31 de outubro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

O Corpo da Virgem Santíssima Livre de Concupiscência


Parte 4/4

Quantos jovens e quantas jovens sentem esta mesma luta de Agostinho. Cinema, leituras, conversas, despertaram muito depressa a concupiscência; e foi-se muito longe, mais longe do que a própria jovem podia suspeitar. Esta jovem por acaso envergonha-se de si mesma. Queria voltar para trás. O vício é tão degradante! A pureza é tão formosa!
À vista de sua alma apresenta-se a Virgem Imaculada e com ela sob o seu manto, tantas jovens inocentes, puras, alegres, e a Virgem Santíssima estende os braços para aquela filha extraviada para a atrair ao seu regaço e diz-lhe: "o que fazem estas tuas irmãs não o podes tu fazer?"
Que coisa impedia Agostinho de dar o último passo?
A fera da concupiscência que estava muito agarrada à presa. Da carne do corpo - dizia ele - saíam como uns angustiosos chamamentos. Eram as paixões que lhe diziam: Deixas-nos? E desde este momento para sempre não te será lícito isto ou aquilo?!
E que coisas, meu Deus, que coisas me vinham à mente no que eu digo: isto e aquilo!
Que era isto e aquilo que as vozes da sua carne sugeriam a Agostinho? Era o isto e o aquilo do seu desejo.
As leviandades, as diversões ilícitas, as comodidades, as desonestidades. O que custa tanto a deixar a tantas jovens mundanas e a tantos jovens. Eu seria pura, eu comungaria, eu seria filha da Virgem Maria. Mas as paixões clamam: terás que deixar isto ou aquilo?
Sabeis muito bem o que significa isto e aquilo: as leituras, as imodéstias, as estroinices, as companhias, os bailes, os costumes viciosos. Pobres jovens, que dominadas estão por estas ferinhas!
Deus queria fazer de Agostinho um luminar da Igreja. Para acabar de o converter, um dia que estava no horto de Milão, sentado debaixo duma figueira, Deus pôs ao alcance de sua mão um livro. Viu-o Agostinho e ao mesmo tempo ouviu uma voz que lhe dizia: Toma, lê; toma, lê. Aquele livro era o Novo Testamento, as cartas de São Paulo. Abriu o livro ao acaso e leu aquelas palavras: "Não em banquetes, nem embriaguezes, não em vícios nem desonestidades, não em contendas nem emulações, mas revesti-vos de Jesus Cristo e não empregareis o vosso cuidado em satisfazer os apetites do corpo". Agostinho lia aquelas palavras e meditava. E entretanto sua santa mãe chorava e orava por ele. Quanto tinha chorado e orado aquela mãe por seu filho extraviado! Aquelas lágrimas e aquelas orações, moveram o coração de Jesus Cristo e enviou à alma de Agostinho uma graça poderosíssima para que pudesse romper as cadeias que o aprisionavam. O jovem extraviado rompeu a chorar e caiu rendido aos pés de Jesus Cristo.
Jovens metidas no mundo, vós não tendes uma mãe santa como a mãe de Agostinho que chore e peça por vós; tendes uma mãe néscia,  uma mãe criminosa que vos empurra para a vida do mundo e do pecado, que faz coro com as vossas paixões e vos repete também; "e vais deixar isto e aquilo?!"
Não tendes na terra uma mãe como Santa Mônica; mas tendes no céu uma mãe que pede por vós. Quanto sofre, quanto pede pelas jovens mundanas e pelos jovens extraviados também. 
À intercessão da Virgem Santíssima devem as almas extraviadas esses chamamentos, esses desejos de sair do pecado, que umas ouvem como Santo Agostinho, e que outras, a maioria, desprezam.
Que fez Agostinho depois de tomar a última resolução? O filho pródigo exclamou: "Levantar-me-ei e irei ter com meu pai".
Agostinho exclamou; "Levantar-me-ei e irei ter com minha mãe". Tinha pensado em sua mãe durante a luta e queria que sua mãe fosse a primeira a ter a notícia da vitória.
Ele sabia a consolação que lhe iria proporcionar. Com que emoção, com que ternura fala Santo Agostinho de sua santa mãe quando narra a história da sua conversão! Estava sua mãe nos seus aposentos e Agostinho com os olhos rasos de lágrimas apresentou-se diante dela. Referiu-se à sua conversão com todas as circunstâncias e pormenores. Ela - disse o Santo - não cabia em si de contentamento, nem sabia que fazer de alegria, nem sabia como bendizer e dar graças a Deus, pois lhe havia concedido muito mais do que costumava suplicar para mim, por meio dos seus lamentos e lágrimas afetuosas.
Tu que sentes a luta cruel da carne contra o espírito; que queres ser bom e não acabas de sê-lo, porque a concupiscência que vive em ti se alimentou muito dos prazeres do mundo, - porque ouve a voz das paixões, e a voz de teus pais que te dizem: vais deixar isto ou naquilo? Enquanto lutas, a Virgem Santíssima pede por ti e envia-te inspirações interiores: é a graça de Deus para a tua conversão.
Se tomares uma resolução enérgica como a de Agostinho, se disseres: adeus frivolidades, adeus pecados, adeus ocasiões de pecado, adeus jogo, adeus bebidas, adeus tertúlias pecaminosas, se tomares esta resolução generosa, corre aos pés de tua Mãe e conta a tua luta e a tua vitória e pede-lhe que te recolha sob o seu manto e que te conserve sob ele todos os dias da tua vida.

