31 de março de 2019

Programação de Missas - Apostolado do IBP Curitiba

INSTITUTO BOM PASTOR
CAPELA NOSSA SENHORA DAS VITÓRIAS
CURITIBA – PR


Semana 25 a 31 de Março de 2019.

2ª Feira   25/03  07:30 horas   Missa rezada na Casa do Padre - 

                                                Festa da Anunciação
                          19:00 horas   Missa rezada na Casa do Padre - 

                                                Festa da Anunciação
 

3ª Feira   26/03  07:30 horas   Missa rezada na Casa do Padre

4ª Feira   27/03  07:30 horas   Missa rezada na Casa do Padre

                          18:00 horas   Exposição do Santíssimo
                          19:00 horas   Conferência da Quaresma - Tema
                                                Padre Nosso

5ª Feira   28/03  07:00 horas   Bênção do Santíssimo

                          07:30 horas   Missa rezada na Casa do Padre

6ª Feira   29/03  07:30 horas   Missa rezada na Casa do Padre


Sábado   30/03   08:30 horas   Atendimento de confissões
                           09:00 horas   Missa rezada na Capela Nossa

                                                 Senhora das Vitórias
Obs: Não haverá catequese de adultos
                   
Domingo 31/03 09:00 horas   Atendimento de confissões
                          09:30 horas   Recitação Pública do Santo Terço
                          10:00 horas   Missa cantada na Capela Nossa

                                                Senhora das Vitórias - IV Domingo
                                                da Quaresma
                          18:00 horas   Exposição do Santíssimo na Casa do 
                                                Padre
                          19:00 horas   Missa rezada na Casa do Padre




Casa do Padre: Rua Martim Afonso, 342 - Bairro São Francisco

Capela Nossa Senhora das Vitórias: Rua Francisco Rocha, 740 - Bairro Batel

Responsável: Padre Thiago Gaspar da Silva Bonifacio - IBP - Curitiba.

28 de março de 2019

A .Alma de Todo Apostolado, J. B. Chautard,

A Alma de Todo Apostolado

J. B. Chautard


4/10

Quarta Verdade

A minha vida sobrenatural pode crescer a cada instante em proporção com a intensidade do meu amor a Deus, por meio de nova infusão da graça da presença ativa de Jesus em mim; infusão produzida:
a - Por ocasião dos Atos Meritórios ( virtude, trabalho, sofrimentos sob as suas diversas formas:  privação das criaturas, dor física ou moral, humilhação, abnegação, oração, missa, ato de devoção a Nossa Senhora, etc ).
b - Pelos sacramentos, sobretudo a Eucaristia.
É, pois, certo, e esta consequência esmaga-me com a sua sublimidade e profundeza, mas enche-me sobretudo de júbilo e de coragem, é, pois, certo que por meio de cada acontecimento, pessoa ou coisa, vós, ó Jesus, vós próprio vos apresentais objetivamente a mim e em todos os momentos. Ocultais sob essas aparências vossa sabedoria e vosso amor, e solicitais minha cooperação para aumentar em mim vossa vida.
Ó minha alma, é sempre Jesus que a ti se manifesta por meio da graça do momento presente, oração a dizer, missa a celebrar ou a ouvir, leitura a fazer, atos de paciência, de zelo, de renúncia, de luta, de confiança, de amor a praticar. Ousarás desviar teus olhares ou esconder-te?

26 de março de 2019

A .Alma de Todo Apostolado, J. B. Chautard,

A Alma de Todo Apostolado.

J. B. Chautard

Parte 3/10

Terceira Verdade

Privar-me-ia de um dos mais poderosos meios de adquirir esta vida interior, se me não esforçasse por ter fé precisa e certa desta presença ativa de Jesus em mim, e sobretudo por alcançar que essa presença se torne em mim uma realidade viva, vivíssima até, que vá penetrando cada vez mais a atmosfera das minhas faculdades. Tornando-se por esta forma Jesus minha luz, meu ideal, meu conselho, meu apoio, meu recurso, minha força, meu médico, minha consolação, minha alegria, meu amor, numa palavra minha vida, hei de adquirir todas as virtudes. Somente então poderei dizer, com toda a sinceridade, a admirável oração de São Boaventura que a Igreja me propõe na ação de graças depois da missa: Transfige dulcíssime Dómine Jesus . . .

24 de março de 2019

Programação de Missas - Apostolado do IBP em Curitiba

INSTITUTO BOM PASTOR
CAPELA NOSSA SENHORA DAS VITÓRIAS
CURITIBA – PR


Semana 18 a 24 de Março de 2019.

2ª Feira   18/03  07:30 horas   Missa rezada na Casa do Padre

3ª Feira   19/03  07:30 horas   Missa rezada na Casa do Padre

4ª Feira   20/03  07:30 horas   Missa das Quatro Têmporas rezada

                                                na Casa do Padre
                          18:00 horas   Exposição do Santíssimo Sacramento
                                                para adoração no oratório da Casa do
                                                Padre
                          19:00 horas   Conferência da Quaresma - Tema
                                                Padre Nosso

5ª Feira   21/03  07:00 horas   Bênção do Santíssimo

                          07:30 horas   Missa rezada na Casa do Padre

6ª Feira   22/03  07:30 horas   Missa rezada na Casa do Padre


Sábado   23/03   08:30 horas   Atendimento de confissões
                           09:00 horas   Missa rezada na Capela Nossa

                                                 Senhora das Vitórias
                   
Domingo 24/03 09:00 horas   Atendimento de confissões
                          09:30 horas   Recitação Pública do Santo Terço
                          10:00 horas   Missa cantada na Capela Nossa

                                                Senhora das Vitórias - II Domingo da
                                                Quaresma
                          18:00 horas   Exposição do Santíssimo na Casa do 
                                                Padre
                          19:00 horas   Missa rezada na Casa do Padre




Casa do Padre: Rua Martim Afonso, 342 - Bairro São Francisco

Capela Nossa Senhora das Vitórias: Rua Francisco Rocha, 740 - Bairro Batel

Responsável: Padre Thiago Gaspar da Silva Bonifacio - IBP - Curitiba.

23 de março de 2019

A Alma de Todo Apostolado, J. B. Chautard

A Alma de Todo Apostolado

J. B. Chautard

Parte 2/10

Segunda Verdade

Jesus Cristo comunica-me o seu Espírito por meio desta vida. E assim se torna o princípio de atividade superior que me leva, caso eu lhe não ponha obstáculos, a pensar, a julgar, a amar, a querer, a sofrer, a trabalhar com ele, nele, por ele, como ele. As minhas ações exteriores tornam-se a manifestação desta vida de Jesus em mim. Assim, tendo para a realização do ideal de Vida Interior formulado por S. Paulo: Já não sou eu que vivo, é Jesus Cristo que vive em mim.
Vida Cristã, piedade, vida interior, santidade não diferem essencialmente; são os diversos graus de um só e mesmo amor; são o crepúsculo, a aurora, a luz, o esplendor de um mesmo sol.
A minha vida interior há de ser pois a minha vida cristã aperfeiçoada. O essencial da vida cristã limita-se aos esforços necessários para conservar a graça santificante. A vida interior vai mais além. Visa o desenvolvimento desta graça, procura atrair graças atuais abundantes e corresponder a elas.
Posso, pois, defini-la o estado de atividade de uma alma que reage a fim de regular as suas inclinações naturais e se esforça por adquirir o hábito de julgar e de se dirigir em tudo consoante as luzes do Evangelho e os exemplos de Nosso Senhor.
Portanto, dois movimentos. Por via do primeiro, a alma subtrai-se a tudo quanto o criado possa ter de contrário à vida sobrenatural e procura estar incessantemente presente a si mesma: Avérsio a creaturis. Por via do segundo, a alma tende para Deus e com ele se une: Convérsio ad Deum.
Assim é que esta alma quer ser fiel à graça que nosso Senhor lhe oferece a cada momento. Em suma, vive unida a Jesus e realiza o Qui manet in Me et Ego in eo, hic fert fructum multum.

17 de março de 2019

Programação de Missas - Apostolado do IBP em Curitiba

INSTITUTO BOM PASTOR
CAPELA NOSSA SENHORA DAS VITÓRIAS
CURITIBA – PR


Semana 11 a 17 de Março de 2019.

2ª Feira   11/03  07:30 horas   Missa rezada na Casa do Padre

3ª Feira   12/03  07:30 horas   Missa rezada na Casa do Padre

4ª Feira   13/03  07:30 horas   Missa das Quatro Têmporas rezada

                                                na Casa do Padre
                          18:00 horas   Exposição do Santíssimo Sacramento
                                                para adoração no oratório da Casa do
                                                Padre
                          19:00 horas   Conferência da Quaresma - Tema
                                                Padre Nosso

5ª Feira   14/03  07:00 horas   Bênção do Santíssimo

                          07:30 horas   Missa rezada na Casa do Padre

6ª Feira   15/03  07:30 horas   Missa das Quatro Têmporas rezada

                                                na Casa do Padre

Sábado   16/03   08:30 horas   Atendimento de confissões
                           09:00 horas   Missa da Quatro Têmporas rezada na

                                                 Capela Nossa Senhora das Vitórias
                           17:30 horas   Catequese de Adultos na Casa do
                                                 Padre

Domingo 17/03 09:00 horas   Atendimento de confissões
                          09:30 horas   Recitação Pública do Santo Terço
                          10:00 horas   Missa cantada na Capela Nossa

                                                Senhora das Vitórias - II Domingo da
                                                Quaresma
                          19:00 horas   Missa rezada na Casa do Padre




Casa do Padre: Rua Martim Afonso, 342 - Bairro São Francisco

Capela Nossa Senhora das Vitórias: Rua Francisco Rocha, 740 - Bairro Batel

Responsável: Padre Thiago Gaspar da Silva Bonifacio - IBP - Curitiba.

