30 de novembro de 2009

Reflexão sobre o Evangelho Dominical - I Domingo do Advento - Parte 2 de 6

1º Domingo do Advento

De: "Pensamentos sôbre os Evangelhos e sôbre as festas do Senhor e dos Santos" - Pe. João Colombo. Nihil obstat: Pe. João Roalta - Imprimatur: Mons. J. Lafayette

Título original: "Pensieri sui Vangeli e sulle Feste del Signore e dei Santi" Milão, Itália.
Escrito entre 1927-1938. Primeira edição em 1939.

Lc. XXI, 25-33.


2- O JUÍZO UNIVERSAL: DIA DA JUSTIÇA

Muitos, tendo visto que neste mundo os acontecimentos se desenrolam muitas vezes sem justiça, escandalizados disserem que a Providência não existe.
No tempo dos antigos Gregos, o filósofo Aristóteles, com um senso de amargura profunda, escreveu que a justiça deste mundo é uma teia de aranha que detém os mosquitos e deixa passar os pássaros.
No tempo dos Romanos, Bruto, defensor da liberdade republicana, quando em Filipes, viu os seus exércitos desbaratados e a sua causa perdida, matou-se com sua própria mão, exclamando: “Virtude, tu não passas de um nome!”
E quantas vezes, na história, se encontram pessoas culpadas de atrozes crimes, as quais com o fulgor do ouro fizeram empalidecer as leis, e deslumbraram os juízes!
E mesmo pela nossa experiência quotidiana podemos concluir que neste mundo, os mais felizes nem sempre são os melhores, e as desgraças nem sempre vem recair sobre os que as mereceram.
Contudo, a justiça finalmente virá.
“Observai a figueira, e, em geral, todas as plantas. Quando a casca – dizia Jesus – se torna mais tenra e úmida, quando os gomos entumescidos deixam transparecer na ponta um olho verde, dizeis que já vem a primavera. Pois bem, dar-vos-ei os sinais para conhecerdes a chegada da minha justiça.
Sinais na terra: irromperão guerras de povo contra povo, propagar-se-ão doenças contagiosas de cidade em cidade, e longos incêndios arderão sobre toda a face do mundo. Tristes e mudos, os viventes de então consumir-se-ão pelo medo e pela expetação.
Sinis no céu; o sol apagar-se-á rugindo como um ferro em brasa na água, a lua negará os seus pálidos raios, as estrelas, como ébrias, sairão do seu caminho e precipitar-se-ão; toda potência do universo se abalará.
Então, sobre as nuvens, com poder e majestade, ver-se-á vir o Filho de Deus.”
E Ele revelará.
E falará.
E condenará.

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1 – E revelará.
Quando na escuridão de um aposento penetra um repentino feixe de luz, num lance de olhos vê-se tudo o que há no aposento: vê-se até o grão de pó sobre os móveis, e os corpúsculos que dançam no vazio. Assim será no aparecer do Filho de Deus: toda a nossa consciência será invadida pela sua luz fulgurante. Nem um ângulo ficará na sombra, nem uma página da nossa vida ficará obscura. Aquela será a hora da verdade.
Aquelas visitas frequentes, aqueles passeios, aqueles encontros que se acreditou encobrir sob o pretexto de uma amizade inocente, ou de um justo passatempo, aparecerão então quais são, motivos de paixão impura.
Aquelas coisas que se levavam para casa sob pretexto de compensar-nos da injustiça paga ou daquilo que nos haviam tirado, então aparecerão qual realmente são: um furto.
É fácil, neste mundo, perder a Missa com a desculpa de que falta tempo, descuidar da Doutrina cristã a pretexto dos negócios, omitir as orações da noite por causa do cansaço;mas então todos saberão que não se achava tempo para os deveres religiosos, mas achava-se tempo – e quanto! - para os divertimentos, para as palestras, para o jogo, para os pecados.
É fácil, neste mundo, profanar pelo trabalho o dia festivo, e esconder o próprio pecado sob a aparência de uma necessidade ou da urgência; mas a avareza sórdida que nos impele a este sacrilégio será desvendada naquele dia.
Tudo será desvendado: mas sobretudo os pecados conservados ocultos mesmo na Confissão, e arrastados dia a dia com uma longa cadeia de sacrilégios.
Quem pode imaginar a confusão do réprobo, descoberto aos olhos de todos, aos olhos de Deus?
Efrém era diácono de Edessa, quando por uma pessoa impudica foi solicitado a ofender o Senhor. E depois de haver tentado em vão todos os recursos para converter aquela alma infeliz, apegou-se a um estratagema.
“Esta bem – disse – ele finalmente – já que não queres aderir às minhas palavras persuasivas, condescenderei com as tuas, contanto que me concedas escolher o lugar”.
“E onde?”.
“Na praça do mercado de Edessa”.
Porém ela recusou, horrorizada de vergonha.
“Estulta! - replicou o santo. - Se temes o olhar destes cidadãos, como poderás sustentar o olhar fulgurante de Cristo juiz, quando com Ele te olharem os cidadãos de odos os séculos e de todas as cidades? Quando não um só, porém todos os pecados da tua vida forem revelados?”

2- E falará.
Santa Catarina de Sena, uma noite em que orava de joelhos diante do Crucifixo, viu sair uma luz das chagas do Senhor, e depois ouviu um gemido que a censurava por ter estado naquele dia distraída na meditação.
A santa começou a tremer de espanto, e um suor gélido regou-lhe os membros, e dos seus olhos caíram amaríssimas lágrimas.
“Experimentei uma dor tal – manifestou ela depois – como não provarei jamais, nem mesmo se me envergonhassem diante do rei do mundo. Eu preferiria caminhar por meses e meses sobre uma estrada tecida de espinhos, a tornar a sentir a punção daquela censura”.
E, no entanto, o defeito dela era um pequeno defeito, e talvez não totalmente voluntário. Todavia Jesus lhe falava por amor, querendo purificá-la de toda fraqueza e transportá-la a uma altíssima perfeição. Que aturdimento indizível não deverá ser, pois, o dos réprobos quando no seu furor, Cristo os exprobrar pelos seus enormes pecados? Loquetur ad eos in ira sua, et in furore suo conturbabit eos. (Ps., II, 5).
“Presta-me conta – dir-nos-á Ele – da vida que te dei. Onde esta o bem que fizeste em trinta, quarenta, cinquenta anos? Quantas são as tuas Comunhões, mortificações, esmolas, boas obras?”
“Presta-me conta – dir-nos-á Ele – das minhas boas inspirações. Que fizeste daqueles pensamentos de bem que dia a dia eu te enviava? Que fizeste daqueles remorsos com que eu te pungia o coração quando ouvias as prédicas, quando te achavas na solidão? Enxotaste-os como moscas, sufocaste-os: agora mos pagarás”.
“Presta-me conta – dir-nos-á Ele – da tua família. Teus pais te educaram bem, te ensinaram a respeitar a minha lei e o meu nome, mas tu por que esqueceste os ensinamentos deles? Teus filhos por que não cresceram bons? E como podiam crescer tais, se não te preocupavas com eles, se os não castigavas quando eles fugiam da igreja, se os escandalizavas com maus exemplos?”
Presta-me conta – dir-nos-á – dos sacerdotes que eu coloquei perto da tua alma. Eles te ensinavam, e tu não ias ouvi-los. Pregavam, e tu fechavas os ouvidos. Censuravam-te em meu nome, e tu os odiaste”.
“Presta-me conta – dir-nos-á ele – dos meus sacramentos. Tinhas na alma o demônio, e não ias confessar-te: desprezas-te o sacramento do perdão, e agora pretendes que eu te perdoe? Oh! Quantas vezes te esperei no silêncio do Tabernáculo, e não vieste! Esperei-te na Páscoa, esperei-te nas Quarenta Horas, esperei-te no dia do Perdão, esperei-te no dia de Finados . . . E não vieste?”.
“Ah! Presta-me conta do meu sangue. O sangue que eu derramei debaixo das oliveiras, o sangue da flagelação, o sangue da coroação de espinhos, o sangue das minhas mãos e dos meus pés, o sangue do meu coração. Todo o sangue foi inútil para ti”.
Quid sum miser tum dicturus? Míseros, confundidos, nus, sob o olhar pungente de todos os homens que existiram, que existem, que existem e que existirão, quem de nós ousará responder alguma coisa?

3- E condenará.
Antes do alvorecer Santo Agostinho foi acordado por um gemer longo e por um soluçar dilacerante que lhe vinha da rua.
Dois homens semi-nus, de barba e cabeleira sórdida e comprida, magros e famintos, tremiam convulsivamente diante da porta do bispo. Entrementes, todo o povo de Hipona acorrera para os ver.
“Como vos chamais?’ perguntou Santo Agostinho.
“Paulo e Paládio”, responderam eles, sem cessarem de chorar e de tremer.
“Sossegai, nós vos socorreremos”.
“É impossível sossegarmos. Estamos vindo de Cesaréia da Capadócia, onde eramos sete irmãos e três irmãs. Ofendemos nossa mãe viúva, e ela amaldiçoou-nos, e a sua maldição passou à nossa pele, à nossa carne, ao nosso sangue, aos nossos ossos. E como estais vendo, faz-nos tremer noite e dia sem trégua . . . Santo de Deus, livra-nos da maldição de nossa mãe, ou, se mais não puderes, faze-nos ao menos a graça de morrermos”.
Santo Agostinho orou por eles, e Deus livrou-os.
Refleti cristãos; se tanto pode naqueles filhos a maldição de uma mãe terrena, que não produzirá em nós a terrível, irrevogável, final maldição de Deus, nosso pai, ofendido pelos nossos pecados? Ite, maledicti, in ignem æternum.
Agora não sabemos compreender o que importe a privação de Deus; apenas podemos fazer uma idéia bastante remota e confusa.
Imaginai se nesta igreja faltasse o ar: os nossos olhos se entumesceriam, as faces tornar-se-nos-iam lívidas, abriríamos a boca delirando, sufocaríamos. Um tormento que a isto se assemelha, porém, infinitamente maior, experimentará a alma que, amaldiçoada, sente privar-se de Deus, que é a sua respiração.
Ter sempre sede, sem jamais beber; ter sempre fome sem jamais comer; tremer de frio sem uma chama, arder pelo fogo sem uma aragem que nos refresque: assim a alma sem Deus.
Terríveis tormentos, mas esta triste recompensa o próprio pecador invoca-a sobre si, pecando. E, quando soar a mobilização geral das consciências, quando sobre toda a terra atroar o grito tremendo; - Levantai-vos, ó mortos! - então Deus não fará senão sancionar aquilo que cada um quis para si.
“Ó cristão! Com o pecado tu te degradaste a ti mesmo, seja feita a tua vontade, para sempre. Fiat voluntas tua, in aeternum”.
“Ó cristão! Com o teu pecado expulsaste-me do teu coração. Eu ratifico: para sempre. In aeternum”.
“E agora vai-te, pois não te conheço mais: para sempre. In aeternum”.

Conclusão.
Um pequeno Rei declarara guerra a um grande Rei. Mas depois sentou-se, e começou a refletir: ‘Como posso nutrir esperanças de vencê-lo, se conto apenas com dez mil soldados, quando o meu adversário conduz mais de vinte milhões?” E, sabiamente, enquanto os exércitos ainda estavam longe, enviou uma embaixada pedindo humildemente a paz e os pactos de submissão. Legationem mittens rogat ea quae pacis sunt. (Lc., XIV , 32).
Ora, o Evangelho deste primeiro domingo do Advento assegura-nos que Jesus Cristo, o grande Rei sobre cujo flanco esta escrito o sinal do poder infinito, Rex Regum et Dominus dominantium. (apoc., XIX, 16), deve vir do céu a julgar a terra. Que somos nós diante dEle? Acaso pretendemos resistir-lhe?
Obremos sabiamente como o pequeno rei da parábola: enquanto ainda está longe, enquanto ainda estamos em tempo, peçamos-lhe os pactos de paz, e sujeitemo-nos a todos os seus doces mandamentos.