29 de outubro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

O Corpo da Virgem Santíssima Livre de Concupiscência


Parte 3/4

Ao ouvir esta conclusão, exclamareis talvez desanimados: se isso foi um privilégio especial concedido por Deus a sua Mãe, não poderemos imitá-la nisso.
É verdade que não podes ser igual a Ela; mas podes assemelhar-te muito a tua Mãe, mesmo neste privilégio.
Ao receberes o batismo, o pecado original deixou a tua alma; mas no teu corpo não se extinguiu a concupiscência, efeito do pecado original.
 Há na natureza humana, entre outros, dois instintos. Na alma, o desejo de amar e de ser amado. No corpo, o desejo de prazeres sensuais, quer dizer, a concupiscência. Estes dois desejos, estes dois instintos existem no homem e na mulher; mas de maneira diferente. No homem existe certamente esse instinto elevado da alma: esse desejo de amar e ser amado. Também ele sente a solidão da vida e a necessidade de uma companheira que o compreenda e que com o seu caráter suave, bondoso e jovial lhe torne leves os trabalhos e lhe suavize os dissabores da vida. Uma companheira que vele pelos seus interesses, que cuide dele, que lhe dê alento, que o anime; numa palavra, que lhe prepare um lar comodo e atraente. Este instinto da alma é tanto mais forte, quanto mais puro é o jovem.
Que obcecadas estão as raparigas, que gosto tão estragado manifestam, quando preferem para companheiro um jovem que tenha vivido muito! Mas, se é verdade que o homem tem este instinto elevado, tem-no mais forte ainda a mulher. E ao contrário, na mulher não é tão forte o instinto baixo para os prazeres sensuais. Por isso é costume dizer-se: o homem é mais corpo, a mulher mais alma.
Haverá exceções, mas é esta a regra geral. Regra que a rapariga deve ter em conta.
Engana-se e engana-se lastimosamente a rapariga quando pensa que o jovem com quem trata tem a mesma condição que ela; engana-se lastimosamente quando crê que aquilo que a ela não lhe faz mal, não impressiona o seu companheiro.
Por isso a jovem não suspeita muitas vezes as tormentas que podem desencadear-se no seu companheiro. Por isso não repara nos efeitos desastrosos que as suas imodéstias e provocações podem produzir. Por isso também não repara no perigo que lhe podem criar certas situações difíceis. Depois vêm as lágrimas.
Ainda que não seja tão forte como no homem, também existe a concupiscência na natureza da mulher. Existe na jovem e existe na criança. Na menina normal e inocente essa tendência, esse desejo está silencioso e latente. É como uma ferinha; mas está adormecida. Deixai-a dormir, dormir o maior tempo possível; porque, se acorda, o seu furor pode ser espantoso
 Como desperta a ferinha? Às vezes por si mesma, sozinha. Uma natureza degenerada, um temperamento apaixonado recebido em herança, é causa suficiente para que a ferinha desperte muito depressa, às vezes antes do uso da razão.
Nas meninas normais a concupiscência desperta de ordinário porque a provocam estímulos exteriores: o cinema, as leituras, as conversas atrevidas.