16 de março de 2019

Carta Aberta aos Católicos Perplexos - Mons. Marcel Lefebvre - Parte 16

XV
Na origem da revolução, que é “o ódio de toda a ordemque o homem não estabeleceu e na qual ele não é rei e Deus ao mesmo tempo” encontra-se o orgulho que já tinha sido a causa do pecado de Adão. A revolução na Igreja se explica pelo orgulho de nossos tempos modernos que se crêem tempos novos, tempos em que o homem enfim “compreendeu por si mesmo a sua dignidade, em que tomou uma maior consciência de si mesmo” a tal ponto que se pode falar de metamorfose social e cultural cujos efeitos repercutem sobre a vida religiosa... O próprio movimento da história se torna tão rápido que cada um tem dificuldade em segui-lo... Em poucas palavras, o gênero humano passa duma noção antes estática da ordem das coisas a uma concepção mais dinâmica e evolutiva: daí nasce uma imensa problemática nova que provoca novas análises e novas sínteses”. Estas frases surpreendentes figurando, com muitas outras semelhantes, na exposição preliminar da constituição “A Igreja no mundo deste tempo” auguram mal o retorno ao espírito evangélico; vê-se que este dificilmente sobrevive a tanto movimento e a tantas transformações. E como compreender o seguinte: ”Uma sociedade de tipo industrial se estende pouco a pouco, transformando radicalmente as concepções da vida em sociedade” senão que se dá como certo o que se deseja ver produzir-se: uma concepção da sociedade que nada terá a ver com a concepção cristã, segundo a doutrina social da Igreja? Tais premissas não poderão senão conduzir a um novo Evangelho, a uma nova religião. Ei-la: “Que eles vivam (os crentes) em união muito estreita com os outros homens de seu tempo e que se esforcem em compreender a fundo suas maneiras de pensar e de sentir, tais como se exprimem na cultura. Que eles unam o conhecimento das ciências e das novas teorias, como as descobertas mais recentes, com os costumes e o ensino da doutrina cristã, para que o senso religioso e a retidão moral caminhem a par, neles, do conhecimento científico e dos incessantes progressos técnicos; eles poderão assim apreciar e interpretar todas as coisas com uma sensibilidade autenticamente cristã” (Gaudium et Spes, 62-6). Singulares conselhos, enquanto que o Evangelho nos manda evitar as doutrinas perversas! E que não se diga que podem ser entendidas de duas maneiras: a catequese atual as entende como queria Schillebeeckx: ela aconselha às crianças freqüentar a escola dos ateus, porque estes têm muito a lhes ensinar e que de resto, para não crer em Deus, eles têm suas razões, que é proveitoso conhecer. Pode-se também dizer que a primeira frase do capítulo primeiro: ”Crentes e descrentes estão geralmente de acordo neste ponto, que tudo na terra deve ser ordenado ao homem como a seu centro e a seu cume”, se explica no sentido cristão pelo que segue. Ela tem uma significação em si mesma, aquela que precisamente se vê pôr em obra em toda a parte na Igreja post-conciliar, sob a forma duma salvação reduzida ao desenvolvimento econômico e social da humanidade. Por minha parte, penso que os crentes que admitirem esta proposição como base comum num diálogo com os descrentes e que unirem as teorias novas com a doutrina cristã perderão a fé, nem mais nem menos. A regra de ouro da Igreja é invertida pelo orgulho dos homens de nosso tempo; não se escuta mais a palavra sempre viva e fecunda de Cristo, mas a do mundo. Este agiornamento se condena por si mesmo. A raiz da desordem atual está neste espírito moderno ou antes modernista que recusa reconhecer o Credo, os mandamentos de Deus e da Igreja, os sacramentos, a moral cristã como a única fonte de renovação para todos os tempos até o fim do mundo. Deslumbrados pelos “progressos da técnica que vão até transformar a face da terra e já se lançam à conquista do espaço” (Gaudium et Spes, 5-1), os homens da Igreja, que não devem ser confundidos com a Igreja, parecem considerar que Nosso Senhor não podia prever a evolução tecnológica de nossa época e que, por conseguinte, sua mensagem não está adaptada a ela. O sonho dos liberais desde um século e meio consiste em consorciar a Igreja com a revolução. Durante um século e meio também, os Soberanos Pontífices condenaram este catolicismo liberal; citemos, entre os documentos, os mais importantes: a bula Auctorem fidei de Pio VI, contra o concílio de Pistóia, a encíclica Mirari vos de Gregório XVI contra Lamennais, a encíclica Quanta cura e o Syllabus de Pio IX, a encíclica Immortale Dei de Leão XIII, contra o direito novo, os documentos de são Pio X contra “le Sillon” e o modernismo, e especialmente o decreto Lamentabili, a encíclica Divini Redemptoris de Pio XI, contra o comunismo, a encíclica Humani Generis do papa Pio XII. Todos os papas recusaram o consórcio da Igreja com a revolução, que é uma união adúltera e duma união adúltera não podem provir senão bastardos. O rito da missa é um rito bastardo, os sacramentos, são sacramentos bastardos, nós não sabemos mais se são sacramentos que conferem a graça ou que não a conferem. Os sacerdotes que saem dos seminários são sacerdotes bastardos, não sabem mais o que são; não sabem mais que são ordenados para subir ao altar, oferecer o sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo às almas. Em nome da revolução padres foram mandados para o cadafalso, religiosas foram perseguidas e assassinadas. Lembrai-vos das barcaças de Nantes que eram afundadas no alto mar depois de terem sido amontoados nelas todos os sacerdotes fiéis. Pois bem, o que a Revolução fez não foi nada em comparação das obras do Vaticano II pois teria sido preferível que os vinte ou trinta mil sacerdotes que abandonaram seu sacerdócio e seu juramento feito diante de Deus tivessem sido martirizados, subido ao cadafalso; aos menos eles teriam salvo sua alma e agora correm o risco de perdê-la. Dizem-nos que entre estes pobres sacerdotes casados, muitos já se divorciaram, muitos já introduziram pedidos de anulação de casamento em Roma. Chamar-se-á a isto bons frutos do concílio? Vinte mil religiosas, nos Estados Unidos, e quantas outras nos demais países, romperam os votos perpétuos que as uniam a Jesus Cristo, para correrem também para o casamento. Se elas subissem ao cadafalso, teriam ao menos testemunhado sua fé. O sangue dos mártires é semente de cristãos, mas os padres ou os simples fiéis que se aliam ao espírito do mundo não fazem surgir messe nenhuma. É a maior vitória do diabo ter querido destruir a Igreja sem fazer mártires. A união adúltera da Igreja e da revolução se concretiza pelo diálogo. Nosso Senhor disse: “Ide, ensinai as nações, convertei-as”, mas não falou: “Dialogai com elas sem tentar convertê-las”. O erro e a verdade não são compatíveis entre si, dialogar com o erro é colocar Deus e o demônio no mesmo plano. Eis o que sempre repetiram os papas e o que os cristãos compreendiam facilmente, pois é também uma questão de senso comum. Para impor uma atitude e reflexos diferentes, foi necessário agir sobre os cérebros de modo a tornar modernistas os clérigos chamados a difundir a doutrina nova. É o que se chama a reciclagem, processo de condicionamento destinado a remodelar o próprio instrumento que Deus deu ao homem para conduzir seu julgamento. Eu fui testemunha duma operação deste gênero na congregação que é a minha, e da qual fui durante certo tempo superior geral. O que se exige em primeiro lugar da pessoa é que ela “reconheça a mudança”: o concílio operou transformações, e por isso é necessário que nós próprios mudemos. Mudança em profundidade, visto que se trata de adaptar as faculdades de raciocínio para fazê-las coincidir com idéias fabricadas arbitrariamente. Nós podemos ler num fascículo editado pela secretaria do arcebispado de Paris, A Fé palavra por palavra: “A segunda operação, mais delicada, consiste em assinalar as maneiras diferentes que têm os cristãos de apreciar, nas diversas mudanças, o fato mesmo da mudança. Esta determinação tem muita importância porque as oposições atuais dizem mais respeito às atitudes espontâneas e inconscientes diante da mudança que ao começo preciso de cada mudança. “Duas atitudes típicas se delineiam, parece, com a condição de não negligenciar por isso todos os intermediários possíveis. Segundo a primeira cede-se a um certo número de novidades depois de ter verificado que elas se impõem uma após outra. É o caso de muitos cristãos, de muitos católicos, que cedem de degrau em degrau. “Conforme a segunda, consente-se numa renovação de conjunto de formas da fé cristã à margem duma era cultural inédita. Deixa de assegurar-se sem cessar a fidelidade à fé dos Apóstolos.” Esta precaução oratória está bem na tradição dos modernistas: eles fazem sempre protestos de seus sentimentos ortodoxos e tranqüilizam, com uma pequena frase, as almas que ficariam espantadas por perspectivas como “a renovação do conjunto das formas da fé cristã à margem duma era cultural inédita”, mas é já muito tarde, quando se se prestou a estas manipulações e será bem o tempo de ocupar-se com a fé dos Apóstolos, quando se tiver demolido completamente a fé! Uma terceira operação se torna necessária no caso em que se retém o segundo diagnóstico: “O cristão não pode pressentir nisto um risco terrível para a fé. Não vai ela desaparecer pura e simplesmente, ao mesmo tempo que a problemática que a tinha conduzido até aí? Ele pede então uma garantia fundamental que lhe permite ultrapassar as primeiras atitudes estéreis.” Todos os graus de resistência são então previstos. Que “garantia fundamental” se dá por fim ao neófito? O Espírito Santo.”O Espírito Santo é precisamente quem assiste os crentes no movimento da história.” O objetivo está atingido: não há mais magistério, nem dogma, nem hierarquia, nem mesmo Sagrada Escritura, como texto inspirado e historicamente certo: os cristãos são diretamente inspirados pelo Espírito Santo. Então a Igreja desmorona, o cristão reciclado é abandonado a todas as influências, dócil a todos os slogans, pode-se conduzi-lo aonde se quer, agarrando-se, se ele busca uma garantia a esta afirmação: ”O Vaticano II apresenta seguramente numerosos indícios duma mudança de problemática.” “A causa próxima e imediata (do modernismo) escreve Pio X na encíclica Pascendi, reside numa perversão de espírito.” A reciclagem cria uma tal perversão naqueles que não a possuíam. E o santo Pontífice cita esta observação de seu predecessor Gregório XVI: ”É um espetáculo lamentável ver até onde vão as divagações da razão humana, desde que se ceda ao espírito de novidade; que contrariamente à advertência do Apóstolo, se pretende saber mais do que é preciso e que, fiando-se demasiadamente em si mesmo, se pensa poder buscar a verdade fora da Igreja, na qual ela se encontra sem a mais leve sombra de erro.

