dom Gaspar Lefebvre, OSB


O dom do Espírito Santo fora anunciado pelos profetas para os tempos messiânicos. A sua descida sobre os Apóstolos é o pórtico desta era nova. Funda-se, então, a Igreja, e é-lhe conferido o Espírito de Cristo, para renovar a face da Terra. A narrativa dos Atos recorda os acontecimentos do dia de Pentecostes: a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos e os fenômenos que a acompanham, particularmente o milagre das línguas, símbolo da Missão Universal dos Apóstolos. Todas as nações são chamadas a ouvir a proclamação da Boa Nova.

A esta presença do Espírito Santo, que inspira e dirige a Igreja, na sua Missão de pregar o Evangelho até aos confins do mundo, acresce uma outra presença mais intima e mais pessoal, que faz dos Apóstolos homens novos, transformando-lhes a própria natureza. A Seqüencia da Missa e o hino de Vésperas descrevem e evocam esta ação penetrante do Espírito Santo no coração dos fiéis. A Leitura do Livro dos Atos durante toda a Oitava, mostrará esta dupla ação do Espírito Santo na Igreja e na alma dos crentes.

Símbolos da Fé - 8ª Parte

ANASTÁSIO I: 27 DE NOV. 399 – 402 (19 DEZ. 401?)


I Sínodo de Toledo, set. 400 (405?)

...


a) ...


b) “Symbolum Toletanum I” 9400) e sua forma longa, chamada “Libellus in modum Symboli”, do bispo Pastor de Palência (447)


Profissão de fé contra os erros dos priscilianos

Cremos no único Deus verdadeiro, Pai e Filho e Espírito Santo, que fez as coisas visíveis e invisíveis, por quem tudo foi criado no céu e sobre a terra. Este é o único Deus e esta é a única Trindade do nome divino [da divina substância]. (Cremos que) o Pai [porém] não é o Filho mesmo, mas há um Filho que não é o Pai. O Filho não é o Pai, mas é Filho de Deus por natureza [pela natureza do Pai]. E o Espírito é o Paráclito, e não é nem o Pai nem o Filho, mas procede do Pai [e do Filho]. O Pai é, portanto, não-gerado; gerado é o Filho; não gerado é o Paráclito, mas procede do Pai [e do Filho]. É do Pai a voz ouvida nos céus: Este é meu Filho amado, no qual me comprouve: a este [a ele] escutai [Mt 17,5; 2Pd 1.17; cf. Mt 3,17]. É o Filho quem diz: Eu saí do Pai e vim de Deus a este mundo [cf. Jô 16,28]. O próprio Paráclito [o Paráclito Espírito] é de quem o Filho diz: Se [eu] não vou para o Pai, não virá a vós o Paráclito [Jô 16,7]. Esta Trindade, distinta pelas pessoas, (é) uma substância única [unida], força, poder e majestade [na força, poder e majestade] indivisível e sem diferença; [cremos] que fora dela [desta] não haja natureza divina ou de anjo ou de espírito ou de qualquer força que se creia seja Deus.

Portanto, este Filho de Deus, Deus, nascido do Pai antes de qualquer início, santificou, no útero da bem-aventurada Virgem Maria [o útero de Maria virgem], e assumiu dela um homem verdadeiro, gerado sem sêmen do homem [viril]; [encontrando-se duas naturezas, isto é, a da divindade e a da carne, totalmente em uma única pessoa,] isto é, o Senhor [nosso] Jesus Cristo. [E] não um corpo imaginário ou composto só de forma [de alguma aparição], mas sólido [e verdadeiro]. Também [-!] teve fome e sede e sentiu dor e chorou e sentiu dor e chorou e sentiu todas as feridas do corpo [suportou todos os agravos do corpo]. Finalmente foi crucificado [pelos judeus], morto [-!] e sepultado, [e] ressuscitou ao terceiro dia; permaneceu depois com [seus] discípulos, ao quadragésimo dia [depois da ressurreição] subiu aos céus [ao céu]. Este filho do homem é chamado também “Filho de Deus”; o Filho de Deus, porém, é chamado “Deus”, não “filho do homem” [o Filho de Deus, porém, é chamado Deus, filho do homem].

Cremos na ressurreição [futura] da carne humana. Afirmamos que a alma do homem não é substância divina ou parte de Deus, mas criatura que, não por vontade divina, caiu [chamamo-la de criatura que por vontade divina foi criada].

1. Se alguém, portanto [porém], disser e [ou] crer que este mundo e aquilo que o adorna não foi feito por Deus onipotente, seja anátema.
2. Se alguém disser e [ou] crer que Deus Pai é o [próprio] Filho ou Paráclito, seja anátema.
3. Se alguém... crer que Deus Filho [o Filho de Deus] é o próprio Pai e o Paráclito, seja anátema.
4. Se alguém... crer que o Espírito [-!] Paráclito é o Pai ou o Filho, seja anátema.
5. Se alguém... crer que o homem Jesus Cristo não foi assumido pelo Filho de Deus [só a carne sem uma alma foi assumida pelo Filho de Deus], seja anátema.
6. Se alguém... crer que o Filho de Deus padeceu enquanto Deus [Cristo não podia nascer], seja anátema.
7. Se alguém... crer que o homem Jesus Cristo foi homem impassível [a divindade de Cristo foi mutável ou passível], seja anátema.
8. Se alguém... crer que o Deus da antiga Lei seja diferente daquele dos Evangelhos, seja anátema.
9. Se alguém... crer que o mundo foi feito por um outro Deus que [e não] por aquele de quem está escrito: No princípio Deus fez o céu e a terra [cf. Gn 1,1], seja anátema.
10. Se alguém... crer que os corpos humanos depois da morte não ressuscitarão [ressuscitam], seja anátema.
11. Se alguém... crer que a alma humana seja porção de Deus ou substância de Deus, seja anátema.
12. Se alguém crer que algumas escrituras fora daquelas que a Igreja católica acolhe devam ter autoridade, ou (as) venerar [Se alguém... crer que outras escrituras fora daquelas que a Igreja católica acolhe, devam ter autoridade ou ser veneradas], seja anátema.
[13. Se alguém... crer que em Cristo há uma só natureza da divindade e da carne, seja anátema.]
[14. Se alguém... crer que exista alguma coisa que possa se estender para fora da divina Trindade, seja anátema.]
[15. Se alguém julgar dever crer na astrologia e na matemática [sic!], seja anátema.][cf. *460]
[16. Se alguém... crer que as relações conjugais humanas tidas licitamente segundo a lei divina sejam execráveis, seja anátema.]
[17. Se alguém... crer que se deva abster de carne de aves ou de gado que foram dadas para nutrição, não apenas por causa da disciplina do corpo, mas porque sejam execráveis, seja anátema.]
[18. Se alguém segue ou professa a seita de Prisciliano nestes erros, de modo a fazer na ação salutar do batismo outra coisa, que seja contrária à sé de São Pedro, seja anátema.]


ANASTÁSIO II: 24 NOV. 496 – 17(19?) NOV. 498

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Carta “In prolixtate epistoale”, ao bispo Lourenço de Lignido (Ilíria ou Eslavonia), ano 497


Profissão de fé

Professamos portanto que o nosso Senhor Jesus Cristo é Filho unigênito de Deus, nascido do Pai segundo a divindade, sem início, antes de todos os séculos; o mesmo, porém, encarnado, nos últimos dias, da Santa Virgem Maria e homem perfeito, tendo uma alma racional e tendo assumido um corpo, é consubstancial ao Pai segundo a divindade e consubstancial a nós segundo a humanidade. De fato, de maneira inefável foi feita, das duas naturezas perfeitas, uma unidade. Por isso professamos um só Cristo igualmente Filho de Deus e do homem, unigênito do Pai e primogênito dentre os mortos, sabendo que, decerto coeterno com seu Pai segundo a divindade, segundo a qual é artífice de tudo, se dignou também – depois do consenso da Santa Virgem, quando ela disse ao anjo: “Eis a serva do Senhor, aconteça a mim segundo a tua palavra” [Lc 1,38] – edificar para si, inefavelmente, por ela, um templo que uniu a si; e não transferiu este corpo, como coeterno, da sua substância do céu para cá, mas o tomou da matéria da nossa substância, isto é, da Virgem. Acolhendo-o e unindo-o a si, Deus Verbo não se mudou em carne nem se mostrou como aparição imaginária, mas, conservando imutável e invariavelmente a sua essência, uniu a si as primícias da nossa natureza. De fato, o princípio, Deus Verbo, dignou-se unir a si, na sua grande bondade, estas primícias da nossa natureza: ele se mostrou não misturado, mas único e o mesmo em ambas as substâncias, segundo o que está escrito: “Destruí este templo e em três dias o reerguerei” [Jô 2.19]. Foi destruído, de fato, Cristo Jesus segundo a minha substância que ele assumiu, e ele mesmo ressuscita o seu próprio templo destruído, a saber, segundo a substância divina, segundo a qual é também o artífice de tudo.
Depois da ressurreição da nossa natureza a ele unida, nunca se separou do seu próprio templo, nem se pode separar, por causa da sua inefável benignidade, mas ele é o mesmo Senhor Jesus Cristo, tanto passível como impassível, passível segundo a humanidade e impassível segundo a divindade. Deus Verbo ressuscitou, portanto, o seu templo e operou em si a ressurreição e a renovação da nossa natureza. E esta, o Senhor Cristo, depois de ressuscitado dos mortos, mostrava-a aos discípulos, dizendo: “Tocai-me e vede, já que um espírito não tem carne e ossos como vós vedes que eu tenho” [Lc 24,39]. Não disse “como dizeis que eu sou”, mas “que eu tenho”, para que, considerando tanto quem tem quanto quem é tido, possas notar que não houve mistura, nem transformação, nem mudança, mas unidade. Por isso, ele mostrou também as perfurações dos cravos e a ferida da lança e comeu com o seus discípulos, para ensinar por meio de todas estas coisas a ressurreição, nele renovada, de nossa natureza; e, já que, segundo a santa divindade, ele é sem transformação ou mudança, impassível, imortal, necessitado de nada, suportando todos os sofrimentos, ele permitiu que estes fossem infligidos ao seu templo, que suscitou com a própria força, bem como operou, mediante a própria perfeição do seu templo, a renovação da nossa natureza.Aqueles, ao contrário, que dizem que Cristo é um simples homem, ou que é Deus passível, ou que se mudou em carne, ou que teve um corpo não unido a si ou que o fez descer do céu, ou que foi uma aparição imaginária, ou – afirmando que Deus Verbo é mortal – (dizem) que ele teve necessidade de ser ressuscitado pelo Pai, ou tomou um corpo sem alma ou uma humanidade sem a faculdade do sentido, ou que as duas substâncias de Cristo, confusas por mistura, foram reduzidas a uma só substância, e não professam que nosso Senhor Jesus Cristo é duas naturezas inconfusas, porém uma única pessoa, portanto, um só Cristo, igualmente um só Filho: a Igreja católica e apostólica os anatematiza.

