23 de maio de 2009

São Francisco de Assis - 1ª Parte

Fonte:
São Francisco de Assis
Escritos e biografias de São Francisco de Assis
Editora Vozes

CARTAS AOS FIÉIS

(Primeira recensão)
O texto desta carta foi editado pela primeira vez por P. Sebastier, com base no códice de Volterra (cod Vo), que lhe deu erroneamente o título de Verba vitae et salutis (Palavras de Vida e Salvação), que se lia embaixo do texto anterior das Admoestações. Esta é uma forma mais breve de uma carta mais longa; forma mais breve, porém mais difundida. A recensão mais longa tem bastante influência deste documento, e seu valor está nas idéias centrais com que Francisco iria concretizar a vida dos irmãos e irmãs da penitência. É um programa, com intuitos pastorais, para a vida de penitência segundo o Evangelho. Data desconhecida.
(Exortação aos irmãos e irmãs da penitência)
Em nome do Senhor!

[Cap. 1] Dos que fazem penitência

Quão felizes e benditos são aqueles e aquelas que amam o Senhor “de todo coração, com toda a alma, com toda a mente e com todas as forças” e ao próximo como a si mesmos, odiando seus corpos com seus vícios e pecados, recebendo o corpo e o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo e produzindo frutos dignos de penitência.
Felizes e benditos os que assim fazem e assim perseveram, porque “sobre eles repousará o Espírito do Senhor” que neles fará morada.
Estes são filhos do Pai celeste, fazem as obras do Pai, são esposos, irmãos e mães de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Somos esposos, quando por virtude do Espírito Santo, a alma fiel se une a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Somos irmãos de Cristo, quando fazemos a “vontade do Pai que está nos céus” e somos mães, quando o levamos em nosso coração e em nosso corpo por virtude do amor divino e de uma pura e sincera consciência; nós o geramos por uma vida santa, que deve brilhar como exemplo para os outros.
Como é glorioso, santo e sublime ter um pai nos céus!
Como é santo, consolador, belo e admirável ter tal esposo!
Como é santo, dileto, agradável, humilde, pacífico, suave, amável e, sobretudo, desejável ter tal irmão e tal filho: nosso Senhor Jesus Cristo.
Ele entregou sua vida pelas suas ovelhas e orou ao Pai dizendo: “Pai santo, conserva em teu nome aqueles que me deste no mundo; eram teus e os destes a mim”.
E as “palavras que me deste, dei-as a eles; eles as aceitaram e creram na verdade, porque de ti saí e conheceram que tu me enviaste”.
Rogo por eles “não pelo mundo”.
Abençoa-os e “santifica-os”.
Também eu “por causa deles me santifico a mim mesmo”.
Não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão de crer em mim pela palavra deles para que sejam santificados na união assim como nós.
E quero, Pai, que onde eu estiver, estejam eles comigo, para que vejam a minha glória no teu reino.
Amém.


[Cap. II] Dos que não fazem penitência
Todos aqueles e aquelas, porém, que não fazem penitência, não recebem o corpo e o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivem no vício e no pecado, no caminho da má concupiscência e dos maus desejos de sua carne, não observam o que prometeram ao Senhor, servem ao mundo com seu corpo cedendo aos desejos carnais, às solicitudes e aos cuidados deste mundo: escravos do demônio, de quem são filhos e cujas obras praticam, são cegos, porque não vêem a verdadeira luz, Nosso Senhor Jesus Cristo.
Não possuem a sabedoria espiritual porque não possuem o Filho de Deus, que é a verdadeira sabedoria do pai.
E é deles que se diz: “Sua sabedoria foi tragada, malditos os que se apartam de teus mandamentos”.
Vêem e conhecem, sabem e fazem o mal perdendo eles mesmos suas almas.
Reparai ó cegos, enganados pelos vossos inimigos, a carne, o mundo e o demônio: é agradável ao corpo praticar o pecado e amargo servir a Deus. Pois, como diz o Senhor no Evangelho, todos os vícios e pecados “precedem do coração do homem”.
Nada pensais fruir por muito tempo das vaidades deste mundo, mas vos enganais, porque virá o dia e a hora na qual não pensais, e que ignorais completamente.
Adoce o corpo, a morte chega e deste modo morre na amargura da morte.
Onde, quando e como quer que um homem venha a morrer em pecado mortal, sem penitência e satisfação, se pode satisfazer e não satisfaz, o demônio lhe arranca a alma do corpo sob tal angústia e tribulação, que ninguém pode saber a não ser quem o experimenta em si mesmo.
Todos os talentos, todo poder, toda “ciência e sabedoria” que julgavam possuir “ser-lhes-ão tirados”.
Deixam seus bens aos parentes e amigos.
Estes se apossam deles e os distribuem entre si e depois dizem: Maldita seja sua alma, porque ela poderia ter dado e ganho para nós muito mais e não o fez.
Os vermes devoram o corpo.
Desta forma perdem tais homens o corpo e a alma neste breve século, indo para o inferno, onde serão atormentados por toda a eternidade.
A todos que receberam esta carta, rogamos na caridade, que é Deus, que acolham benignamente, com divino amor, estas odoríferas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo.
“E os que não sabem ler façam-nas ler com freqüência por outros, tenham-nas consigo e as ponham em prática numa vida”.
E aqueles que as não observarem terão de “dar contas delas no dia do último juízo diante do tribunal de Nosso Senhor Jesus Cristo”.

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