15 de março de 2019

Carta Aberta aos Católicos Perplexos - Mons. Marcel Lefebvre - Parte 15

XIV
A aproximação que eu faço da crise da Igreja com a Revolução Francesa não é uma simples metáfora. Nós estamos na continuidade dos filósofos do século XVIII e do transtorno que suas idéias provocaram no mundo. Os que transmitiram este veneno à Igreja são os mesmos a confessá-la. É o cardeal Suenens exclamando: ”o Vaticano II, é o 1789 na Igreja”, e acrescentava, entre outras declarações desprovidas de precauções oratórias: ”Não se compreende nada da Revolução Francesa ou russa se se ignora o antigo regime ao qual elas puseram fim... Igualmente em matéria eclesiástica, uma reação não se julga senão em função do estado de coisas que a precedem.” O que precedeu e que ele considerava como devendo ser abolido, é o maravilhoso edifício hierárquico que tinha no seu cimo o papa, vigário de Jesus Cristo sobre a terra: ”O concílio Vaticano II marcou o fim duma época, por menos que se recue, ele marcou mesmo o fim de uma série de épocas, o fim de uma era”. O padre Congar, um dos artífices das reformas não falava de outra maneira: “A Igreja fez, pacificamente, sua Revolução de outubro.” Plenamente consciente, ele notava: “A declaração sobre a liberdade religiosa diz materialmente o contrário do Syllabus”. Eu poderia citar um grande número de testemunhos deste gênero. Em 1976, o Pe. Gelineau, um dos chefes de fila do centro nacional de pastoral litúrgica, não deixava nenhuma ilusão àqueles que querem ver no novo ordo alguma coisa um pouco diferente do rito que era universalmente celebrado até então, mas nada de fundamentalmente chocante: ”A reforma decidida pelo segundo concílio do Vaticano deu o sinal do degelo... lanços inteiros de muralha desabam... Que não haja engano a respeito: traduzir não é dizer a mesma coisa com outras palavras. É mudar a forma... Se as formas mudam, o rito muda. Se se muda um elemento a totalidade significativa é modificada... É preciso dizer sem circunlóquios: o rito romano tal como nós o conhecemos, não existe mais. Foi destruído”.7Os católicos liberais estabeleceram verdadeiramente um estado revolucionário. Eis o que líamos no livro de um deles, o senador do Doubs, M. Prelot8 “Lutamos durante um século e meio para fazer prevalecer nossas opiniões no interior da Igreja e não tivemos êxito. Enfim chegou o Vaticano II e triunfamos. Doravante as teses e os princípios do catolicismo liberal foram definitiva e oficialmente aceitos pela Santa Igreja.” É por meio da obliqüidade deste catolicismo liberal que a Revolução se introduziu, sob o pretexto de pacifismo, de fraternidade universal. Os erros e os falsos princípios do homem moderno penetraram na Igreja e contaminaram o clero, graças a papas liberais e ao favor do Vaticano II. Uma vez que há um momento em que é preciso saber repor as coisas no devido lugar, eu lembrarei que não era refratário à reunião de um concílio ecumênico em 1962. Pelo contrário eu o saudei com uma grande esperança. Testemunho disto hoje é uma carta que eu endereçava em 1963 aos padres do Espírito Santo e que foi publicada numa de minhas obras precedentes.9 Nela eu escrevia: “Digamos, sem hesitação, que certas reformas litúrgicas eram necessárias e que é desejável que o concílio continue neste caminho.” Eu reconhecia que se impunha uma renovação para pôr fim a uma certa esclerose que provinha do fato de se haver cavado um fosso entre a oração, acantonada nos limites dos lugares de culto, e a ação, a escola, a profissão, a cidade. Nomeado pelo papa membro da comissão central preparatória, participei de seus trabalhos com assiduidade e entusiasmo, durante os anos que duraram. A comissão 7 DEMAIN LA LITURGIE, Ed. du Cerf. 8 LE CATHOLICISME LIBÉRAL, 1969. 9 UN ÉVÊQUE PARLE, Ed. Dominique Martin Morin. central estava encarregada de verificar e examinar todos os esquemas preparatórios que provinham de comissões especializadas. Eu estava bem colocado, pois, para saber o que tinha sido feito, o que devia ser examinado e o que devia ser apresentado à assembléia. Este trabalho era conduzido com muita consciência e perfeição. Possuo setenta e dois esquemas preparatórios; neles a doutrina da Igreja é absolutamente ortodoxa, estão adaptados duma certa maneira à nossa época, mas com muita moderação e sabedoria. Tudo estava preparado para a data anunciada e, a 11 de outubro de 1962, os padres tomavam lugar na nave da basílica de São Pedro em Roma. Mas houve um acontecimento que não tinha sido previsto pela Santa Sé: o concílio, desde os primeiros dias foi invadido pelas forças progressistas. Nós o experimentamos, sentimos, e quando digo “nós”, eu entendo a maioria dos padres do concílio naquele momento. Tivemos a impressão de que se passava alguma coisa de anormal, e esta impressão se confirmou rapidamente: quinze dias após a sessão de abertura, não restava mais nenhum dos setenta e dois esquemas. Tudo havia sido recambiado, rejeitado, lançado ao cesto. Isto se produziu da seguinte maneira: tinha sido previsto no regulamento do concílio que eram precisos dois terços dos votos para rejeitar um esquema preparatório. Ora quando se procedeu ao sufrágio, houve sessenta por cento contra os esquemas e quarenta por cento a seu favor. Por conseguinte, os opositores não obteriam os dois terços e normalmente o concílio deveria desenrolar-se a partir destes trabalhos preparatórios. É então que se manifestou uma organização poderosa, muito poderosa, posta em ação por cardeais das margens do Reno, com todo um secretariado, exatamente no momento oportuno. Eles foram ter com o papa João XXIII dizendo-lhe: “É inadmissível, Santíssimo Padre, querem fazer-nos estudar esquemas que não tiveram a maioria” e obtiveram ganho de causa: o imenso trabalho realizado foi posto à parte, a assembléia se encontrou de mãos vazias, sem nenhuma preparação. Que presidente de conselho administrativo, por pequena que seja a sua sociedade, aceitaria ocupar o seu lugar sem ordem do dia, sem dossiê? Contudo foi assim que o concílio começou. Depois, houve a questão das comissões conciliares que seria precisa nomear. Problema árduo: imaginai bispos chegando de todos os paises do mundo e encontrando-se bruscamente juntos no recinto conciliar. Na maior parte, eles não se conheciam, conheciam três ou quatro colegas e alguns outros de nome entre os 2.400 que lá estavam. Como poderiam saber quais eram os padres aptos a fazer parte da comissão do sacerdócio, da liturgia, do direito canônico, etc.? Muito legitimamente o cardeal Ottaviani fez passar para todos a lista dos membros das comissões preconciliares, das pessoas que, por conseguinte, haviam sido escolhidas pela Santa Sé e tinham já trabalhado sobre os assuntos a respeito dos quais se deveria debater. Isto podia ajudar a escolher, sem que houvesse nenhuma obrigação e era certamente desejável que alguns destes homens experimentados figurassem nas comissões. Mas então se elevou um grito; não tenho necessidade de relembrar o nome do príncipe da Igreja que se levantou e proferiu o discurso seguinte: “É uma pressão intolerável que foi exercida sobre o concílio fornecendo nomes. É preciso deixar aos padres conciliares a sua liberdade. Ainda uma vez, a Cúria romana procura colocar os seus membros.” Um pouco tomado de surpresa diante desta brutal intervenção, levantou-se a sessão e, à tarde, o secretário, Mons. Felici, anunciou: “O Santo Padre reconhece que é talvez melhor que sejam as conferências episcopais que se reúnam e forneçam listas.” As conferências episcopais eram, nesta época, ainda embrionárias, elas formaram bem ou mal as listas que se lhes pediam sem aliás terem podido reunir-se como seria preciso, pois não lhes deram senão vinte e quatro horas. Mas os que haviam urdido este pequeno golpe de Estado as tinham feito de antemão com indivíduos selecionados nos diversos países. Eles puderam adiantar-se às conferências e, de fato, obtiveram uma grande maioria. O resultado foi que as comissões eram formadas de membros pertencentes, em dois terços, à fração progressista, tendo sido o terço restante nomeado pelo papa. Dos novos esquemas proveio logo uma orientação inteiramente diferente da dos primeiros. Gostaria de publicar um dia uns e outros para que se possa fazer a comparação e verificar qual era a doutrina da Igreja no dia que precedeu o concílio. Quem possui alguma experiência das assembléias civis ou clericais compreenderá em que situação se encontravam os padres. Destes novos esquemas bem se podiam modificar algumas frases, algumas proposições a modo de emendas, não se podia mudar o essencial. As conseqüências serão graves. Um texto distorcido na