Porque é que as jovens, as crianças de agora são incomparavelmente mais precoces que há cinquenta anos? Porque os estímulos exteriores são maiores e fazem despertar muito depressa a ferinha. As meninas lêem tanto, vêem tanto cinema, falam de tais coisas, que a ferinha não tem outro remédio senão despertar e a luta desencadeia-se muito depressa nessas infelizes. A ferinha desperta, tem fome de prazeres sensuais e pede de comer, ruge e lança-se para eles. 
Como é difícil contê-la ! Quem a pode conter?
O santo temor de Deus; é essa a única jaula de ferro que não pode romper. Ai da jovem que tenha a fera da concupiscência muito desperta e não tenha um temor de Deus muito grande, muito forte para a conter! Se se acalmasse com um pouco de alimento! Mas, é de tal natureza que quantos mais prazeres se lhe dá, mais robusta se torna e mais fome tem. Dizei a uma jovem: vai uns quantos dias ao cinema e ao baile; e com isso já ficas satisfeita e não voltes mais.
Que ilusão! sabeis por experiência, que quanto mais se lê, mais se deseja ler; quanto mais se olha, mais se deseja olhar; quanto mais se dança, mais se deseja dançar; e continuai enumerando esse quanto mais; aplicai-o a tudo, mesmo aos prazeres mais grosseiros.
É difícil conter a concupiscência, quando deseja prazeres e ainda não os provou; mas mais difícil ainda é arrancá-la deles, quando se começou a satisfazer. Arrancai a uma fera o pedaço de carne que está a comer. Quando uma jovem se meteu no meio do mundo, quem a arranca dele! Isso é o que retém tantas almas na vida de pecado; quereriam, mas não podem. Chegam uns exercícios, conhecem o seu estado lastimoso, mas não têm forças para sair dele. A ferinha cresceu muito e está muito bem alimentada.
Era isto que retinha Santo Agostinho na sua vida de pecado. Agostinho tinha tido um pai pagão e vicioso. Dele havia herdado uma natureza inclinada aos vícios. Que fome de prazeres tinha a ferinha. de Agostinho mesmo quando era pequeno!
A sua santa mãe procurou domar aquela ferinha com uma educação cristã, quis enjaulá-la com o santo temor de Deus; mas não o conseguiu. Quando Agostinho era jovem, a concupiscência rompeu todas as grades do temor de Deus, da honra da família e lançou-se sobre a presa. Quanto mais comia, mais fome tinha. Agostinho queria afastar-se da sua vida pecaminosa e dizia para si: "hoje mesmo", e estava já quase, quase a ponto de romper, o vício parecia-lhe tão degradante, a pureza tão bela! "A continência apresentava-se-me - disse ele - com rosto alegre e majestoso, abria-me os braços para me receber. Com ela havia uma grande multidão de almas de todas as classes e condições, que eram castas. E ela mesma como sorrindo-se de mim, com um sorriso gracioso convidava-me a segui-la, e parecia dizer-me: Porque não hás de poder tanto como estes e estas?

27 de outubro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

O Corpo da Virgem Santíssima Livre de Concupiscência.


