26 de novembro de 2009

Reflexão sobre o Evangelho Dominical - XXIV e Último Domingo depois de Pentecostes - Parte Final

24º e Último Domingo depois de Pentecostes


De: "Pensamentos sôbre os Evangelhos e sôbre as festas do Senhor e dos Santos" - Pe. João Colombo. Nihil obstat: Pe. João Roalta - Imprimatur: Mons. J. Lafayette

Título original: "Pensieri sui Vangeli e sulle Feste del Signore e dei Santi" Milão, Itália.
Escrito entre 1927-1938. Primeira edição em 1939.

Evangelho: Mt. XXIV, 13-35.


5- O sinal do Filho do homem.

Surgirão falsos profetas, e farão prodígios para enganar até mesmo os eleitos, se possível fosse. E dirão: “Eis que Ele vem do deserto, eis que sai do interior da casa”. Não lhes deis ouvido, porque Jesus Cristo voltará imprevisto como o relâmpago que sai do oriente para reluzir até o ocidente.
Então, precedido pelos toques das trombetas angélicas, aparecerá fulgurante e grandíssimo, no céu desfeito, o sinal do Filho do homem: a Cruz. E, em baixo, batendo no peito, chorarão todas as tribos da terra.
Neste mundo há muita gente que não quer ver a Cruz, que tem medo do Crucificado; há gente que o odeia, que o blasfema. Que experimentarão estes quando virem o Crucificado aparecer-lhes por sobre a cabeça, para julga-los? Baterão no peito e chorarão.
Plangent omnes tribus terra. Melhor é então familiarizar-se com este sinal do Filho do homem, que será também o sinal do nosso juízo. Portanto, aprendamos a amar na terra o Crucificado, aprendamos a olhar para Ele em todos os momentos da nossa vida, mas especialmente na hora da tentação, na hora da tribulação, na hora da morte.


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1- Na hora da tentação.
Morrera o rei dos Cimérios, e os seus três filhos estavam em litígio pela sucessão paterna. E, visto que havia ameaça de aquilo acabar no sangue, interveio Ariófanes, o rei dos Trácios, para fazer de árbitro. Este assim compôs a questão: mandou exumar o cadáver do pai, depois mandou-o atar a uma árvore. Finalmente, disse: “O reino é do filho que, com o dardo, ferir o coração do pai morto”.
E começou o alvejar nefasto e crudelíssimo. O primeiro, com o dardo, transpassou-lhe a garganta. O segundo feriu-lhe o peito, mas não tocou o coração. O terceiro empunhou o arco, colocou a seta, mas, quando levantou os olhos para seu pai morto, a fim de mirar o alvo, com um ímpeto fulmíneo quebrou o arco e a flecha, gritando: “Não posso!”
Então Ariófanes sentenciou: “A ti pertence o reino, porque a piedade te mostrou verdadeiro filho, e a virtude te torna digno do mando”. (DIODORO SICULO, Livro II).
Essa árvore a que esta atado um Rei morto é a Cruz, o reino do Filho do homem do qual pende Cristo morto. Esses três filhos são os homens que, com os seus pecados, investem contra o Deus morto pela salvação. Todo pecado é uma flecha.
Oh! se nos momentos de tentação a imagem do Crucificado nos estivesse diante dos olhos! Oh! Se quando estamos para sair de casa e ir ofender a Deus, ou quando torvos desejos nos arrastam no turbilhão, ou ainda, quando está para nos escapar da boca uma blasfêmia, nós também, como o terceiro filho do rei dos Cimérios,levantássemos o olhar para Jesus na cruz, e pesássemos que Coração nós alvejamos, certamente quebraríamos arco e flecha, clamando também: “Não posso!”
Olhemos, pois, para o Crucificado, na tentação. Olha para o Crucificado, ó jovem, tu que não queres ir à congregação nem te confessares; tu que te enfureces quando tua mãe te impele para a igreja: olha como Ele sofre!
Olha para o Crucificado, também tu, ó menina: é o teu Deus despojado e chagado em todo o corpo. Depois olha a tua moda . Ele morreu para cancelar o pecado, e tu, o teu modo de vestir, vives para incitar ao pecado?
Aqueles que retém bens ou dinheiro de outrem, olhem também para Ele e se perguntem; ‘Por que é que Ele tem as mãos abertas e perfuradas pelos cravos?’
Aqueles que no seu coração alimentam uma relação ilícita, ou uma paixão escura, ou um rancor oculto, olhem para aquele Coração rasgado. Por que é que ele esta rasgado? Se, depois de olharmos para o Sinal do Filho do Homem, ainda tivermos a coragem de pecar, então será mister dizer que temos o coração mais duro do que a montanha, e mais inflamado do que o sol. Porque a montana o Calvário se fendeu, e o sol, naquela dolorosa sexta-feira, se escureceu, diante da Cruz de Jesus.