29 de novembro de 2009

Do jejum de dezembro e das esmolas (São Leão Magno, sermão 8)

Quando o Salvador instruía os seus discípulos acerca da vinda do reino de Deus e do fim do mundo e dos tempos, pelos Apóstolos, também toda a Igreja ensinava: Cuidai, disse, para que os vossos corações, por acaso, não se sobrecarreguem na bebedeira e ebriedade e pensamentos seculares. Esse preceito, diletíssimos, percebemos caber especialmente a nós, que daquele dia, ainda que ele seja oculto, não duvidamos de estar próximos.

Convém a todo homem preparar-se para a vinda d'Ele, a fim de que não encontre ninguém dado próprio ventre ou aos cuidados mundanos. Prova-se pela experiência de todo dia, diletíssimos, que a saciedade de bebida estraga a acurácia da mente, e a abundância de comidas enfraquece o vigor do coração, de modo que o deleite de quem come é contrário à saúde até do próprio corpo, se não atentar para a temperança que se opõe a isso e afasta o futuro fruto do prazer.

Nenhum corpo possui desejo se não tiver alma, e da mesma fonte que recebe o sentido, recebe também o movimento: por isso pertence à alma negar certas coisas ao seu súdito (o corpo), e refrear as coisas exteriores que não convêm segundo o juízo interior, para que, por mais tempo livre das concupiscências carnais, no templo da alma possa repousar na sabedoria divina, onde, silenciado todo ruído dos cuidados terrenos, em meditações santas e nas delícias eternas se regozije.

Tradução nossa.

Reflexão sobre o Evangelho Dominical - I Domingo do Advento - Parte 1 de 6

1º Domingo do Advento

De: "Pensamentos sôbre os Evangelhos e sôbre as festas do Senhor e dos Santos" - Pe. João Colombo. Nihil obstat: Pe. João Roalta - Imprimatur: Mons. J. Lafayette

Título original: "Pensieri sui Vangeli e sulle Feste del Signore e dei Santi" Milão, Itália.
Escrito entre 1927-1938. Primeira edição em 1939.

Lc. XXI, 25-33.

I. O JUÍZO UNIVERSAL

Para além dos séculos, Deus pôs um sinal ao qual todos os caminhos deverão chegar. Este sinal é a sua cruz, que aparecerá, no fim do mundo, no céu vazio, e fulgurará terrivelmente sobre a cabeça de todos os homens reunidos de todas as partes e prostrados sobre a terra nua. Será esse o dia mais tremendo. Dies irae dies illa!
Na manhã de 14 de setembro do ano 258, no Campo Sextio, molhado ainda do orvalho, era decapitado o bispo de Cartago. Os inimigos de Cristo haviam-no prendido e trazido perante o procônsul Galério.
Galério: “És tu Tascio Cipriano?”
Cipriano: “ Sou eu mesmo”.
Galério: “Que Tascio Cipriano seja justiçado à espada”.
Cipriano: “Deo gratias”.
Mas, quando os soldados se prepararam para executar a sentença, quando os fiéis estenderam paninhos em torno para recolher o seu sangue que seria derramado, o santo teve um frêmito e, cobrindo os olhos com as mãos, disse: “Vae mihi cum ad judicium venero!” Foi um instante: depois estendeu a cabeça.
Se o pensamento do juízo de Deus fazia tremer os mártires, que será de nós? Que faremos nós e que diremos diante do Juíz divino? Pensemos em que aquele será:
dia da grande manifestação,
dia da grande acusação.





1- Manifestação sem véus.

Representemo-nos a nossa alma perante aquele tribunal supremo, circundada pelos anjos e pelos homens: os justos e os pecadores, os parentes e os conhecidos, os superiores e os inferiores, os amigos e os inimigos. Os olhos de todos estão sobre nós. Sobre nós estão os olhos de Deus.
Entrementes se refará a história da nossa vida, desde os dias remotos e esquecidos da infância até o da nossa morte. Então aparecerá todo o mal que encobertamos fizemos, e todo o bem que preguiçosamente não quisemos fazer.

a) Todo o mal que encobertamente fizemos.

Neste mundo nós acreditamos enganar os olhos do esposo, a vigilância dos pais, a boa fé talvez de um padre a quem arrancamos a absolvição. Trabalho perdido: lá todos saberão de tudo.
Passávamos por amigo fiel, sincero, generoso: ao contrário, verão que eramos desleais, interesseiros sem consciência.
Passávamos como sendo pessoa justa que se contenta com o que é seu: ao contrário, conhecer-se-ão as fraudes dos nossos negócios, e todos poderão contar o dinheiro e as coisas extorquidas aos outros.
Passávamos como um homem íntegro e honesto; ao invés, aparecerão as nossas infâmias cometidas na sombra e no segredo.
E não só o mal que fizemos fora de nós, mas também o mal que ficou dentro de nós, no recôndito da alma, será manifestado.
Tantos desejos vergonhosos que nas horas de ócio enchiam nossa mente; tantos instintos de inveja e de rancor que dissimulamos, mas que no entanto eram o motivo profundo das nossas malignas vingancinhas; tantos projetos de pecados que só não executamos por ter faltado a ocasião: veremos estas iniquidades saltadas do nosso coração, sem o sabermos, quase como uma emboscada. Ante a história secreta do nosso coração sentiremos horror de nós mesmos.
Ao exame do mal que fizemos seguir-se-á o do bem que, podendo, não quisemos fazer.

b) Todo o bem que podíamos fazer e que preguiçosamente não quisemos fazer.

Neste mundo é fácil esconder por trás de um comodo pretexto a nossa preguiça no descuido do bem, e temos a ilusão de justificar-nos, dizendo: “Não me compete”, ou então “Não o consigo, não tenho os meios”. Porém lá em cima ser-nos-ão relembradas e lançadas em rosto todas as culposas omissões de que nossa vida é tecida.
Todas as ocasiões de dar a Deus uma glória que não demos; todas as almas que poderíamos ter salvado com a oração, com o conselho, com a esmola, e que não salvamos; todas ao Santas Comunhões, Missas, prédicas que descuidamos por preguiça; todos os dias perdidos, sacrificados aos mexericos e aos prazeres do mundo, sem um pensamento que os consagrassem a Deus e os tornasse bons para a eternidade.
Manifestação total, pois: do mal feito ora e dentro de nós, e d0o bem não feito.
c) E será uma manifestação sem véus.
Na terra, quando fomos capaz de um delito que nos precipitou na infâmia e no desprezo, fugimos do nosso país, abandonamos a pátria e procuramos um lugar, noutro continente, onde ninguém nos conheça, onde ninguém saiba nem venha a saber, onde ainda nos seja possível respirar e redimir-nos. Mas, no dia do grande juízo, em que ignotas regiões poderemos refugiar-nos, se todas foram destruídas? Em que povos estrangeiros, se todo homem poderá ler-nos na fronte a chaga e o destino?
Na terra, o homem desonrado pode esconder-se, pode intrometer-se na multidão dos indiferentes, e esperar que com o tempo se aplaque o rumor das suas maldades. Mas isto não será possível na hora do juízo universal: não mais confusão, porém separação. Do alto, como um grande pastor, com o seu cajado ardente Cristo separará os cordeiros dos bodes: os bons dos maus. E será uma separação cruel: o amigo do amigo, o irmão do irmão, o pai do filho, um tomado e outro abandonado. E será uma separação ignominiosa, por que todos nos verão e nos desprezarão.
Um nobre romano de nome Pison foi obrigado a comparecer no senado revestido com a túnica infame de réu. Mas, quando, assim coberto de opróbrio, se achou perante os senadores que dos seus assentos olhavam para ele, mesmo antes de comparecerem os juízes no tribunal, mesmo antes de levantarem os acusadores os rostos, ele não pode mais aguentar-se de vergonha. Resistiu um pouco, empalideceu como alguém que desmaia: porém, depois, subtamente puxou de um estilete que por acaso trazia sobre as vestes, e matou-se (DIONE CASSIO).
Oh! Se na hora do juízo de Deus os réprobos possuíssem um estilete! Oh! Se ao menos pudessem morrer outra vez, morreria todos de vergonha!

2. Dia da grande acusação.

a) A acusação do demônio.

Santo Agostinho assegura-nos que o primeiro a levantar-se contra nós será o demônio. Logo ele, que agora, com toda lisonja e dolo, nos atira na lama. Dirá ele: “durante a vida esta alma observou os mandamentos, Senhor, não da tua, mas da minha lei. Dá-me, pois, que ela me pertence”.
Nós ousaremos balbuciar: “Senhor, seguir o demônio era menos trabalhoso, dura demais é a tua lei”.
“Não é verdade, não é verdade! -Insultar-nos-á o demônio- Eu te fazia trabalhar mesmo no Domingo, enquanto a suave lei de Deus te teria concedido o repouso, e tu trabalhavas para mim, sem te lamentares, eu te fazia beber mesmo quando já não tinhas sede: e tu, por mim, bebias ainda, até te sentires mal, até te bestializares na embriaguez. Eu te mandava dançar: e tu, cansado dos seis dias de trabalho dançavas no Domingo para me fazeres rir. Eu te sugeria um encontro equívoco: e tu, para me escutares, deixavas a tua família e, embora fizesse frio, embora chovesse, te aguentavas esperar debaixo da água ou da neve, por horas e horas aquela pessoa. Eu te impunha esbanjares no vício o suor da tua semana: e tu, que tinhas medo de dar de esmola um ceitil, consumias nas reuniões e nos prazeres o sustento de tua família. Nada leve o meu jugo: mas preferiste-o!”

b) A acusação do Anjo.

Depois surgirá o nosso Anjo. Sim, o Anjo da Guarda, a quem a Piedade Suprema nos confiará, também ele se tornará acusador. “Meu Senhor -dirá ele- o meu dever de iluminá-lo, guardá-lo, regê-lo, governá-lo, cumpri-o. Mas em vão. Em vão, ó Senhor, iluminei-lhe a mente com bons pensamentos, a alma com as boas palavras de sacerdotes e de amigos, o caminho com o bom exemplo de companheiros. Em vão eu o guardava, pois por sua teimosa vontade ele ia ter com as pessoas más e aos lugares perigosos. As tempestades de remorsos que eu lhe suscitava no coração, ele não quis render-se.”

c) A acusação dos homens.

Terminada a acusação do anjo mal e do anjo bom, surgirão os homens para nos acusar, será a voz dos inocentes escandalizados pelas nossas palavras, pelo nosso exemplo, pelos nossos incitamentos: “justiça de Deus -clamarão eles- vinga as nossas almas”.
Será a voz dos cúmplices dos nossos pecados: “justiça de Deus -gritarão eles- com ele o mal, com ele o inferno”.
Será, ó pais, a voz dos vossos filhos que não guardastes, que não educastes, que quiçá escandalizastes. “Senhor -dirão eles- em casa aprendi a não rezar, a blasfemar, a ofender-te!”
Será, talvez, ó pais, a voz débil dos filhos que não quisestes, ou que não abandonastes antes de nascerem: “Senhor -gemerão eles- nós também tínhamos direito à vida e não a tivemos!”

d) Acusação sem escusa.

Que escusa acharemos para opor a semelhante acusação? Acaso a nossa ignorância? Culpa nossa se nos não instruímos: todo Domingo havia pregação e doutrina. Acaso a nossa fraqueza? Mas todos os santos saltarão a dizer: “Também nós éramos de carne e sangue como vós, e nos salvamos”. Então surgirá o Juiz e julgará.

Conclusão.

Quando Moisés acabou de explicar ao povo a Lei de Deus, concluiu assim: “Filhos de Israel! Eis que eu hoje ponho diante de vós uma bênção e uma maldição: uma bênção se obedecerdes aos mandamentos de Deus, uma maldição se deixardes a estrada boa pela má. Escolhei”. (Deut., XI, 16-28)
As mesmas palavras eu repito a vós, ó cristãos, depois de vos haver proposto o novíssimo do juízo.
“Eis que eu hoje ponho diante de vós uma bênção eterna e uma eterna maldição. Quereis ser benditos no reino do céu para sempre? Ou quereis ser malditos no fogo do inferno para sempre? Escolhei”.