Parte 2/4

Conhecida já a natureza da concupiscência, vem a propósito perguntar: Recebeu a Virgem Santíssima esta triste herança de seus pais? Teve a Virgem Santíssima concupiscência?
Sem dúvida alguma que antes de a inteligência ver as razões, o vosso coração vos diz que não; que a Mãe de Deus não devia ter estado submetida a esta escravidão degradante.
É verdade que a concupiscência não é pecado, mas a inclinação para o pecado, e seria indigno, indecoroso, que a Mãe de Deus tivesse essa inclinação.
A Virgem Santíssima foi impecável, não cometeu nem a mais ligeira imperfeição; Deus teve que a fazer assim; porque assim o pedia a sua dignidade. Pois se deus queria que sua Mãe não tivesse nem sombra de pecado, teve que tirar as causas dele, e a causa principal é a concupiscência.
O que queira ter um campo limpo de abrolhos, que nunca brote nele nem o mais ligeiro renovo, tem que arrancar até as raízes; de contrário, essas raízes brotarão novamente.
A concupiscência é raiz do pecado, Deus não quis na Santíssima Virgem a mais leve culpa; logo teve que afogar nela a raiz.
A Virgem Santíssima teve a castidade no grau mais perfeito. Uma castidade superior a dos anjos que não têm corpo, e por conseguinte uma castidade que nunca sente tentações, que nunca sente afetos desordenados. O coração da Virgem Santíssima tinha que ser só para Deus, e uma castidade assim, mais que angélica, não teria podido existir se não estivesse sufocada na sua natureza essa inclinação ao pecado.
Existem ainda mais razões. É um fato que quanto mais forte é a virtude duma pessoa, mais débil é nela a concupiscência. A graça santificante e as virtudes que a acompanham, à medida que vão crescendo em intensidade, vão sufocando as inclinações más da carne; e como as virtudes da Virgem Santíssima foram incomparavelmente mais excelentes que as de todos os santos, e como a graça da Virgem foi imensa, não só impediram como extinguiram todos os impulsos da concupiscência.
Tem havido santos e até pessoas canonizadas, que tendo concupiscência, ou não sentiram ou sentiram muito debilmente os seus efeitos; pois a Rainha dos santos tinha que receber de Deus um privilégio maior que o dessas almas escolhidas.
É, pois, certíssimo que o corpo da Virgem Santíssima não só foi perfeitíssimo, não só foi formosíssimo, mas também teve um privilégio de que os outros homens carecem, o ter coibido, mais ainda, extinguido essa inclinação para o pecado, essa tendência ao pecado que se chama concupiscência. 

25 de outubro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

O Corpo da Virgem Santíssima Livre de Concupiscência


Parte 1/4

O corpo da Virgem Santíssima foi perfeitíssimo e formosíssimo. Mas ainda não dissemos tudo desse relicário que guardou o Filho de Deus.
O corpo da Virgem Santíssima não herdou de seus pais nenhuma tara, nenhum desequilíbrio; porém todos os homens recebem de seus pais uma triste herança: a concupiscência.
Tê-la-ia recebido também a Virgem Santíssima? Deus, ao criar os primeiros homens, livrou-os desta fonte de tentações e de pecados.
Ainda que a natureza humana, dada a sua constituição, tivesse que a sentir, Deus, gratuitamente fez ao primeiro homem a graça de afogar na sua natureza a concupiscência. Os primeiros homens pecaram, e Deus tirou-lhes esse privilégio, e desde então todos os descendentes de Adão sentem esta inclinação para o pecado. Suposto isto, apresenta-se uma questão ao falar da Virgem Maria. Suposto isto, apresenta-se uma questão ao falar da Virgem Maria.