2- Na hora da tribulação.
Neste mundo, cada dia é um espinho; cada homem tem uma pena; cada família é um calvário.
Ó irmão, olhai e olhai:
todos trazem a cruz neste mundo.
E é preciso carregá-la. Disse-o o Senhor: “Quem quiser vir após mim, ponha nas costas a sua cruz e me siga”. E às vezes a cruz é pesada.
Em muitas famílias encontram-se casos verdadeiramente lamentáveis. A morte que, um por vez, leva os membros da família mais fortes e mais promissores; a discórdia, que não deixa respirar um momento; a miséria, com o seu aguilhão que perturba o sono; a calúnia, que traz a desonra sobre a família e sobre o nome; os filhos que, crescidos, não dão consolação, mas desespero.
Vós que passais, vinde a Ele que fica.
Vós que sofreis, vinde a Ele que cura.
Vós que tremeis, vinde a Ele que sorri.
Diz-se: ‘Mas aquele tal não sofre; mas para aquela família o sol lhe raia em casa; lá se folga beatamente... Eu, ao contrário...”
Antes de tudo, não é verdade que os outros estejam sem cruz; quando esta não se vê, é porque eles a carregam no coração. E, depois, em vez de olharmos para os homens, sejamos mais cristãos, e olhemos para Cristo; e digamos: “Ele, que era Deus, também sofreu; como posso pretender gozar, eu que sou pecador?”
Quanto mais a gente sofre, tanto mais se assemelha a Jesus. Nós mesmos o reconhecemos quando, encontrando uma pessoa desprezada e angustiada, dizemos uma palavra que pode ser irreverente e pode ser sublíme se dita com fé: “É um pobre Cristo!”
Uma noite em que S. Pedro de Verona não podia dormir por causa dos seus desgostos (ele era santo, e o tinham como um desonesto), não podendo mais ele se lançou por terra diante de um Crucifixo e soluçou: “Jesus, tu bem sabes que eu sou puro; e por que me deixas atormentar assim?”
Uma luz nova tremeu naquela cela, sentiu-se ali um perfume de flores inexistentes na terra; os lábios de Cristo moveram-se e disseram: “Pedro, tu sabes que os homens eu não fiz senão bem; por que então eles me puseram na cruz?” S. Pedro compreendeu e levou avante a sua cruz sem mais um gemido.
Eis ai, ó boa gente, o remédio para os vossos males: o crucifixo. Mas todos vós tendes em casa o vosso Crucifixo? Seria uma vergonha ser cristão sem ter o sinal de Cristo. E vós, mães, quando vossas filhas casarem, ponde-lhes no dote o Crucifixo, e que Ele seja grande, e que ele seja belo!
Com o Crucifixo diante dos olhos, elas saberão amar, compadecer, trabalhar. Saberão aceitar de Deus todos os filhos que a Ele aprouver conceder-lhes, saberão educá-los bem.

