9 de maio de 2009

CATECISMO ROMANO - EUCARISTIA (PARTE 6)


I. A EUCARISTIA COMO SACRAMENTO
Catecismo Romano

VII. DOGMAS EUCARÍSTICOS

VII.2. Cessação das substâncias do pão e do vinho

Agora devem os pastores tratar do segundo ponto já mencionado, ensinando que, após a Consagração, não permanecem as substâncias do pão e do vinho. Pode este Mistério provocar justamente a mais forte admiração, mas é uma conseqüência necessária da doutrina que acabamos de demonstrar.

Na verdade, se depois da Consagração o verdadeiro Corpo de Cristo está presente debaixo das espécies do pão e do vinho, uma vez que antes ali não estava, era necessário que isso se efetuasse, ou por mudança de lugar, ou por criação, ou pela conversão de outra coisa nesse mesmo Corpo.

Ora, é certo que não podia o Corpo de Cristo estar presente no Sacramento, por mudança de um lugar para outro. Nesse caso, viria a deixar as mansões celestiais, pois nada se move, sem abandonar o lugar donde parte o movimento.

Mais absurdo seria admiti-se uma nova criação do Corpo de Cristo, de sorte que tal hipótese nem pode ser levada em consideração.

Resta, portanto, uma única possibilidade: o Corpo de Nosso Senhor está presente no Sacramento, porque o pão se converte no próprio Corpo de Cristo. Como conseqüência, devemos admitir que não remanesce coisa alguma da substância do pão.

Foi esta razão que levou os Padres e Teólogos da antigüidade a confirmarem abertamente a verdade deste dogma, pelos decretos do Concílio Ecumênico de Latrão e do Concílio de Florença. Mais explícita, porém, é a definição do Concílio Tridentino: "Seja anátema quem disse que no Sacrossanto Sacramento da Eucaristia remanesce a substância do pão e do vinho, juntamente com o Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo".

Sagrada Escritura
Mas era fácil também tirar-se esta conclusão dos testemunhos da Escritura. Em primeiro lugar, porque o próprio Nosso Senhor havia dito na instituição deste Sacramento: "Isto é o Meu Corpo". A palavra "isto" designa, pelo seu sentido, toda a substância de uma coisa presente. Ora, se persistisse a substância do pão, em hipótese alguma poderia Ele dizer com propriedade: "Isto é o Meu Corpo".

No Evangelho de São João, diz ainda Cristo Nosso Senhor: "O pão que Eu darei, é a Minha Carne para a vida do mundo" (Jo VI, 52). Chama, pois, ao pão a Sua Carne. Mais adiante acrescentou: "Se não comerdes a Carne do Filho do Homem, e não beberdes o Seu Sangue não tereis a vida em vós" (Jo VI, 53). Em seguida rematou: "A Minha Carne é verdadeiramente comida, e o Meu Sangue é verdadeiramente bebida" (Jo VI, 56).

Se em termos tão claros e incisivos designa Sua Carne como pão e verdadeiro alimento, e Seu Sangue como bebida igualmente verdadeira, prova é suficiente de que Cristo dava a entender que, no Sacramento, não restava nenhuma substância de pão nem de vinho.

Santos Padres

Quem versar os Santos Padres, desde logo verá que foram sempre unânimes na exposição desta doutrina.

Santo Ambrósio, por exemplo, escreve nestes termos: "Tu dizes talvez: o meu pão é pão comum. No entanto, este pão é pão antes das palavras sacramentais. Logo que se realiza a Consagração, de pão que é, torna-se Carne de Cristo". E a provar, mais comodamente, as suas afirmações, aduz ele muitos exemplos e semelhanças.

Noutro lugar, onde se põe a interpretar a passagem "O Senhor fez tudo quanto queria no céu e na terra" (Sl CXXXIV, 6), tece o seguinte comentário: "Com serem as aparências de pão e de vinho, todavia devemos crer que, feita a Consagração, nelas não existe outra coisa senão a Carne e o Sangue de Cristo".

Santo Hilário, por sua vez, expõe a mesma doutrina quase pelas mesmas palavras. Ensina que o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor estão verdadeiramente presentes, ainda que por fora só se veja a representação de pão e de vinho.

O "Pão" Eucarístico

Nesta altura, façam ver os pastores que não é para admirar se depois da Consagração ainda falamos de "pão". Implantou-se o costume de chamar assim à Eucaristia, já porque tem as aparências de pão, já porque conserva a virtude natural de nutrir e sustentar o corpo, qualidade intrínseca de todo pão.