A Virgem Santíssima era descendente de Adão, como todos os homens; por conseguinte, devia receber essa herança de seus pais. Mas a Virgem Santíssima não herdou, como todos os homens, o pecado original; foi imaculada na sua conceição e, se não herdou o pecado, herdaria esta consequência do pecado?
Estaria o seu corpo sujeito à concupiscência?  Comecemos por conhecer a natureza da concupiscência. Concupiscência equivale a desejo. A concupiscência, num sentido lato, significa o desejo do bem em geral.
A sabedoria é um bem; o desejo da sabedoria seria uma concupiscência no sentido lato.
Mas não é este o significado próprio da palavra concupiscência. A concupiscência de que falamos agora é uma faculdade que tem raízes no corpo e se chama apetite sensitivo, faculdade que deseja os objetos bons, mas sensíveis, quer dizer, aqueles objetos apreendidos pelos sentidos; e depois dos sentidos pela imaginação. É o desejo do bem, mas não do bem espiritual, intelectual, moral, mas do bem sensível, do bem que se apresenta aos sentidos e à imaginação.
Esta faculdade de desejar o bem sensível, não seria má, se fosse sempre ordenada. Mas que sucede? que muitas vezes deseja um bem que agrada aos sentidos: à vista, ao ouvido, ao tato; mas que é mau moralmente, porque é indigno do homem e porque é proibido por Deus. Que o homem deseje contemplar belas paisagens, monumentos artísticos, isso não é mau; mas que deseje ver objetos desonestos, isso é desordenado. Que o homem deseje ouvir música delicada, conversas dignas, não é mau; mas que deseje ouvir chistes grosseiros, conversas impuras, canções obscenas, isto é desordenado. E o que dizemos do ouvido e da vista, podemos dizer do gosto e do tato e podemos dizer da imaginação.
Esse desejo, essa inclinação que sente o homem para o bem sensível, para o que agrada aos sentidos, mas que é indigno da natureza humana e, por conseguinte, é proibido por Deus, isso é o que chamamos concupiscência.
A concupiscência, neste sentido próprio, chama-se também "fomes pecati", instinto do pecado, estímulo do pecado; não porque essa tendência seja pecado, mas porque incita ao pecado, arrasta ao pecado, impele para o pecado. A concupiscência tem raízes no corpo do homem, por isso lhe chama São Paulo corpo de pecado, corpo de morte.
O homem que não quiser pecar, tem que lutar contra ela; e esta luta do espírito que não quer pecar, contra a carne que tende para o pecado, é a luta que têm que sustentar todos os homens. É a luta que experimentava São Paulo e que ele descreve dizendo que sente dentro de si dois inimigos continuamente em guerra: o espírito que quer subir para o céu e a carne que tende para a terra. Luta encarniçada que fazia o apóstolo exclamar: "quem me livrará deste corpo de morte?!". 
Esta inclinação com mais ou menos força sentem-na todos os homens. Até os santos a sentiram e para a enfraquecerem, e não chegar a vencer o espírito, fizeram penitências horrorosas. São Pedro Damião mergulhava-se em água gelada. São Jerônimo no deserto jejuava e martirizava tanto o seu corpo, que parecia um molho de raízes. São Bento atirava-se para o meio dos silvados.
Assim conseguiram reprimir e amortecer os ímpetos da concupiscência.