30 de maio de 2009

São Francisco de Assis - 2ª Parte - 2/2

Do jejum dos vícios e dos alimentos

Devemos também jejuar e abster-nos dos vícios e pecados bem como do excesso no comer e no beber e devemos ser católicos. Visitemos também freqüentemente as igrejas e honremos e respeitemos os clérigos, não tanto por sua pessoa se forem pecadores mas sobretudo por causa do seu ministério em que nos administram o santíssimo corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo que sacrificam sobre o altar, recebem e repartem aos outros. E estejamos todos firmemente convencidos de que ninguém pode salvar-se a não ser pelas santas palavras e pelo sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os clérigos proferem, anunciam essas palavras e ministram o sacramento. Só eles estão autorizados a exercer esse ministério, mais ninguém.
Especialmente, porém, os religiosos, tendo renunciado ao mundo, estão obrigados a fazer mais e coisas maiores, sem, entretanto, omitir as outras.
Devemos odiar nossos corpos com os seus vícios e pecados, porque diz o Senhor no Evangelho: “Todos os vícios e pecados procedem do coração”

Como devemos amar os nossos inimigos e fazer-lhes o bem

Devemos amar os nossos inimigos e fazer bem aos que nos odeiam. Devemos observar os preceitos e conselhos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Devemos também renunciar a nós mesmos e submeter os nossos corpos ao jugo da servidão e da santa obediência como cada um prometeu ao Senhor.

Que aquele em cujas mãos foi depositada a obediência, seja como o menor

E ninguém seja obrigado sob obediência a obedecer num assunto que implique culpa ou pecado. Aquele em cujas mãos foi depositada a obediência e quem vale como o maior,seja como o menor e o servo dos outros irmãos. E manifeste e pratique para com os seus irmãos tal misericórdia como gostaria que lhe fosse feita se ele próprio estivesse em idêntica situação. Nem se irrite contra qualquer irmão se este tiver cometido um erro, mas antes o admoeste e o suporte com toda paciência e humildade.

Que não devemos ser sábios segundo a carne

Não devemos ser sábios e prudentes segundo a carne, mas antes sejamos simples, humildes e puros. E mantenhamos nossos corpos em opróbrio e desprezo, pois somos por nossa própria culpa míseros e cheios de podridão, asquerosos e vermes, segundo diz o Senhor pelo Profeta: “Eu sou um verme, já não sou homem, o próbito de todos e a abjeção da plebe”. Nunca devemos aspirar a sobrepor-nos aos outros, mas antes sejamos por amor de Deus os servos e “súditos de toda criatura humana”. E todos os homens e mulheres que assim agirem e perseverarem até o fim verão “repousar sobre si o Espírito do Senhor”, e Ele fará neles sua moradia permanente, e eles serão filhos do Pai celestial, cujas obras fazem. E eles são esposos, irmãos e mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo. Somos esposos, quando a alma crente está unida a Jesus Cristo pelo Espírito Santo. Somos seus irmãos, quando fazemos a vontade de seu Pai, que está nos céus. Somos suas mães, se com amor e consciência pura e sincera o trazemos em nosso coração e nosso seio e o damos à luz por obras santas que sirvam de luminoso exemplo aos outros. Como é honroso e santo ter no céu em Pai! Como é santo, consolador e deleitável ter no céu um esposo! Como é santo, e como é querido, agradável, aprazível, humilde, tranqüilizador, doce, amorável e sobre todas as coisas desejável ter tal irmão que entregou sua vida por suas ovelhas e por nós orou ao Pai, dizendo: Pai santo, guarda em teu nome os que me deste. Pai, todos quantos no mundo me deste, eram teus, mas tu mos destes. E as palavras que me deste eu lhas dei a eles e receberam-nas e ficaram sabendo que em verdade saí de ti e acreditaram que tu me enviaste. Rogo por eles, não pelo mundo. Abençoa-os e santifica-os. Também eu por causa deles me santifico a mim mesmo, para que eles sejam santificados para a união, como nós somos um. E quero, Pai, que, onde eu estiver, estejam eles comigo, para que vejam a minha glória no teu Reino.

Que devemos tributar louvores a Deus

A Ele, pois, que tanto sofreu por nós e tanto bem nos fez e ainda fará no futuro, todas as criaturas que há no céu e sobre a terra e no mar e nos abismos, rendam a Deus louvor, glória, honra e bênção, porque Ele é nossa força e nosso vigor, e que só Ele é bom, só Ele O Altíssimo, só Ele onipotente, admirável, glorioso, só Ele digno de louvor e glorificação por toda a eternidade sem fim. Amém.

Da penitência e do corpo de Cristo

Mas todos aqueles que não vivem em espíritos de penitência, nem recebem o corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, e que praticam vícios e cometem pecados, e que vivem segundo suas más concupiscências e desejos perversos, e que não cumprem o que prometeram e com o seu corpo servem ao mundo, porque se deixaram ludibriar por suas concupiscências carnais, pelos cuidados e solicitudes deste mundo, pelo demônio, cujos filhos são e cujas obras praticam: cegos são eles, porque não são capazes de enxergar a verdadeira luz, Nosso Senhor Jesus Cristo. A sabedoria espiritual não na possuem porque não trazem dentro de si o Filho de Deus, que é a verdadeira sabedoria do Pai. E é deles que se diz: “Sua sabedoria foi devorada”. Só enxergam, conhecem, sabem e praticam o mal e perdem deliberadamente suas almas. Reparai, ó cegos, iludidos por nossos inimigos, isto é: pela carne, pelo mundo e pelo demônio, que é agradável ao corpo praticar o pecado, e amargo servir a Deus, porque todos os vícios e pecados procedem do coração do homem como diz o Evangelho. E nada tendes de bom, nem neste mundo nem no futuro. Julgais gozar por longo tempo as vaidades deste mundo, mas estais logrados, porque virá o dia e a hora na qual não pensais, e que de todo desconheceis.

Do enfermo que não gosta de fazer penitência

Adoece o corpo, a morte avança, chegam os parentes e amigos e dizem: “Põe tuas coisas em ordem”. Vede como sua mulher, seus filhos, os parentes, os amigos andam fingindo que choram. Levantando os olhos e vendo-os chorar, ele move-se de falsa compaixão, reflete no seu íntimo e diz: “Vede, minha alma e meu corpo e tudo o que é meu deposito nas vossas mãos. É verdadeiramente maldito tal homem que deposita e entrega em mãos assim sua alma e seu corpo e tudo o que possui. Daí falar o Senhor pelo Profeta: “Maldito o homem que confia noutro homem”. E logo mandam vir o padre. O padre diz-lhe: “Você quer fazer penitência por seus pecados? ”Responde: “Quero”. “Você está disposto, na medida do possível, a pagar, com os seus bens, as dívidas que tem e reparar os logros e enganos que cometeu contra outros?”O retruca: “Não”. Diz o padre: “Por que não?”E ele responde: “Porque entreguei tudo às mãos dos parentes e amigos”. E começa a perder a fala e assim morre infeliz.
Saibam todos: Onde e como quer que um homem venha a morrer em pecado mortal sem a devida reparação e ele pôde fazer penitência mas a não fez, o diabo lhe arranca a alma do corpo sob tal angústia e medo que ninguém é capaz de conhecer senão quem no experimenta em sua própria pele. E todos os talentos e poderes e ciências e sabedorias que “julgava possuir ser-lhe-ão tirados”. E tem de deixar os seus bens para os parentes e amigos e estes se apoderam deles e os distribuem entre si, e dirão mais tarde: “Maldita seja a sua alma, porque ele poderia ter dado e ganho para nós muito mais e o não fez”. O corpo comem-no os vermes. E assim ele perde a alma e o corpo neste mundo passageiro, e irá para o inferno, onde será atormentado para sempre.

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. A vós rogo me conjuro, Frei Francisco, vosso mínimo servo, pelo amor que é Deus, e desejando beijar-vos os pés que recebais estas e outras palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo com humildade e amor e as pratiqueis de boa vontade e com perfeição. E todos aqueles homens e mulheres que as receberem de boa mente e as entenderem e mandarem uma cópia a outros, se preservarem até o fim, que os abençoe o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Amém.