sua origem jamais se corrige inteiramente, conserva a marca de seu redator e do pensamento que o inspira. O concílio, desde este momento, estava orientado. Um terceiro elemento contribuiu para dirigi-lo no sentido liberal. Em lugar dos dez presidentes que João XXIII havia nomeado, o papa Paulo VI instituiu para as duas últimas sessões quatro moderadores sobre os quais o mínimo que se pode dizer é que eles não foram escolhidos dentre os cardeais mais moderados. Sua influência foi determinante sobre a massa dos padres conciliares. Os liberais formavam uma minoria, mas uma minoria atuante, organizada, apoiada por uma plêiade de teólogos modernistas dentre os quais se encontravam todos os nomes que não cessaram de mandar e desmandar, como Leclerc, Murphy, Congar, Rahner, Küng, Schillebeeckx, Bisset, Cardonnel, Chenu... Que se pense na produção enorme dos impressos do IDOC, o centro de informação holandês subvencionado pelas conferências episcopais alemã e neerlandesa, que pressionava a todo o instante os padres a agirem no sentido esperado pela opinião internacional, criando uma sorte de psicose neste particular: não se devia decepcionar a expectativa do mundo que esperava ver a Igreja aderir a seus pontos de vista. Os instigadores deste movimento estavam em condições favoráveis de exigir instantaneamente a adaptação da Igreja ao homem moderno, ou seja, ao homem que quer libertar-se de tudo. Eles se prevaleciam de uma Igreja esclerosada, inadaptada, impotente, batiam a mão no peito de seus predecessores. Os católicos eram apresentados como tão culpados pelas divisões de outrora como os protestantes e os ortodoxos: deviam pedir perdão aos “irmãos separados” presentes em Roma onde estes tinham sido convidados em grande número a participar dos trabalhos. A Igreja da Tradição era culpada de suas riquezas, de seu triunfalismo, os padres do concílio se sentiam culpados de estar fora do mundo, de não ser do mundo; eles já se envergonhavam de suas insígnias episcopais, em breve eles se envergonhariam mesmo de aparecer de batina. Esta ambiência de liberação deveria apossar-se logo de todos os domínios, o espírito colegial iria ser o manto de Noé que se lança sobre a vergonha de exercer uma autoridade pessoal, tão contrária à mentalidade do homem do século XX, digamos: o homem liberal! A liberdade religiosa, o ecumenismo, a pesquisa teológica, a revisão do direito canônico atenuariam o triunfalismo duma Igreja que se proclamava a única arca da salvação. Como se diz que há “pobres envergonhados”, houve “bispos envergonhados”, nos quais se influenciava, dando-lhes má consciência. É um processo que foi empregado em todas as revoluções. Os efeitos estão inscritos em muitas passagens das atas do concílio. Que se releia a este respeito o começo do esquema “A Igreja no mundo deste tempo” sobre a mutação do mundo moderno, o movimento acelerado da história, as condições novas que afetam a vida religiosa, a predominância das ciências e das técnicas. Como não ver nestes textos a expressão do mais puro liberalismo? Nós poderíamos ter tido um concílio esplêndido, tomando como mestre neste assunto o papa Pio XII. Não creio que haja um problema do mundo moderno, da atualidade, que ele não tenha resolvido com toda a sua ciência, toda a sua teologia e toda a sua santidade. Ele lhes deu uma solução quase definitiva, tendo verdadeiramente visto as coisas sob o ângulo da fé. Mas não se podia vê-los assim, no momento em que se recusava a fazer um concílio dogmático. O Vaticano II é um concílio pastoral; João XXIII o disse, Paulo VI o repetiu. No correr das sessões, quisemos várias vezes fazer definir noções; foi-nos respondido: “mas não fazemos aqui dogmatismo, não fazemos filosofia, fazemos pastoral.” Que é a liberdade? Que é a dignidade humana? Que é a colegialidade? É-se reduzido a analisar indefinidamente os textos para saber o que é preciso entender por isto, e não se chega senão a aproximações, pois os termos são ambíguos. E isto não por negligência ou por acaso; o padre Schillebeckx o confessou: ”Nós introduzimos termos equívocos no concílio e sabemos o que daí tiraremos depois.” Estas pessoas sabiam o que faziam. Todos os outros concílios que ocorreram no decurso dos séculos eram dogmáticos. Todos combateram erros. Ora, sabe Deus se havia erros a combater em nosso tempo! Um concílio dogmático teria sido dos mais necessários. Eu me lembro do cardeal Wyszinsky a dizer-nos: ”Mas fazei então um esquema sobre o comunismo; se há um erro que é grave hoje e que ameaça o mundo, é certamente ele. Se o papa Pio XI creu dever escrever uma encíclica sobre o comunismo, seria igualmente bem útil que nós, aqui reunidos em assembléia plenária, consagrássemos um esquema a esta questão.” O comunismo, o erro mais monstruoso que jamais saiu do espírito de Satã, tem suas entradas oficiais no Vaticano, sua revolução mundial é singularmente facilitada pela não resistência oficial da Igreja e mesmo pelos apoios freqüentes que nela encontra, apesar das advertências desesperadas dos cardeais que sofreram as masmorras dos países do Leste. A recusa deste concílio pastoral em condená-lo solenemente basta sozinha para cobri-lo de vergonha diante de toda a história; quando se pensa nas dezenas de milhões de mártires, nos cristãos e nos dissidentes despersonalizados cientificamente nos hospitais psiquiátricos, utilizados como cobaias para as experiências. E o concílio pastoral se calou. Tínhamos obtido quatrocentas e cinqüenta assinaturas de bispos em favor duma declaração contra o comunismo. Elas foram esquecidas numa gaveta... Quando o relator da Gaudiumet Spes respondeu às nossas perguntas, ele nos disse: “houve duas petições para solicitar uma condenação do comunismo — Duas? exclamamos nós. Há mais de quatrocentas — Ah, eu não estou a par disto.” Feitas as buscas, elas foram encontradas, mas demasiado tarde. Eu vivi estes fatos. Fui eu que havia levado as assinaturas a Mons. Felici, secretário do concílio, em companhia de Dom Proença Singaud, arcebispo de Diamantina, e sou obrigado a dizer que aconteceram coisas para falara verdade, inadmissíveis. Não o faço para condenar o concílio e não ignoro que isto influencie na perplexidade de muitos católicos. Pois enfim, pensam eles, o concílio é mesmo assim inspirado pelo Espírito Santo! Não necessariamente. Um concílio pastoral, não dogmático, é uma pregação, que por si não compromete a infalibilidade. Quando pedimos a Mons. Felici, no fim das sessões: “Não poderíeis dar-nos o que os teólogos chamam a nota do concílio?”, ele respondeu: “É preciso distinguir segundo os esquemas, os capítulos, os que já são objeto de definições dogmáticas no passado, é preciso fazer reservas.” Portanto, o Vaticano II não é um concílio como os outros e é por isso que nós temos o direito de julgá-lo, com prudência e reserva. Eu aceito no concílio e nas reformas tudo o que está em plena concordância com a Tradição. A obra que fundei prova isto amplamente. Nossos seminários, em particular, correspondem perfeitamente aos desejos expressos pelo concílio e à Ratio fundamentalís da Sagrada Congregação para o ensino católico. Mas é impossível pretender que somente as aplicações post-conciliares são más. As rebeliões de clérigos, as contestações da autoridade pontifícia, todas as extravagâncias da liturgia e da nova teologia, o esvaziamento das igrejas, nada teriam então a ver com o concílio como se afirmou ainda bem recentemente? Ora essa! Tudo isso é fruto dele. Eu compreendo, ao dizer isto, que não faço senão aumentar, leitores inquietos, vossa perplexidade. E não obstante, nesta balbúrdia brilhou uma luz própria a reduzir a nada os esforços do mundo para levar a cabo a destruição da Igreja de Cristo: O Santo Padre proclamou a 30 de junho de 1968 sua profissão de fé. É um ato que, do ponto de vista dogmático, é mais importante que todo o concílio. Este Credo, redigido pelo sucessor de Pedro para afirmar a fé de Pedro, revestiu-se de uma solenidade absolutamente extraordinária. Quando ele se levantou para pronunciá-lo, os cardeais também se levantaram e toda a multidão quis imitá-los mas ele fez sentarem-se todos de novo; queria ser o único, na qualidade de Vigário de Cristo, a proclamar seu Credo, e o fez com as palavras mais solenes, em nome da Santíssima Trindade, diante dos santos anjos e de toda a Igreja. Por conseguinte ele praticou um ato que engaja a fé da Igreja. Temos assim esta consolação e esta confiança de sentir que o Espírito Santo não nos abandonou. Pode-se dizer que a arca da fé, tomando seu ponto de apoio no concílio Vaticano I, reencontra um novo ponto de apoio na profissão de fé de Paulo VI.

