24 de novembro de 2009

Reflexão sobre o Evangelho Dominical - XXIV e Último Domingo depois de Pentecostes - Parte III

24º e Último Domingo depois de Pentecostes


De: "Pensamentos sôbre os Evangelhos e sôbre as festas do Senhor e dos Santos" - Pe. João Colombo. Nihil obstat: Pe. João Roalta - Imprimatur: Mons. J. Lafayette

Título original: "Pensieri sui Vangeli e sulle Feste del Signore e dei Santi" Milão, Itália.
Escrito entre 1927-1938. Primeira edição em 1939.

Evangelho: Mt. XXIV, 13-35.


3- O grande dia do Senhor

o sol escurecer-se-á e a lua, sem esplendor, semelhará uma face rugosa. As estrelas precipitar-se-ão através do espaço, e o céu, como um cenário velho, ruirá. Então a cruz fulgurará bem no alto: em baixo, todas as raças humanas, reunidas; soluçarão. Em todas as partes da terra retinirão as trombetas dos anjos; e em todos os túmulos penetrará um grito: “- Levantai-vos! Vinde ao juízo...sobre as nuvens, com majestade e potestade, o Filho do Homem voltou, para julgar os vivos e os mortos.
Estas palavras terríveis Jesus as dizia alguns dias antes de morrer, no cimo do monte Olivete. Os Apóstolos, escutando, apertavam-se a Ele como se o perigo fosse iminente. Mas, para que no futuro ninguém duvidasse daquela profecia sobre o fim do mundo, Jesus alongou a mão para designar Jerusalém cintilante ao sol que se punha, e disse: “A cidade, olhai como é bela! Contudo, esta próxima a sua desolação, os exércitos cerca-la-ão. Para ela virá uma desventura tal, qual não se viu desde o princípio do mundo. Naqueles dias, quem puder se esconda na montanha; e quem estiver no terraço não desça à rua, mas fuja de teto em teto; e quem se achar no campo não volte para casa para buscar vestes ou haveres, mas fuja assim como esta: Infelizes das mães naqueles dias!”
Quarenta anos depois verificava-se ao pé da letra uma das tremendas profecias: a destruição de Jerusalém. E a outra, a da destruição do mundo, quando se verificará?
A ninguém Jesus o quis dizer, mas é certo que se verificará, porque céu e terra passam, mas a palavra de Deus fica: o fim de Jerusalém garante-nos isso.
Então, não somente uma cidade em chamas, mas o mundo todo; não somente uma nação será atribulada, mas todos os povos. Deus , que concedeu aos homens os anos e os séculos, quis um dia para si: o último. O dia da sua justiça, da sua ciência, da sua glória.

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1- O dia da sua justiça.
Tinha sido urdida uma conspiração contra o profeta Jeremias: os seus inimigos haviam estabelecido tirá-lo da face da terra e fazer o povo esquecer-lhe até mesmo o nome. Quando Jeremias percebeu a horrível trama, palpitante de pavor volveu-se para o Senhor lhe disse: “Todos dizem que és justo, e nem serei eu a contestá-lo: todavia, não te pese de escutares as minhas dúvidas. Como é que os ímpios tudo anda prosperamente? Como é que são felizes todos os que se do a fazer o mal? Tem trabalho e ganho, casa e comodidade, saúde e comida?... (Jer., XII, 1).
Mas não foi apenas o profeta Jereias que se sentiu vacilar na fé diante das vicissitudes humanas; também nós quantas vezes, chorando, temos exclamado: “Senhor, não te lembras mais de mim? Olha! Os teus inimigos que não te reconhecem, que não te adoram, que não te temem, como são afortunados!...” Cristãos, a justiça de Deus é tão misteriosa e tão grande, que nós, criaturas pequenas e cegas, não conseguimos entrever os seus desígnios admiráveis. Um dia, porém, ela se manifestará aos nossos olhos, e nós veremos e diremos: “Justo és,Senhor, e reto é o teu governo”.
Esse será o dia do juízo final, isto é, o dia da sua justiça.
Então os bons compreenderão o porque das suas tribulações;

a) Quem vive na prosperidade põe nela os seus afetos e esquece o céu e a alma. O sofrimento é a mão de Deus que nos desprende lentamente da terra, e que purifica com o pranto os nossos olhos, preparando-os para as visões paradisíacas.