27 de novembro de 2009

Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos: NÃO é lícito negar a comunhão na língua devido à "Gripe Suína"

Fonte: Rorate Cæli
Tradução: Fratres in Unum

A Congregação para o Culto Divino e para a Disciplina dos Sacramentos respondeu a um católico leigo da Grã-Bretanha, na diocese em que a comunhão na língua havia sido restringida devido a preocupações relacionadas à epidemia do vírus Influenza A – subtipo H1N1 (“gripe suína”).

Não faz qualquer sentido científico uma vez que parece melhor ter apenas uma mão envolvida (aquela do Sacerdote). Parece mais seguro ter apenas um homem distribuindo a Sagrada Comunhão (o Sacerdote), nenhum “ministro extraordinário” de qualquer tipo, e que todos os fiéis recebessem a Comunhão da maneira tradicional.


Veja aqui a resposta em inglês.

Tradução da carta:

Prot. N. 655/09 L

Roma, 24 de julho de 2009

Prezado,

Esta Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos deseja dar-lhe ciência do recebimento de sua carta datada de 22 de julho, acerca do direito dos fiéis de receber a Sagrada Comunhão na língua.

Este Dicastério observa que sua Instrução Redemptionis Sacramentum (25 de março de 2004) claramente determina que “todo fiel tem sempre direito a escolher se deseja receber a sagrada Comunhão na língua” (n. 92), nem é lícito negar a Sagrada Comunhão a qualquer dos fiéis de Cristo que não estão impedidos pelo direito de receber a Sagrada Eucaristia (cf. n. 91)

A Congregação lhe agradece por trazer esta importante matéria à sua atenção. Esteja assegurado que os apropriados contatos serão feitos.

Possa o senhor perseverar na fé e no amor a Nosso Senhor e sua Santa Igreja, e em contínua devoção ao Santíssimo Sacramento.

Com todo bom desejo e benevolente estima, sou,

Sinceramente Vosso em Cristo,

Pe. Anthony Ward, S.M.
Sub-Secretário

26 de novembro de 2009

Reflexão sobre o Evangelho Dominical - XXIV e Último Domingo depois de Pentecostes - Parte Final

24º e Último Domingo depois de Pentecostes


De: "Pensamentos sôbre os Evangelhos e sôbre as festas do Senhor e dos Santos" - Pe. João Colombo. Nihil obstat: Pe. João Roalta - Imprimatur: Mons. J. Lafayette

Título original: "Pensieri sui Vangeli e sulle Feste del Signore e dei Santi" Milão, Itália.
Escrito entre 1927-1938. Primeira edição em 1939.

Evangelho: Mt. XXIV, 13-35.


5- O sinal do Filho do homem.

Surgirão falsos profetas, e farão prodígios para enganar até mesmo os eleitos, se possível fosse. E dirão: “Eis que Ele vem do deserto, eis que sai do interior da casa”. Não lhes deis ouvido, porque Jesus Cristo voltará imprevisto como o relâmpago que sai do oriente para reluzir até o ocidente.
Então, precedido pelos toques das trombetas angélicas, aparecerá fulgurante e grandíssimo, no céu desfeito, o sinal do Filho do homem: a Cruz. E, em baixo, batendo no peito, chorarão todas as tribos da terra.
Neste mundo há muita gente que não quer ver a Cruz, que tem medo do Crucificado; há gente que o odeia, que o blasfema. Que experimentarão estes quando virem o Crucificado aparecer-lhes por sobre a cabeça, para julga-los? Baterão no peito e chorarão.
Plangent omnes tribus terra. Melhor é então familiarizar-se com este sinal do Filho do homem, que será também o sinal do nosso juízo. Portanto, aprendamos a amar na terra o Crucificado, aprendamos a olhar para Ele em todos os momentos da nossa vida, mas especialmente na hora da tentação, na hora da tribulação, na hora da morte.


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1- Na hora da tentação.
Morrera o rei dos Cimérios, e os seus três filhos estavam em litígio pela sucessão paterna. E, visto que havia ameaça de aquilo acabar no sangue, interveio Ariófanes, o rei dos Trácios, para fazer de árbitro. Este assim compôs a questão: mandou exumar o cadáver do pai, depois mandou-o atar a uma árvore. Finalmente, disse: “O reino é do filho que, com o dardo, ferir o coração do pai morto”.
E começou o alvejar nefasto e crudelíssimo. O primeiro, com o dardo, transpassou-lhe a garganta. O segundo feriu-lhe o peito, mas não tocou o coração. O terceiro empunhou o arco, colocou a seta, mas, quando levantou os olhos para seu pai morto, a fim de mirar o alvo, com um ímpeto fulmíneo quebrou o arco e a flecha, gritando: “Não posso!”
Então Ariófanes sentenciou: “A ti pertence o reino, porque a piedade te mostrou verdadeiro filho, e a virtude te torna digno do mando”. (DIODORO SICULO, Livro II).
Essa árvore a que esta atado um Rei morto é a Cruz, o reino do Filho do homem do qual pende Cristo morto. Esses três filhos são os homens que, com os seus pecados, investem contra o Deus morto pela salvação. Todo pecado é uma flecha.
Oh! se nos momentos de tentação a imagem do Crucificado nos estivesse diante dos olhos! Oh! Se quando estamos para sair de casa e ir ofender a Deus, ou quando torvos desejos nos arrastam no turbilhão, ou ainda, quando está para nos escapar da boca uma blasfêmia, nós também, como o terceiro filho do rei dos Cimérios,levantássemos o olhar para Jesus na cruz, e pesássemos que Coração nós alvejamos, certamente quebraríamos arco e flecha, clamando também: “Não posso!”
Olhemos, pois, para o Crucificado, na tentação. Olha para o Crucificado, ó jovem, tu que não queres ir à congregação nem te confessares; tu que te enfureces quando tua mãe te impele para a igreja: olha como Ele sofre!
Olha para o Crucificado, também tu, ó menina: é o teu Deus despojado e chagado em todo o corpo. Depois olha a tua moda . Ele morreu para cancelar o pecado, e tu, o teu modo de vestir, vives para incitar ao pecado?
Aqueles que retém bens ou dinheiro de outrem, olhem também para Ele e se perguntem; ‘Por que é que Ele tem as mãos abertas e perfuradas pelos cravos?’
Aqueles que no seu coração alimentam uma relação ilícita, ou uma paixão escura, ou um rancor oculto, olhem para aquele Coração rasgado. Por que é que ele esta rasgado? Se, depois de olharmos para o Sinal do Filho do Homem, ainda tivermos a coragem de pecar, então será mister dizer que temos o coração mais duro do que a montanha, e mais inflamado do que o sol. Porque a montana o Calvário se fendeu, e o sol, naquela dolorosa sexta-feira, se escureceu, diante da Cruz de Jesus.

2- Na hora da tribulação.
Neste mundo, cada dia é um espinho; cada homem tem uma pena; cada família é um calvário.
Ó irmão, olhai e olhai:
todos trazem a cruz neste mundo.
E é preciso carregá-la. Disse-o o Senhor: “Quem quiser vir após mim, ponha nas costas a sua cruz e me siga”. E às vezes a cruz é pesada.
Em muitas famílias encontram-se casos verdadeiramente lamentáveis. A morte que, um por vez, leva os membros da família mais fortes e mais promissores; a discórdia, que não deixa respirar um momento; a miséria, com o seu aguilhão que perturba o sono; a calúnia, que traz a desonra sobre a família e sobre o nome; os filhos que, crescidos, não dão consolação, mas desespero.
Vós que passais, vinde a Ele que fica.
Vós que sofreis, vinde a Ele que cura.
Vós que tremeis, vinde a Ele que sorri.
Diz-se: ‘Mas aquele tal não sofre; mas para aquela família o sol lhe raia em casa; lá se folga beatamente... Eu, ao contrário...”
Antes de tudo, não é verdade que os outros estejam sem cruz; quando esta não se vê, é porque eles a carregam no coração. E, depois, em vez de olharmos para os homens, sejamos mais cristãos, e olhemos para Cristo; e digamos: “Ele, que era Deus, também sofreu; como posso pretender gozar, eu que sou pecador?”
Quanto mais a gente sofre, tanto mais se assemelha a Jesus. Nós mesmos o reconhecemos quando, encontrando uma pessoa desprezada e angustiada, dizemos uma palavra que pode ser irreverente e pode ser sublíme se dita com fé: “É um pobre Cristo!”
Uma noite em que S. Pedro de Verona não podia dormir por causa dos seus desgostos (ele era santo, e o tinham como um desonesto), não podendo mais ele se lançou por terra diante de um Crucifixo e soluçou: “Jesus, tu bem sabes que eu sou puro; e por que me deixas atormentar assim?”
Uma luz nova tremeu naquela cela, sentiu-se ali um perfume de flores inexistentes na terra; os lábios de Cristo moveram-se e disseram: “Pedro, tu sabes que os homens eu não fiz senão bem; por que então eles me puseram na cruz?” S. Pedro compreendeu e levou avante a sua cruz sem mais um gemido.
Eis ai, ó boa gente, o remédio para os vossos males: o crucifixo. Mas todos vós tendes em casa o vosso Crucifixo? Seria uma vergonha ser cristão sem ter o sinal de Cristo. E vós, mães, quando vossas filhas casarem, ponde-lhes no dote o Crucifixo, e que Ele seja grande, e que ele seja belo!
Com o Crucifixo diante dos olhos, elas saberão amar, compadecer, trabalhar. Saberão aceitar de Deus todos os filhos que a Ele aprouver conceder-lhes, saberão educá-los bem.

3- Na hora da morte.
E, se alguém dissesse: “Eu não quero o Crucifixo”, pode fazê-lo. Como o fizeram quando o Sinal do Filho do homem foi arrancado das escolas, dos tribunais, e até dos hospitais. Lembre-se, porém, de que repele, não as dores, mas o conforto para as suportar.
Repilam também o Crucifixo: mas se lembrem de que está fixado um dia também para eles. Eles se sentirão mal, meter-se-ão na cama sem saberem que dali não se levantarão mais.
Quando a morte, com a sua sombra longa estiver diante deles, em que poderão eles esperar? Não na sua família. Não nos bens. Não no dinheiro. O mundo todo será como uma nau que toma o alto mar e os deixa nus na praia do leito. Naqueles momentos só uma coisa adianta, uma só: o Crucifixo.
Mas, se eles não o quiseram, com que mãos o estreitarão, com que olhos o olharão?
Oh! depois da morte, quando do oriente ao ocidente aparecer o Sinal do Filho do homem, olhará para eles o Crucificado; mas com olhos terríveis, e os amaldiçoará com o seu sangue, por eles jorrado inutilmente das suas feridas abertas.
Mas que assim não seja.
Morria aos vinte anos, uma tuberculosa. Tinha medo de morrer, porque lhe parecia ter dissipado a sua breve vida, sem nada ter feito. “Estou com as mãos vazias... - dizia ela – não quero morrer assim”. Em vão procuravam consolá-la, acalmá-la, falar-lhe de Deus, que é bom, que as vezes se contenta mesmo com um simples desejo. A menina escutava, mas depois, de vez em quando,se sacudia toda, gritando: “Minhas mãos como estão vazias!”
O sacerdote que a assistia pegou do Crucifixo e lhe pôs nas mãos. E disse: “Olha como agora tuas mãos estão cheias!” Ela viu, sorriu, e suspirou: “Doce...” Depois fechou os olhos em paz, e para sempre.