28 de maio de 2009

São Francisco de Assis - 2ª Parte - 1/2

CARTA AOS FIÉIS

(Segunda recensão)

A data deste escrito é desconhecida. Possivelmente entre 1215 e 1233. É mais uma longa exortação do que propriamente uma carta. Não se dirige aos frades menores, pois as alusões à restituição dos bens excluem a hipótese. Também não pode ser a “todos os fiéis” sem distinção, pois aí se fala da obrigação de observar “os conselhos” do Senhor e da obediência recíproca “como cada qual prometeu ao Senhor”. Os destinatários serão, pois, cristãos, clérigos ou leigos, que levam uma vida religiosa mais intensa, e talvez ligados a Francisco de maneira particular. Estariam aí os inícios da Ordem Terceira, de instituição e de reconhecimento jurídico posterior. Tal como a Regra Bulada, esta é dividida em doze capítulos, em alguns manuscritos, divisão seguida por Wadding e Boehmer.

Aqui começa a carta de admoestação e exortação de nosso venerável pai São Francisco.

Em nome do Senhor: do Pai, do Filho e do Espírito Santo

A todos os cristãos que vivem religiosamente, clérigos e leigos, homens e mulheres, a todos os que habitam no mundo universo, Frei Francisco, de todos servo e vassalo, saúda com reverente dedicação e deseja a verdadeira paz do céu e sincera caridade no Senhor.
Sendo servo de todos, a todos devo servir as odoríferas palavras de meu Senhor. Por isso, considerando que não posso visitar a cada um em particular, por causa da enfermidade e debilidade do meu corpo, fiz o propósito de comunicar-vos por meio das presentes letras e de mensageiros as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a Palavra do Pai, bem como as palavras do Espírito Santo, que são “espírito e vida”.

Da palavra do pai

Esta Palavra do Pai, tão digna, tão santa e tão gloriosa, o altíssimo pai a enviou do céu, por seu arcanjo São Gabriel, ao seio da Santa Virgem Maria, de cujo seio recebeu a verdadeira carne da nossa humanidade e fragilidade. E, “sendo rico” acima de toda medida, preferiu todavia escolher, com sua bem-aventurada Mãe, a vida de pobreza.
Na véspera de sua paixão celebrou a Páscoa com os seus discípulos e, “tomando o pão, deu graças e benzeu-o, dizendo: “Tomai e comei: este é o meu sangue do Novo Testamento, que por vós e por muitos será derramado para remissão dos pecados”. Em seguida orou ao Pai e disse: “Pai, se for possível, passa de mim este cálice”. E seu suor se tornou como gotas de sangue que corre para a terra. Abandonou porém sua vontade na vontade do Pai e disse: “Pai, faça-se a tua vontade, não se faça como eu quero senão como tu queres”.
Ora a vontade do Pai era que seu bendito Filho glorioso que nos havia dado e o qual por nós nascera, se oferecesse a si mesmo por seu próprio sangue como oferenda de sacrifício sobre o altar da cruz, não para si mesmo, “por quem foram feitas todas as coisas”, mas em expiação de nossos pecados, legando-nos um exemplo para que seguíssemos as suas pegadas. E Ele quer que sejamos salvos por Ele e o recebemos de coração puro e corpo casto. Mas infelizmente são poucos os que recebem e por Ele querem ser salvos, embora seja suave o seu jugo e leve o seu fardo.

Daqueles que não querem observar os mandamentos de Deus

Os que não querem provar “como é doce o Senhor e amam mais as trevas do que a luz” porque não querem cumprir os mandamentos de Deus, esses são malditos. É deles que foi dito pelo Profeta: “Malditos os que se afastam dos vossos mandamentos”. E quão ditosos e benditos são ao contrário os que o Senhor e procedem como o Senhor mesmo diz no Evangelho: Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, e amarás o teu próximo como a ti mesmo.

Do amor de Deus e de como adorar a Deus

Amemos, pois, a Deus e adoremo-lo com o coração e espírito puros, porque Ele mesmo exigiu isto acima de tudo, dizendo: “Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade, pois todo aquele que o adorar deve adorá-lo em espírito e verdade”. E queremos oferecer-lhe os nossos louvores e preces de dia e de noite, dizendo: “Pai nosso que estais nos céus”, pois “é preciso orar em todo o tempo e não desfalecer”.

Que devemos confessar os nossos pecados aos sacerdotes

Todos devemos confessar os nossos pecados ao sacerdote e é dele que recebemos o corpo e o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pois quem não comer a sua carne e não beber o seu sangue não pode entrar no reino de Deus. É preciso, no entanto, que se coma e beba dignamente, porquanto, quem o receber indignamente, “come e bebe a sua própria condenação porque não discerne o corpo do Senhor”
Façamos, além disso, “dignos frutos de penitência”. E amemos o nosso próximo como nós mesmos. E se alguém não quiser ou não puder amá-lo como a si mesmo, ao menos não lhe faça algum mal, mas o bem.

Como aqueles que receberam o poder par isso devem julgar os outros

Os que estão investidos do poder de julgar os outros exerçam o cargo de juiz com piedade assim como eles mesmos esperam obter do Senhor a misericórdia. Porque sem misericórdia será julgado quem não fez misericórdia. Sejamos pois caridosos e humildes e façamos esmola porque esta lava a alma das manchas do pecado. Os homens enfim perdem tudo o que deixam neste mundo. Mas levam consigo o fruto da caridade e as esmolas que tiveram feito e o Senhor lhes dará por elas o prêmio e recompensa condigna.

27 de maio de 2009

Símbolos da Fé - 7ª Parte

SÍMBOLO DA FÉ CONSTANTINOPOLITANO

Desde o fim do século XVII, este Símbolo da fé é conhecido com o nome de “niceno-constantinopolitano”, como se fosse só um desenvolvimento ou ampliação do Símbolo niceno. Não está claro se foi composto no concílio mesmo ou se já existia anteriormente; podemos sustentar esta última hipótese em vista do Símbolo mais breve de Epifânio (*42), que se encontra no Ancoratus (escrito em 374!) e que é muito semelhante ao Símbolo constantinopolitano. No século VI, foi adotado, em grande parte do Oriente, como Símbolo bastismal. Logo teve importância maior do que o Símbolo niceno, chegando a ser introduzido na liturgia da missa (primeiro pelo ano 480 por parte dos monofisitas em Antioquia; em Constantinopla, antes de 518). Na Igreja ocidental aparece como profissão de fé dentro da missa pela primeira vez no III Sínodo de Toledo (589), cân. 2 (MaC 9, 992s). Nesta versão encontra-se também – pela primeira vez num documento do magistério -, o “Filioque”, talvez acrescentado só depois da conclusão do sínodo; cf. *470. O “Filioque” do século VII em diante, causou fortes controvérsias teológicas. Depois que o uso desse acréscimo já estava amplamente difundido 9cf. a liturgia gálica na pesquisa de F.J. Mone, o Sínodo de Friuli em 791 e o Sínodo de Frankfurt em 794), o Sínodo de Aachen, em 809, pediu a Leão III que o “Filioque” fosse acolhido no Símbolo de toda a Igreja. O Papa não acolheu o pedido, não porque repudiasse a fórmula, mas porque não queria acrescentar algo ao Símbolo transmitido pela tradição. Mais tarde, o imperador Henrique II, por ocasião de sua coração no ano 1014, obteve de Bento VIII que, em Roma, durante a missa se cantasse o Símbolo da fé com o acréscimo do “Filioque”. Enfim, nos concílios ecumênicos de Lião II (1274) e de Florença (1439), foi reconhecido tanto pelos latinos como por alguns gregos (cf. *853 1302).


[Versão grega]

Cremos em um só Deus, Pai onipotente, artífice do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis.

E em um só senhor Jesus Cristo, filho unigênito de Deus,

gerado pelo Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não feito, consubstancial ao Pai; por meio do qual tudo veio a ser;

o qual, em prol de nós, homens, e de nossa salvação, desceu dos céus, e se encarnou, do Espírito Santo e Maria, a Virgem, e se en-humanou; que também foi crucificado por nós, sob Pôncio Pilatos, e padeceu e foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras, e subiu aos céus e está sentado à direita do Pai; e virá novamente na glória para julgar os vivos e os mortos; cujo reino não terá fim.

E no Espírito Santo, Senhor e vivificador, que procede do Pai, que junto como o Pai e o Filho é co-adorado e conglorificado, que falou por meio dos profetas. Na Igreja una, santa, católica e apostólica. Confessamos um só batismo para a remissão dos pecados. Esperamos a ressurreição dos mortos e a vida do século vindouro. Amém


[Versão latina]

Creio em um só Deus, Pai onipotente, artífice do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis.

E em um só senhor Jesus Cristo, unigênito Filho de Deus,

e nascido do Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não feito, consubstancial ao Pai; por meio do qual tudo foi feito;

o qual, em prol de nós, homens, e de nossa salvação, desceu dos céus, e se encarnou, do Espírito Santo, de Maria Virgem, e se fez homem; que também foi crucificado por nós, sob Poncio Pilatos, padeceu e foi sepultado, e ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras, e subiu ao céu, está sentado à direita do Pai e virá novamente para julgar os vivos e os mortos; cujo reino não terá fim.

E no Espírito Santo, Senhor e vivificador, que procede do Pai e do Filho, que com o Pai e o Filho simultaneamente é adorado e conglorificado, que falou por meio dos profetas. E a Igreja una, santa, católica e apostólica. Confesso um só batismo para a remissão dos pecados. E espero a ressurreição dos mortos e a vida do século vindouro. Amém.

26 de maio de 2009

COMUNHÃO NA MÃO

Tradução da Homilia do Padre Robert Altier
Segunda-feira, 10 de Setembro de 2001 (Vigésima terceira semana do Tempo Comum)
Leitura (Colossenses 1:24 – 2:3) Evangelho (São Lucas 6:6-11)

Na primeira leitura de hoje, São Paulo, na Carta dele aos Colossenses, fala sobre como, em Cristo, estão escondidos todos os tesouros de sabedoria e conhecimento. Isto é porque Ele é Deus todo-poderoso; Ele é o Criador do universo; Ele é o Salvador do mundo; Ele é Deus, absoluto e perfeito. São Paulo diz no começo da leitura que ele compensa em sua carne o que está faltando no sofrimento de Cristo, por causa do corpo de Cristo, a Igreja.

