25 de novembro de 2009

Reflexão sobre o Evangelho Dominical - XXIV e Último Domingo depois de Pentecostes - Parte IV

24º e Último Domingo depois de Pentecostes


De: "Pensamentos sôbre os Evangelhos e sôbre as festas do Senhor e dos Santos" - Pe. João Colombo. Nihil obstat: Pe. João Roalta - Imprimatur: Mons. J. Lafayette

Título original: "Pensieri sui Vangeli e sulle Feste del Signore e dei Santi" Milão, Itália.
Escrito entre 1927-1938. Primeira edição em 1939.

Evangelho: Mt. XXIV, 13-35.


4- O santo temor de Deus

Segundo a liturgia da Igreja, hoje o ano termina; com o domingo vindouro entramos no Advento, que é a preparação para o santo Natal, e começar-se-á, portanto, um novo ciclo de festas.
Neste Evangelho de hoje, é todo um cair de estrelas, um longo retinir de trombetas, e um chorar de medo sob a majestade do Filho de Deus que vem. Cristãos, volvamo-nos para trás, e consideremos se neste ano litúrgico não fizemos alguma coisa de que nos possamos arrepender por ocasião do juízo final.
“Quando será que o Filho do homem voltará sobre as nuvens do céu para julgar os vivos e os mortos?” haviam perguntado, tremendo, os Apóstolos. E Jesus respondeu: “Ninguém jamais vos poderá dizê-lo. Mas estai alerta: Ele virá como o relâmpago que de repente fulgura do nascente ao poente; como um patrão partido para longe, a negócio, o qual volta imprevistamente para surpreender os servos; como um ladrão que vem sorrateiramente de noite.
Ai daqueles que forem colhidos na crápula ou com o coração onerado pelas ansiosas solicitudes desta vida mendaz! Serão presos no laço.
Enquanto isso, o sol se escurecerá. A lua perderá a branca luz. As estrelas precipitar-se-ão. Todas as forças do céu serão transformadas. Dos quatro ângulos do mundo, grupos de anjos desferirão os toques de eternidade, e a trombeta pavorosa impelirá os homens a reunir-se.
E eis, no alto, o grande sinal do Filho do homem, e eis sobre as nuvens esse Filho do homem. Todos, estarrecidos, aguardarão a sua palavra. E Ele finalmente falará.
Ele, que se calou no seu Tabernáculo por séculos e séculos, Ele que se calou quando o blasfemavam, Ele que se calou quando as almas se engolfavam no pecado, Ele falará então, para proferir a sentença.
E, depois que Ele houver falado, o céu e a terra passarão, mas a sua sentença não passará, por todo o sempre. Coelum et terra transibunt, verba autem mea non praeteribunt.
Mas, infelizmente, os homens não se lembram de Jesus e da sua promessa. Vivem como se o mundo devesse durar sempre, como durou até agora, e não se preocupam senão com os seus interesses terrenos e carnais. E, se ainda languidamente creem em Deus, relegam-no ao seu Paraíso, e, sem mais se preocuparem com ele, procuram fabricar para si, nos prazeres, outro paraíso, fora da sua lei.
E, assim como nos dias antes do dilúvio se comia, se bebia, se tomava mulher e se casava, e o povo não se deu conta de nada até o dia em que Noé entrou na Arca e as águas começaram a invadir o mundo, assim também será quanto à vinda final de Jesus Cristo. E, tal como sucedeu nos dias de Lot, em que todos enlouqueceram nos pecados até quando caiu do céu uma chuva de fogo e de enxôfre que os fez perecer todos, assim sucederá no fim do mundo.
Olhai no mundo que loucura de corrupção! Ninguém teme o Ladrão divino, que chegará imprevistamente na noite; ninguém espera pelo verdadeiro Patrão. Timete dominum. (Apoc., XIV,7).