Além do mais, as Escrituras costumam chamar as coisas pelas suas aparências, assim como claramente nos mostra aquela passagem do Gênesis, na qual se diz "terem aparecido a Abraão três homens" (Gn XVIII, 2), que na realidade eram três Anjos E "aqueles dois" que apareceram aos Apóstolos, na Ascensão de Cristo Nosso Senhor aos Céus, são chamados "homens", apesar de serem Anjos (At I, 20).

Dificílima se torna, sob todos os pontos de vista, uma explicação mais ampla deste mistério. Ainda assim, tentarão os pastores explicar a maneira dessa admirável conversão, pelo menos aos que forem mais versados nos Mistérios Divinos. Quanto aos menos instruídos, seria para temer que não suportem o peso da doutrina.

Essa conversão se opera de tal sorte que, pelo poder de Deus, a substância total do pão é convertida na substância total do Corpo de Cristo, e a substância total do vinho na substância total do Sangue de Cristo, sem que Nosso Senhor sofra qualquer alteração de Sua natureza. Pois Cristo ali não é gerado, nem mudado, nem aumentado, mas permanece na integridade de Sua substância.

Santos Padres

Na explicação deste Mistério, diz Santo Ambrósio: "Vês como é eficiente a palavra de Cristo. Se a palavra do Senhor Jesus é de tanta virtude, que fez começar o que não existia, como por exemplo o mundo, quanto mais eficiência não terá para conservar as coisas já existentes e convertê-las em outras".

No mesmo sentido escreveram também outros Padres antigos, muito respeitáveis pela autoridade de sua doutrina. Diz Santo Agostinho: "Cremos que, antes da Consagração, subsistem o pão e o vinho, conforme os fez a natureza; mas, depois da Consagração, existem a Carne e o Sangue de Cristo, que a palavra da bênção consagrou". São João Damasceno se exprime assim: "O Corpo está realmente unido à Divindade, o mesmo Corpo tomado do seio da Santíssima Virgem; não porque esse Corpo desça do Céu para onde havia subido, mas porque o próprio pão e o vinho se convertem no Corpo e no Sangue de Cristo";

Transubstanciação

É com justeza e propriedade, observa o Concílio de Trento, que a Santa Igreja Católica chama de "transubstanciação" essa portentosa conversão. Assim como a geração natural pode, adequadamente, chamar-se "transformação", porque nela se efetua uma mudança de forma; assim também foi com muito acerto que nossos maiores inventaram o termo "transubstanciação"; porquanto, no Sacramento da Eucaristia, a substância total de uma coisa se converte na substância de outra coisa.

Cumpre-nos, entretanto, lembrar aos fiéis uma recomendação, que os Santos Padres sempre tornavam a encarecer. É que se não deve investigar, com excessiva curiosidade, de que maneira se processa essa conversão, pois não a podemos perceber com os sentidos, nem encontramos fato análogo nas mudanças da natureza, nem até na própria criação das coisas. Só pela fé podemos saber o que ela vem a ser, mas não devemos inquirir curiosamente a maneira de sua realização.

Não menos avisados sejam os pastores na exposição daquele outro mistério, isto é, de como o Corpo de Cristo Nosso Senhor se contém todo até na mínima partícula de pão. Raras vezes haverá necessidade de tais explanações; mas, quando as exigir a caridade cristã, lembrem-se os pastores, em primeiro lugar, de premunir os ânimos dos fiéis com aquela palavra inspirada: "A Deus nada é impossível" (Lc I, 37).

Presença substancial e não local

Ponham-se então, a ensinar que Cristo Nosso Senhor não está neste Sacramento como que num lugar. Nos corpos, lugar é um resultante natural de suas próprias dimensões. Segundo a nossa doutrina, Cristo não está no Sacramento, enquanto é grande ou pequeno – o que exprime quantidade – mas está presente como substância. Ora, a substância do pão converte-se na substância de Cristo, e não em Sua grandeza ou quantidade.

Sem dúvida alguma, uma substância tanto se contém num espaço pequeno como num grande. Assim é que a substância e natureza do ar está toda numa pequena porção de ar, da mesma forma que se encontra num grande volume. Por igual razão, num pequeno vaso se contém necessariamente toda a natureza da água, como a que existe num rio volumoso.

Portanto, já que o Corpo de Nosso Senhor se substitui à natureza do pão, força é dizer que Ele está no Sacramento, do mesmo modo que estava a substância do pão, antes de ser consagrada. Para esta, porém, tanto fazia encontrar-se em maior ou menor quantidade.

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