29 de novembro de 2009

Reflexão sobre o Evangelho Dominical - I Domingo do Advento - Parte 1 de 6

1º Domingo do Advento

De: "Pensamentos sôbre os Evangelhos e sôbre as festas do Senhor e dos Santos" - Pe. João Colombo. Nihil obstat: Pe. João Roalta - Imprimatur: Mons. J. Lafayette

Título original: "Pensieri sui Vangeli e sulle Feste del Signore e dei Santi" Milão, Itália.
Escrito entre 1927-1938. Primeira edição em 1939.

Lc. XXI, 25-33.

I. O JUÍZO UNIVERSAL

Para além dos séculos, Deus pôs um sinal ao qual todos os caminhos deverão chegar. Este sinal é a sua cruz, que aparecerá, no fim do mundo, no céu vazio, e fulgurará terrivelmente sobre a cabeça de todos os homens reunidos de todas as partes e prostrados sobre a terra nua. Será esse o dia mais tremendo. Dies irae dies illa!
Na manhã de 14 de setembro do ano 258, no Campo Sextio, molhado ainda do orvalho, era decapitado o bispo de Cartago. Os inimigos de Cristo haviam-no prendido e trazido perante o procônsul Galério.
Galério: “És tu Tascio Cipriano?”
Cipriano: “ Sou eu mesmo”.
Galério: “Que Tascio Cipriano seja justiçado à espada”.
Cipriano: “Deo gratias”.
Mas, quando os soldados se prepararam para executar a sentença, quando os fiéis estenderam paninhos em torno para recolher o seu sangue que seria derramado, o santo teve um frêmito e, cobrindo os olhos com as mãos, disse: “Vae mihi cum ad judicium venero!” Foi um instante: depois estendeu a cabeça.
Se o pensamento do juízo de Deus fazia tremer os mártires, que será de nós? Que faremos nós e que diremos diante do Juíz divino? Pensemos em que aquele será:
dia da grande manifestação,
dia da grande acusação.





1- Manifestação sem véus.

Representemo-nos a nossa alma perante aquele tribunal supremo, circundada pelos anjos e pelos homens: os justos e os pecadores, os parentes e os conhecidos, os superiores e os inferiores, os amigos e os inimigos. Os olhos de todos estão sobre nós. Sobre nós estão os olhos de Deus.
Entrementes se refará a história da nossa vida, desde os dias remotos e esquecidos da infância até o da nossa morte. Então aparecerá todo o mal que encobertamos fizemos, e todo o bem que preguiçosamente não quisemos fazer.

a) Todo o mal que encobertamente fizemos.

Neste mundo nós acreditamos enganar os olhos do esposo, a vigilância dos pais, a boa fé talvez de um padre a quem arrancamos a absolvição. Trabalho perdido: lá todos saberão de tudo.
Passávamos por amigo fiel, sincero, generoso: ao contrário, verão que eramos desleais, interesseiros sem consciência.
Passávamos como sendo pessoa justa que se contenta com o que é seu: ao contrário, conhecer-se-ão as fraudes dos nossos negócios, e todos poderão contar o dinheiro e as coisas extorquidas aos outros.
Passávamos como um homem íntegro e honesto; ao invés, aparecerão as nossas infâmias cometidas na sombra e no segredo.
E não só o mal que fizemos fora de nós, mas também o mal que ficou dentro de nós, no recôndito da alma, será manifestado.
Tantos desejos vergonhosos que nas horas de ócio enchiam nossa mente; tantos instintos de inveja e de rancor que dissimulamos, mas que no entanto eram o motivo profundo das nossas malignas vingancinhas; tantos projetos de pecados que só não executamos por ter faltado a ocasião: veremos estas iniquidades saltadas do nosso coração, sem o sabermos, quase como uma emboscada. Ante a história secreta do nosso coração sentiremos horror de nós mesmos.
Ao exame do mal que fizemos seguir-se-á o do bem que, podendo, não quisemos fazer.

b) Todo o bem que podíamos fazer e que preguiçosamente não quisemos fazer.

Neste mundo é fácil esconder por trás de um comodo pretexto a nossa preguiça no descuido do bem, e temos a ilusão de justificar-nos, dizendo: “Não me compete”, ou então “Não o consigo, não tenho os meios”. Porém lá em cima ser-nos-ão relembradas e lançadas em rosto todas as culposas omissões de que nossa vida é tecida.
Todas as ocasiões de dar a Deus uma glória que não demos; todas as almas que poderíamos ter salvado com a oração, com o conselho, com a esmola, e que não salvamos; todas ao Santas Comunhões, Missas, prédicas que descuidamos por preguiça; todos os dias perdidos, sacrificados aos mexericos e aos prazeres do mundo, sem um pensamento que os consagrassem a Deus e os tornasse bons para a eternidade.
Manifestação total, pois: do mal feito ora e dentro de nós, e d0o bem não feito.
c) E será uma manifestação sem véus.
Na terra, quando fomos capaz de um delito que nos precipitou na infâmia e no desprezo, fugimos do nosso país, abandonamos a pátria e procuramos um lugar, noutro continente, onde ninguém nos conheça, onde ninguém saiba nem venha a saber, onde ainda nos seja possível respirar e redimir-nos. Mas, no dia do grande juízo, em que ignotas regiões poderemos refugiar-nos, se todas foram destruídas? Em que povos estrangeiros, se todo homem poderá ler-nos na fronte a chaga e o destino?
Na terra, o homem desonrado pode esconder-se, pode intrometer-se na multidão dos indiferentes, e esperar que com o tempo se aplaque o rumor das suas maldades. Mas isto não será possível na hora do juízo universal: não mais confusão, porém separação. Do alto, como um grande pastor, com o seu cajado ardente Cristo separará os cordeiros dos bodes: os bons dos maus. E será uma separação cruel: o amigo do amigo, o irmão do irmão, o pai do filho, um tomado e outro abandonado. E será uma separação ignominiosa, por que todos nos verão e nos desprezarão.
Um nobre romano de nome Pison foi obrigado a comparecer no senado revestido com a túnica infame de réu. Mas, quando, assim coberto de opróbrio, se achou perante os senadores que dos seus assentos olhavam para ele, mesmo antes de comparecerem os juízes no tribunal, mesmo antes de levantarem os acusadores os rostos, ele não pode mais aguentar-se de vergonha. Resistiu um pouco, empalideceu como alguém que desmaia: porém, depois, subtamente puxou de um estilete que por acaso trazia sobre as vestes, e matou-se (DIONE CASSIO).
Oh! Se na hora do juízo de Deus os réprobos possuíssem um estilete! Oh! Se ao menos pudessem morrer outra vez, morreria todos de vergonha!