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1- Excelência do temor de Deus.
Preserva-nos do pecado. O temor de Deus foi por S. João Crisóstomo comparado àquele forte armado que esta diante do átrio e não deixa passar ninguém sem o matar: assim, no átrio de uma alma o santo temor de Deus mata toda tentação que quer penetrar, e afugenta todos os pecados: “Meu filho! - Dizia o velho Tobias acariciando o seu filho único – se temermos a Deus, esquivaremos todo pecado, e faremos muito bem”. (Tob., IV, 23).
Alcança-nos muitas graças. Assim como uma bordadeira se serve da agulha picante para introduzir no pano os belos fios de ouro ou de prata ou de seda variegada, assim também Deus serve-se do agulhão do temor para bordar com belas graças a nossa alma. E, no “Magnificat”,Nossa Senhora disse que para os que temem o Senhor há grande misericórdia de século em século, de geração em geração.
Dá-nos a tranquilidade na morte. De toda a vida humana, os momentos mais terríveis são os da agonia: estar às portas da eternidade, já sentir na fronte soprar a aragem do outro mundo, já ouvir os passos de Deus juíz, que vem. Pois bem: os que viveram no santo temor achar-se-ão bem naqueles instantes supremos, e no dia da sua morte serão benditos.
É a verdadeira beleza da alma. Não pela forma do seu rosto ou do seu corpo, pois isto é vaidade, mas pelo temor de Deus, é que a mulher será louvada. (Prov., XXXI, 30).
É a verdadeira riqueza da alma. Tanta pobre gente consome a sua vida para juntar um pouco de bens, um pouco de dinheiro, para adquirir uma honraria ou um diploma. Tudo isto a morte fará desvanecer como o sol dissipa a neve. O temor de Deus, este é o verdadeiro tesouro! (Is., XXXIII,6)
É a verdadeira força da alma. Era a Epifania do ano 372. Na catedral de Cesaréia o bispo S. João Crisóstomo celebrava solenemente, ereto no altar como uma coluna de bronze no templo do Senhor. E eis que entra o imperador Valente, que, naqueles dias, com ódio ariano, perseguia os católicos. No momento oportuno, com os outros fiéis, o imperador também se apresentou para receber a Comunhão. O bispo achava-se entre o poder do Céu e o poder da terra: oferecer ao indigno imperador o Corpo de Cristo era desprezar a Deus com o sacrilégio; negar-lho era oferecer-se à perseguição.
S, João Crisóstomo temeu o Senhor, e francamente recusou ao imperador o pão dos anjos.
No dia seguinte, um édito imperial bania da cidade o bispo; viram-no então deixar o palácio episcopal e tomar o caminho do exílio. Estava sem medo.

2- Necessidade do temor de Deus.
De muitas coisas os homens tem medo: da doença, da miséria, da perda de uma amizade, da picada de um vil inseto. E não tem temor de Deus, o único a quem eles verdadeiramente deveriam temer.
Observai, depois, como o mais pequeno desprezo que os outros fazem de nós e das nossas coisas nos ofende e nos encoleriza. Experimente alguém desprezar os filhos diante de seu pai e de sua mãe! Experimente desprezar os conselhos de um advogado e a receita de um médico na presença deles! Experimente desprezar a mercadoria do comerciante, e a obra diante do artífice! Logo vereis iras terríveis, e brigas, e vinganças. Então só Deus há-de se deixar ridicularizar? E por quem?
Temamos a Deus que esta presente em todo lugar e em todo momento. Alguns povos bárbaros haviam escolhido como seu deus o sol, para que ao menos de noite – quando o sol está ausente- inobservados e impunemente eles pudessem fazer tudo o que quisessem. Ingênuos, mas lógicos! Ao contrário, pensemos na nossa desfaçatez quando, pecando, ofendemos a Deus na sua presença. Toda blasfêmia, todo furto, toda desonestidade, até mesmo todo pensamento e desejo ilícito, Deus vê, e se cala. Mas não se calará sempre; virá o seu dia, para Ele falar, e será no juízo final.
Temamos a Deus que virá julgar-nos. Três coisas farão angústia aos réprobos naquele momento em que aparecer a majestade do Filho de Deus: a primeira, a de terem ofendido um irmão bom, e um pai que, mesmo então, eles conhecerão amorosíssimo; a segunda, a de perceberem haver perdido aquele esplendor imenso e aquela alegria sem fim em que os eleitos serão envolvidos; a terceira, a de estar aberto por debaixo deles, para os tragar inexoravelmente, o bárbaro infernal.
A quem invocarão eles? Quem poderá ajudá-los? Acaso Nossa Senhora, que é tão boa? Acaso Nossa Senhora, que é mãe, que é refúgio dos pecadores?

Conclusão
Não: Nossa Senhora será então a impugnadora mais forte.
Aman, o ministro soberbo, o traidor dos hebreus, o homem da fraude, foi chamado à sala do banquete, e, pressentindo que a sua condenação estava iminente, ajoelhou-se, tremendo, aos pés da rainha Ester, implorando, em soluços, piedade. Mas a rainha olhou-o com olhar duro e disse: “Ó rei, eis aqui Aman, o nosso pior inimigo”. Naquele momento entrava um servo para anunciar que o suplicio estava pronto. “Fazei-o morrer!’ ordenou Assuero. E arrastaram-no para fora.
Recordai as palavras de Ester: “Inimicus noster pessimus iste est Aman” (Ester, VII, 6); melhores do que estas não as espere dos lábios da Virgem Mãe, no dia do juízo, o homem que não tem temor de Deus. Porquanto Nossa Senhora então não fará senão ratificar a condenação pronunciada por seu divino Filho.

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