b) O sofrimento abate os enfatuamentos da soberba, amortece os desejos da gula, sufoca a paixão impura. É o melhor auxílio para as vitórias espirituais.

c) O sofrimento faz-nos pagar neste mundo as nossas dividas para com Deus, e nos prepara méritos preciosos lá no céu, na eterna mansão. “Felizes de nós – exclamaremos então – pelos dias em que fomos humilhados, pelos anos em que tivemos doentes!...”
Então, também os maus compreenderão o porque de suas venturas terrenas. Quando blasfemavam, se Deus se calava não era porque os não ouvisse; quando pecavam, se Deus suportava não era porque não os visse; mas era porque pretendia premiá-los, desse modo, pelo pouco bem que pudessem ter feito. Mas, depois da morte, para eles, não ficará senão mal.
Justus es Domine et rectum judicium tuum! (Ps. CXVIII, 137)

2- O dia da sua ciência.
Da vida de S. João Bosco relato um episódio que faz tremer e pensar. ( G. B. LEMOYNE, Vida do B. Dom Bosco, vol. II, parte V, 4). Na noite de 16 de setembro de 1867, depois das orações, ele reuniu toda a sua familia de padres, clérigos, coadjutores, estudantes, artífices, servos; e depois começou a falar tristemente de Jesus que morrera pelas almas, e de alguns que arruínam suas almas.
“A estes,- continuou ele soluçando- que foi que eu fiz de ofensa, para que eles me tratem assim? Não os amei como filhos? Estes pensam não ser conhecidos, mas eu sou quem sou, sei o que eles tem pensado e feito...” Depois, com voz lancinante, citando-os um a um pelo nome, clamou: “És tu... um lobo que giras pelo meio dos companheiros e os afastas dos superiores, redicularizando os avisos destes. És tu... um ladrão que com teus discursos roubas a inocência dos outros. És tu... um assassino que com cartas secretas e com gracejos arrancas as almas do meu lado e as mata.”
Era solene o silêncio. Foram nomeados seis. A cada nome ouvia-se um grito sufocado, um soluço um ai! Que ressoava medonhamente no meio daqueles assistentes estarrecidos.
Em lugar de Dom Bosco ponde Jesus majestoso sobre as nuvens, em lugar da família salesiana ponde a imensa família humana reunida para a grande manifestação; o solene juízo final, dia d ciência de Cristo.
“Que te fiz eu de ofensa ou de dano para que assim me tratasses! Não te amei sempre como a um filho? Talvez esperasses que eu não soubesse... mas agora verás como eu sabia de tudo, como sei de tudo.” Naquele momento não será possível nem esconder-se nem esconder. Quidquid latet apparebit.