Conclusão.
No meio do deserto o povo de Israel findava de um modo horrível. Para cima da terra, para fora dos bosques tinham saído numerosíssimas serpentes de fogo: quem por elas era mordido, logo ardia em febre, e, em espasmos, morria. Jovens na flor dos anos, meninas sonhando com a vida, adultos, todos chagados pelos répteis venenosos, cada dia caíam urrando de dor. Todo o povo, horrorizado, começou a alçar gritos até ao céu: !Misericórdia!”
E Deus teve misericórdia ainda por aquela vez. Chamou Moisés e lhe disse: “Fazei uma serpente de bronze, e fixa-a numa comprida haste de pau, e põe-na como sinal no meio da gente. Quem olhar para ela terá vida”.
Quando os pobres envenenados, que já sentiam nos ossos o frio da agonia, volviam as pupilas ofuscadas para o sinal milagroso, logo sentiam palpitar-lhes novamente a vida no sangue entorpecido. (Núm., XXI, 9).
Também nós, ó cristãos, como os hebreus, estamos em caminho pelo deserto desta vida. Também nós, como aquele povo, pecamos, e por isto somos atormentados. Atormentados pela morte, pelas tribulações e pelas tentações, que, como serpentes de fogo, desembocam, de todas as partes, na nossa alma, para nos envenenar. E não teremos nós um sinal de salvação?
Temo-lo: o Sinal do Filho do homem.
“Assim como Moisés levantou no deserto a serpente de bronze, - dizia Jesus- assim também é necessário que eu seja levantado na cruz, a fim de que, todo aquele que crê em mim tenha a vida eterna e não pereça”. (João, III, 14-15).
Olhemos, pois, para o Crucifixo em todos os momentos da nossa vida: na hora da tentação, na hora da tribulação, na hora da morte. E, quando, extinto o sol, escurecida a lua, caídas as estrelas, as duas travessas da cruz aparecerem do oriente ao ocidente, nós não choraremos como todas as tribos da terra. Ou, melhor, choraremos, sim; mas serão lágrimas de alegria irrefreável, porque estaremos para ouvir a palavra mais bela: “Vinde, ó benditos! Abro-vos o reino de meu Pai”.

25 de novembro de 2009

Reflexão sobre o Evangelho Dominical - XXIV e Último Domingo depois de Pentecostes - Parte IV

24º e Último Domingo depois de Pentecostes


De: "Pensamentos sôbre os Evangelhos e sôbre as festas do Senhor e dos Santos" - Pe. João Colombo. Nihil obstat: Pe. João Roalta - Imprimatur: Mons. J. Lafayette

Título original: "Pensieri sui Vangeli e sulle Feste del Signore e dei Santi" Milão, Itália.
Escrito entre 1927-1938. Primeira edição em 1939.

Evangelho: Mt. XXIV, 13-35.


4- O santo temor de Deus

Segundo a liturgia da Igreja, hoje o ano termina; com o domingo vindouro entramos no Advento, que é a preparação para o santo Natal, e começar-se-á, portanto, um novo ciclo de festas.
Neste Evangelho de hoje, é todo um cair de estrelas, um longo retinir de trombetas, e um chorar de medo sob a majestade do Filho de Deus que vem. Cristãos, volvamo-nos para trás, e consideremos se neste ano litúrgico não fizemos alguma coisa de que nos possamos arrepender por ocasião do juízo final.
“Quando será que o Filho do homem voltará sobre as nuvens do céu para julgar os vivos e os mortos?” haviam perguntado, tremendo, os Apóstolos. E Jesus respondeu: “Ninguém jamais vos poderá dizê-lo. Mas estai alerta: Ele virá como o relâmpago que de repente fulgura do nascente ao poente; como um patrão partido para longe, a negócio, o qual volta imprevistamente para surpreender os servos; como um ladrão que vem sorrateiramente de noite.
Ai daqueles que forem colhidos na crápula ou com o coração onerado pelas ansiosas solicitudes desta vida mendaz! Serão presos no laço.
Enquanto isso, o sol se escurecerá. A lua perderá a branca luz. As estrelas precipitar-se-ão. Todas as forças do céu serão transformadas. Dos quatro ângulos do mundo, grupos de anjos desferirão os toques de eternidade, e a trombeta pavorosa impelirá os homens a reunir-se.
E eis, no alto, o grande sinal do Filho do homem, e eis sobre as nuvens esse Filho do homem. Todos, estarrecidos, aguardarão a sua palavra. E Ele finalmente falará.
Ele, que se calou no seu Tabernáculo por séculos e séculos, Ele que se calou quando o blasfemavam, Ele que se calou quando as almas se engolfavam no pecado, Ele falará então, para proferir a sentença.
E, depois que Ele houver falado, o céu e a terra passarão, mas a sua sentença não passará, por todo o sempre. Coelum et terra transibunt, verba autem mea non praeteribunt.
Mas, infelizmente, os homens não se lembram de Jesus e da sua promessa. Vivem como se o mundo devesse durar sempre, como durou até agora, e não se preocupam senão com os seus interesses terrenos e carnais. E, se ainda languidamente creem em Deus, relegam-no ao seu Paraíso, e, sem mais se preocuparem com ele, procuram fabricar para si, nos prazeres, outro paraíso, fora da sua lei.
E, assim como nos dias antes do dilúvio se comia, se bebia, se tomava mulher e se casava, e o povo não se deu conta de nada até o dia em que Noé entrou na Arca e as águas começaram a invadir o mundo, assim também será quanto à vinda final de Jesus Cristo. E, tal como sucedeu nos dias de Lot, em que todos enlouqueceram nos pecados até quando caiu do céu uma chuva de fogo e de enxôfre que os fez perecer todos, assim sucederá no fim do mundo.
Olhai no mundo que loucura de corrupção! Ninguém teme o Ladrão divino, que chegará imprevistamente na noite; ninguém espera pelo verdadeiro Patrão. Timete dominum. (Apoc., XIV,7).

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1- Excelência do temor de Deus.
Preserva-nos do pecado. O temor de Deus foi por S. João Crisóstomo comparado àquele forte armado que esta diante do átrio e não deixa passar ninguém sem o matar: assim, no átrio de uma alma o santo temor de Deus mata toda tentação que quer penetrar, e afugenta todos os pecados: “Meu filho! - Dizia o velho Tobias acariciando o seu filho único – se temermos a Deus, esquivaremos todo pecado, e faremos muito bem”. (Tob., IV, 23).
Alcança-nos muitas graças. Assim como uma bordadeira se serve da agulha picante para introduzir no pano os belos fios de ouro ou de prata ou de seda variegada, assim também Deus serve-se do agulhão do temor para bordar com belas graças a nossa alma. E, no “Magnificat”,Nossa Senhora disse que para os que temem o Senhor há grande misericórdia de século em século, de geração em geração.
Dá-nos a tranquilidade na morte. De toda a vida humana, os momentos mais terríveis são os da agonia: estar às portas da eternidade, já sentir na fronte soprar a aragem do outro mundo, já ouvir os passos de Deus juíz, que vem. Pois bem: os que viveram no santo temor achar-se-ão bem naqueles instantes supremos, e no dia da sua morte serão benditos.
É a verdadeira beleza da alma. Não pela forma do seu rosto ou do seu corpo, pois isto é vaidade, mas pelo temor de Deus, é que a mulher será louvada. (Prov., XXXI, 30).
É a verdadeira riqueza da alma. Tanta pobre gente consome a sua vida para juntar um pouco de bens, um pouco de dinheiro, para adquirir uma honraria ou um diploma. Tudo isto a morte fará desvanecer como o sol dissipa a neve. O temor de Deus, este é o verdadeiro tesouro! (Is., XXXIII,6)
É a verdadeira força da alma. Era a Epifania do ano 372. Na catedral de Cesaréia o bispo S. João Crisóstomo celebrava solenemente, ereto no altar como uma coluna de bronze no templo do Senhor. E eis que entra o imperador Valente, que, naqueles dias, com ódio ariano, perseguia os católicos. No momento oportuno, com os outros fiéis, o imperador também se apresentou para receber a Comunhão. O bispo achava-se entre o poder do Céu e o poder da terra: oferecer ao indigno imperador o Corpo de Cristo era desprezar a Deus com o sacrilégio; negar-lho era oferecer-se à perseguição.
S, João Crisóstomo temeu o Senhor, e francamente recusou ao imperador o pão dos anjos.
No dia seguinte, um édito imperial bania da cidade o bispo; viram-no então deixar o palácio episcopal e tomar o caminho do exílio. Estava sem medo.

2- Necessidade do temor de Deus.
De muitas coisas os homens tem medo: da doença, da miséria, da perda de uma amizade, da picada de um vil inseto. E não tem temor de Deus, o único a quem eles verdadeiramente deveriam temer.
Observai, depois, como o mais pequeno desprezo que os outros fazem de nós e das nossas coisas nos ofende e nos encoleriza. Experimente alguém desprezar os filhos diante de seu pai e de sua mãe! Experimente desprezar os conselhos de um advogado e a receita de um médico na presença deles! Experimente desprezar a mercadoria do comerciante, e a obra diante do artífice! Logo vereis iras terríveis, e brigas, e vinganças. Então só Deus há-de se deixar ridicularizar? E por quem?
Temamos a Deus que esta presente em todo lugar e em todo momento. Alguns povos bárbaros haviam escolhido como seu deus o sol, para que ao menos de noite – quando o sol está ausente- inobservados e impunemente eles pudessem fazer tudo o que quisessem. Ingênuos, mas lógicos! Ao contrário, pensemos na nossa desfaçatez quando, pecando, ofendemos a Deus na sua presença. Toda blasfêmia, todo furto, toda desonestidade, até mesmo todo pensamento e desejo ilícito, Deus vê, e se cala. Mas não se calará sempre; virá o seu dia, para Ele falar, e será no juízo final.
Temamos a Deus que virá julgar-nos. Três coisas farão angústia aos réprobos naquele momento em que aparecer a majestade do Filho de Deus: a primeira, a de terem ofendido um irmão bom, e um pai que, mesmo então, eles conhecerão amorosíssimo; a segunda, a de perceberem haver perdido aquele esplendor imenso e aquela alegria sem fim em que os eleitos serão envolvidos; a terceira, a de estar aberto por debaixo deles, para os tragar inexoravelmente, o bárbaro infernal.
A quem invocarão eles? Quem poderá ajudá-los? Acaso Nossa Senhora, que é tão boa? Acaso Nossa Senhora, que é mãe, que é refúgio dos pecadores?

Conclusão
Não: Nossa Senhora será então a impugnadora mais forte.
Aman, o ministro soberbo, o traidor dos hebreus, o homem da fraude, foi chamado à sala do banquete, e, pressentindo que a sua condenação estava iminente, ajoelhou-se, tremendo, aos pés da rainha Ester, implorando, em soluços, piedade. Mas a rainha olhou-o com olhar duro e disse: “Ó rei, eis aqui Aman, o nosso pior inimigo”. Naquele momento entrava um servo para anunciar que o suplicio estava pronto. “Fazei-o morrer!’ ordenou Assuero. E arrastaram-no para fora.
Recordai as palavras de Ester: “Inimicus noster pessimus iste est Aman” (Ester, VII, 6); melhores do que estas não as espere dos lábios da Virgem Mãe, no dia do juízo, o homem que não tem temor de Deus. Porquanto Nossa Senhora então não fará senão ratificar a condenação pronunciada por seu divino Filho.

24 de novembro de 2009

Reflexão sobre o Evangelho Dominical - XXIV e Último Domingo depois de Pentecostes - Parte III

24º e Último Domingo depois de Pentecostes


De: "Pensamentos sôbre os Evangelhos e sôbre as festas do Senhor e dos Santos" - Pe. João Colombo. Nihil obstat: Pe. João Roalta - Imprimatur: Mons. J. Lafayette

Título original: "Pensieri sui Vangeli e sulle Feste del Signore e dei Santi" Milão, Itália.
Escrito entre 1927-1938. Primeira edição em 1939.

Evangelho: Mt. XXIV, 13-35.