Em Cristo, agora, não há nenhum sofrimento, mas apenas no Corpo Místico. Mas há um lugar, ao qual eu gostaria de me referir esta manhã, onde eu acredito que Nosso Senhor é verdadeiramente afligido. Eu quero desafiá-los nesta área: quer dizer, a maneira pela qual nós recebemos Sagrada Comunhão. A Igreja está muito clara em Seus documentos que Ela deseja que nós recebamos a Sagrada Comunhão na língua e não na mão. Os bispos da América, como também de alguns poucos países no mundo, permitiram a Comunhão na mão como uma exceção. Mas a Igreja é muito, muito clara que Ela não nos quer recebendo Comunhão na mão.

Deixem-me explicar um pouco o porque. Em primeiro lugar, receber é algo que é passivo. O padre pega a Sagrada Comunhão porque o padre é o que oferece a Vítima em sacrifício. Então, o que oferece a Vítima também tem que tomar parte naquela Vítima. Mas as pessoas de Deus devem receber a Sagrada Comunhão. Tirar a Hóstia de sua mão e pô-La em sua própria boca significa pegar a Comunhão e não receber Comunhão; e assim é uma coisa ativa, não uma coisa passiva. O Senhor deseja se dar a você como um presente, não ser pego por você. Nós precisamos ter muito cuidado para não perdemos o simbolismo do que está acontecendo no Sacratíssimo Sacramento.

Também, se você notar, durante a Missa, depois da Consagração, meus dedos permanecem juntos por causa das partículas da Hóstia que estão ali. Quando nós pegamos a Sagrada Comunhão na mão, há partículas de Nosso Senhor que estão em nossas mãos e em nossos dedos. Este é o motivo pelo qual, depois da Comunhão, o padre purificará seus dedos - por causa das partículas da Hóstia. Mas com que freqüência as pessoas de Deus, depois de receber a Sagrada Comunhão, escovam (raspando uma mão na outra) as partículas simplesmente sobre o chão e caminham sobre Nosso Senhor. Ou põe suas mãos nos bolsos deixando Nosso Senhor aí mesmo em suas roupas. Os abusos a que isto os leva é muito grave. Não que todos estejam fazendo-o intencionalmente, mas eu penso que isto é algo que nós precisamos considerar com extremo cuidado.

O que eu digo sempre às pessoas é que você pode esperar pelo seu Dia de Julgamento e pode se perguntar como você pretende se aproximar de Nosso Senhor, porque Ele é seu Juiz. O Deus ao qual você se aproxima na Sagrada Comunhão é o mesmo ao qual você se aproximará no Dia do Julgamento. Você assume que você tirará sua mão para Nosso Santo Deus no Dia do Julgamento? Sua visão de julgamento é que você Lhe dará um aperto de mão e Lhe dirá quão maravilhoso é vê-Lo? Ou sua visão é que você fará grande reverência a Nosso Santo Deus? Minha visão é que eu me prostrarei com a face no chão - não dando-Lhe um aperto de mão.

Nós não pomos nossa mão em Deus. A Bíblia diz que Deus nos segura na palma de Sua mão. Nós não devemos segurar Deus em nossa palma. Ele nos criou; Ele nos fez em Sua imagem e semelhança. Ele é o Criador; nós somos a criatura. Nós temos que nos aproximar d’Ele com a maior reverência, com o maior respeito.

Se nós simplesmente olharmos para o fruto que tem surgido pelo fato da Sagrada Comunhão estar sendo pega pela mão, não é bom: a perda de reverência para o Santíssimo Sacramento, a familiaridade. Gratamente isto não está acontecendo aqui, mas vá para a maioria das igrejas e se pergunte se você vê as pessoas rezando antes de Missa ou se elas estão tagarelando, fazendo bagunça e conversando. Nós perdemos a reverência para a Real Presença porque Jesus é apenas o "nosso chapa" quando nós tiramos nossa mão para Ele; Ele não é nosso Deus quando fazemos isso. Assim nós precisamos ter muito cuidado.

Mas além isso, nós também podemos olhar para o que aconteceu espiritualmente às pessoas de Deus. Desde que temos recebido a Comunhão na mão, nós perdemos a visão da idéia de ir à Confissão, de nossa própria iniqüidade, da reverência que nós temos que ter para Nosso Deus. Nós fizemos da Comunhão algo tão fácil e indiferente que as pessoas perderam aquele senso de reverência, de temor, e de respeito na Presença de Nosso Senhor.

Eu o desafio a pensar muito seriamente neste assunto. Os bispos, como eu digo, permitiram isto; não é um pecado se você receber a Sagrada Comunhão na mão. Em alguns lugares na Igreja Primitiva eles fizeram isso; São Justino fala sobre isto. Mas a Igreja parou isto por causa dos abusos que estavam acontecendo contra o Santíssimo Sacramento. Eu lhe peço que reze realmente sobre isso. Olha para Jesus na Eucaristia e se pergunte, "Eu realmente, verdadeiramente acredito que isto é Deus? Que isto é meu Criador e meu Redentor? Como, então, desejo me aproximar d’Ele?" Eu realmente acredito que, se você rezar assim, só há uma conclusão à qual você pode chegar.

Então, eu lhes imploro, não permaneçam calados sobre isto. Contem a seus amigos. Falem para sua família. Levem esta palavra a outros porque todas essas pessoas boas lá fora, eu não penso que eles estão voluntariamente tentando fazer alguma coisa que aflija Nosso; eles estão fazendo o que lhes disseram para fazer. Mas novamente, olha para o que aconteceu nos últimos quarenta anos desta prática particular e se pergunte se o fruto que nasceu foi bom. Obviamente, você ama Nosso Senhor: Você está aqui na Missa diária; você está aqui todas as manhãs. O amor de Nosso Senhor é evidente em você. Espalhe este amor de Jesus. O amor que está em seu coração, proclame a outros e lhes peça da mesma maneira que considerem suas ações para com Nosso Senhor. Devolvamos a reverência a Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento de forma que possamos Lhe prestar a devida adoração e louvor porque Ele é Deus, em quem todos os tesouros de sabedoria e conhecimento estão contidos.

* Este texto foi transcrito de gravação de áudio de uma homilia de Padre Robert Altier com mínima edição.

Fonte: http://desertvoice.excerptsofinri.com/

25 de maio de 2009

Breve Catecismo da Sagrada Eucaristia e da Santa Missa

"Prezados leitores, salve Maria Santíssima!
Este Catecismo tem o intuito de ensinar brevemente a doutrina da Igreja sobre o Sacramento da Eucaristia e a Santa Missa para o povo em geral. Está baseado no Catecismo Romano, Catecismo da Doutrina Cristã, Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, em um Sermão de Santo Tomás de Aquino e no livro "Jesus, meu mestre" vol. III, da editora Paulinas, para o ensino da Religião Católica ao ensino ginasial, de 1961.
Que os leitores usem deste Catecismo breve para dá-los aos catequistas de Primeira Comunhão e Crisma, para distribui-lo aonde há adoração eucarística, e até mesmo incentivem os padres a usá-lo em suas paróquias no ensino e difusão da Fé católica"

"BREVE CATECISMO DA SAGRADA EUCARISTIA E DA SANTA MISSA

1) O que são os Sacramentos?

Segundo o Catecismo da Doutrina Cristã, os Sacramentos são “sinais sensíveis e eficazes da graça, instituídos por Jesus Cristo para santificar nossas almas”. Isso quer dizer que, tendo Jesus morrido na Cruz para pagar as nossas ofensas a Deus, criou também um meio para aplicar nas nossas almas os frutos da Salvação. Os Sacramentos são estes canais por onde Jesus nos concede as graças que brotaram do Calvário, e que nos devolvem a amizade com Deus, para a salvação e santificação de nossas almas.

Os Sacramentos são “sinais sensíveis” porque são realizados por meio de um elemento material, “eficazes” porque operam por si mesmos, independente da santidade do sacerdote que o administra, e “da graça” porque cada um deles nos transmite uma graça específica. Portanto, a nossa salvação depende dos Sacramentos, pois por eles Jesus nos concede os frutos e os efeitos da sua morte redentora.


2) O que seriam as graças que os Sacramentos nos concedem?

Cada Sacramento nos confere uma graça necessária para a nossa salvação, relacionado com o estado de vida de cada um. Devemos receber os Sacramentos porque, pelo pecado, ofendemos a Deus e recusamos a Sua amizade, frustrando a nossa salvação eterna. Os Sacramentos nos restituem a vida da nossa alma, chamada de graça santificante, que é o estado de amizade do homem com Deus, quando Deus mesmo passa a morar na alma de seus filhos. A graça santificante é recebida no Batismo e recuperada na Confissão sacramental quando cometemos pecado grave. Os demais Sacramentos atuam no aperfeiçoamento da vida espiritual, para que vivamos santamente e salvemos as nossas almas.


3) Quais os elementos constituintes de um Sacramento?

São três os elementos de um Sacramento: matéria, forma e um ministro que tenha a intenção de fazer o que faz a Igreja quando administra este Sacramento. A matéria é o meio por onde opera o Sacramento, como no caso do Batismo, que é recebido por meio da água, ou da Crisma, que é pelo óleo. A forma são as palavras que o ministro profere sobre a matéria para que o Sacramento tenha efeito. Exemplo: no Batismo, ao derramar água sobre a cabeça da criança, o ministro diz “Eu te batizo em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”. Estas palavras constituem a forma do Sacramento. E o ministro é uma pessoa capaz de administrar aquele Sacramento em nome do próprio Jesus, recebendo dEle autoridade para tal. Para isso, Jesus deu à Igreja a Sagrada Hierarquia, composta de padres, bispos e o Papa, a fim de que eles, em nome do próprio Cristo, continuem a obra redentora até o fim dos tempos.