13 de março de 2019

Carta Aberta aos Católicos Perplexos - Mons. Marcel Lefebvre - Parte 14

XIII
Mas donde provém então que as portas do inferno dirijam neste momento uma tal sarabanda? A história da Igreja foi sempre agitada por perseguições, heresias, conflitos com o poder temporal, pela conduta licenciosa em certas épocas, duma parte do clero, mesmo de alguns papas. Desta vez a crise parece mais profunda, uma vez que atinge a própria fé. O modernismo contra o qual nos chocamos não é uma heresia do mesmo tipo que qualquer outra, mas a cloaca coletora de todas as heresias; as perseguições não provêm somente do exterior, mas do interior do santuário; o escândalo de um clero demissionário ou dissoluto pretende institucionalizar-se, os mercenários que abandonam as ovelhas ao lobo são encorajados e cobertos de honras. Reprovam-me por vezes o fato de eu denegrir a situação, de lançar um olhar reprovador, por não sei que complacência rabugenta, sobre uma evolução em resumo lógica e necessária. Mas o próprio papa, que foi a alma do Vaticano II, verificou muitas vezes seguidas a decomposição da qual falo com tristeza. A 7 de dezembro de 1969, Paulo VI dizia: “A Igreja se encontra numa hora de inquietude, de autocrítica, dir-se-ia mesmo, de autodestruição. É como uma reviravolta interior, aguda e complexa. Como se a Igreja se golpeasse a si própria.” No ano seguinte ele confessava: “Em numerosos domínios, o concílio não nos deu até o presente a tranqüilidade mas antes suscitou perturbações e problemas não úteis à consolidação do Reino de Deus na Igreja e nas almas.” Até este grito de alarme do dia 29 de junho de 1972, na festa de são Pedro e são Paulo: ”A fumaça de Satanás entrou por alguma brecha no templo de Deus: a dúvida, a incerteza, a problemática, a inquietude, a insatisfação, o desafio abriram caminho... A dúvida entrou nas nossas consciências.” Qual é esta brecha? Podemos situar no tempo, com certeza, o momento em que ela se produziu: 1789 e lhe dar um nome: a Revolução. Os princípios maçônicos e anticatólicos da Revolução francesa levaram dois séculos para penetrar nas cabeças clericais e nas cabeças mitradas. É hoje um fato consumado, tal é a realidade, e a causa, católicos inquietos, de vossas perplexidades. Foi preciso que os fatos estivessem diante dos nossos olhos para que nós acreditássemos, pois a priori julgaríamos esta empresa impossível, incompatível com a própria natureza da Igreja ajudada pelo Espírito de Deus. Numa página famosa, escrita em 1877, Mons. Gaume fazia a própria revolução definir-se: “Eu não sou o que se acredita. Não sou nem o carbonarismo, nem o tumulto, nem a troca da monarquia pela república, nem a substituição de uma dinastia por outra, nem a perturbação momentânea da ordem pública. Eu não sou nem os uivos dos Jacobinos nem os furores da Montanha, nem o combate das barricadas nem a pilhagem, nem o incêndio, nem a lei agrária, nem a guilhotina, nem os afogamentos. Não sou nem Marat nem Robespierre, nem Babeuf nem Mazzini nem Kossuth. Estes homens são meus filhos, não são eu. Estas coisas são minhas obras, não são eu. Estes homens e estas coisas são fatos passageiros e eu sou um estado permanente... Sou o ódio de toda a ordem que o homem não estabeleceu e na qual ele não é rei e Deus ao mesmo tempo.” Tem-se aqui a chave da vontade da “mudança” na Igreja; trata-se de substituir uma instituição divina por uma instituição feita pela mão do homem. E o homem toma a dianteira de Deus. Ele invade tudo, tudo começa e termina nele, é diante dele que se se prosterna. Paulo VI definia esta reviravolta da maneira seguinte em seu discurso de encerramento do concílio: “O humanismo leigo e profano apareceu enfim em sua terrível estatura e, num certo sentido, desafiou o concílio. A religião de Deus que se fez homem se encontrou com a religião (pois é uma delas) do homem que se faz Deus.” Ele acrescentava logo que, apesar deste terrível desafio, não se havia dado nenhum choque, nenhum anátema. Ai! Dando mostras duma “simpatia sem limites pelos homens” o concílio faltou ao dever de lembrar dum modo firme que não há compromisso possível entre as duas atitudes e mesmo o discurso de encerramento pareceu dar início àquilo que vemos pôr em prática cada dia. “Reconhecei-lhe ao menos este mérito (ao concílio), vós humanistas modernos que renunciais à transcendência das coisas supremas, e sabei reconhecer nosso novo humanismo, nós também, nós mais do que qualquer outro, temos o culto do homem.” Depois ouvimos da mesma boca frases a desenvolverem este tema: ”Os homens, no fundo, são bons, são orientados para a razão, para a ordem e o bem comum” (Mensagem para a Jornada da Paz, 14 de novembro de 1970). “O cristianismo e a democracia têm em comum um princípio de base: o respeito pela dignidade e pelo valor da pessoa humana... A promoção integral do homem” (Manilha, 20 de novembro de 1970). Como não estar aterrado por este paralelo, enquanto que a democracia, sistema especificamente leigo, ignora no homem sua qualidade de filho de Deus resgatado, único aspecto que lhe confere sua dignidade? A promoção do homem não é certamente a mesma, vista por um cristão ou por um descrente. A mensagem pontifical se secularizava a cada ocasião. Em Sydney, a 3 de dezembro de 1970, ouvíamos com surpresa esta afirmação: ”Não há mais isolamento permitido: é chegada a hora da grande solidariedade dos homens entre si, para o estabelecimento duma comunidade mundial unida e fraterna.” A paz entre todos os homens certamente, mas os católicos não reconheciam mais as palavras de Cristo: “Eu vos dou a minha paz; mas não vo-la dou como a dá o mundo.” O liame que unia a terra ao céu parecia ter-se rompido: “Pois bem, nós estamos na democracia! Isto quer dizer que o povo manda, que o poder provém do número, da população tal como é.” (Paulo VI, 1 de janeiro de 1970). Jesus tinha dito a Pilatos: “Não terias nenhum poder sobre mim se te não fosse dado do alto.” Todo o poder vem de Deus e não do número, mesmo se a escolha do chefe tenha sido feita por um sistema eletivo. Pilatos era o representante duma nação pagã e não obstante nada podia sem a permissão do Pai do céu. E eis que a democracia entra na Igreja. O novo direito canônico mostra os poderes residindo no “Povo de Deus”. Esta tendência a fazer participar o que se chama base do exercício do poder se encontra em todas as estruturas estabelecidas: sínodo, conferências episcopais, conselhos presbiterais ou pastorais, comissões nacionais; há instituições equivalentes nas ordens religiosas. É a democratização do magistério, perigo mortal para milhões de almas desamparadas e intoxicadas as quais os médicos não socorrem, pois ela arruinou a eficácia de que era provido precedentemente o magistério pessoal dos papas e do bispos. Quando se põe uma questão concernente à fé ou à moral, ela é submetida a múltiplas comissões teológicas que não chegam a pronunciar-se a respeito, porque os membros estão divididos em suas opiniões, em seus métodos. Basta ler os relatos das assembleias em todos os escalões para reconhecer que a colegialidade do magistério equivale à paralisia do mesmo. Foi a pessoas que Nosso Senhor mandou apascentar seu rebanho, não a uma coletividade; os Apóstolos obedeceram às ordens do Mestre e até o século XX foi assim. Foi preciso chegar ao nosso tempo para ouvir falar da Igreja em estado de concílio permanente, de Igreja em contínua colegialidade. Os resultados não se fizeram esperar: tudo está de pernas para o ar, os fiéis não sabem a quem se dirigir. À democratização do magistério segue-se naturalmente a democratização do governo que se realizou sob o impulso do famoso slogan da “colegialidade”, difundida a todos os ventos pela imprensa comunista, protestante e progressista. Colegializou-se o governo do papa ou o dos bispos com um colégio presbiteral, ou do padre de paróquia com um conselho pastoral de leigos, tudo articulado em inumeráveis comissões, conselhos, sessões, etc. O novo Código de Direito Canônico está todo impregnado desta noção. O papa é nele definido antes de tudo como o chefe do colégio episcopal. Encontra-se aí a doutrina já sugerida pelo documento Lumen Gentium do concílio, segundo a qual o colégio dos bispos unido ao papa, goza como ele do poder supremo na Igreja, e isto dum modo habitual e constante. Não é uma modificação superficial; esta doutrina do duplo poder supremo é contrária ao ensino e a prática do magistério da Igreja. Ela se opõe às definições do Concílio Vaticano I e a encíclica de Leão XIII Satis Cognitum. Somente o papa tem o poder supremo; ele não o comunica senão na medida em que julga oportuno, e em circunstâncias extraordinárias. Só o papa tem um poder de jurisdição que se estende ao mundo inteiro. Assiste-se assim a uma restrição da liberdade do poder do Soberano Pontífice. Sim, é a revolução! Os fatos demonstram que não temos aí uma modificação sem alcance prático, João Paulo II é o primeiro papa verdadeiramente atingido pela reforma. Podem-se citar vários casos precisos em que ele voltou atrás numa decisão sob a pressão duma conferência episcopal, o catecismo holandês terminou por receber o “imprimatur” do arcebispo de Milão sem que as modificações exigidas pela comissão cardinalícia tivessem sido feitas. Aconteceu o mesmo com o catecismo canadense, a propósito do qual eu ouvi uma voz autorizada dizer em Roma: “Que quereis que se faça diante duma conferência episcopal?”. A independência tomada pelas conferências foi ilustrada também na França a respeito dos catecismos. Os novos manuais estão em oposição em quase todos os pontos à exortação apostólica Catechesi Tradendae. A visita adlimina dos bispos da Ilha de França, em 1982, consistiu para eles em fazer homologar pelo papa uma catequese que manifestamente não tem sua aprovação. A alocução pronunciada no fim da visita por João Paulo II tem todas as características dum compromisso, graças ao qual os bispos poderiam regressar de cabeça erguida a seu país e perseverar em sua empresa nefasta. A conferência do cardeal Ratzinger, em Paris e em Lyon, indica bem que Roma não aquiesceu às razões dadas pelos bispos da França para instaurar uma nova pedagogia e uma nova doutrina, mas que a Santa Sé foi constrangida a proceder assim por pressões desta sorte, por sugestões e conselhos, em lugar de dar as ordens requeridas para recolocar as coisas no bom caminho e condenar, se for preciso, como sempre fizeram os papas guardiães do depósito da fé. Quanto ao bispo, cuja jurisdição pareceria assim ter aumentado, ele próprio é vítima da colegialidade, que o paralisa no governo de sua diocese. Quantas reflexões foram feitas pelos próprios bispos a este respeito e como são instrutivas. Teoricamente pode o bispo, em numerosos casos, agir contra o voto da assembleia, por vezes mesmo contra uma maioria, se o voto não foi submetido à Santa Sé; mas na prática isto se revela impossível. Após o fim da assembleia, as decisões são publicadas pelo secretário. Elas são conhecidas por todos os padres e fiéis, os intermediários veiculam o essencial. Que bispo poderá opor-se de fato a estas decisões sem demonstrar seu desacordo com a assembleia e encontrar imediatamente diante de si alguns espíritos revolucionários que apelarão para a assembleia contra ele? O bispo é o prisioneiro da colegialidade, que se deveria limitar a ser um organismo de consulta, de reunião, mas não se tornar um órgão de decisão. Mesmo para as coisas mais simples ele deixou de ser o chefe em sua casa. Pouco depois do concílio, como eu visitava nossas comunidades, o bispo duma diocese do Brasil veio buscar-me muito cortesmente na plataforma da estação. — Eu não posso hospedar-vos no palácio episcopal, disse-me, mas mandei preparar-vos um alojamento no seminário menor. Ele próprio me conduziu até lá, a casa estava em efervescência, eu via por toda parte, nos corredores e nas escadas, moços e moças. — Estes jovens são seminaristas? perguntei. — Infelizmente não! Acreditai bem que não estou de acordo com a presença de todos estes jovens no meu seminário, mas é a conferência episcopal que decidiu que devíamos doravante fazer sessões de ação católica em nossos estabelecimentos. Estes que vedes estão aqui por oito dias. Que quereis que eu faça? Não posso proceder diferentemente dos outros! Os poderes conferidos por direito divino a pessoas foram assim confiscados, quer se trate do papa quer dos bispos, em proveito duma entidade cuja influência não fez senão reforçar-se. As conferências episcopais, dir-se-á, não datam de hoje; Pio X já as havia aprovado no começo do século. É exato, mas este santo papa lhes havia dado uma definição que as justificava: ”Estamos persuadidos de que estas assembleias de bispos são da maior importância para manter e desenvolver o reino de Deus em todas as regiões e em todos os domínios. Quando os bispos guardiães das coisas santas, põem assim em comum suas luzes, resulta que não somente percebem melhor as necessidades de seus povos e escolhem os remédios mais convenientes, mas ainda estreitam os vínculos que os uniam entre si.” Não se tratava, por conseguinte, duma instituição de caráter oficial, tomando, como tal, decisões aplicáveis obrigatoriamente por seus membros. Tanto como um congresso de sábios não fixa a maneira pela qual as pesquisas deverão ser conduzidas num tal ou tal laboratório. A conferência episcopal funciona como um Parlamento, o conselho permanente do episcopado francês é o seu órgão executivo. O bispo se assemelha mais a um prefeito, a um comissário da República, para empregar a terminologia na moda, do que ao sucessor dos Apóstolos encarregado pelo papa de governar uma diocese. Nestas assembleias, se vota; os escrutínios são mesmo tão numerosos que foi preciso instalar em Lourdes um sistema de voto eletrônico. Segue-se necessariamente a formação de partidos, pois as duas coisas não acontecem uma sem a outra. Quem diz partidos, diz divisões. Quando o governo habitual é submetido a votos consultivos no seu exercício normal ele se torna ineficaz. É então a coletividade que sofre com isto. A introdução do colegialismo acarretou um enfraquecimento considerável de sua eficácia uma vez que o Espírito Santo é mais facilmente contrariado e contristado numa assembleia que numa pessoa. Quando as pessoas são responsáveis, elas agem, falam, mesmo se algumas se calam. Na assembleia, é o número que decide. Mas o número não faz a verdade. Ele não causa também a eficácia, como se verifica após vinte anos de colegialismo, e como se teria podido pressupor sem fazer a experiência; o fabulista falava, há já muito tempo, dos “muitos cabidos que se reuniram para nada”. Haveria necessidade de copiar os regimes políticos em que o sufrágio justifica as decisões, dado que eles não têm mais chefes soberanos? A Igreja possui a imensa vantagem de saber o que deve fazer para difundir o reino de Deus. Seus chefes são instituídos. Quanto tempo perdido em elaborar declarações comuns, que jamais satisfazem porque foi necessário ter em conta pareceres de uns e de outros! Quantas viagens incessantes para se dirigirem a comissões, e subcomissões, a reuniões preparatórias! Dom Etchegaray dizia em Lourdes, no encerramento da assembleia de 1978: ”Nós não sabemos mais onde pôr a cabeça.” Daí resulta que o poder de resistência da Igreja ao comunismo, à heresia, à imoralidade, diminui consideravelmente. É o que seus adversários desejavam e é porque eles tanto fizeram, no momento do concílio e desde então, para impelila pelo caminho da democracia. Se se observa bem, é com sua divisa que a Revolução penetrou na Igreja de Deus. A liberdade, é a liberdade religiosa tal como foi dito mais acima, a qual dá direito ao erro. A igualdade, é a colegialidade, com a destruição da autoridade pessoal, da autoridade de Deus, do papa, dos bispos, a lei do número. A fraternidade enfim é representada pelo ecumenismo. Por estas três palavras, a ideologia revolucionária de 1789 tornou-se a Lei e os Profetas. Os modernistas chegaram ao que queriam.