3- O grande dia do Senhor

o sol escurecer-se-á e a lua, sem esplendor, semelhará uma face rugosa. As estrelas precipitar-se-ão através do espaço, e o céu, como um cenário velho, ruirá. Então a cruz fulgurará bem no alto: em baixo, todas as raças humanas, reunidas; soluçarão. Em todas as partes da terra retinirão as trombetas dos anjos; e em todos os túmulos penetrará um grito: “- Levantai-vos! Vinde ao juízo...sobre as nuvens, com majestade e potestade, o Filho do Homem voltou, para julgar os vivos e os mortos.
Estas palavras terríveis Jesus as dizia alguns dias antes de morrer, no cimo do monte Olivete. Os Apóstolos, escutando, apertavam-se a Ele como se o perigo fosse iminente. Mas, para que no futuro ninguém duvidasse daquela profecia sobre o fim do mundo, Jesus alongou a mão para designar Jerusalém cintilante ao sol que se punha, e disse: “A cidade, olhai como é bela! Contudo, esta próxima a sua desolação, os exércitos cerca-la-ão. Para ela virá uma desventura tal, qual não se viu desde o princípio do mundo. Naqueles dias, quem puder se esconda na montanha; e quem estiver no terraço não desça à rua, mas fuja de teto em teto; e quem se achar no campo não volte para casa para buscar vestes ou haveres, mas fuja assim como esta: Infelizes das mães naqueles dias!”
Quarenta anos depois verificava-se ao pé da letra uma das tremendas profecias: a destruição de Jerusalém. E a outra, a da destruição do mundo, quando se verificará?
A ninguém Jesus o quis dizer, mas é certo que se verificará, porque céu e terra passam, mas a palavra de Deus fica: o fim de Jerusalém garante-nos isso.
Então, não somente uma cidade em chamas, mas o mundo todo; não somente uma nação será atribulada, mas todos os povos. Deus , que concedeu aos homens os anos e os séculos, quis um dia para si: o último. O dia da sua justiça, da sua ciência, da sua glória.

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1- O dia da sua justiça.
Tinha sido urdida uma conspiração contra o profeta Jeremias: os seus inimigos haviam estabelecido tirá-lo da face da terra e fazer o povo esquecer-lhe até mesmo o nome. Quando Jeremias percebeu a horrível trama, palpitante de pavor volveu-se para o Senhor lhe disse: “Todos dizem que és justo, e nem serei eu a contestá-lo: todavia, não te pese de escutares as minhas dúvidas. Como é que os ímpios tudo anda prosperamente? Como é que são felizes todos os que se do a fazer o mal? Tem trabalho e ganho, casa e comodidade, saúde e comida?... (Jer., XII, 1).
Mas não foi apenas o profeta Jereias que se sentiu vacilar na fé diante das vicissitudes humanas; também nós quantas vezes, chorando, temos exclamado: “Senhor, não te lembras mais de mim? Olha! Os teus inimigos que não te reconhecem, que não te adoram, que não te temem, como são afortunados!...” Cristãos, a justiça de Deus é tão misteriosa e tão grande, que nós, criaturas pequenas e cegas, não conseguimos entrever os seus desígnios admiráveis. Um dia, porém, ela se manifestará aos nossos olhos, e nós veremos e diremos: “Justo és,Senhor, e reto é o teu governo”.
Esse será o dia do juízo final, isto é, o dia da sua justiça.
Então os bons compreenderão o porque das suas tribulações;

a) Quem vive na prosperidade põe nela os seus afetos e esquece o céu e a alma. O sofrimento é a mão de Deus que nos desprende lentamente da terra, e que purifica com o pranto os nossos olhos, preparando-os para as visões paradisíacas.

b) O sofrimento abate os enfatuamentos da soberba, amortece os desejos da gula, sufoca a paixão impura. É o melhor auxílio para as vitórias espirituais.

c) O sofrimento faz-nos pagar neste mundo as nossas dividas para com Deus, e nos prepara méritos preciosos lá no céu, na eterna mansão. “Felizes de nós – exclamaremos então – pelos dias em que fomos humilhados, pelos anos em que tivemos doentes!...”
Então, também os maus compreenderão o porque de suas venturas terrenas. Quando blasfemavam, se Deus se calava não era porque os não ouvisse; quando pecavam, se Deus suportava não era porque não os visse; mas era porque pretendia premiá-los, desse modo, pelo pouco bem que pudessem ter feito. Mas, depois da morte, para eles, não ficará senão mal.
Justus es Domine et rectum judicium tuum! (Ps. CXVIII, 137)

2- O dia da sua ciência.
Da vida de S. João Bosco relato um episódio que faz tremer e pensar. ( G. B. LEMOYNE, Vida do B. Dom Bosco, vol. II, parte V, 4). Na noite de 16 de setembro de 1867, depois das orações, ele reuniu toda a sua familia de padres, clérigos, coadjutores, estudantes, artífices, servos; e depois começou a falar tristemente de Jesus que morrera pelas almas, e de alguns que arruínam suas almas.
“A estes,- continuou ele soluçando- que foi que eu fiz de ofensa, para que eles me tratem assim? Não os amei como filhos? Estes pensam não ser conhecidos, mas eu sou quem sou, sei o que eles tem pensado e feito...” Depois, com voz lancinante, citando-os um a um pelo nome, clamou: “És tu... um lobo que giras pelo meio dos companheiros e os afastas dos superiores, redicularizando os avisos destes. És tu... um ladrão que com teus discursos roubas a inocência dos outros. És tu... um assassino que com cartas secretas e com gracejos arrancas as almas do meu lado e as mata.”
Era solene o silêncio. Foram nomeados seis. A cada nome ouvia-se um grito sufocado, um soluço um ai! Que ressoava medonhamente no meio daqueles assistentes estarrecidos.
Em lugar de Dom Bosco ponde Jesus majestoso sobre as nuvens, em lugar da família salesiana ponde a imensa família humana reunida para a grande manifestação; o solene juízo final, dia d ciência de Cristo.
“Que te fiz eu de ofensa ou de dano para que assim me tratasses! Não te amei sempre como a um filho? Talvez esperasses que eu não soubesse... mas agora verás como eu sabia de tudo, como sei de tudo.” Naquele momento não será possível nem esconder-se nem esconder. Quidquid latet apparebit.

a) Aparecerá a nossa pessoa. Cá neste mundo os maus se entremeiam aos bons e vivem na sombra. Mas, no juízo, serão separados, e cada um aparecerá tal como viveu. Que dirá o príncipe, o senhor, o patrão, ao ver-se envergonhado diante do súdito, do pobre, do servo? Que dirá o pai condenado diante do filho?
b) Aparecerão todas as nossas ações. Mesmo aquela que nos parece coisa de pouca importância... Mesmo aquela que ninguém nunca soube, nem mesmo o confessor, por a havermos calado sacrilegamente... Mesmo aquela consumada nas trevas da noite, no segredo de uma casa... “As pedras que estavam no meio da parede clamarão então contra nós, e as madeiras de nossa casa falarão”. (Habacuc, II, 11).
c) Aparecerá qualquer pensamento da mente, qualquer desejo do coração. Ah! Aquelas imaginações impuras, aqueles afetos ilícitos, aqueles ódios alimentados dentro de nós, então aparecerão ao conspecto universal!... “Aquilo que fizeste e mantiveste oculto em ti, eu o porei em face do povo, em face do sol”. (II Reis, XII, 12).
d) Aparecerão até os pecados que outros cometeram por escândalo nosso. Aquela filha que se julgava intacta na honra ver-se-á ferida por todos os olhares impuros que despertou com o seu vestir, com a sua ânsia de agradar. Aquele pai será acusado de todas as blasfêmias e libertinagens de seus filhos. Aquele rico será imputado os pecados cometidos por quem olhou as pinturas e as figuras escandalosas com que gostava de adornar o seu palácio e o seu jardim.

3- O dia de sua glória.
Deus fez-se homem para nos salvar, e os homens não somente o desconheceram como Deus, mas o atormentaram mesmo como homem. Chamaram-lhe possesso do demônio, revolucionário, blasfemador; trataram-no pior do que aos assassinos. Por isto, é justo que Ele se manifeste na sua divina majestade e poder, entre o fogo e as nuvens, no meio do céu...
Numa sexta-feira Ele foi conduzido perante o tribunal, acusado, julgado; é justo que Ele, único Legislador e Juíz (Tiago, IV, 12), chame perante o seu tribunal aqueles que ousaram condená-lo.
Quantas vezes os homens o insultaram, escarneceram a sua doutrina, as suas virtudes, os seus ministros, o sei vigário o Papa, a sua igreja... e Ele se calou sempre. É bem justo que tome para si um dia de glória em que falar finalmente. Falará : “Vinde, benditos, ao reino de meu Pai! Ide, malditos, para o fogo eterno!”.
Quantas injúrias Ele não suporta todo dia no Sacramento do altar, onde o seu amor o mantém prisioneiro! São esquecimentos, irreverências, sacrilégios... os homens passam por diante da sua casa e não o saúdam; Ele passa, como viático ou em solene procissão, por diante das casas dos homens, e eles tem vergonha de adorá-lo publicamente e de se ajoelhar à sua passagem... No dia final Ele tomará a revindita: na sua glória, será glorificado.
Cá neste mundo os homens não o reconhecem como Deus, e em lugar dEle adoram uma paixão, o dinheiro, uma pessoa, o demônio. Mas , naquele dia, todos verão que só Ele é Deus, e não há Deus afora Ele.
Os bons com alegria, os maus com pavor, mas todos, quando Ele aparecer em juízo, dir-lhe-ão: - Tu és Rei de glória, ó Cristo – Tu Rex glorie, Christe!

Conclusão
São passados milhares de anos desde que um soberano poderoso, sentado a uma lauta mesa, circundado de ilustres convidados, se abandonava às delícias da comida, do vinho, dos sentidos. Os comensais não faziam senão louvar os seus ídolos de ouro e de prata, de pau e de pedra, e desprezar o verdadeiro Deus.
De repente, na parede iluminada pelo candelabro, apareceu uma mão que escreveu: - Mané, Técel, Tarés – Os teus dias estão completos, na balança foste pesado, para ti tudo acabou.
Um frêmito de horror passou pelas mesas, a alegria emudeceu, a sala pareceu um túmulo. Naquela mesma noite o rei Baltasar e os seus amigos foram mortos pelos Persas, e compareceram perante o tribunal de Deus.
No mundo há muitos que vivem como esse rei e aqueles seus cortesãos. Deste número talvez também sejamos nós. E se de repente aparecesse também para nós aquela mão escrevendo? “Os teus dias estão completos, na balança foste pesado, para ti tudo findou”.
Memorare novissima tua et in eternum nom paccabis. (Eccli)


"Deixai vir a mim as criancinhas ..." (Mateus, 19, 14) - Parte 54

54) Que cuidado devemos ter de nossa alma?
De nossa alma devemos ter o máximo cuidado, porque só salvando a alma seremos eternamente felizes.
Nesta maravilhosa tela, Paulo Veronese representa o martírio de São Marcos e Marceliano, dois ilustres irmãos romanos. O capitão que segura a bandeira e mostra o céu é São Sebastião. Acusados como cristão, Marcos e Marceliano foram presos e condenados a morrer decapitados.
Seus pais, ainda pagãos, conseguiram perante o govêrno, diferir para mais um mês a execução , esperando que nesse espaço de tempo, renegassem eles sua fé. Mas os dois heróis, embora sentindo-se profundamente comovidos com as lágrimas de seus parentes, permaneceram fiéis à religião de Cristo.
São Sebastião, que era capitão da guarda pretoriana e muito estimado pelo imperador Diocleciano, sabendo do atentado a Marcos e Marceliano, seguiu de pressa para o cárcere. Com calorosas palavras reavivou-lhes a fé e com tal ardor falou-lhes de Cristo e da preciosidade da alma, que até os próprios parentes converteram-se e coroaram sua vida com o martírio.
Marcos e Marceliano são hoje venerados como santos. De que lhes teria servido salvarem a vida, se tivessem perdido a sua alma?
A alma é o que temos de mais precioso, é o maior tesouro que possuímos.
Salvando a alma, seremos eternamente felizes, mas se a perdermos, seremos eternamente desgraçados. Por isso lembra-nos o Divino Mestre: "Que aproveita, pois, ao homem ganhar todo o mundo, se vier a perder a sua alma? ou que dará o homem em trocade sua alma?(Mateus, 16,26).