4) O que é o Sacramento da Eucaristia?

Cada Sacramento nos alcança uma graça própria. O Batismo nos recupera a amizade perdida com Deus por causa do pecado, a Crisma nos aumenta as virtudes do Espírito Santo e nos dá a coragem de testemunhar a Fé. Mas o Sacramento da Eucaristia, por sua vez, supera os demais, pois não só possui uma graça, mas também a presença real de Jesus Cristo por inteiro, Seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade, debaixo das aparências do pão e do vinho.


5) Quando Jesus instituiu o Sacramento da Eucaristia?

Ao cear com seus apóstolos, Jesus deu-lhes Seu Corpo e Sangue como alimento da alma, mandando que eles fizessem o mesmo, a fim de que os cristãos de todos os tempos e de todos os lugares pudessem se beneficiar com o banquete eucarístico.


6) A presença de Jesus na Hóstia consagrada é só simbólica?

Não. Distorcendo o Evangelho, a seita dos Protestantes diz que, na Última Ceia, Jesus apenas instituiu um símbolo, que não é o Seu Corpo e Sangue realmente, mas apenas uma lembrança dEle entre nós. Essa mentira se desfaz rapidamente quando se estuda as Sagradas Escrituras, pois símbolo era o maná, que alimentava o povo hebreu no deserto. Este pão simbolizava o verdadeiro pão da vida, porque, enquanto o maná alimentava o corpo, dando disposição para aqueles que caminhavam, assim também viria um Pão que alimentaria não o corpo, mas a alma, durante a peregrinação dos filhos de Deus para a Vida Eterna. Portanto, a Eucaristia não pode ser símbolo, porque Jesus veio para superar o Antigo Testamento e instituir uma Nova e Eterna Aliança com seus filhos. Como pode Jesus superar a Lei antiga dando outro símbolo? Pelo contrário! A Eucaristia está acima do maná do deserto, porque nos dá a verdadeira vida da nossa alma, que é Jesus. Por isso Ele disse: “Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram. Mas este é o pão que desceu do céu, para que aquele que dele comer não morra. Eu sou o pão vivo, que desci do céu. Quem comer deste pão, viverá eternamente; e o pão que eu darei, é a minha carne que será sacrificada para a salvação do mundo.” (João 6, 48-52).


7) Como pode a Eucaristia ser o Corpo e Sangue do Senhor, visto que vemos apenas o pão e o vinho?

Na Eucaristia, Jesus altera a substância do pão e do vinho, mas mantém as suas espécies. Depois de se tornar o próprio Corpo do Senhor, a única coisa que restou do pão são as suas aparências: a cor, odor e sabor. Esta mudança miraculosa é chamada de transubstanciação, pois o que se altera na Consagração é a substância do pão, e não as suas espécies, isto é, o seu aspecto visível. Cristo esconde-se na Hóstia para que creiamos pela Fé, e assim se afastem deste Sublime Sacramento os profanadores, os curiosos, os incrédulos, farsários e de caráter inconstante. Do mesmo modo, Jesus se esconde na Hóstia para nos mostrar que ninguém O vê por mérito próprio, mas tudo é por graça dEle. Assim, evita-se o pecado do desespero dos fracos e a presunção dos orgulhosos.


8) Jesus está presente em todas as hóstias consagradas?

Sim, independente da quantia e lugar, a mesma Pessoa de Jesus, Seu Corpo e Sangue, Alma e Divindade, está realmente presente em todas as hóstias consagradas, assim como uma mesma pessoa pode ser refletida em vários espelhos sem que a sua imagem se divida em várias em cada espelho.


9) Quais nomes têm o Sacramento da Eucaristia?

O Sacramento da Eucaristia é chamado assim porque Eucaristia, em grego, significa “boa graça” ou “ação de graças”, pois neste Sacramento damos graças a Deus e recebemos dele o penhor da Vida Eterna. Também é chamado de Comunhão, pois, como diz o Catecismo Romano, “este Sacramento nos liga com Cristo, faz-nos participar de Sua Carne e Divindade, une-nos e congrega-nos uns aos outros, articula-nos, por assim dizer, num só corpo no mesmo Cristo”. É chamado de viático porque é o alimento espiritual daqueles que peregrinam nesta vida em busca da felicidade eterna.


10) Quais são os elementos constitutivos do Sacramento da Eucaristia?

Assim como os demais Sacramentos, a Eucaristia tem três elementos: matéria: o pão e o vinho; forma: as palavras da Consagração, na qual o celebrante repete o que disse Jesus na Última Ceia, quando instituiu este Sacramento; ministro: o Padre ou o Bispo, capazes de consagrar e tornar o pão e o vinho em Corpo e Sangue de Nosso Senhor.


11) Por que o Sacramento da Eucaristia se realiza em espécies diferentes?

O mesmo Sacramento da Eucaristia realiza-se igualmente no pão e o vinho, que se tornam o Corpo e Sangue do Senhor, ainda que se mantenham as aparências da espécie. Tanto no pão quanto no vinho há o mesmo e único Sacramento. Jesus instituiu este Sacramento em duas espécies para simbolizar a Sua morte no Calvário, momento em que Seu Corpo e Sangue se separam totalmente. Também servem as duas espécies para nos lembrar que a Comunhão eucarística é alimento da nossa alma, pois se o corpo é nutrido com comida e bebida, do mesmo modo quis Jesus ensinar pelo comer e pelo beber que a Eucaristia é uma refeição completa para a alma.


12) A comunhão deve ser dada sempre sob duas espécies?

Não. Quem comungou só do Corpo de Cristo, já comungou o Cristo por inteiro, sem precisar tomar do Seu Sangue preciosíssimo. Afinal, na mesma Pessoa de Jesus está unida a Sua Divindade e Humanidade, sem divisão. Portanto, onde estiver Seu Corpo, aí também está Seu Sangue, Sua Alma e Divindade. Jesus está presente por inteiro no pão eucarístico por concomitância, ou seja, se ali está Seu Corpo, também está incluída toda a Sua Pessoa adorável.


13) Quem pode receber o Sacramento da Eucaristia?

O Sacramento da Eucaristia só pode ser recebido pelos católicos batizados, que professam a mesma Fé da Igreja e estão unidos na mesma obediência à Hierarquia Sagrada. Também devem recebê-lo em estado de graça, isto é, sem ter a consciência manchada pelo pecado grave ou mortal, que é aquele pecado que rompe a nossa união com Deus. Estes, por sua vez, devem se confessar para comungar, a fim de não cometerem sacrilégio e atraírem sobre si a desgraça e a ira divina. O Sacramento da Eucaristia é o Sacramento da Caridade, porque é a prova do grande amor de Deus por nós, ao Se nos dar em alimento da alma, para que em nós aumente o amor a Ele. Por esta razão, não podem comungar do Sacramento da Caridade aqueles que pecaram contra a Caridade, cometendo um pecado grave. Por isso diz São Paulo: “Portanto todo aquele que comer este pão ou beber o cálice do Senhor indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examinem-se, pois, a si mesmo o homem, e assim coma deste pão e beba deste cálice.” (I Coríntios 11, 27-28).


14) O que ocorre com quem comunga em pecado mortal?

Cometem pecado grave e sacrilégio, por violar as coisas sagradas, comendo e bebendo do Corpo e Sangue do Senhor sem estar em estado de graça. O Sacramento que deveria ser penhor da salvação torna-se motivo de condenação para os sacrílegos.


15) O que devem fazer aqueles que desejam comungar e estão em pecado mortal?

Devem buscar se confessar o mais breve possível, para que recebam o perdão desses pecados que só são apagados pelo efeito do Sacramento da Penitência. Os pecados leves diminuem o nosso amor a Deus; porém, os pecados graves rompem com o nosso amor a Deus. Por isso, a Confissão nos recupera a amizade divina, devolvendo-nos a graça santificante, que dá vida à nossa alma. Disse Jesus aos apóstolos: “Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos”. (João 20, 22-23).


16) O que se deve fazer para bem receber a Santa Comunhão?

Os Sacramentos operam por si mesmos; mas, para que o cristão o receba bem, além do estado de graça, é preciso que ele tenha a devida disposição interior para usufruir melhor dos efeitos da Comunhão. É preciso que o fiel faça ardentes desejos de amor, adoração e desejo de bem receber Jesus no Sacramento da Eucaristia. Além do mais, diz a Igreja que deve-se cumprir o jejum eucarístico. O jejum é de uma hora sem comer até o momento da comunhão. O jejum antigo era de três horas sem alimento sólido, podendo tomar remédios até uma hora antes da comunhão e água a qualquer momento. Quem ia à Missa da manhã fazia o esforço de ficar desde a meia-noite sem comer nada. Ainda que haja um jejum novo, os fiéis que desejarem podem cumprir o jejum antigo, caso julguem ser mais útil. Porém, devem sempre lembrar que a Igreja tem poder de decisão, podendo mudar a regra do jejum, mesmo que alguns queiram cumprir o jejum antigo por devoção.


17) Qual é o significado do Sacramento da Eucaristia?

O Sacramento da Eucaristia, além das graças que produz por ser a presença real de Jesus, também possui um significado próprio. Ele nos recorda a Paixão de Cristo, visto que este Sacramento nos faz participar intimamente da Redenção; nos alimenta espiritualmente e nos garante, para o futuro, o prêmio da Vida Eterna.


18) Quais são os efeitos do Sacramento da Eucaristia?