a) Aparecerá a nossa pessoa. Cá neste mundo os maus se entremeiam aos bons e vivem na sombra. Mas, no juízo, serão separados, e cada um aparecerá tal como viveu. Que dirá o príncipe, o senhor, o patrão, ao ver-se envergonhado diante do súdito, do pobre, do servo? Que dirá o pai condenado diante do filho?
b) Aparecerão todas as nossas ações. Mesmo aquela que nos parece coisa de pouca importância... Mesmo aquela que ninguém nunca soube, nem mesmo o confessor, por a havermos calado sacrilegamente... Mesmo aquela consumada nas trevas da noite, no segredo de uma casa... “As pedras que estavam no meio da parede clamarão então contra nós, e as madeiras de nossa casa falarão”. (Habacuc, II, 11).
c) Aparecerá qualquer pensamento da mente, qualquer desejo do coração. Ah! Aquelas imaginações impuras, aqueles afetos ilícitos, aqueles ódios alimentados dentro de nós, então aparecerão ao conspecto universal!... “Aquilo que fizeste e mantiveste oculto em ti, eu o porei em face do povo, em face do sol”. (II Reis, XII, 12).
d) Aparecerão até os pecados que outros cometeram por escândalo nosso. Aquela filha que se julgava intacta na honra ver-se-á ferida por todos os olhares impuros que despertou com o seu vestir, com a sua ânsia de agradar. Aquele pai será acusado de todas as blasfêmias e libertinagens de seus filhos. Aquele rico será imputado os pecados cometidos por quem olhou as pinturas e as figuras escandalosas com que gostava de adornar o seu palácio e o seu jardim.

3- O dia de sua glória.
Deus fez-se homem para nos salvar, e os homens não somente o desconheceram como Deus, mas o atormentaram mesmo como homem. Chamaram-lhe possesso do demônio, revolucionário, blasfemador; trataram-no pior do que aos assassinos. Por isto, é justo que Ele se manifeste na sua divina majestade e poder, entre o fogo e as nuvens, no meio do céu...
Numa sexta-feira Ele foi conduzido perante o tribunal, acusado, julgado; é justo que Ele, único Legislador e Juíz (Tiago, IV, 12), chame perante o seu tribunal aqueles que ousaram condená-lo.
Quantas vezes os homens o insultaram, escarneceram a sua doutrina, as suas virtudes, os seus ministros, o sei vigário o Papa, a sua igreja... e Ele se calou sempre. É bem justo que tome para si um dia de glória em que falar finalmente. Falará : “Vinde, benditos, ao reino de meu Pai! Ide, malditos, para o fogo eterno!”.
Quantas injúrias Ele não suporta todo dia no Sacramento do altar, onde o seu amor o mantém prisioneiro! São esquecimentos, irreverências, sacrilégios... os homens passam por diante da sua casa e não o saúdam; Ele passa, como viático ou em solene procissão, por diante das casas dos homens, e eles tem vergonha de adorá-lo publicamente e de se ajoelhar à sua passagem... No dia final Ele tomará a revindita: na sua glória, será glorificado.
Cá neste mundo os homens não o reconhecem como Deus, e em lugar dEle adoram uma paixão, o dinheiro, uma pessoa, o demônio. Mas , naquele dia, todos verão que só Ele é Deus, e não há Deus afora Ele.
Os bons com alegria, os maus com pavor, mas todos, quando Ele aparecer em juízo, dir-lhe-ão: - Tu és Rei de glória, ó Cristo – Tu Rex glorie, Christe!

Conclusão
São passados milhares de anos desde que um soberano poderoso, sentado a uma lauta mesa, circundado de ilustres convidados, se abandonava às delícias da comida, do vinho, dos sentidos. Os comensais não faziam senão louvar os seus ídolos de ouro e de prata, de pau e de pedra, e desprezar o verdadeiro Deus.
De repente, na parede iluminada pelo candelabro, apareceu uma mão que escreveu: - Mané, Técel, Tarés – Os teus dias estão completos, na balança foste pesado, para ti tudo acabou.
Um frêmito de horror passou pelas mesas, a alegria emudeceu, a sala pareceu um túmulo. Naquela mesma noite o rei Baltasar e os seus amigos foram mortos pelos Persas, e compareceram perante o tribunal de Deus.
No mundo há muitos que vivem como esse rei e aqueles seus cortesãos. Deste número talvez também sejamos nós. E se de repente aparecesse também para nós aquela mão escrevendo? “Os teus dias estão completos, na balança foste pesado, para ti tudo findou”.
Memorare novissima tua et in eternum nom paccabis. (Eccli)


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