28 de maio de 2009

São Francisco de Assis - 2ª Parte - 1/2

CARTA AOS FIÉIS

(Segunda recensão)

A data deste escrito é desconhecida. Possivelmente entre 1215 e 1233. É mais uma longa exortação do que propriamente uma carta. Não se dirige aos frades menores, pois as alusões à restituição dos bens excluem a hipótese. Também não pode ser a “todos os fiéis” sem distinção, pois aí se fala da obrigação de observar “os conselhos” do Senhor e da obediência recíproca “como cada qual prometeu ao Senhor”. Os destinatários serão, pois, cristãos, clérigos ou leigos, que levam uma vida religiosa mais intensa, e talvez ligados a Francisco de maneira particular. Estariam aí os inícios da Ordem Terceira, de instituição e de reconhecimento jurídico posterior. Tal como a Regra Bulada, esta é dividida em doze capítulos, em alguns manuscritos, divisão seguida por Wadding e Boehmer.

Aqui começa a carta de admoestação e exortação de nosso venerável pai São Francisco.

Em nome do Senhor: do Pai, do Filho e do Espírito Santo

A todos os cristãos que vivem religiosamente, clérigos e leigos, homens e mulheres, a todos os que habitam no mundo universo, Frei Francisco, de todos servo e vassalo, saúda com reverente dedicação e deseja a verdadeira paz do céu e sincera caridade no Senhor.
Sendo servo de todos, a todos devo servir as odoríferas palavras de meu Senhor. Por isso, considerando que não posso visitar a cada um em particular, por causa da enfermidade e debilidade do meu corpo, fiz o propósito de comunicar-vos por meio das presentes letras e de mensageiros as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a Palavra do Pai, bem como as palavras do Espírito Santo, que são “espírito e vida”.

Da palavra do pai

Esta Palavra do Pai, tão digna, tão santa e tão gloriosa, o altíssimo pai a enviou do céu, por seu arcanjo São Gabriel, ao seio da Santa Virgem Maria, de cujo seio recebeu a verdadeira carne da nossa humanidade e fragilidade. E, “sendo rico” acima de toda medida, preferiu todavia escolher, com sua bem-aventurada Mãe, a vida de pobreza.
Na véspera de sua paixão celebrou a Páscoa com os seus discípulos e, “tomando o pão, deu graças e benzeu-o, dizendo: “Tomai e comei: este é o meu sangue do Novo Testamento, que por vós e por muitos será derramado para remissão dos pecados”. Em seguida orou ao Pai e disse: “Pai, se for possível, passa de mim este cálice”. E seu suor se tornou como gotas de sangue que corre para a terra. Abandonou porém sua vontade na vontade do Pai e disse: “Pai, faça-se a tua vontade, não se faça como eu quero senão como tu queres”.
Ora a vontade do Pai era que seu bendito Filho glorioso que nos havia dado e o qual por nós nascera, se oferecesse a si mesmo por seu próprio sangue como oferenda de sacrifício sobre o altar da cruz, não para si mesmo, “por quem foram feitas todas as coisas”, mas em expiação de nossos pecados, legando-nos um exemplo para que seguíssemos as suas pegadas. E Ele quer que sejamos salvos por Ele e o recebemos de coração puro e corpo casto. Mas infelizmente são poucos os que recebem e por Ele querem ser salvos, embora seja suave o seu jugo e leve o seu fardo.

Daqueles que não querem observar os mandamentos de Deus

Os que não querem provar “como é doce o Senhor e amam mais as trevas do que a luz” porque não querem cumprir os mandamentos de Deus, esses são malditos. É deles que foi dito pelo Profeta: “Malditos os que se afastam dos vossos mandamentos”. E quão ditosos e benditos são ao contrário os que o Senhor e procedem como o Senhor mesmo diz no Evangelho: Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, e amarás o teu próximo como a ti mesmo.

Do amor de Deus e de como adorar a Deus

Amemos, pois, a Deus e adoremo-lo com o coração e espírito puros, porque Ele mesmo exigiu isto acima de tudo, dizendo: “Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade, pois todo aquele que o adorar deve adorá-lo em espírito e verdade”. E queremos oferecer-lhe os nossos louvores e preces de dia e de noite, dizendo: “Pai nosso que estais nos céus”, pois “é preciso orar em todo o tempo e não desfalecer”.

Que devemos confessar os nossos pecados aos sacerdotes

Todos devemos confessar os nossos pecados ao sacerdote e é dele que recebemos o corpo e o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pois quem não comer a sua carne e não beber o seu sangue não pode entrar no reino de Deus. É preciso, no entanto, que se coma e beba dignamente, porquanto, quem o receber indignamente, “come e bebe a sua própria condenação porque não discerne o corpo do Senhor”
Façamos, além disso, “dignos frutos de penitência”. E amemos o nosso próximo como nós mesmos. E se alguém não quiser ou não puder amá-lo como a si mesmo, ao menos não lhe faça algum mal, mas o bem.

Como aqueles que receberam o poder par isso devem julgar os outros

Os que estão investidos do poder de julgar os outros exerçam o cargo de juiz com piedade assim como eles mesmos esperam obter do Senhor a misericórdia. Porque sem misericórdia será julgado quem não fez misericórdia. Sejamos pois caridosos e humildes e façamos esmola porque esta lava a alma das manchas do pecado. Os homens enfim perdem tudo o que deixam neste mundo. Mas levam consigo o fruto da caridade e as esmolas que tiveram feito e o Senhor lhes dará por elas o prêmio e recompensa condigna.

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