10 de março de 2019

Programação de Missas do Apostolado IBP - Curitiba

INSTITUTO BOM PASTOR
CAPELA NOSSA SENHORA DAS VITÓRIAS
CURITIBA – PR

Semana 04 a 10 de Março de 2019.

2ª Feira   04/03   07:00 horas   Bênção do Santíssimo

                            07:30 horas   Missa rezada na Casa do Padre

3ª Feira   05/03   07:00 horas   Bênção do Santíssimo

                            07:30 horas   Missa rezada na Casa do Padre

4ª Feira   06/03   18:15 horas   Atendimento de Confissões

                            19:00 horas   Imposição de Cinzas e Missa
                                                  Cantada na Capela Nossa Senhora
                                                  das Vitórias (Jejum e Abstinência)

5ª Feira   07/03   07:00 horas   Bênção do Santíssimo

                            07:30 horas   Missa rezada na Casa do Padre

6ª Feira   08/03   07:30 horas   Missa rezada na Casa do Padre


Sábado   09/03   08:30 horas   Atendimento de confissões
                           09:00 horas   Missa rezada na Capela Nossa

                                                 Senhora das Vitórias

Domingo 10/03 09:00 horas   Atendimento de confissões
                          09:30 horas   Recitação Pública do Santo Terço
                          10:00 horas   Missa cantada na Capela Nossa

                                                Senhora das Vitórias - I Domingo da
                                                Quaresma




Casa do Padre: Rua Martim Afonso, 342 - Bairro São Francisco

Capela Nossa Senhora das Vitórias: Rua Francisco Rocha, 740 - Bairro Batel

Padre Thiago Gaspar da Silva Bonifacio - IBP - Curitiba.