23 de outubro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

O Pudor, esplendor da Beleza Corporal


Parte 8/8

Compreenderam bem estas leis psicológicas os corrompidos e os corruptores da sociedade e pensaram: Para dominarmos as vítimas das nossas paixões, é necessário destruir o pudor, defesa da pureza. Só assim cairão nas nossas redes as avezinha incautas.
Destruamos esse pudor, vestígio dos séculos passados. Temos de tirar os travões a todos os instintos da carne. Porque não, se todos eles são bons? Para que violentá-los? Deixar que a natureza se expanda e vá onde a leve o impulso da paixão. Mas como se destrói o freio do pudor tão arraigado na natureza humana e mais ainda nas almas cristãs?
Como? A psicologia ensina-nos o procedimento. Por meio do exemplo.
Que as crianças e os jovens se acostumem a olhar para atitudes desenvoltas; que se despojem desse sentimento que as torna retraídas e recatadas; e quando o comportamento exterior é desenvolto, insolente, os sentimentos internos terão desaparecido também e a defesa da castidade estará desfeita.
Digamos à mulher: Porque não hás de ser atrevida como o homem? Porque não hás de frequentar  os bares e os cafés a ali adotar as mesmas atitudes que o homem?  Porque não hás de praticar os mesmos desportos que o homem? Porque não hás de fazer os mesmos exercícios ginásticos? Porque não hás de beber e fumar como o homem? Que é que isso tem de mau?
É verdade, isso não tem nada de mau, repete a mulher. Porque não me hei de colocar ao mesmo nível que o homem?
E não repara que todo esse plano de campanha é destinado a destruir o seu pudor e a deixá-la inerme nas mãos do homem corrompido.
Sabeis onde vos conduzem essas liberdades? À escravidão dos vossos maiores inimigos, às garras dos libertinos que vos converterão em joguete das suas paixões.
Perguntareis se realmente esta conduta criminosa teve êxito. Olhai em redor. Que vedes? Por toda a parte a jovem típica a que se acostuma chamar moderna.
Os seus traços são inconfundíveis: andar desenvolto, olhar descarado, riso estridente, modos provocantes, rosto desfigurado pelas pinturas, vestidos curtos, ajustados, transparentes, com alguma novidade que atraia os olhares. Entra no café e as suas atitudes em nada se diferenciam das do jovem que a acompanha; como ele fuma e como ele bebe. Vê-la-eis nos campos de desporto e nas praias, onde possa chamar a atenção, sempre provocante, desenvolta, sempre só ou melhor mal acompanhada, porque isso de andar sempre com uma pessoa de confiança ao lado, diz  Santo Ambrósio da Santíssima Virgem, e dizem-no as senhoras do século passado que não compreendem a geração atual, isso hoje em dia é uma coisa ridícula. Se vos aproximais dum grupo dessas jovens modernas e a vossa delicadeza o aguentar, ouvireis conversas tão escabrosas, tão cruas como não as têm talvez um grupo de rapazes. Uma palavra inconsiderada faz estremecer uma jovem digna e cobre-lhe o rosto de carmim. Essas jovens modernas, pelo contrário, essas são as que fazem corar os outros e gabam-se disso.
Pintura exagerada? - Não. Vós mesmos dizeis: realidade um pouco mitigada, porque eu ainda podia dizer mais.
Diz-se que o pudor natural não desaparece nunca por completo. Seja assim. Mas quanto pudor ficará nessas jovens e nessas senhoras que se gabam de ser modernas?
Se a Santíssima Virgem saísse por essas ruas, se pudesse andar por elas sem manchar a sua pureza, se a Virgem Imaculada pudesse entrar nessas tertúlias, nessas salas de recreio, nesses salões de espetáculos, a cujas portas ficam chorando os anjos da guarda, e pudesse ouvir aquelas conversas e ver aqueles gestos de jovens cristãs e presenciar tudo isso que sabeis . . . Que horror! . . . Tu, irmã do meu Filho Jesus! . . . Tu, minha filha! . . . Afasta-te, não te conheço.
E se desapareceu o pudor, que pensar da pureza?
Se sabeis que há uma praça forte cobiçada por inimigos poderosos e sabeis que essa praça já esta cercada pelos inimigos e que a mesma cidade retirou as suas defesas, não podeis deduzir com razão que o inimigo ou entrou nessa praça ou esta a ponto de entrar? Pois bem, todos sabeis que a pureza é cobiçada por muitos inimigos e esses inimigos cercam-na e estão em posição de a assaltarem . . .  E sabeis também que a posição avançada, a defesa da pureza é o pudor. Se vedes que essa defesa desapareceu já, que tendes direito a suspeitar? Que a pureza ou sucumbiu, ou esta a ponto de sucumbir.
O pudor não é a própria natureza, é verdade, mas é o seu rebento espontâneo; se esse rebento não aparece, que pensar da raiz? Não estranheis, portanto, que a jovem sem pudor seja menosprezada pelas pessoas prudentes. Não estranheis que lhe percam o respeito.
Aparece na rua com a atitude provocante; e para ela se dirigem olhares dos licenciosos, e com os olhares, o comentário soez e a frase maliciosa. E que tem de espacial? Se as pessoas vêem que a jovem não se respeita a si mesma, como a vão respeitar? Pelo contrário. Passa pela rua uma jovem recatada, modesta. O olhar, os gestos, o vestido tudo parece que vai dizendo: respeitai-me E à sua passagem, os olhos e as línguas atrevidas refreiam-se. A virtude infunde sempre respeito.
Com razão Santo Ambrósio, depois de apresentar às jovens cristãs o retrato da Virgem Maria, lhe dirige estas palavras: "Aprendam as virgens a ser vigilantes de si mesmas e guardas do seu recato, se desejam que as pessoas as venerem".
Aprendam, sim, as jovens cristãs a conservar o pudor e serão respeitadas pelas pessoas, serão admiradas pelos anjos, serão queridas da Santíssima Virgem, serão estimadas por Jesus Cristo, serão amadas por Deus.