23 de novembro de 2009

Reflexão sobre o Evangelho Dominical - XXIV e Último Domingo depois de Pentecostes - Parte II

24º e Último Domingo depois de Pentecostes


De: "Pensamentos sôbre os Evangelhos e sôbre as festas do Senhor e dos Santos" - Pe. João Colombo. Nihil obstat: Pe. João Roalta - Imprimatur: Mons. J. Lafayette

Título original: Pensieri sui Vangeli e sulle Feste del Signore e dei Santi" Milão, Itália.
Escrito entre 1927-1938. Primeira edição em 1939.

Evangelho: Mt. XXIV, 13-35.

2. O JUÍZO
A Félix, governador de Cesaréia, devia parecer estranho aquele homem que, com um bilhete de recomendação, de um seu colega de Jerusalém, Cláudio Lísia, lhe enviava para julgar. Aquele homem era hebreu, e os hebreus queriam matá-lo; frequentava as sinagogas e ensinava uma religião nova: ainda não tinha visto Roma, e era cidadão romano desde o nascimento; tinha os olhos doentes e o olhar fulmíneo: Paulo de Tarso.
O prisioneiro era tão interessante, que o governador Félix e sua mulher Drusila muitas vezes o chamavam às suas salas para o ouvirem falar da fé em Jesus Cristo. E Paulo falava, sem medo; falava de justiça aquele homem que todos os dias a calcava aos pés; falava de castidade aquele homem que vivia em adultério; e, finalmente, falou do juízo futuro... daquele juízo em que todo pecado, pequeno e grande, público e oculto, contra Deus ou contra o próximo, será manifestado a todo o mundo reunido e trêmulo aos pés de Cristo Juíz.
Drusila e Félix escutavam-no imóveis, com a mente fixada nesse dia final. E Paulo, com ardor irreprimível, descrevia-o como “o dia da ira,dia de tribulação, dia de opressão, dia de desgraça, dia de miséria, dia de trevas, dia de caligem, dia de névoa, dia de furacão, dia de tinidos e de urros’. (Sof.,I, l5).
Félix começou a empalidecer, depois a encolher-se, depois a tremer, e depois pulou em pé gritando: “Basta! Por ora vai-te embora”. Tremefactus Félix respondit: quod nunc attinet, vade.(Atos,XXIV, 25)
Realmente, far-se-ia mister aqui S. Paulo para nos falar do juízo, e todos sentiríamos o sangue gelar-nos de pavor! Eu, porém, apenas sei repetir-vos as obscuras palavras do Evangelho.
Naqueles dias o sol se escurecerá como sob uma densíssima caligem, e a lua, avermelhada, não mais dará luz, e todas as estrelas precipitar-se-ão do céu, e todo céu será subvertido como por um vento furiosíssimo. Semelhante a um homem que está morrendo e prorrompe em gemidos e desata em soluços tormentosos, assim este velho mundo saltará dos seus gonzos e se abalará desde as profundezas das suas entranhas. Então, entre as nuvens, imensa, solene, brilhará a cruz: e em baixo chorarão todas as tribos da terra... et plangent omnes tribus terrae. (Mt., XXIV, 30). Chorará a tribo dos ricos, porque todo o seu dinheiro naquele momento nada valerá; chorará a tribo dos prepotentes, porque naquele momento eles serão esmagados; chorará a tribo dos desonestos, porque todos saberão das suas ações vergonhosas; chorará a tribo dos blasfemadores, porque estará para chegar Aquele a quem eles blasfemaram.
E Ele virá. Virá, grande no poder e na glória, caminhando como um gigante sobre as nuvens, Enquanto isso, os anjos trombetearão, sobre o vento, aos quatro ângulos da terra o último toque de reunir. E começará o juízo. No alto estará Ele, Cristo, e a seus pés as gentes, e levantar-se-ão os acusadores.
Levantar-se-ão os anjos em cuja presença pecamos.
Levantar-se-ão, rindo, os demônios a que demos ouvidos.
Levantar-se-ão todas as criaturas: o fogo, o ar, a água, a terra. O fogo dirá: “Eu o iluminava com luz e o aquecia com calor: e entretanto, ele te ofendia à minha luz e no meu calor. Senhor! Dá-mo para que eu o queime”.
O ar dirá: “Eu, a cada momento, nutria-lhe os pulmões; e ele, a cada momento pecava. Senhor! Dá-mo, para que eu o abata com vento furioso”.
A água dirá: “Eu lhe dessedentava a boca e purificava as suas coisas; e ele, com os pecados, sujava a sua alma. Senhor! Dá-mo, para que dentro de mim eu o afogue”.
A terra dirá: “Eu sustentava-o e alimentava-o todos os dias com ervas e com animais: e ele vivia para te ofender. Senhor! Dá-mo, para que eu o sepulte vivo”.
E nós estaremos lá, culpados e trêmulos, em face do universo... Isto é horrível, mas é o menos. Então nós teremos, sobretudo, medo de duas pessoas: de Cristo e de nós mesmos . Se isto vos parece estranho, escutai.

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1- Os pecadores terão medo de Cristo.
Na véspera de sua morte, Jesus passou o Cedron, subiu a margem oposta por entre as filas das videiras, entrou com os seus no horto de Getsêmani cheio de sombras misteriosas. Estava triste e só; e Judas vinha, vinha a coorte com fachos, com cordas, com armas; já se ouvia o vozerio e o ciciar dos seus passos pelos bosques. Jesus, que sabia de tudo, foi ao encontro deles.
“A quem procurais?”
- A Jesus Nazareno.
“Sou eu”.
Todos caíram ao solo; Abierunt retrorsum et ceciderunt in terram. (Jo., XVIII, 6). Pensai: bastava uma simples palavra para os fazer morrer de pavor. Que será então, no dia final, ao ouvirmos daqueles mesmos lábios a extrema condenação de maldição?
No Getsêmani havia escuridão, e os soldados não tinham podido ver a majestade terrível que irradiava do semblante divino; mas, no juízo final, os olhos fulgurantes de Cristo Juíz, cravar-se-ão, como dardos, em nós. No Getsêmani, Jesus estava triste e só; mas, no juízo, estará no trono, no meio das legiões dos anjos, em face de toda a geração humana.
No Getsêmani ainda estava o Cordeiro de amor e de perdão, mas no juízo estará somente o Cordeiro de justiça e de vingança. Se tão terrível esteve, portanto, o Senhor no dia dos seus inimigos, na hora das trevas, que não será no seu dia, “no dia de Cristo, que é dia de fogo?”. (TERTULIANO). Será o Cordeiro furibundo,assim descrito por S. João no Apocalipse:
“Quando o sol se houver tornado negro como um saco escuro, quando a lua, extintas todas as estrelas, girar nas abóbadas desertas como uma mancha de sangue, quando o céu se houver retirado como um manto que se rasga em dois, então passará o Cordeiro furibundo. Os ricos da terra, os príncipes, os tribunos, os poderosos, todos, ricos e pobres, esconder-se-ão nas espeluncas, debaixo das pedras, e dirão aos montes: Escondei-nos da face e da ira do Cordeiro, porque chegado é o dia grande da sua vingança, e quem poderá resistir? Quis poterit stare? (Apoc., VI, 17). Acaso eu, acaso vós, ó cristãos. Poderemos resistir? Digo-vos que todos nós que somos pecadores deveríamos morrer de pavor, se Deus o permitisse.
“Quem quaeritis?”
“Jesum Nazarenum”.
“Ego sum”.
Sou eu, responderá Jesus, sou eu, olha-me!sou eu a quem blasfemaste, a quem esqueceste, a quem escarneceste.
Sou eu, olha-me! Vê a coroa de espinhos que me punge as têmporas; e tu te rias dela quando, na tua mente, secundavas os maus pensamentos. Vê as minhas mãos e as plantas dos meus pés chagadas: e tu te rias destes estigmas dolorosos quando as tuas mãos se pegavam ao bem alheio, quando os teus pés te levavam lá onde nunca deverias ir. Vê o meu coração, rasgado por ti: e tu te rias do meu amor quando corrias atrás das criaturas, e te pascias de afetos impuros, e te divertias nos prazeres...
Agora, basta: sou eu, olha, sou eu que me rio de ti! Ego quoque in interitu vestro ridebo et subsannabo. (Prov.,I, 28).

2- Os pecadores terão medo de si mesmos.
Ainda tenho diante dos olhos a visão dolorosa de uma pessoa cara, moribunda; e talvez ela me fique assim tão viva até eu morrer.
Ele era tão jovem e manso, e morria de um mal misterioso e dilacerante, do qual nem sequer os médicos sabiam dizer alguma coisa. Sofria sem intermitências havia um ano e meio, e estava no fim.
A febre diária e alta consumira-lhe todas as fibras e secara-lhe todos os humores, tornando-o tão descarnado, que parecia um esqueleto recoberto de pele: somente que a pele deixava transparecer a trama violenta das veias. Respirava penosamente: projetando os lábios como se quisesse alcançar um sopro que lhe fugia. As orelhas brancas, a boca vermelha e sanguínea, os olhos medonhamente dilatados como que para recolher a última impressão das coisas que, para ele, se desvaneciam.
Nos últimos meses haviam-no assaltado convulsões nervosas que lhe rebentavam o peito, que lhe quebravam os ossos: uma vez elas foram tão violentas, que o braço lhe ficou imóvel e a mão retorcida. Contudo, no fim ele estava resignado.
Na manhã do dia em que devia morrer, ele pediu um espelho. Queriam negar-lho; mas como não atender até o ultimo capricho de uma pessoa que está para se ir deste mundo para sempre? Apresentaram-lhe o espelho, ele achou forças para levantá-lo, e pôs sobre ele os olhos ávidos... mas logo soltou um grito dilacerante, e deixou cair o espelho, soluçando.
Tivera medo de si mesmo.
A fealdade que um mal físico pode produzir no corpo não é nada em confronto com a que o pecado, num instante, produz na alma. Quão horrível deve ser uma alma depois de dois, três, dez, cem... pecados, nós não sabemos nem mesmo imaginá-lo, mas no juízo vê-lo-emos. Veremos sob a luz de Cristo vir à tona toda culpa a mais oculta, e cobrir de nojentíssimas crostas a nossa alma.
E quantas misérias, que quase não suspeitávamos, serão descobertas!
Tu dizias, sim, teres um pouco de amor à tua pessoa: mas não dizias que esse amor da tua pessoa suscitara em ti a vontade de agradar aos outros; não dizias que, para agradar aos outros, seguias o luxo e a moda escandalosa, suscitando nos outros as paixões.
Dizias, sim, teres conversas más; mas não dizias que essas conversas depois arrefeceram o teu temor à família, transformaram a tua vida conjugal!
Dizias , sim, que murmuravas contra o próximo; mas não dizias que as tuas palavras lhe tiravam a honra a ele, o arruinavam nos seus negócios.
Tudo isto, então, vê-lo-ás em ti mesmo, horrivelmente; Deus te porá contra ti: Arguam te et statuam contra faciem tuam. (Salmos, XLIX, 21). Verte-ás como num espelho, e tu mesmo terás medo de ti. Eis por que os réprobos clamarão aos montes: “Cai sobre nós e soterrai-nos”. Cadite super nos, operite nos. (Lc., XXIII, 30). Não dirão: Montes, escondeis de nós a face do juiz irado, não nos façais ver, ó colinas, os demônios que nos atormentarão; mas dirão: Feri-nos, porque temos medo de nós.
O padre Bourdaloue dizia: “Senhor! No dia do juízo não vos rogarei me defenderdes da vossa ira, mas toda a graça que vos pedirei será que me defendais de mim mesmo”.