A alegria de Nossa Senhora em suas dores - Conferência

9 de março de 2019

Carta Aberta aos Católicos Perplexos - Mons. Marcel Lefebvre - Parte 13

XII
Resumamos. O bom senso cristão se choca a cada instante com a nova religião. O católico está exposto a uma dessacralização geral; tudo se lhe mudou, adaptou. Faz-se-lhe compreender que todas as religiões trazem a salvação, que a Igreja acolhe indistintamente os cristãos separados e mesmo o conjunto dos crentes, inclinem-se eles diante de Buda ou de Krishna. Explica-se que os clérigos e os leigos são membros iguais do “Povo de Deus” de modo que leigos designados para funções particulares assumem tarefas clericais (vêem-se) celebrar sozinhos os enterros e encarregar-se do viático aos doentes, enquanto que os clérigos assumem as tarefas dos leigos, se vestem como eles, vão trabalhar nas usinas, se inscrevem nos sindicatos, fazem política. O novo direito canônico reforça esta concepção. Ele confere prerrogativas inéditas aos fiéis, reduzindo a diferença entre estes e os sacerdotes e instituindo o que chama de “direitos”: teólogos leigos podem ter acesso às cátedras de teologia nas universidades católicas, os fiéis participam do culto divino no que estava reservado a certas ordens menores e à administração de certos sacramentos: distribuição da comunhão, participação no testemunho ministerial, nas cerimônias do casamento. Fórmula suspeita, pois a doutrina de sempre ensina que a Igreja de Deus é a Igreja Católica. De outra parte lê-se que a Igreja de Deus “subsiste” na Igreja Católica. Se se aceita esta formulação recente, pareceria que as comunidades protestantes e ortodoxas façam igualmente parte dela, o que é falso, uma vez que elas se separaram da única Igreja fundada por Jesus Cristo: Credo in unam sanctam Ecclesiam. O novo direito canônico foi redigido às pressas e na confusão, e a prova disto é que, promulgado em janeiro de 1983, ele conhecia, em novembro do mesmo ano, 114 modificações. Também isto desconcerta o cristão, que tinha o hábito de se referir à legislação eclesiástica, como a qualquer coisa de fixo. Se, como pai de família, ele tem a preocupação de educar bem seus filhos, sendo praticamente assíduo ou afastado da prática dos sacramentos, as decepções o esperam .As escolas católicas adotaram em numerosos casos a co-educação, ministra-se nelas a educação sexual, o ensino religioso desaparece nas classes superiores, não é raro encontrarem-se professores com orientações socialistas, senão comunistas. Por ocasião de uma questão que causou muito rumor no oeste da França, um destes educadores, eliminado pelos pais e depois reintegrado pela direção diocesana, apresentava assim sua defesa. “Seis meses depois de ter entrado em Notre Dame, um pai de aluno quis simplesmente eliminar-me pois no início do ano eu me havia apresentado sob todos os pontos de vista, político (de esquerda), social, religioso... Não era possível, na sua opinião ser professor de filosofia e socialista num estabelecimento privado”. Um outro caso que sucede no Norte: um novo diretor é nomeado numa escola pela direção diocesana: os pais se dão conta, ao cabo de algum tempo, de que ele é militante num sindicato de esquerda, de que se trata dum sacerdote reduzido ao estado leigo e casado, de que seus filhos não parecem ter sido batizados. Pelo Natal ele organiza uma festa para os alunos e os pais, com a participação do Auxílio popular que é, como se sabe, uma organização comunista. Então os católicos de boa vontade se perguntam se é útil fazer esforços para pôr seus filhos na escola livre. Numa instituição para moças do centro de Paris, o catequista se apresenta numa manhã como o capelão de Fresnes, que acompanha um jovem detento de dezoito anos. Eles explicam às alunas que os prisioneiros se sentem muito sós, que têm necessidade de afeição, de contatos com o exterior e de correspondência. Se uma ou outra das alunas quiser tornar-se protetora, ela pode dar seu nome e seu endereço. Mas sobretudo não se deve falar disto aos pais, pois eles não compreendem estas coisas; isto deve permanecer um assunto de jovens. Noutro lugar, é uma professora primária que é repreendida, desta vez por um grupo de pais, por ter ensinado a seus alunos fórmulas de catecismo e a Ave-Maria. Ela foi absolvida pelo bispo, coisa que não poderia ser mais normal, mas que parece tão insólita que a carta foi reproduzida na “Famille éducatrice” e assinala um acontecimento. Como entender isto? Quando o governo francês decidiu acabar com a escola livre, ela se mostrou vulnerável porque, na quase totalidade dos casos, não correspondia mais à sua missão, quer num ponto, quer em vários. Seus adversários tinham motivos de dizer: que fazeis no sistema educativo? Para que servis? Nós fazemos a mesma coisa; por que duas escolas? Certamente encontram-se ainda reservas de fé e convém render homenagem a numerosos professores conscientes de suas responsabilidades, mas o ensino católico não se afirma mais de um modo claro em face da escola pública, ele percorreu uma boa metade do caminho no qual o querem comprometer os zeladores do laicismo. Foi-me relatado que, nas manifestações, grupos haviam causado escândalo cantando “Queremos Deus nas nossas escolas”. Os organizadores tinham secularizado o mais possível os cantos, os slogans, os discursos afim de, diziam eles, não pôr em posição embaraçosa as pessoas que tinham vindo sem preocupações religiosas particulares, e entre as quais se encontravam descrentes e até socialistas. É fazer política querer afastar o comunismo e o socialismo de nossas escolas? O católico sempre pensou que a Igreja se opunha a estas doutrinas devido ao ateísmo militante que elas professam. Ele tem visto perfeitamente razão quanto ao princípio e quanto às aplicações: o ateísmo determina modos radicalmente diferentes de conceber o sentido da vida, o destino das nações, as orientações da sociedade. Houve tanto mais estranheza ao ler em Le Monde de 5 de junho de 1984 que Dom Lustiger, respondendo às perguntas deste jornal e exprimindo de resto várias ideias muito justas, se queixa de ter visto escapar uma oportunidade histórica com o voto do Parlamento sobre a escola livre. Esta oportunidade, explica ele, consistia em encontrar, em acordo com os social-comunistas, um certo número de valores fundamentais para a educação das crianças. Que valores fundamentais comuns pode haver entre a esquerda marxista e a doutrina cristã? É tudo o oposto. Mas o católico vê com surpresa intensificar-se o diálogo entre a hierarquia eclesiástica e os comunistas. Os dirigentes soviéticos, e também terroristas como Yasser Arafat são recebidos no Vaticano. O concílio deu o tom, recusando renovar a condenação do comunismo. Não encontrando sinal disto nos esquemas que lhes eram submetidos, quatrocentos e cinqüenta bispos, lembremo-lo, tinham assinado uma carta reclamando uma revisão neste sentido. Eles se apoiavam nas condenações passadas e, em particular, na afirmação de Pio XI que qualificava o comunismo de “intrinsecamente perverso”, significando com isto que não havia nesta ideologia aspectos negativos e aspectos positivos, mas que se devia rejeitá-lo em sua integralidade. Tem-se lembrança do que adveio daí: a emenda não foi transmitida aos padres, o secretariado central do concílio declarou não ter tido conhecimento dela, depois a comissão admitiu que a tinha recebido mas demasiadamente tarde, o que não era exato. Foi um escândalo, que terminou pela anexação, por ordem do papa, à constituição Gaudium et spes, duma passagem alusiva sem grande alcance. Quantas declarações de bispos para justificar, senão para encorajar a colaboração com os comunistas, independentemente do ateísmo ostensivo! “Não compete a mim, mas aos cristãos, que são adultos responsáveis, dizia Dom Matagrin, ver em que condições eles podem colaborar com os comunistas.” Para Dom Delorme os cristãos devem “lutar por mais justiça no mundo com todos os que são animados pela justiça e pela liberdade, inclusive os comunistas”. É o mesmo tom em Dom Poupard que incita a “trabalhar com todos os homens de boa vontade em todas as obras da justiça onde se constrói incansavelmente um mundo novo”. Num boletim diocesano, a oração fúnebre dum padre operário foi arranjada assim: “Ele tomou o partido do mundo dos trabalhadores por ocasião das eleições municipais. Não podia ser o sacerdote de todos, ele optou por aqueles que faziam a escolha da sociedade socialista. Foi duro para ele. Criou-se inimigos, mas também muitos novos amigos. Tito Paulo era um homem posicionado”. Um bispo dissuadia, há pouco tempo, seus sacerdotes de falar nas suas paróquias da obra “ajuda à Igreja na miséria” dizendo: “minha impressão é que esta obra se apresenta sob aparências muito exclusivamente anticomunistas.” Verifica-se com assombro que a excusa dada a este gênero de colaboração repousa sobre a noção, falsa em si mesma, de que o partido comunista teria por objetivo instaurar a justiça e a liberdade. É preciso relembrar sobre este assunto as palavras de Pio IX:” Se os fiéis se deixam enganar pelos promotores das manobras atuais, se consentem em conspirar com eles para os sistemas perversos do socialismo e do comunismo, que o saibam e o considerem seriamente: acumulam para si mesmos e junto do divino Juiz tesouros de vingança no dia da cólera; e, na espera disto, não provirá desta conspiração nenhuma vantagem temporal para o povo, mas antes um aumento de misérias e de calamidades.” Basta, para ver a justeza desta advertência lançada em 1849, há mais de cento e quarenta anos, observar o que se passa em todos os países colocados sob o jugo comunista. Os acontecimentos deram razão ao papa do Syllabus e, não obstante isto, a ilusão continua viva e mesmo se acentua. Mesmo na Polônia país católico entre todos, os pastores não apresentam mais a questão da fé católica e da salvação das almas como primordial e que deve fazer aceitar todos os sacrifícios, inclusive o da vida. O que mais importa no seu espírito é não provocar ruptura com Moscou, o que permite a Moscou reduzir a uma escravidão ainda mais completa o povo polonês, sem encontrar a verdadeira resistência. O padre Floridil mostra com clareza os compromissos da “Ostpolitik” vaticana: “É sabido que os bispos tchecoslovacos consagrados por Mons. Casaroli são colaboradores do regime, como o são os bispos que dependem do patriarcado de Moscou... Feliz de ter podido dar um bispo a cada diocese húngara, o papa Paulo VI rendeu homenagem a Janos Kadar, primeiro secretário do partido comunista húngaro” principal promotor e o mais autorizado da normalização das relações entre a Santa Sé e a Hungria”. Mas o papa não dizia o preço elevado pelo qual tinha sido paga esta normalização: a instalação em postos importantes da Igreja de “padres da paz”... De fato, grande foi o estupor dos católicos quando ouviram o sucessor do cardeal Mindzenty, o cardeal Laszlo Lekai, prometer intensificar o diálogo entre católicos e marxistas”. Falando da perversidade intrínseca do comunismo, Pio XI acrescentava: “e não se pode admitir em nenhum terreno a colaboração com ele da parte de qualquer que deseja salvar a civilização cristã!! Esta ruptura com o ensino da Igreja, ajuntando-se àquelas que enumerei, nos obriga a afirmar que o Vaticano está ocupado por modernistas e por homens deste mundo que acreditam encontrar nas astúcias humanas e diplomáticas mais eficácia para a salvação do mundo do que aquilo que foi instituído pelo divino fundador da Igreja. Citei o cardeal Mindszenty; como ele, todos os heróis e os mártires do comunismo, em particular os cardeais Beran, Stepinac, Wyszynski, Slipyi são considerados como testemunhas embaraçosas pela atual diplomacia vaticana e, digamo-lo como reprovações mudas no que respeita aos primeiros, hoje adormecidos na paz do Senhor, enquanto que se abafa a grande voz do cardeal Slipyi. As mesmas aproximações se realizaram com a franco-maçonaria, não obstante a declaração desprovida de ambigüidade da Congregação para a Doutrina da Fé em fevereiro de 1981, à qual havia precedido uma declaração da Conferência episcopal alemã em abril de 1980. Mas o novo direito canônico não faz menção delas e não formula expressamente nenhuma sanção. Os católicos souberam anteriormente que os maçons B'nai Brith tinham sido recebidos no Vaticano e, numa data recente, o arcebispo de Paris acolhia, para uma conversa, o grão mestre duma loja, enquanto certos eclesiásticos não se cansam de querer reconciliar a Sinagoga de Satã com a Igreja de Cristo. Tranquilizam-se os católicos dizendo-lhes como para o resto: “A condenação das seitas ontem era talvez fundada, mas os irmãos tripingados não são mais aqueles que eram”. “Vejamo-los então agindo. O escândalo da loja P2, na Itália, está ainda bem fresco nas memórias. Na França não há dúvida de que a lei laica contra o ensino livre é antes de tudo obra do Grande Oriente, que multiplicou as pressões junto do Presidente da República e de seus filiados presentes no governo e nos gabinetes ministeriais para que se realize enfim o “grande serviço da educação nacional”. Eles agiram mesmo, desta vez, às claras; jornais como Le Monde fizeram regularmente a justificação de suas negociações, seu plano e sua estratégia foram publicadas em suas revistas. Devo acrescentar que a maçonaria é sempre o que era? O antigo grão mestre do Grande Oriente, Jacques Mitterand, que confessava pela rádio em 1969: “Nós tivemos sempre bispos e padres nas nossas lojas”, fazia a seguinte profissão de fé: “Se colocar o Homem sobre o altar em vez de nele colocar Deus é o pecado de Lúcifer, todos os humanistas desde o Renascimento cometem este pecado. “ Esta foi uma das censuras invocadas contra os franco-maçons, quando foram excomungados pela primeira vez pelo papa Clemente XII em 1738. Em 1982, o grão mestre Jorge Marcou não dizia outra coisa: "É o problema do homem que prevalece.” Na primeira ordem de suas preocupações, quando foi reeleito figurava o abono do aborto pelo seguro social, “passando por esta medida a igualdade econômica das mulheres.” Os franco-maçons penetram na Igreja. Em 1976, informava-se de que aquele que tinha sido a alma da reforma litúrgica, Mons. Bugnini, era franco-maçon. Pode-se julgar, desta revelação, que não era ele o único. O véu que cobria a maior mistificação da qual o clero e os fiéis foram objeto começava a rasgar-se. Vê-se mais claro com o tempo e os adversários seculares da Igreja também: ”Há alguma coisa que mudou na Igreja, escreve Jacques Mitterand, as respostas formuladas pelo papa às questões mais candentes, como o celibato dos padres ou a regulação dos nascimentos, são ardentemente contestadas no seio da própria Igreja; a palavra do Soberano Pontífice é questionada por certos bispos, por padres, por fiéis. Para o franco-maçon o homem que discute o dogma já é um franco-maçon sem avental.” Um outro irmão, M. Marsaudon, do rito escocês, fala assim do ecumenismo cultivado no decurso do concílio: ”Os católicos, particularmente os conservadores, não se deverão esquecer por isso de que todo o caminho conduz a Deus. E (deverão) manter-se nesta corajosa noção de liberdade de pensamento que, pode-se verdadeiramente falar aí de revolução, oriunda de nossas lojas maçônicas, se estendem magnificamente sobre a cúpula de São Pedro”. Eu queria citar-vos ainda um texto próprio a esclarecer esta questão e mostrando quem espera ser o vencedor do outro na reaproximação preconizada pelo abade Six e pelo padre Riquet. Ele é extraído da revista maçônica Humanismo, número de novembro-dezembro de 1968. “Entre os pilares que desabariam mais facilmente, citemos o poder doutrinal dotado de infalibilidade que tinha acreditado solidificar, transcorridos cem anos, o primeiro concílio do Vaticano, e que acaba de suportar assaltos conjugados na ocasião do aparecimento da encíclica Humanae Vitae; a presença real eucarística que a Igreja tinha conseguido impor às massas medievais e que desaparecerá com o progresso das intercomunicações e das concelebrações entre padres católicos e pastores protestantes; o caráter sagrado do sacerdote, que decorria da instituição do sacramento do Ordem e que cederá o lugar a um caráter eletivo e temporário; a distinção entre a Igreja dirigente e o clero “negro”, operando-se o movimento, de agora em diante da base para o cimo, como em toda democracia; a desaparição progressiva do caráter ontológico e metafísico dos sacramentos e, com toda a certeza, a morte da confissão, tornando-se o pecado na nossa civilização uma das noções mais anacrônicas que nos legou a severa filosofia da Idade Média, herdeira do pessimismo bíblico.” Notar-se-á que os franco-maçons estão prodigiosamente interessados no futuro da Igreja, mas é para devorá-la. Os católicos devem sabê-lo, não obstante as sereias que procuram fazê-los dormir, e todas estas forças destruidoras são estreitamente dependentes umas das outras. A maçonaria se define como a filosofia do liberalismo, cuja forma aguda é o socialismo. O conjunto se agrupa muito bem sob o termo empregado por Nosso Senhor:” as Portas do inferno”.