Muitos são os efeitos da Sagrada Comunhão, desde que o fiel bem receba este Sacramento. 1º) Aumenta em nós a graça santificante, isto é, a vida divina habitando em nossa alma; 2º) Perdoa-nos os pecados veniais ou leves; 3º) Perdoa as penas devidas ao nossos pecados, pagos nesta vida ou no Purgatório; 4º) Preserva-nos dos pecados futuros; 5º) Aquieta o ardor da carne; 6º) Garante-nos a Vida Eterna e a ressurreição da carne no Juízo Final. Sobre isso, sabiamente diz Santo Tomás de Aquino:

Maravilhoso é este Sacramento em que uma inefável eficácia inflama os afetos com o fogo da caridade. Que revigorante maná é aqui oferecido para o viajante! Ele restaura o vigor dos fracos, a saúde para os doentes, confere o aumento da virtude, faz a graça superabundar, purga os vícios, refresca a alma, renova a vida dos aflitos, vincula uns aos outros todos os fiéis na união da caridade. Este Sacramento da fé também inspira a esperança e aumenta a caridade. É o pilar central da Igreja, a consolação dos que falecem, e o acabamento do Corpo Místico de Cristo. A fé amadurece, e a devoção e a caridade fraterna são aqui saboreadas. Que estupenda provisão para o caminho é esta, que conduz o viajante até à montanha das virtudes! Este é o pão verdadeiro que é comido e não consumido, que dá força sem perdê-la. É a nascente da vida e a fonte da graça. Perdoa o pecado e enfraquece a concupiscência. Os fiéis encontram aqui a sua refeição, e as almas um alimento que ilumina a inteligência, inflama os afetos, purga os defeitos, eleva os desejos. Ó cálice de doçura para as almas devotas, este sublime Sacramento, ó Senhor Jesus, declara para os que crêem Tuas maravilhosas obras


19) Quando a Igreja realiza o Sacramento da Eucaristia?

A Igreja realiza o Sacramento da Eucaristia quando celebra a Santa Missa.


20) O que é a Santa Missa?

Segundo o Catecismo da Doutrina Cristã, a Santa Missa é o “sacrifício incruento do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, oferecido sobre os nossos altares, debaixo das espécies de pão e vinho, em memória do Sacrifício da Cruz”.


21) Por que a Missa é um 'Sacrifício'?

Todo o sacrifício é um dom oferecido a Deus, a fim de reconhecer a Sua soberania e prestar a Ele um ato de adoração e submissão. Quando Cristo morre no Calvário, a Sua morte realizou um verdadeiro Sacrifício, puro e perfeito, no qual Jesus prestou ao Pai um ato de adoração, louvor e entrega total, a fim de que essa Oferta santíssima servisse para o perdão dos nossos pecados, e assim recuperássemos a vida da graça e a felicidade eterna.

A morte de Jesus na cruz é única e suficiente, pois o Seu Sacrifício possui mérito infinito, capaz de salvar toda a humanidade. Entretanto, é necessário não só que Cristo morra pelos pecadores, mas também que os frutos da Sua Paixão sejam aplicados nas almas, para que a salvação se realize em todos os homens. Por esta razão, a morte de Cristo se torna o Sacrifício da Nova e Eterna Aliança, porque participando dela que os homens usufruem da Redenção. Mas de que modo Deus nos faz participar do Calvário para receber dos seus efeitos?

Se o Sacrifício do Calvário possui mérito infinito, bastaria que Jesus morresse uma única vez para salvar todos os homens. No entanto, ainda resta a necessidade de se aplicar pessoalmente os frutos da Sua Paixão, e para isso Cristo institui a Santa Missa, que é a atualização mística e incruenta do Seu Sacrifício. Na Santa Missa, Jesus torna presente no tempo e no espaço o mesmo Sacrifício do Calvário, sem que Ele venha a morrer novamente. É o mesmo e único Sacrifício, tornado presente e atual a cada Missa celebrada. Deste modo, todos os homens podem participar do divino Sacrifício, que se renova continuamente nos altares.

Dizemos que a Missa é a renovação do Calvário porque idêntica é a Oferta e o Oferente, isto é, é o mesmo Jesus que se oferece e é oferecido, tanto na Cruz quanto na Missa.

Jesus torna presente o Sacrifício do Calvário na Missa através do pão e do vinho, o que nos permite dizer que a Missa é renovação mística da Cruz, porque Jesus não morre realmente no altar, e nem sofre as dores de Sua Paixão, já que está glorioso no Céu. Mas a Missa é o mesmo Sacrifício do Calvário porque Jesus é posto sob o estado de Vítima no altar. No Calvário Jesus morreu quando o Seu Sangue se esgotou do Seu Corpo. Na Missa, a Consagração põe separadamente o Corpo e o Sangue de Senhor tal qual ocorrera no instante da morte de Jesus, renovando no altar o Sacrifício da Cruz, de forma indolor e invisível, através do Sacramento da Eucaristia. É o mesmo Sacrifício, oferecido misticamente no altar. E como a Missa não renova as dores de Cristo, dizemos que é uma renovação incruenta da Cruz, pois não há sofrimento ou derramamento de Sangue, sem que a Missa deixe de ser o mesmo Sacrifício de Jesus no Gólgota posto presente no tempo e no espaço.

A Missa também é idêntica ao Calvário porque é Jesus mesmo que Se oferece, mas usando do sacerdote celebrante, através da sua voz e de seus atos. Quando o sacerdote reza a Missa, é o próprio Jesus a agir através do Padre, para que o Seu divino Sacrifício torne-se presente misticamente no altar, e assim todos aqueles que dele participam possam se unir ao próprio Jesus em imolação à glória da Trindade Santíssima.


22) Não seria a Missa apenas um símbolo ou uma lembrança do Sacrifício de Jesus no Calvário?

De modo algum. Quem defende esta falsidade é a herética seita dos protestantes, no intuito de desmerecer a Missa e acabar com o culto católico.

Quando o Catecismo da Doutrina Cristã diz que a Missa é um Sacrifício em memória do Sacrifício da Cruz, diz no seguinte sentido: “A [celebração da] Eucaristia é memorial no sentido de que torna presente e atual o sacrifício que Cristo ofereceu ao Pai na cruz, uma vez por todas, em favor da humanidade. (...) O sacrifício da cruz e o sacrifício da Eucaristia [a Missa] são um único sacrifício. Idênticos são a vítima e o oferente, diferente é apenas o modo de oferecer: cruento na cruz, incruento na Eucaristia” (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, questão 280).

A Missa não simboliza o Sacrifício da Cruz, muito menos é uma mera “lembrança” da Paixão de Jesus. Se assim fosse, não haveria necessidade de que houvesse a mudança do pão e do vinho em Corpo e Sangue de Jesus, caso a Missa não passasse de um “memorial”.

A Missa e o Sacrifício do Calvário são o mesmo Sacrifício, diferindo apenas no modo em que são oferecidos: o Sacrifício da Cruz é sangrento e físico; o Sacrifício da Missa é não-sangrento e místico (sacramental), atualizando-se no altar a Oferta de Jesus na Cruz pela consagração do Corpo e Sangue do Senhor.

Se a Missa não passa de um “símbolo” do Calvário, como explicar a profecia de Malaquias? “Porque, desde o nascer do sol até ao poente, o meu nome é grande entre as nações, e em todo o lugar se sacrifica e se oferece ao meu nome uma oblação pura; porque o meu nome é grande entre as nações, diz o Senhor dos exércitos” (Malaquias 1, 11). Diz a Igreja que esta profecia do Antigo Testamento se refere à Santa Missa, pois a única oblação pura é a Oferta de Jesus no Calvário, já que só a Oferta de Jesus agrada verdadeiramente a Deus, e nenhuma outra mais. Se “em todo o lugar” se oferece uma “oblação pura”, que oblação seria essa a não ser a renovação mística e incruenta da morte de Jesus na Missa? A mentira protestante é desmascarada pela profecia bíblica.

Só se pode dizer que a Missa simboliza o Calvário pelos ritos da Liturgia, porque, para que fique mais claro aos fiéis que a Missa torna presente no tempo e no espaço o Sacrifício do Calvário, quis a Igreja enfeitá-la de belíssimas e solenes cerimônias, a fim de que se percebesse que ali se renova o mesmo evento. Porém, a ação realizada na Missa, ou seja, a Consagração, é a atualização incruenta e mística do Sacrifício da Cruz, e não meramente um “símbolo” ou “memorial”.


23) Qual a necessidade de se renovar misticamente o Sacrifício da Cruz na Missa?

O Sacrifício da Cruz tem valor infinito, prestando a Deus um culto perfeitíssimo. Porém, é pela Missa que Deus aplica em nós os frutos do Calvário. Daí a importância de se assistir sempre ao divino Sacrifício. A Missa nos une a Jesus em imolação à glória da Santíssima Trindade, para que participemos da Sua Oferta a Deus e recebamos dos seus frutos. A cada Missa assistida, o louvor e a adoração de Jesus tornam-se também o nosso louvor e a nossa adoração.


24) Quais são os fins da Missa?

A Missa renova misticamente o Sacrifício do Calvário a fim de que em todo o tempo e lugar a Oferta pura e perfeita de Jesus fosse oferecida a Deus em benefício do povo cristão e da humanidade.

Por quatro motivos Cristo instituiu a Missa: 1º) Para prestar um culto perfeito e total a Deus, onde se reconhece o Seu domínio sobre tudo, a nossa submissão a Ele e o direito dEle sobre as nossas vidas; 2º) Para render graças por tudo o que Ele nos dá e louvá-Lo por sua imensidão e majestade; 3º) Para dar a Deus devida reparação e satisfação à Sua justiça ofendida por nossos pecados e aplacar a Sua ira sobre nós; 4º) Para que alcancemos todo o tipo de graças das quais necessitamos, desde que isso sirva para o nosso bem e não atrapalhe a nossa salvação.