Conclusão
No século V, dois irmãos atenienses que tinham ficado órfãos e donos da substância paterna, tiveram a crueldade de por porta a fora e lançar na rua sua irmã única. Ela se chamava Atenaide.
Não valeram prantos e súplicas da abandonada, que teve que vagar pela terra.
Passados alguns anos, os dois desapiedados irmãos sentem-se chamar pelo imperador de Constantinopla. Lá vão, e são introduzidos na sala do trono, e a veem lá, sentada, na pompa da sua beleza e do seu poder... Atenaide, a enjeitada, a errante, que por uma série de casos providenciais se tornara imperatriz e consorte do imperador Teodósio.
Ela se levantou e dirigiu a eles estas tremendas palavras: “Conheceis-me? Sou vossa irmã Atenaide!” A tal vista , a tal palavra, aqueles desgraçados caíram como mortos no pavimento.
Também nós, com os pecados, não fazemos senão expulsar da nossa casa nosso irmão mais velho; Jesus Cristo. Mas, dentro em poucos anos, quando nos sentirmos chamar pela morte, vê-lo-emos, fulgurante no trono, e ouvi-lo-emos dizer: “Conheceis-me? Sou o vosso irmão a quem maltratastes: Jesus Cristo!”

Catecismo Romano – Parte 4

CAPÍTULO TERCEIRO

Segundo Artigo do Símbolo

E em Jesus Cristo, um só seu filho, Nosso Senhor

I. A importância deste artigo se deduz: [1] Em crer e professar o presente Artigo, encontra o gênero humano imensas e admiráveis vantagens, consoante o testemunho de São João: "Quem confessa que Jesus Cristo é o filho de Deus, Deus permanece nele, e ele permanece em Deus".(167)

Prova-o também a palavra de Cristo Nosso Senhor, quando proclamava a bem-aventurança do Príncipe dos Apóstolos: "Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas (168), pois não foi a carne nem o sangue que te revelou, mas antes meu Pai que está nos céus". (169)

Realmente, esta fé e esta profissão constituem a base mais sólida para nosso resgate e salvação.

1. Da desgraça do homem decaído [2] Os admiráveis frutos deste Artigo aparecem com maior evidência, se considerarmos como se destruiu o venturoso estado em que Deus colocara os primeiros homens. O pároco fará, pois, todo o possível, para que os fiéis reconheçam nisso, causa das misérias e desgraças que todos nós padecemos.

Adão apartou-se da obediência devida a Deus, quando violou a proibição: "De todas as árvores do Paraíso poderás comer, mas não comas da árvore da ciência do bem e do mal. No dia que dela comeres, morrerás de morte". (170)

Ele caiu logo no maior dos infortúnios, perdendo a santidade e justiça em que fora constituído, ficando sujeito a outros males, conforme ensina mais longamente o Santo Concílio de Trento. (171)

De outro lado, o pároco fará ainda ver que o pecado e seu castigo não se detiveram só na pessoa de Adão; mas que de Adão, como sua fonte e origem, passaram merecidamente para toda a sua posteridade. (172)

2. Da única possibilidade de redenção [3] Uma vez decaído de tão alta dignidade, nada podia levantar o gênero humano e reintegrá-lo no estado primitivo, nem as forças humanas, nem as forças angélicas.

Em vista de tal ruína e desgraça, não restava, pois, outro remédio, senão o infinito poder com que o Filho de Deus, assumindo a fraqueza de nossa carne, devia destruir a infinita malícia do pecado, e pelo seu Sangue reconciliar-nos com Deus.

3. Da promessa de redenção a) no Paraíso [4] Ora, o crer na Redenção e o professá-la sempre foram condições necessárias para a salvação dos homens. Assim Deus o ensinou, desde o início da Revelação.

No mesmo instante que condenava o gênero humano, imediatamente após o pecado, Deus fez nascer a esperança de resgate, pelas [próprias] palavras com que anunciou ao demônio a dura derrota que lhe resultaria da libertação dos homens: "Porei inimizades entre ti e a mulher, entre a tua raça e a sua descendência. Esmagará ela a tua cabeça, e tu armarás traições ao seu calcanhar". (173)

b) a Abraão Mais tarde, Deus confirmou por muitas vezes a mesma promessa. Fez revelações mais positivas de Seus desígnios, mormente àqueles varões, com os quais queria usar de uma benevolência toda particular. Entre outros, o patriarca Abraão recebeu freqüentes indicações a respeito deste mistério. (174) Na hora, porém, em que ia imolar Isaac, seu filho único por obediência a Deus, Abraão veio a ter revelações mais explícitas.

Deus, com efeito, lhe dissera: "Porque assim procedeste, a ponto de não poupar teu filho único, Eu te abençoarei, e multiplicarei tua descendência como as estrelas do céu, e como a areia que jaz nas praias do mar. Tua geração possuirá as portas (175) de teus inimigos, e em tua raça serão abençoados todos os povos da terra, porque obedeceste à minha voz". (176)

Destas palavras, era fácil reconhecer que, da posteridade de Abraão, nasceria Aquele que havia de livrar todos os homens da horrenda tirania de Satanás, e trazer-lhes a salvação. Ora, [o Libertador prometido] devia ser [também] Filho de Deus, ainda que fosse, como homem, gerado do sangue de Abraão.

c) a Jacó Pouco tempo depois, para que se conservasse a recordação da promessa, o Senhor reafirmou a mesma aliança com Jacó, neto de Abraão.

Na ocasião de ver, durante o sono, uma escada firmada na terra, mas com a ponta a tocar o céu; e [vendo] também os Anjos de Deus que por ela subiam e desciam, como afirma a Escritura, - Jacó ouviu ao mesmo tempo a voz do Senhor que, apoiado na escada, lhe dizia: "Eu sou o Senhor, Deus de teu pai Abraão, e Deus de Isaac. Dar-te-ei, a ti a tua posteridade, a terra em que estás dormindo. E tua geração será como o pó da terra. Hás de estender-te para o Oriente e o Ocidente, para o Setentrião e o Meio-dia. Em ti e na tua geração serão abençoadas todas as tribos da terra". (177)

Posteriormente, Deus nunca deixou de renovar a recordação de Sua promessa, nem de manter a esperança do Salvador, não só entre os filhos de Abraão, mas também entre muitos outros homens.

Desde a consolidação do regime político e da religião judaica, o povo ia ficando cada vez mais ciente dessa expectativa. As coisas mudas (178) tornavam-se sinais [da Redenção]. Homens houve que anunciavam quais e quantos benefícios havia de trazer-nos Jesus Cristo, nosso Salvador e Redentor.

d) aos Profetas em geral
Os Profetas, cujo espírito era aclarado por uma luz celestial, falavam diante do povo, e anunciavam-lhe o nascimento do Filho de Deus, as obras admiráveis que havia de praticar depois da Sua Encarnação, Sua doutrina, Seus costumes, Seu trato, Sua Morte e ressurreição, e os outros mistérios. (179)

Falavam com tanta clareza de todos estes fatos, como se os tivessem presentes à própria vista. Se, pois, abstrairmos da distância que medeia entre o passado e o futuro, já não podemos notar nenhuma diferença entre os oráculos dos Profetas e a pregação dos Apóstolos, entre a fé dos antigos patriarcas e a nossa própria fé atual.

Mas bom será passarmos, agora, a tratar cada um dos termos do presente Artigo.

II. O nome te Jesus: 1. Origem [5] Jesus é o nome próprio d'Aquele que é Deus e homem ao mesmo tempo. Significa "Salvador". Não Lhe foi posto casualmente, por escolha e vontade dos homens, mas por ordem e intenção de Deus.

Assim o declarou o Anjo Gabriel a Maria, Sua Mãe: "Eis que conceberás em teu seio, e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus". (180) E depois ordenou a José, esposo da Virgem, desse tal nome ao menino indicou-lhe ao mesmo tempo as razões por que devia chamar-Se assim: "José, filho de Davi, não tenhas receio de levar para tua casa Maria, tu esposa; pois o que nela foi concebido, obra é do Espírito Santo. Portanto, ela há de dar à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque Ele há de remir Seu povo de seus pecados". (181)

Corolário: Os homônimos no Antigo Testamento [6] Verdade é que, nas Escrituras, se nos deparam muitas pessoas com esse mesmo nome. Assim se chamava o filho de Navé (182) que sucedeu a Moisés; teve o privilégio, negado a seu antecessor, de levar à Terra de Promissão o povo que o mesmo Moisés havia arrancado do cativeiro do Egito. Assim se chamava também o filho de Josedec, sumo-sacerdote. (183)

2. Justeza desse nome A nosso ver, com quanto mais acerto não se deve atribuir esse nome a Nosso Salvador! A Ele que deu luzes, liberdade e salvação, já não a um povo singular mas a todos os homens de todas as épocas. A Ele que os livrou, não diremos da fome ou da opressão do Egito e da Babilônia, mas das sombras da morte em que estalavam sentados (184), presos com os duríssimos grilhões do pecado e do demônio. A Ele que lhes adquiriu o direito à herança do Reino dos céus, e os reconciliou com o Pai Eterno.

Naquelas pessoas não vemos senão uma figura de Cristo Nosso Senhor, que de tantos benefícios cumulou o gênero humano como acabamos de explicar.

3. Seu aspecto total Além do mais, todos os outros nomes que, segundo as profecias, deviam ser dados ao Filho de Deus, estão já incluídos nesse único nome de "Jesus". Cada um deles exprime aspectos parciais da salvação que nos devia trazer; ao passo que o nome de Jesus abrange, por si só, o resgate do gênero humano, em toda a sua extensão e eficácia. (186)

III. Significação de "Cristo" 1. No velho Testamento designa a) reis, sacerdotes [7] Ao nome de Jesus também se acrescentou o apelido de "Cristo", cuja significação é "Ungido". Serve para designar uma dignidade e um ministério. Não é próprio de uma só categoria, mas é uma designação comum de várias funções.

Na antiguidade, nossos pais chamavam de "cristos" aos sacerdotes e aos reis, porquanto Deus ordenara que fossem ungidos, em atenção à dignidade de seu ministério.

Sacerdotes são aqueles que, por meio de assíduas preces, recomendam o povo a Deus. São eles que oferecem sacrifícios a Deus, e aplicam pelo povo o poder de sua intercessão. (187)

Aos reis, porém, está confiado o governo dos povos. Seu dever primordial é salvaguardar a autoridade das leis, proteger a vida dos inocentes, e punir a audácia dos criminosos.

Ambos os ministérios são, pois, uma imagem da majestade de Deus, aqui na terra. Por isso, os que eram eleitos para a dignidade real ou sacerdotal, recebiam a unção do óleo santo. (188)

b) profetas Era também costume ungirem-se os Profetas. Na qualidade de intérpretes e mensageiros de Deus imortal, eles revelavam os segredos do céu, e com salutares conselhos e predições do futuro nos exortavam à regeneração dos costumes.

2. Em o Novo Testamento: O Redentor foi ungido pelo Espírito Santo... Ora, quando veio a este mundo, Nosso Salvador Jesus Cristo tomou sobre Si o tríplice encargo e função de profeta, de sacerdote e de rei. Por esse motivo é que foi chamado "Cristo", e ungido para o desempenho daqueles ministérios. Não o foi, contudo, por obra de nenhum mortal, mas pela virtude do Pai Celeste. Não o foi com uma unção de óleo terrestre, mas de óleo espiritual, quando em Sua Alma santíssima se derramaram a graça, a plenitude e os dons do Espírito Santo, em tal superabundância que nenhuma outra criatura a poderia jamais comportar.

