17 de maio de 2009

O Soberano Bem

São Pedro Julião Eymard

Os discípulos que se dirigem a Emaús acham-se interiormente abrasados, iluminados, tocados pelas palavras do divino estrangeiro que com eles se reunira durante a viagem.

Quando quer deixá-los: Oh! ficai conosco - dizem-lhe -, ficai, porque se faz tarde.

Não podiam saciar-se de ouvir o Senhor: parecia-lhes que, perdendo-o, perdiam tudo.

Em nossos dias, bem podemos dizer a nosso Senhor: Oh! ficai conosco, Senhor; sem vós, é a noite, a noite horrível!

Efetivamente, a Eucaristia é o soberano bem do mundo. Estar privado da Eucaristia seria a maior das desgraças.

Sim, Jesus é o Soberano Bem! Com ele, diz a Sabedoria, me vieram todos os bens. E São Paulo exclama: Pois que Deus nos deu o seu Filho, como não nos daria com ele todas as coisas?

Com efeito, tudo quanto ele possui, tudo quanto ele é, ele nos dá; não pode fazer mais.

Com Jesus-Eucaristia, a luz brilha no mundo. Com a Eucaristia, temos o pão dos fortes, o viático dos viajantes, o pão de Elias que nos ajuda a chegar até a montanha de Deus, o maná que nos faz suportar o horror do deserto.

Com Jesus, temos a consolação, o repouso nas fadigas, nas perturbações de nossa alma, nos despedaçamentos de nosso coração.

Na Eucaristia, encontramos o remédio para os nossos males, o preço das novas dívidas que todos os dias contraímos para com a justiça divina, por nossos pecados: Nosso Senhor se oferece cada manhã como vítima de propiciação pelos pecados do mundo.

Mas esse Dom superior a todo dom, estamos seguros de sempre o possuir?

Jesus Cristo prometeu permanecer com a sua Igreja até a consumação dos séculos: não fez promessa a nenhuma povo, a nenhum indivíduo em particular.

Ele ficará conosco se soubermos rodear a sua sagrada Pessoa de honra e de amor. A condição é expressa.

À honra, Jesus Cristo tem direito. Ele o exige. É o nosso Rei, o nosso Salvador. A ele, honra acima de qualquer outra honra; a ele, o culto supremo da latria; a ele, honra pública: somos o seu povo.

A Corte celeste se prostra em presença do Cordeiro imolado. Neste mundo, Jesus recebeu as adorações dos anjos em sua chegada, das multidões durante sua vida, dos Apóstolos, após sua ressurreição.

Os povos e os reis vieram para adorá-lo.

No Sacramento, não tem Jesus direito a mais honra ainda, pois que multiplica os sacrifícios e ainda mais se humilha?

A ele a honra solene, a magnificência, a riqueza, a beleza do culto. Deus fixara os menores detalhes do culto mosaico, que era apenas uma figura. Os séculos de fé jamais julgaram fazer bastante para o esplendor do culto Eucarístico: testemunham-no as basílicas, os vasos sagrados, os ornamentos, obras-primas de arte e magnificência.

A fé operava essas maravilhas; o culto, a honra tributados a Jesus Cristo são a medida da fé de um povo, a expressão de sua virtude.

Honra pois a Jesus-Eucaristia: é digno dela, a ela tem direito!

Mas ele não poderia contentar-se com honras exteriores. Ele requer o culto do nosso amor: o nosso serviço interior, a submissão de nosso espírito, não encerrados dentro de nós, mas manifestando-se pelas atenções tão ternas, tão amáveis, de um bom fiho para com seus pais, de um filho que vive ao redor do pai, da mãe, que sente necessidade de vê-los, de lhes dar os testemunhos de sua ternura; que, longe deles, sofre e definha, que se acha presente à primeira necessidade, que voa ao primeiro sinal, que previne os seus desejos na medida do possível, que se acha pronto a tudo para dar prazer ao bom pai, à boa mãe: eis o culto do amor natural.

É o mesmo culto de amor reclamado por Jesus-Eucaristia. Procura a Eucaristia, aquele que ama; acha prazer em falar nela, sente necessidade de Jesus, tende incessantemente para ele, oferece-lhe todas as ações, todos os prazeres de seu coração, as alegrias, as consolações: de tudo faz um ramalhete para Jesus-Eucaristia.

É opr este preço que conservaremos o Santíssimo Sacramento, pois perdê-lo seria o soberano mal.

Quando o sol se deita, acumulam-se as trevas: quando não brilha, faz frio.

Quando o amor da Eucaristia se extingue num coraçõa, perde-se a fé, reina a indiferença, e, nessa noite da alma, saem os vícios como animais ferozes em busca da presa.

Oh! desgraça incomparável! Quem poderá reanimar um coração gelado, quando a Eucaristia é impotente para aquecê-lo?

E o que Jesus Cristo faz com os indivíduos, ele o faz com os povos.

Não é mais amado, respeitado, conhecido; abandonam-no, desprezam-no. Que faria um rei, abandonado por seus súditos?

Jesus se vai! Vai em busca de um povo melhor. Que tristes espetáculos esses abandonos de Nosso Senhor! Houve um Tabernáculo no Cenáculo: e hoje, o Cenáculo é uma mesquita! Não havia mais verdadeiros adoradores. Que queríeis que Jesus fizesse?

O Egito, a África, outrora terras clássicas dos santos, habitadas por legiões de santos monges, Jesus Cristo as abandonou; ali, desde que a Eucaristia deixou de estar presente, reina a desolação: mas ficai seguros de que Jesus Cristo foi o último a deixar o lugar, quando não encontrou mais um só adorador.

Saibamos bem que, indo Jesus, voltarão os cadafalsos, a perseguição, a barbaria.

Quem deteria esses flagelos?

Ó Senhor, ficai conosco! Nós seremos os vossos fiéis adoradores! Mais valeria o exílio, a mendicidade, a morte, que a privação de vós.

Oh! não nos inflijais esse castigo de abandonar o santuário de vosso amor.

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