21 de outubro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

O Pudor, Esplendor da Beleza Corporal


Parte 7/8

Pudor mais ou menos sensível concede-o Deus a todos os homens; e mais delicado ainda na mulher, porque esta necessita mais defesa. Mas esse pudor natural pode afinar-se com uma educação esmerada e pode também embotar-se e perder quase toda a sua sensibilidade.
Pais e mães, desejais que os vossos filhos ostentem no seu rosto esse brilho de dignidade, de moderação, de delicadeza; numa palavra, de pudor? Desejais que ao chegar a idade da luta, essa idade crítica em que a maioria dos jovens sucumbem, vossos filhos saiam incólumes do perigo e que as pessoas sensatas apontando-os com o dedo digam: esse é um jovem modelo; uma jovem sem mancha; se os meus filhos fossem assim! Desejais isto, não é verdade? Pois podeis consegui-lo em parte.
Educai o pudor de vossos filhos. E como o educareis?
Vigiando as suas ações, quando pequenos: olhares, conversas, companhias, leituras, espetáculos, coibindo a sua curiosidade de ver e de saber, corrigindo todo o gesto, toda a posição indecorosa, sem exageros, mas com seriedade e constância.
Mas sobretudo educai esse instinto do pudor pelo exemplo: porque sem ele todos os outros meios serão ineficazes.
A criança desde os primeiros anos procura imitar os gestos, as palavras, dos que a rodeiam: pais, irmãos, amigos e até criados.
A criança dificilmente compreende as instruções e os conselhos teóricos, mas tem uma tendência para reproduzir o que vê; isso imita e isso aprende.
Copia pouco a pouco o comportamento exterior dos que a rodeiam e simultaneamente vão despertando os sentimentos da alma correspondentes a esse comportamento, pois os gestos exteriores criam na alma os afetos correspondentes a essas manifestações externas.
Imitando os gestos duma pessoa encolerizada desperta-se na alma o sentimento de ira. Reproduzindo a expressão externa da modéstia, criam-se na alma os sentimentos do pudor; e pelo contrário; adotando atitudes descompostas, vão-se perdendo esses sentimentos.
São leis psicológicas confirmadas pela experiência de todos os dias.
Quereis que os vossos filhos tenham pudor? Pois cuidai que todo o seu comportamento exterior seja recatado. Educa-se também o seu pudor apresentando-lhes crianças modelos que possam imitar.
Ponde-lhes nas mãos as vidas dos santos jovens que foram exemplos de pureza: São Estanislau Kostka, São Luis Gonzaga, Santa Teresa do Menino Jesus.
Apresentai-lhes a pessoa de Jesus Menino e de sua Santíssima Mãe, a mais modesta das criaturas.
E sobretudo ponde-vos vós mesmo diante deles, com tal moderação e recato em toda a vossa conduta exterior, que a vão copiando insensivelmente. Esse é o meio eficaz.

19 de outubro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

O Pudor, Esplendor da Beleza Corporal


Parte 6/8

Mas o pudor dos santos ficou obscurecido pelo pudor da rainha de todos eles. Assim tinha que ser, se Maria tinha de ser o modelo mais perfeito das almas puras, se o pudor é a flor da pureza e ela era a própria pureza, a Virgem das virgens.
Acabamos de admirar a beleza corporal de Maria; o encanto natural da Mãe de Deus era realçado pelo pudor virginal que brotava da sua alma. "Graça sobre graça a mulher pudica", diz a Sagrada Escritura.
Não consideraremos exageradas as palavras de São Dionísio Aeropagita que viveu no primeiro século da Igreja; "Se não acreditasse no teu filho, ajoelhar-me-ia a teus pés e te adoraria a ti como a imagem única da divina majestade. Se não tivesse fé, acreditaria que és mais bela que Deus criador do mundo".
A pena delicada de Santo Antônio tratou de desenhar um retrato da Virgem Santíssima para o dar como modelo às Virgens cristãs: "É virgem no corpo e na alma limpa de afetos desordenados. Prudente no juízo, grave e comedida no falar, recatada no trato, amiga do trabalho. Não ofende a ninguém, serve a todos, é respeitosa para com os mais velhos, é afável com os iguais. Nunca deu um desgosto a seus pais nem com um leve gesto. Nunca ofendeu aos seus parentes. Nunca afligiu o humilde, nem menosprezou o fraco, nem virou as costas ao necessitado, nem teve trato com homens, além do que pedia a misericórdia e tolerava o pudor. Seus olhos não conheceram o brilho da luxúria, nem as suas palavras soaram com acentos de provocação, nem no seu porte faltou alguma vez à decência. Nem movimentos indecorosos, nem andar descomposto, nem voz presumida se viram jamais nela. O seu comportamento refletia em troca a pureza interior da sua alma. Inimiga da rua, não sai de casa senão para visitar o templo e sempre acompanhada por seus pais ou pessoa de família, não porque necessitasse de guardas a sua honestidade, porque levava no recolhimento a melhor defesa, mas por maior decoro e modéstia, o que resplandecia nos seus modos e palavras de tal maneira que granjeava o respeito e veneração de quantos a viam afastada das vaidades e entregue inteiramente à virtude."
E o Santo Doutor termina: "Aprendam as virgens a ser vigilantes de si mesmas e observantes do seu recato, se desejam que as pessoas as venerem."