Por ser uma oração perfeita e infinita de Cristo a Deus Trindade, a Missa é um culto de latria, ou “adoração”. Por ser um louvor sublime, a Missa é um culto eucarístico, ou de “ação de graças”. Por reparar a Deus ofendido por nossos pecados, a Missa é um culto propiciatório, ou de “reparação”. E por ser a nossa fonte de graças, a Missa é um culto impetratório, ou para “obtenção de graças”.

Todos estes fins só se cumprem porque a Missa é a renovação da Oferta de Cristo à Trindade Santíssima. É graças ao culto infinito, perfeito, puro e agradável a Deus que estes fins são atingidos.


25) A quem se reza a Missa?

A Missa só se oferece a Deus, por ser somente Ele o merecedor da Oferta de Cristo. Porém, quando se diz que uma Missa é oferecida a Nossa Senhora, aos Anjos e Santos, é em honra deles apenas, ou para que eles se unam a nós naquela Missa.


26) Para quem se reza a Missa?

A Missa é oferecida por todo o Corpo Místico de Cristo, porque: 1) honra os Santos, que vivem na glória de Deus, 2) alivia as almas do Purgatório na medida em que Deus permite que elas usufruam das graças da Missa, 3) beneficia todos os fiéis vivos. No entanto, as graças da Missa não são iguais para todos. O primeiro a se beneficiar é o sacerdote celebrante; logo abaixo, os fiéis presentes (incluindo aqueles que estão nas intenções da Missa), a começar por aqueles que ajudam de algum modo na celebração; por último, os fiéis em geral e toda a humanidade.

Mesmo que cada Missa seja oferecida pelo bem de toda a Igreja e conversão da humanidade, as graças só são recebidas quando Deus permite. Uma só Missa seria suficiente para converter a humanidade inteira, mas Deus, que é justo, só pode permitir que lucrem da Missa aqueles que possuem a devida disposição de coração.


27) Todos aproveitam a Missa de igual maneira?

Não. Cada um aproveita do Sacrifício eucarístico conforme a sua própria disposição interior. Quanto maiores forem a Fé, a Caridade e a contrição, mais frutífera será a participação da Missa. O mesmo com as almas do Purgatório: uma só Missa resgataria todas as almas; mas Deus aplica nelas os frutos da Missa conforme convém cada uma, dependendo do fervor que elas tiveram em vida.


28) Quando foi instituída a Santa Missa?

A Santa Missa foi instituída por Jesus na Última Ceia, quando Ele repartiu o pão com os seus apóstolos e disse: “Tomai e comei; isto é o meu corpo” (Mateus 26, 26), e entregou o cálice e disse: “Bebei dele todos. Porque isto é o meu sangue que será selo do novo testamento, o qual será derramado por muitos para remissão dos pecados”. (Mateus 26, 27-28).


29) Se a Missa foi instituída na Última Ceia, então a Missa é uma “ceia” ou “banquete”?

A Missa não é uma ceia, apesar de ter sido instituída na ceia. Podemos chamar a Eucaristia de ceia ou banquete enquanto recebida por nós (Comunhão), já que ela é alimento espiritual para as nossas almas. Porém, a Eucaristia enquanto celebrada é Sacrifício (Missa).


30) Por que Jesus instituiu a Santa Missa na Última Ceia?

Para mostrar que a Santa Missa é o mesmo Sacrifício da Cruz mudando apenas no modo em que é oferecida. A Missa é a renovação mística e incruenta do Sacrifício da Cruz, debaixo das espécies do pão e do vinho, ou seja, é pelo pão e pelo vinho mudados em Corpo e Sangue do Senhor que o Sacrifício do Calvário se renova no altar. Por isso Jesus instituiu a Missa na ceia. Ademais, sendo a Comunhão eucarística o alimento da nossa alma, quis Jesus instituí-la após um banquete, para mostrar que a Eucaristia também nos é um banquete. A íntima relação entre a Última Ceia, isto é, a primeira Missa, e a Paixão de Cristo no Calvário o próprio Jesus mostra ao dizer: “Isto é o meu corpo, que é dado por vós” (Lucas 22, 19). Quando Jesus diz que aquele pão agora é o Seu Corpo, diz também que este mesmo Corpo será entregue na Cruz. Há, portanto, um mesmo Sacrifício que se realiza de duas formas diferentes: pela Cruz e pela Missa. Há também um mesmo oferente, pois é Jesus quem oferece a Si mesmo na Cruz e na Missa, sendo que na Missa Ele Se oferece no pão e no vinho transubstanciados em Seu Corpo e Sangue por meio do sacerdote celebrante. E tendo rezado a primeira Missa na Última Ceia, diz Jesus aos apóstolos “fazei isto em memória de mim” (Lucas 22, 19). Com tais palavras, Jesus ordena que o oferecimento da Missa seja renovado perpetuamente, até o fim dos tempos, para a honra e glória de Deus e benefício de todos os homens.


31) Por que disse Jesus que o Seu Sangue será derramado “por muitos” e não “por todos”?

Os méritos do Sacrifício de Cristo têm valor infinito e infalível, podendo salvar todos os homens. Mas se Deus quer e pode salvar o mundo inteiro, nem todos buscam para si a salvação. De muitas maneiras o homem pode recusar se salvar, através da impenitência final, obstinação no pecado, recusa em aceitar a doutrina infalível da Igreja, recusa do amor de Deus, etc. Sendo assim, se o Sangue redentor de Cristo pode salvar todos os homens, muitos apenas serão salvos, enquanto outros perderão eternamente a própria alma, castigada com o Inferno pela suprema ingratidão cometida contra Deus. Por esta razão Jesus disse que Seu Sangue seria derramado em favor de “muitos”, e de não de todos.


32) Por que o padre reza a Santa Missa se ela é o Sacrifício de Jesus renovado misticamente e incruentamente?

A celebração da Missa renova no altar a Oferta de Jesus no Calvário, de modo místico (sacramental) e incruento. Entretanto, terminada a Sua missão terrena, Cristo sobe aos Céu deixando a Igreja católica como Depósito da Verdade relevada, a fim de que ela guardasse, testemunhasse e ensinasse tudo o que Deus nos mostrou para a nossa salvação e glória dEle, pois disse Jesus a Simão Pedro: “E eu digo-te que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16, 18). A Igreja, portanto, é a responsável em guardar a verdadeira Fé e ensiná-la a todos os homens até o fim dos tempos. Do mesmo modo, também é a Igreja que continua a Redenção ao distribuir e administrar os Sacramentos e celebrar a Missa, pois a Igreja tem a missão não só de ensinar a Verdade, como também de levar os meios de salvação a todos os homens. Para isso, Jesus criou o sacerdócio, o ministério pelo qual Ele dá a alguns homens o poder de agir em nome dEle mesmo. Os Presbíteros, Bispos e o Pastor Universal, o Papa, são ministros de Cristo, possuindo autoridade para ensinar a Verdade, pregar o Evangelho, administrar os Sacramentos, celebrar Missa e condenar os erros, denunciando as mentiras inventadas pelos homens, sob inspiração maligna. E, quando agem deste modo, cumprem a natureza do ministério sacerdotal, que é agir em nome de Cristo e no lugar dEle.

Quando o sacerdote reza a Missa, é ele quem age e executa as cerimônias; no entanto, quem consagra e oferece o pão e o vinho não é o Padre, mas o próprio Cristo. O padre age in persona Christi, ou seja, ele age na pessoa de Cristo. O padre empresta a sua voz para que o próprio Jesus consagre. Toda a Missa é a renovação do sacrifício de Jesus debaixo das espécies do pão e do vinho, mudadas em Corpo e Sangue do Senhor, por meio de um sacerdote celebrante, que age na Pessoa do Cristo. O Padre é instrumento para que o próprio Jesus celebre a Missa.


33) Se o sacerdote é quem reza a Missa em nome da Igreja, agindo na Pessoa de Cristo, qual a participação do povo cristão na Missa?

O povo cristão participa da Missa de um modo diferente que o sacerdote. O sacerdócio foi instituído por Cristo para que a Hierarquia Sagrada atue no lugar dEle, quando propaga a Redenção através dos Sacramentos. A este sacerdócio chamamos de ministerial, porque possui poder e autoridade de agir em nome de Cristo.

Os fiéis, por sua vez, quando recebem o Sacramento do Batismo, são incorporados à Igreja, o Corpo Místico de Cristo, e constituem um sacerdócio comum, pois passam a viver em comunhão com Deus. O sacerdócio dos leigos é apenas uma participação no serviço a Deus prestado pelo Sacerdócio de Cristo. O sacerdócio ministerial é uma identificação com o Sacerdócio de Cristo, porque o ministro consagrado recebe poder e autoridade de agir em nome dEle.

O povo não pode celebrar a Missa, consagrar a Hóstia ou administrar os Sacramentos (exceto o do Batismo, que em situações de risco, pode ser administrado por qualquer pessoa que tenha intenção de fazer o que a Igreja pede neste Sacramento); mas o sacerdócio comum dos leigos, recebido no Batismo, permite que os fiéis participem da Missa quando se unem ao celebrante, tendo as mesmas intenções que ele. Não são os gestos, orações ou cânticos da Missa que fazem os fiéis participarem do Sacrifício eucarístico. O Rito da Missa apenas predispõe os fiéis, mas a participação independe do Rito. Participar da Missa verdadeiramente é ter desejo de se unir a Jesus que Se sacrifica misticamente no altar, e desejar receber dos frutos daquela celebração.


34) A Santa Missa é indispensável?