3- Na hora da morte.
E, se alguém dissesse: “Eu não quero o Crucifixo”, pode fazê-lo. Como o fizeram quando o Sinal do Filho do homem foi arrancado das escolas, dos tribunais, e até dos hospitais. Lembre-se, porém, de que repele, não as dores, mas o conforto para as suportar.
Repilam também o Crucifixo: mas se lembrem de que está fixado um dia também para eles. Eles se sentirão mal, meter-se-ão na cama sem saberem que dali não se levantarão mais.
Quando a morte, com a sua sombra longa estiver diante deles, em que poderão eles esperar? Não na sua família. Não nos bens. Não no dinheiro. O mundo todo será como uma nau que toma o alto mar e os deixa nus na praia do leito. Naqueles momentos só uma coisa adianta, uma só: o Crucifixo.
Mas, se eles não o quiseram, com que mãos o estreitarão, com que olhos o olharão?
Oh! depois da morte, quando do oriente ao ocidente aparecer o Sinal do Filho do homem, olhará para eles o Crucificado; mas com olhos terríveis, e os amaldiçoará com o seu sangue, por eles jorrado inutilmente das suas feridas abertas.
Mas que assim não seja.
Morria aos vinte anos, uma tuberculosa. Tinha medo de morrer, porque lhe parecia ter dissipado a sua breve vida, sem nada ter feito. “Estou com as mãos vazias... - dizia ela – não quero morrer assim”. Em vão procuravam consolá-la, acalmá-la, falar-lhe de Deus, que é bom, que as vezes se contenta mesmo com um simples desejo. A menina escutava, mas depois, de vez em quando,se sacudia toda, gritando: “Minhas mãos como estão vazias!”
O sacerdote que a assistia pegou do Crucifixo e lhe pôs nas mãos. E disse: “Olha como agora tuas mãos estão cheias!” Ela viu, sorriu, e suspirou: “Doce...” Depois fechou os olhos em paz, e para sempre.


Conclusão.
No meio do deserto o povo de Israel findava de um modo horrível. Para cima da terra, para fora dos bosques tinham saído numerosíssimas serpentes de fogo: quem por elas era mordido, logo ardia em febre, e, em espasmos, morria. Jovens na flor dos anos, meninas sonhando com a vida, adultos, todos chagados pelos répteis venenosos, cada dia caíam urrando de dor. Todo o povo, horrorizado, começou a alçar gritos até ao céu: !Misericórdia!”
E Deus teve misericórdia ainda por aquela vez. Chamou Moisés e lhe disse: “Fazei uma serpente de bronze, e fixa-a numa comprida haste de pau, e põe-na como sinal no meio da gente. Quem olhar para ela terá vida”.
Quando os pobres envenenados, que já sentiam nos ossos o frio da agonia, volviam as pupilas ofuscadas para o sinal milagroso, logo sentiam palpitar-lhes novamente a vida no sangue entorpecido. (Núm., XXI, 9).
Também nós, ó cristãos, como os hebreus, estamos em caminho pelo deserto desta vida. Também nós, como aquele povo, pecamos, e por isto somos atormentados. Atormentados pela morte, pelas tribulações e pelas tentações, que, como serpentes de fogo, desembocam, de todas as partes, na nossa alma, para nos envenenar. E não teremos nós um sinal de salvação?
Temo-lo: o Sinal do Filho do homem.
“Assim como Moisés levantou no deserto a serpente de bronze, - dizia Jesus- assim também é necessário que eu seja levantado na cruz, a fim de que, todo aquele que crê em mim tenha a vida eterna e não pereça”. (João, III, 14-15).
Olhemos, pois, para o Crucifixo em todos os momentos da nossa vida: na hora da tentação, na hora da tribulação, na hora da morte. E, quando, extinto o sol, escurecida a lua, caídas as estrelas, as duas travessas da cruz aparecerem do oriente ao ocidente, nós não choraremos como todas as tribos da terra. Ou, melhor, choraremos, sim; mas serão lágrimas de alegria irrefreável, porque estaremos para ouvir a palavra mais bela: “Vinde, ó benditos! Abro-vos o reino de meu Pai”.

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