2. Dia da grande acusação.

a) A acusação do demônio.

Santo Agostinho assegura-nos que o primeiro a levantar-se contra nós será o demônio. Logo ele, que agora, com toda lisonja e dolo, nos atira na lama. Dirá ele: “durante a vida esta alma observou os mandamentos, Senhor, não da tua, mas da minha lei. Dá-me, pois, que ela me pertence”.
Nós ousaremos balbuciar: “Senhor, seguir o demônio era menos trabalhoso, dura demais é a tua lei”.
“Não é verdade, não é verdade! -Insultar-nos-á o demônio- Eu te fazia trabalhar mesmo no Domingo, enquanto a suave lei de Deus te teria concedido o repouso, e tu trabalhavas para mim, sem te lamentares, eu te fazia beber mesmo quando já não tinhas sede: e tu, por mim, bebias ainda, até te sentires mal, até te bestializares na embriaguez. Eu te mandava dançar: e tu, cansado dos seis dias de trabalho dançavas no Domingo para me fazeres rir. Eu te sugeria um encontro equívoco: e tu, para me escutares, deixavas a tua família e, embora fizesse frio, embora chovesse, te aguentavas esperar debaixo da água ou da neve, por horas e horas aquela pessoa. Eu te impunha esbanjares no vício o suor da tua semana: e tu, que tinhas medo de dar de esmola um ceitil, consumias nas reuniões e nos prazeres o sustento de tua família. Nada leve o meu jugo: mas preferiste-o!”

b) A acusação do Anjo.

Depois surgirá o nosso Anjo. Sim, o Anjo da Guarda, a quem a Piedade Suprema nos confiará, também ele se tornará acusador. “Meu Senhor -dirá ele- o meu dever de iluminá-lo, guardá-lo, regê-lo, governá-lo, cumpri-o. Mas em vão. Em vão, ó Senhor, iluminei-lhe a mente com bons pensamentos, a alma com as boas palavras de sacerdotes e de amigos, o caminho com o bom exemplo de companheiros. Em vão eu o guardava, pois por sua teimosa vontade ele ia ter com as pessoas más e aos lugares perigosos. As tempestades de remorsos que eu lhe suscitava no coração, ele não quis render-se.”

c) A acusação dos homens.

Terminada a acusação do anjo mal e do anjo bom, surgirão os homens para nos acusar, será a voz dos inocentes escandalizados pelas nossas palavras, pelo nosso exemplo, pelos nossos incitamentos: “justiça de Deus -clamarão eles- vinga as nossas almas”.
Será a voz dos cúmplices dos nossos pecados: “justiça de Deus -gritarão eles- com ele o mal, com ele o inferno”.
Será, ó pais, a voz dos vossos filhos que não guardastes, que não educastes, que quiçá escandalizastes. “Senhor -dirão eles- em casa aprendi a não rezar, a blasfemar, a ofender-te!”
Será, talvez, ó pais, a voz débil dos filhos que não quisestes, ou que não abandonastes antes de nascerem: “Senhor -gemerão eles- nós também tínhamos direito à vida e não a tivemos!”

d) Acusação sem escusa.

Que escusa acharemos para opor a semelhante acusação? Acaso a nossa ignorância? Culpa nossa se nos não instruímos: todo Domingo havia pregação e doutrina. Acaso a nossa fraqueza? Mas todos os santos saltarão a dizer: “Também nós éramos de carne e sangue como vós, e nos salvamos”. Então surgirá o Juiz e julgará.

Conclusão.

Quando Moisés acabou de explicar ao povo a Lei de Deus, concluiu assim: “Filhos de Israel! Eis que eu hoje ponho diante de vós uma bênção e uma maldição: uma bênção se obedecerdes aos mandamentos de Deus, uma maldição se deixardes a estrada boa pela má. Escolhei”. (Deut., XI, 16-28)
As mesmas palavras eu repito a vós, ó cristãos, depois de vos haver proposto o novíssimo do juízo.
“Eis que eu hoje ponho diante de vós uma bênção eterna e uma eterna maldição. Quereis ser benditos no reino do céu para sempre? Ou quereis ser malditos no fogo do inferno para sempre? Escolhei”.

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