Certamente. Não há culto mais agradável a Deus do que a Missa, pois ela é a Oferta do Seu próprio Filho. Nenhuma oração humana supera a Missa, pois o Sacrifício eucarístico é oferecido pelo próprio Jesus, em união com toda a Igreja. Deste modo, todo o cristão deve ter profundo amor pela Missa, que é a plena participação na Redenção de Cristo. Já dizia o São Padre Pio de Pietrelcina: “É mais fácil o mundo viver sem o sol do que sem a Missa!”.


35) Somos obrigados a assistir Missa?

A Igreja nos obriga a ouvir Missa aos domingos e dias de festa. As Missas rezadas no sábado, caso sejam de Liturgia de domingo, valem como se fossem de domingo. Além do preceito dominical, somos obrigados a ouvir Missa nas festas: Maria Mãe de Deus (1/1), Corpus Christi, Assunção de Nossa Senhora (15/8), Nossa Senhora Aparecida (12/10), Imaculada Conceição de Nossa Senhora (8/12), Natal de Nosso Senhor (25/12) e no dia do padroeiro da cidade. Faltar à Missa nos dias em que somos obrigados a ouvi-la é pecado mortal.

Há aqueles que dizem ir à Missa “só quando têm vontade”. Mas não ter vontade de ir à Santa Missa é reconhecer que a alma está doente. Quando o corpo está enfermo, não sentimos sabor e perdemos a fome. Do mesmo modo, a alma que perde o gosto de assistir à Missa está doente, pois perdeu a vontade do amor a Deus.

Outros respondem que só vão à Missa “porque se sentem bem”, como se a Missa fosse uma terapia, ou um consultório psicológico. Falso! Ninguém deve ir à Missa só para se sentir bem, porque a obrigação de assisti-la não serve para satisfazer os “sentimentos” de ninguém. Os fiéis devem ir à Missa por causa de uma obrigação religiosa, já que Deus merece ser servido pelas criaturas, e a Missa é o meio de nos unirmos a Deus em adoração com o Seu divino Filho. Ninguém deve procurar a Missa só para satisfazer seus sentimentos, porque a Missa está muito acima disso. A Missa é o Céu na terra. Não podemos ser egoístas e só buscar a Deus em benefício próprio.


36) Alguém pode ser dispensado de assistir à Missa?

Sim, estão dispensados de ir à Missa aqueles que moram muito longe da Igreja e não têm condições de se deslocar até a igreja mais próxima; os doentes e aqueles que estão obrigados a trabalhar durante todo o dia de preceito e se vêem impossibilitados de assistir ao Santo Sacrifício. Qualquer outro motivo grave também dispensa de ir à Missa.

Também estão dispensados de ir quando a Missa é celebrada com abusos, constituindo perigo para a Fé. Se um padre rezar a Missa dizendo blasfêmias, indecências e até profanando, a Igreja dispensa um católico de assistir estas celebrações, caso a sua Fé fique ameaçada. Em alguns casos, faltar a uma Missa abusiva não é só um direito, mas um dever. A Missa é o supremo culto a Deus oferecido por Jesus Cristo em nome da Igreja, quando o Seu divino Sacrifício é atualizado no altar; e uma ação tão sagrada exige muito respeito. A música deve ser sóbria, as roupas devem ser modestas, a igreja deve ser adequada, os paramentos devem ser dignos, e o celebrante deve agir considerando o tremendo ato que ele executa. Um sacerdote verdadeiramente humilde respeita a Liturgia, não a denigre.


37) Para que servem as cerimônias da Missa?

A Missa possui três partes essenciais, instituídas pelo próprio Jesus na Última Ceia: Ofertório, Consagração e Comunhão (do celebrante). Em casos extremos, havendo apenas a Consagração, já houve Missa.

Porém, quis a Igreja adornar a Missa com cerimônias solenes e sacras, a fim de que os fiéis se preparassem melhor para o sublime momento da Consagração e estivessem bem dispostos interiormente para comungar. Estas cerimônias servem para confirmar a nossa Fé em Deus por meio dos gestos, símbolos e alegorias, a fim de que toda a realidade física testemunhe as verdades da Religião. Vemos as cores dos paramentos, as imagens santas, o altar; ouvimos o canto sacro ou simplesmente ficamos em silêncio; sentimos o odor do incenso; nos benzemos com o Sinal-da-Cruz, nos ajoelhamos, ficamos de pé; beijamos a Cruz...todos estes ritos servem para que o homem por inteiro confirme a Fé da Igreja.

Também serve a cerimônia para a participação comum dos fiéis na Liturgia, pelos cânticos e orações. Ainda assim, os fiéis não são obrigados a cantar ou a responder as orações, até porque isso não garante a participação e o aproveitamento da Missa. De nada adianta participar dos gestos da Missa se não há atenção e zelo pelas coisas santas. A participação dos gestos da Missa só faz sentido quando está unida ao desejo interior de receber dos frutos da Missa, de unir-se à Oferta de Jesus à Trindade Santíssima. Por esta razão, também participam da Missa aqueles que, durante a cerimônia, rezaram o Terço, a Via-Sacra ou fizeram leituras piedosas. Estes também são meios de fomentar o nosso amor a Deus e dispor a alma para aproveitar a Liturgia.


38) De que modo a Igreja permite a Comunhão eucarística?

Sempre quis a Igreja zelar para que os fiéis recebessem os Sacramentos de forma santa, piedosa e adequada. A Comunhão desde muitos séculos é distribuída com o comungante de joelhos, recebendo a Eucaristia diretamente na língua. O ajoelhar-se serve para demonstrar a nossa adoração a Jesus presente na Eucaristia. A recepção da Hóstia diretamente na língua serve para eliminar o contato desnecessário com a Comunhão, evitando-se de forma mais eficaz que algum fragmento do pão eucarístico se perca no chão ou na mão dos fiéis, ou até mesmo seja roubado por profanadores. A Comunhão na boca também indica a superioridade do sacerdote sobre os fiéis, pois somente ele possui as mãos consagradas, e por esta razão é mais digno que ele distribua o Corpo do Senhor. Receber do sacerdote a Eucaristia é reconhecer que ele age na Pessoa de Cristo.

Ainda assim, permitiu a Igreja, nos últimos anos, que os fiéis comunguem de pé e diretamente na mão. Esta autorização foi dada pelo Papa Paulo VI a contragosto para alguns poucos países onde este costume havia se introduzido contra as ordens da Santa Sé. Porém, rapidamente a prática se difundiu abusivamente no mundo todo. O Papa sabia que comungar na mão e de pé facilitaria a perda na Fé em Jesus eucarístico, porque esta maneira de receber a Comunhão elimina todos os sinais de adoração. Não muito tempo depois foi exatamente o que aconteceu: hoje, muitos católicos já não crêem mais na presença real de Jesus na Eucaristia. Para salvar a Igreja desta profunda perda de fé, Bento XVI está reintroduzindo a Comunhão de joelhos e na boca. Obedeçamos ao Papa!


39) O que é a Liturgia?

A Liturgia é “o culto público e oficial da Igreja”. As orações devocionais do povo, ainda que rezadas em público, não são litúrgicas, porque não são feitas em nome da Igreja. A Liturgia, portanto, é culto oficial porque é feita em nome da Igreja e para a participação e benefício de toda a Igreja. Os Sacramentos e a Santa Missa são atos litúrgicos.

A Liturgia também possui um modo de se expressar e de se constituir. A expressão da Liturgia é chamada de “Rito”, que são todas as cerimônias pelas quais se celebra um ato litúrgico. A Missa, por exemplo, pode ser rezada no Rito Romano ou Latino, Rito Bizantino, Rito Melquita, Rito Maronita, etc. Todos estes Ritos rezam o mesmo e único Sacrifício incruento e místico da Missa, porém, com cerimônias diferentes.


40) Qual é o Rito observado no Brasil?

Na maioria do país, observa-se o Rito Romano ou Latino, que é o Rito próprio do Ocidente. Em alguns lugares que sofreram imigração, há também o Rito Bizantino dos ucranianos e russos, o Rito Maronita dos libaneses, etc.


41) Qual mudança ocorreu no Rito Romano em 1969?

Por muitos séculos, a Missa do Rito Romano quase não sofreu mudanças, sendo chamada pelos liturgistas de “Missa Gregoriana” porque a sua estrutura remonta aos tempos do Papa São Gregório Magno. Em 1545, Bispos de toda a Igreja se reuniram num Concílio (reunião de Bispos sob convocação do Papa), na cidade de Trento. Este Concílio pretendia unificar a Missa de todo o Ocidente, que na época ainda possuía muitas variações regionais. O Concílio de Trento foi encerrado sem empreender tal tarefa, que ficou a cargo do Papa Pio V. Este Papa realizou a unificação do Rito Romano, tornando a Missa idêntica em todo o Ocidente, e impedindo que os protestantes tentassem introduzir falsidades na Liturgia. Por isso a Missa do Rito Romano também é chamada de “Tridentina” (ou de Trento) ou “Missa de São Pio V”.

Em 1965, com o Concílio Vaticano II, a Igreja fez pequenas alterações na Missa do Rito Romano, que continuaram até 1969, quando surgiu, no pontificado do Papa Paulo VI, o Novo Ordinário da Missa, que é a Missa rezada até hoje nas paróquias do Rito Romano em todo o mundo.

Apesar de uma nova forma de celebração ter surgido com o Novo Ordinário da Missa, em 1969, o Papa Bento XVI explicou, em 2007, por meio de um documento papal, que a Missa Tridentina não foi proibida, e pode continuar a ser celebrada. Há, portanto, no Rito Romano, um só Rito rezado por meio de duas formas: a ordinária, promulgada pelo Papa Paulo VI em 1969, e a extraordinária, chamada de Missa Gregoriana, Tridentina ou de São Pio V. Onde os fiéis desejarem, o Papa garante o direito de haver a celebração do Rito antigo, bastando que se procure um padre, sem necessidade de autorização do Bispo local.