É o que muito bem exprime o Profeta, quando interpela o próprio Redentor: "Vós amastes a justiça, e aborrecestes a iniqüidade Por isso Deus, o vosso Deus, vos ungiu com óleo de alegria na presença de vossos companheiros". (189) A mesma idéia, Isaías a exprime com muito mais clareza, na passagem seguinte: "O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque o Senhor Me ungiu, e Me enviou para pregar aos que são mansos". (190)

a) como sumo profeta... Jesus Cristo foi, portanto, o Profeta e Mestre supremo que nos ensinou a vontade de Deus, e cuja doutrina fez ao mundo conhecer o Pai Celestial. Cabe-lhe o nome de Profeta com maior glória e distinção, porquanto não passavam de discípulos Seus todos aqueles que [anteriormente] tiveram a honra desse nome, e que não foram enviados senão para anunciar o Profeta por excelência, que viria salvar todos os homens. (191)

b) eterno sacerdote... Cristo foi também Sacerdote, não na ordem pela qual na Antiga Lei os sacerdotes procediam da tribo de Levi, mas por aquela que o profeta Davi exaltou em seu vaticínio: "Vós sois sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedec". (192) Na epístola aos Hebreus, o Apóstolo explana detidamente o fundo desta passagem. (193)

c) rei universal... Reconhecemos, igualmente, que Cristo é Rei, não só como Deus, mas também enquanto Homem, participante de nossa natureza. De Sua dignidade real disse o Anjo: "Há de reinar eternamente na casa de Jacó, e Seu reino não terá fim". (194)

cujo domínio é a igreja... Esse Reino de Cristo é espiritual e eterno. Começa na terra, e consuma-se no céu. É com admirável providência que Cristo presta os ofícios de Rei à Sua Igreja. Ele a governa; defende-a dos ataques e embustes do inimigo; prescreve-lhe leis; comunica-lhe santidade e justiça; proporciona-lhe, ainda por cima, força e meios de perseverar.

que abrange bons e maus... Nos limites deste Reino, existem bons e maus. Por direito, fazem parte dele todos os homens. No entanto, aqueles que levam uma vida pura e santa, segundo os Seus Mandamentos, chegam a sentir, mais do que os outros, a suma bondade e benevolência de nosso Rei.

e também o mundo inteiro. Este Reino, porém, não Lhe foi adjudicado por direito de herança ou sucessão humana, ainda que Cristo descendesse dos reis mais ilustres. Era Rei, porque Deus reuniu em Sua humanidade tudo o que a natureza humana podia comportar de poder, grandeza e dignidade. Entregou-Lhe, portanto, o governo do mundo inteiro. E Cristo já começou a dominar, mas só no dia do Juízo é que todas as coisas se curvarão plena e incondicionalmente, à Sua autoridade. (195)

Um só Seu Filho

IV. Jesus Cristo 1. Filho de Deus [8] São mais profundos ainda os mistérios que estas palavras nos propõem a respeito de Jesus. Levam os fiéis a crer piedosamente que é Filho de Deus, e verdadeiro Deus como o Pai, que O gerou desde toda a eternidade.

a) de igual natureza como as outras pessoas; Além disso, confessamos que é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, perfeitamente igual às duas outras Pessoas Divinas. Nenhuma desigualdade ou diferença pode haver, ou imaginar-se nas três Pessoas divinas, porque em todas elas reconhecemos a existência de uma só natureza, de uma só vontade, de um só poder.

Esta verdade se nos antolha em muitos lugares da Sagrada Escritura. O mais claro, todavia, é o testemunho de São João: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus". (196)

b) gerado desde toda a eternidade; Ouvindo, porém, que Jesus é Filho de Deus, não nos ponhamos a imaginar que em Sua geração exista algo de terreno ou mortal. O ato pelo qual o Pai gera ao Filho desde toda a eternidade, não o podemos absolutamente perceber com a inteligência, e muito menos compreendê-lo de maneira adequada. Devemos, no entanto, acreditá-lo com firmeza, e adorá-lo com a maior devoção de nossa alma. Como que arrebatados de admiração pelo Mistério, cumpre-nos exclamar com o Profeta: "Quem poderá explicar a Sua geração?" (197)

c) consubstancial ao Pai Deve crer-se, portanto, que o Filho tem a mesma natureza, o mesmo poder, a mesma sabedoria que o Pai, conforme o confessamos mais explicitamente no Símbolo de Nicéia: "E em Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, e gerado pelo Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus de Deus verdadeiro, gerado, não feito, da mesma substancia que o Pai, e pelo qual foram feitas todas as coisas". (198)

Corolário: Comparações. [9] De todas as comparações que se fazem, para explicar o modo e a razão de ser desta geração eterna, nenhuma parece tão próxima da realidade, como aquela que se tira da formação do pensamento em nossa alma. Por isso, São João dá o nome de "Verbo" ao Filho de Deus. (199)

Como nossa alma, reconhecendo-se até certo grau, concebe uma imagem de si mesma, imagem que os teólogos chamam de "verbo" (200); assim também, quanto as coisas humanas podem comparar-se com as divinas, Deus, reconhecendo-Se a Si mesmo, gera o Verbo Eterno.

2. Filho do Homem (união hipostática) No mais, é preferível contemplar simplesmente o que a fé nos propõe, e crer e confessar, com sinceridade, que Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem.

Como Deus, foi gerado pelo Pai antes de todos os séculos; como Homem, nasceu no tempo, de Sua Mãe a Virgem Maria. (201)

Posto que em Cristo se deve admitir um duplo nascimento, cremos, todavia, que há um só Filho. É pois uma e a mesma Pessoa, na qual se unem as naturezas divina e humana.

3. Nosso Criador, e nosso Irmão [10] Da parte da geração divina, Cristo não tem irmãos nem co-herdeiros, visto ser Ele o Filho Único do Pai, enquanto nós homens somos apenas uma formação e obra de Suas mãos. (202)

Se entanto considerarmos Sua origem humana (203), veremos que Cristo não só dá a muitos o nome de "irmãos", mas também os trata realmente como tais, para que com Ele alcancem ao mesmo tempo a glória da herança paterna. São aqueles que pela fé receberam a Cristo Nosso Senhor (204), e por obras de caridade comprovam a fé que professam de boca. Eis por que o Apóstolo Lhe chamou o "Primogênito entre muitos irmãos". (205)

Nosso Senhor

V. 1. Jesus, nosso "Senhor": [11] entre as mudas afirmações da Sagrada Escritura a respeito de Nosso Salvador, não é difícil reconhecer que umas Lhe convêm como a Deus, outras como a Homem.

Das duas naturezas diversas, [Cristo] recebeu também as diversas propriedades. Assim dizemos, com toda a verdade, que Cristo é onipotente, eterno, imenso. Estes atributos Lhe advêm da natureza divina. E dizemos também que Ele sofreu, morreu e ressurgiu. Ninguém duvida que tais fatos só podem ser atribuídos à natureza humana.

a) como Deus Mas existem ainda outros atributos que convêm a ambas as naturezas, como o nome de "Nosso Senhor", que ora Lhe damos. Se, portanto, este nome se aplica a uma e outra natureza, é com toda a razão que Cristo deve ser chamado "Nosso Senhor".

Do mesmo modo que Ele é Deus eterno como o Pai, assim é também, como o Pai, Senhor de todas as coisas. Como Ele e o Pai não são dois deuses diversos, mas inteiramente o mesmo Deus, assim também Ele e o Pai não são dois Senhores diferentes. (206)

b) como Homem... por causa da Redenção... Com razão é chamado "Nosso Senhor" também em Sua condição de Homem. Há muitos títulos que o justificam. Em primeiro lugar, por ser nosso Redentor, e nos ter livrado de nossas culpas, recebeu por direito o poder de ser deveras e chamar-se "Nosso Senhor".

É o que nos ensina o Apóstolo: "Humilhou-se a Si mesmo, fazendo-Se obediente até a morte, e morte de cruz. Por essa razão, Deus também O exaltou e Lhe deu um nome que fica acima de todos os nomes, para que ao Nome de Jesus se dobre todo joelho, dos que estão no céu, na terra, e nos infernos; e toda língua proclame que Jesus Cristo está na glória de Deus Pai". (207) Após a Ressurreição, Cristo disse de Si mesmo: "A Mim foi dado todo o poder no céu e na terra". (208)

por causa da união hipostática Em segundo lugar, é chamado "Senhor" também, porque reúne numa só Pessoa duas naturezas, a divina e a humana. Ainda que Cristo por nós não morrera, contudo essa admirável união Lhe teria merecido o título de soberano Senhor de todas as coisas criadas, em particular dos fiéis que Lhe prestam obediência, e que O servem com o maior afeto de seu coração.

2. Nós, somos seus escravos... [12] Como nos resta ainda dizer, o pároco inculcará aos fiéis que, levando nós de Cristo o nome de cristãos, não podemos ignorar os imensos benefícios de que Ele nos cumulou, máxime a bondade com que, pela luz da fé, nos fez conhecer todos estes mistérios. Convém, pois, e força é repeti-lo, que nós - com maior obrigação que os outros mortais - para sempre façamos entrega e consagração de nós mesmos a Nosso Senhor e Redentor, na qualidade de escravos totalmente Seus.

pelo compromisso batismal... Na verdade, assim o prometemos à porta da igreja, quando recebíamos a iniciação do Batismo. Ali declaramos que renunciávamos a Satanás e ao mundo, para nos consagrarmos inteiramente a Jesus Cristo.

Mas, desde que, para entrar na milícia cristã, nos entregamos a Nosso Senhor, por tão santo e solene compromisso, que castigo não mereceríamos, se, depois de entrar no grêmio da Igreja, depois de conhecer a vontade e os preceitos de Deus, depois de receber a graça dos Sacramentos, fôssemos viver segundo as leis e normas do mundo e do demônio, como se no dia do Batismo nos houvéramos alistado no serviço do mundo e do demônio, que não de Cristo Nosso Senhor e Redentor.

mas Cristo nos chama de "amigos e irmãos". Em vista de tanto amor e benignidade para conosco, que coração se não sentiria abrasado de amor por tão grande Senhor? Apesar de nos ter debaixo de Seu poder e domínio, servos que somos remidos pelo Seu sangue, Cristo nos ama com tais extremos que já não nos chama de servos, mas de amigos e irmãos. (209) Esta é, sem dúvida, a mais justa, e talvez a mais forte de todas as razões, por que devemos para todo o sempre reconhecê-l'O, venerá-l'O e servi-l'O como Nosso Senhor.

167) 1Jo 4,15. - 168) Bar-Jona quer dizer Filho de João. - 169) Mt 16, 17. - 170) Gn 2, 16-17. - 171) Cone. Trid. Sess. V can. 1-6; sess. VI can. 1-2 (DU 174 188). - O CRO diz "constitutus fuerat", atendo-se à terminologia do Tridentino; este não diz "creatus fuerat", para evitar questões controversas da teologia especulativa. - 172) Rm 5, 12; DU 175 316 711 734 1627 11,,1 - 173) Gn 3, 15; DU 2123. - 174) Gn 12, 3; 17, 15-16; 18, 18. - 175) ... as cidades. - 176) Gn 22, 16-17. - 177) Gn 28, 12-14. 178) Por exemplo, a estrela de Jacob (Num 24, 17; Mt 2, 2; DU 711). - 179) Por exemplo, Isaías (7, 44; 8,3; 9, 6; 11, 13; 53 per totum), Jeremias (23, 5; 30, 9), Daniel (7, 13; 9, 24), e outros. - 180) Lc 1, 31. - 181) Mt 1, 20-21. - 182) Josué ou Jésus, cfr. Sr 46, 1. - 183) Sr 48, 14; Agg 1. 1. - 184) Lc 1, 79 - 185) ... isto é, nos homônimos de Jesus no Antigo Testamento. - 186) Is 7, 14; 8, 8; 9, 6; Jr 23, 6. - 187) Nm 16, 46-50; Sb 18, 20-25; Hb 5, 1-4. - 188) 1Sm 10, 1; 16, 13; Ex 19, 21; 30, 30. - 189) Os 44, 8. - 190) Is 61, 1. - 191) Dt 18, 15; DU 1789. - 192) Sl 109, 4. - 193) Hb 5, 5 ss.; DU 122 430 938 940 2195 circa finem. - 194) Lc 1, 32. - 195) DU 627, 629, 838; Litt. Encycl. águas primas" de Principatu Christi 11-XII-1925 (DU 2194-219) cfr. Offic. de Christo Rege. - 196) Jo 1, 1, DU 344. - 197) Is 53, 8; DU 462 2027. - 198) Tauchnitz funde o presente parágrafo com o seguinte, mas conserva 8-9 na numeração. - 199) Jo 1, 1 ss. DU 118. - 200) ... verbum mentis. - 201) SQ DU 257 285 422 708 993. - 202) Is 64, 8. - 203) Hb 2, 12. - 204) Lc 8, 21; Jo 1, 12-13. - 205) Rm 8, 29. - 206) DU 72 148 258 262 288 290 780 1463; SQ. - 207) Fl 2, 8 ss. - 208) Mt 28, 18. - 209) Jo 15, 14-15.