8 de março de 2019

Carta Aberta aos Católicos Perplexos - Mons. Marcel Lefebvre - Parte 12

XI
No concílio, foi o esquema sobre a liberdade religiosa que suscitou as mais acirradas discussões. Isto se explica facilmente pela influência que exerciam os liberais e pelo interesse que tinham nesta questão os inimigos hereditários da Igreja. Passaram-se vinte anos e é possível ver agora que nossos receios não eram exagerados quando este texto foi promulgado, sob a forma duma declaração que reunia noções opostas à Tradição e ao ensinamento de todos os últimos papas. Tanto isto é verdadeiro que princípios falsos ou expressos dum modo ambíguo têm infalivelmente aplicações práticas reveladoras do erro cometido em adotá-los. Vou mostrar, por exemplo, como os ataques dirigidos contra o ensino católico na França pelo governo socialista são a consequência lógica da nova definição dada à liberdade religiosa pelo Vaticano II. Façamos um pouco de teologia para compreender bem com que espírito esta declaração foi redigida. A argumentação inicial — e nova — fazia repousar a liberdade, para cada homem, de praticar interior e exteriormente a religião de sua escolha, sobre a “dignidade da pessoa humana”. Era portanto esta dignidade que fundamentava a liberdade, que lhe dava sua razão de ser. O homem podia aderir a qualquer erro em nome de sua dignidade. Isto era pôr o carro à frente dos bois, apresentar as coisas pelo avesso. Pois aquele que adere ao erro decai de sua dignidade e nada se pode mais estabelecer sobre o erro. De outra parte, o que fundamenta a liberdade não é a dignidade, mas a verdade: “A Verdade vos tornará livres”, disse Nosso Senhor. Que se entende por dignidade? O homem a tira, segundo a doutrina católica, de sua perfeição, isto é do conhecimento da verdade e da aquisição do bem. O homem é digno de respeito segundo sua intenção de obedecer a Deus e não segundo seus erros. Estes geram indefectivelmente o pecado. Quando Eva, a primeira pecadora, sucumbiu, disse: ”A serpente me enganou.” O seu pecado e o de Adão acarretaram a degradação da dignidade humana da qual sofremos desde então. Daí resulta que não se pode ligar a liberdade à degradação como à sua causa. Ao contrário, a adesão à verdade e o amor de Deus são os princípios da autêntica liberdade religiosa. Pode-se definir esta como a liberdade de render a Deus o culto que lhe é devido e de viver segundo seus mandamentos. Se tendes seguido bem este raciocínio, a liberdade religiosa não se pode aplicar às religiões falsas, ela não sofre a partilha. Na sociedade civil, a Igreja proclama que o erro não tem direitos; o Estado somente deve reconhecer para os cidadãos o direito de praticarem a religião de Cristo. Certamente, isto deve parecer como uma pretensão exorbitante àquele que não tem fé. O católico não contaminado pelo espírito do tempo julga-o normal e legítimo. Mas ai! Muitos, entre os cristãos, perderam de vista estas realidades. Repetiu-se tanto que era preciso respeitar as ideias dos outros, colocar-se em seu lugar, aceitar seus pontos de vista, divulgou-se tanto este contra-senso: “A cada um a sua verdade”; tanto se tomou o diálogo pela virtude cardeal por excelência, diálogo que leva obrigatoriamente a concessões: o cristão, por uma caridade mal entendida, acreditou que devia fazê-las mais que seus interlocutores, é frequentemente o único a fazê-las. Não se imola mais, como os mártires, pela verdade; é a verdade que é por ele imolada. De outra parte, a multiplicação dos estados leigos na Europa cristã habituou os espíritos ao laicismo e os conduziu a adaptações contrárias à doutrina da Igreja. A doutrina não se adapta, ela é fixa, definida uma vez por todas. À comissão central preparatória do concílio, dois esquemas tinham sido apresentados, um pelo cardeal Bea sob o título “Da liberdade religiosa”, o outro pelo cardeal Ottaviani, sob o título ”Da tolerância religiosa”. O primeiro se estendia por catorze páginas sem nenhuma referência ao magistério que o precedeu. O segundo compreendia sete páginas de texto e dezesseis páginas de referências, indo de Pio VI (1790) a João XXIII (1959). O esquema do cardeal Bea continha, no meu parecer e no de um número não negligenciável de padres, afirmações em desacordo com a verdade da Igreja eterna. Lia-se nele, por exemplo: “É por isso que se deve louvar o fato de que, em nossos dias, a liberdade e a igualdade religiosas são proclamadas por numerosas nações e pela Organização Internacional dos Direitos do Homem.” O Cardeal Ottaviani, por seu turno, expunha muito corretamente a questão: “Da mesma forma que o poder civil se julga com o direito de proteger os cidadãos contra as seduções do erro... ele pode mesmo regular e moderar as manifestações públicas dos outros cultos e defender os seus cidadãos contra a difusão das falsas doutrinas que, a juízo da Igreja, põem em perigo sua salvação eterna.” Leão XIII dizia (Rerum novarum) que o bem comum temporal, fim da sociedade civil, não é puramente de ordem material, mas “principalmente um bem moral”. Os homens se organizaram em sociedade em vista do bem de todos; como se poderia excluir o bem supremo, que é a bem-aventurança celeste? Há um outro aspecto das coisas que guia a Igreja quando ela nega o direito de cidadania às religiões errôneas: os propagadores de ideias falsas exercem naturalmente uma pressão sobre os mais fracos, os menos instruídos. Quem contestará que o dever do estado seja o de proteger os fracos? É seu principal dever, a razão de ser da organização em sociedade. Ele defende seus indivíduos dos inimigos, no exterior, protege-os na vida quotidiana contra as agressões de todo o gênero, contra os ladrões, os assassinos, os vigaristas e mesmo os Estados leigos asseguram uma proteção em matéria de costumes, proibindo por exemplo a afixação de jornais pornográficos, se bem que a situação se tenha degradado bastante na França neste últimos anos e que ela seja dos piores países como a Dinamarca. Mas enfim, por longo tempo os países de civilização cristã conservaram o senso de suas obrigações em relação aos mais vulneráveis e em particular às crianças! O povo permaneceu sensível a isso e pede ao Estado, por intermédio de suas associações familiares, que tome as medidas necessárias. Proibir-se-ão emissões de rádio em que o vício é muito ostensivamente apresentado, embora ninguém esteja obrigado a escutá-las, mas porque as crianças dispõem frequentemente de transistores e por conseguinte não estão mais protegidas. A doutrina da Igreja, que pode parecer excessivamente severa, é acessível ao raciocínio corrente e ao bom senso. É de regra atualmente rejeitar toda forma de repressão e deplorar que ela se tenha exercido em certos momentos da história. SS. João Paulo II, cedendo a esta moda, condenou a Inquisição por ocasião de sua viagem à Espanha. Mas da Inquisição não se quer reter senão os exageros, esquecendo que a Igreja, criando o Santo Ofício, cujo título exato é “Sanctum Officium Inquisitonis”, preenchia sua função de defesa das almas e perseguia aqueles que tentavam falsificar a fé e punham assim em perigo uma população inteira no que concernia à sua eterna salvação. A Inquisição vinha em socorro dos próprios hereges, como se vai em socorro de pessoas que se lançam ao mar para acabar com a vida; acusar-se-iam os salvadores de exercer uma repressão intolerável para com esses infelizes? Para usar duma outra comparação, eu não penso que ocorra à mente de um católico, mesmo perplexo, censurar um governo por interdizer a droga, sob o pretexto de que ele exerce deste modo uma repressão sobre os drogados. Pode-se compreender que um pai de família imponha a fé a seus filhos. Nos Atos dos Apóstolos, o centurião Cornélio, tocado pela graça, recebe o batismo “com todos os de sua casa”. Igualmente Clóvis se fez batizar com os seus soldados. Os benefícios que traz a religião católica mostra o caráter ilusório de preconceitos dos clérigos pós-conciliares de abster-se de toda a pressão, e mesmo de toda a influência em relação aos “não crentes”. Na África, onde passei a maior parte de minha vida, as missões combateram os flagelos que são a poligamia, a homossexualidade, o desprezo com que é considerada a mulher. Esta, cuja situação degradante se sabe qual é na sociedade islâmica, se torna uma escrava ou um objeto, desde que a civilização cristã desaparece. Não se pode duvidar do direito da verdade se impor e substituir as religiões falsas. E não obstante a Igreja não preconiza na prática uma intransigência cega em relação ao culto público delas. Ela professou sempre que este podia ser tolerado pelos poderes públicos em vista a evitar um mal maior. É por isso que o cardeal Ottaviani preferia o termo “tolerância religiosa”. Se nós nos colocamos no caso de um Estado católico, onde a religião de Cristo é reconhecida oficialmente, esta tolerância evita perturbações que seriam prejudiciais ao conjunto. Numa sociedade laica que professa a neutralidade, a lei da igreja, seguramente, não será observada. Então, direis, de que serve mantê-la? É que em primeiro lugar não se trata duma lei humana que se pode ab-rogar ou modificar. Depois o próprio abandono do princípio tem graves consequências; nós já temos registrado várias. Os acordos entre o Vaticano e certas nações que atribuíam muito justamente um estatuto preferencial à religião católica foram revistos. É o caso da Espanha e há pouco tempo o da Itália, onde o catecismo não é mais obrigatório nas escolas. Até onde se irá? Os novos legisladores da natureza humana pensaram que o papa é também um chefe de Estado? Seria ele levado a laicizar o Vaticano, a autorizar a construção ali dum templo ou duma mesquita? É também o desaparecimento dos Estados católicos. No mundo atual, há estados protestantes, um estado anglicano, estados muçulmanos, estados marxistas e não se quer mais que haja estados católicos! Os católicos não teriam mais o dever de trabalhar em estabelecê-los, mas o dever de manter o indiferentismo religioso do Estado! Pio IX chamou a isso “delírio” e “uma liberdade de perdição”. Leão XIII condenou o indiferentismo do Estado em matéria religiosa. O que era bom no seu tempo então não é mais verdadeiro? Não se pode afirmar a liberdade de todas as comunidades religiosas na sociedade humana sem conceder igualmente a liberdade moral a estas comunidades. O Islão admite a poligamia, os protestantes têm, segundo as Igrejas, posições mais ou menos laxistas sobre a indissolubilidade dos vínculos conjugais e sobre a contracepção... O critério do bem e do mal desaparece. Na Europa, o aborto não é proibido pela lei a não ser na Irlanda católica. Não é possível que a Igreja de Deus acoberte de certa maneira estes excessos afirmando a liberdade religiosa. Outra consequência: as escolas livres. O Estado não pode mais compreender que existam escolas católicas e que elas se atribuam a parte do leão no setor do ensino particular. Ele as coloca no mesmo plano, como se viu recentemente, que as escolas fundadas pelas seitas e diz: ”Se nós vos permitirmos existir, devemos fazer o mesmo para Moon e por qualquer outra comunidade deste gênero, que têm uma reputação tão má.” E a Igreja não possui mais argumentos! O governo socialista tirou muito bem partido da declaração sobre a liberdade religiosa. Conforme o mesmo princípio imaginou-se fazer uma fusão das escolas católicas com as outras, contanto que estas observem o direito natural! Ou então as abriram às crianças de qualquer religião, lisonjeando-se algumas de ter mais crianças muçulmanas que cristãs. É assim que a Igreja, aceitando um estatuto de direito comum nas sociedades civis, corre o risco de tornar-se uma seita entre as outras. Ela se coloca na conjuntura de desaparecer, pois é evidente que a verdade não pode ceder seus direitos ao erro sem se renegar. As escolas livres adotaram na França para se manifestarem nas ruas um hino muito belo mas cujas palavras traem o contágio deste espírito detestável: “Liberdade, tu és a única verdade.” A liberdade, considerada como um bem absoluto, é quimérica. Aplicada à ordem religiosa, conduz ao relativismo doutrinal e à indiferença prática. Os católicos perplexos devem agarrar-se à palavra de Cristo que eu citava: “É a verdade que os libertará”.