17 de outubro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

O Pudor, Esplendor da Beleza Corporal


Parte 5/8

O pudor é salvaguarda da pureza e ao mesmo tempo é o brotar da própria pureza; porque a alma, quanto mais pura, mais delicado tem o instinto do pudor.
Deus escolheu São Estanislau Kostka para ideal de pureza dos jovens; e que pudor tão sensível colocou na sua alma! É ainda criança, vive num ambiente de candor e inocência; mas se ouve uma palavra menos recatada, as suas faces tingem-se de rubor, ergue os olhos ao céu e cai desmaiado.
Tende cuidado, diz seu pai o senador da Polônia, às numerosas visitas que acodem ao seu palácio; sede recatados no falar, porque meu filho Estanislau desmaia se ouve alguma palavra indecorosa.
Deus destinou Santa Teresa do Menino Jesus para espelho de pureza das jovens modernas. E que pudor virginal colocou na sua alma! Olhai para os retratos que dela temos: o candor do seu rosto, o recato dos seus modos, a modéstia dos seus vestidos. Reparai no retrato que as professoras fizeram dela colegial: "Menina encantadora pela sua sensatez, com reflexos de pureza angélica, que lhe davam uma expressão celestial."
Reparai no retrato que da noviça fez a sua mestra: "Havia nela algo que inspirava respeito e parecia dizer: não me toquem".
Reparai enfim, no retrato que Sua Santidade Pio XI faz da Santa: "Teresa foi uma donzela muito semelhante aos anjos, pelo candor de sua alma e mesmo pelo seu aspecto exterior".

15 de outubro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

O Pudor, Esplendor da Beleza Corporal.


Parte 4/8

E o que é o pudor?
O pudor sente-se, conhecem-se os seus efeitos; mas dificilmente se define. O pudor é um freio que Deus pôs na natureza humana para que contenha a vontade quando as paixões a queiram arrastar até um objeto pecaminoso.
Imaginai uma máquina de comboio perfeitamente adaptada para que a sua velocidade nunca exceda os cinquenta km por hora.
A pressão do vapor que cresce e a descida pela encosta de uma montanha aumentariam a sua velocidade a sessenta, oitenta, cem km à hora, com perigo de descarrilhamento. Mas imaginai que está máquina está provida de um freio automático que gradua continuamente a marcha e em virtude desse freio a velocidade não excede nunca os cinquenta km.
O pudor dos homens é uma coisa assim como o freio dessa máquina.
As paixões, como o vapor na máquina, empurram a vontade para o prazer; os incentivos exteriores, como a encosta da montanha, favorecem o impulso das paixões e a vontade ver-se-ia arrastada ao pecado se não tivesse um freio que funcionasse instintivamente no momento em que se apresenta ao alcance do homem o objeto pecaminoso; esse freio é o pudor.
O pudor que em presença do perigo faz com que o homem recolha os seus sentidos e cubra o seu corpo e modere os seus gestos e seja recatado nas palavras e cubra o rosto com o carmim do rubor.
Dar-vos-ei outra comparação para explicar a natureza do pudor.
Conheceis certamente essas plantas que se chamam sensitivas. Ao mais leve contato fecham as folhas e as pétalas, como se quisessem defender-se do que se chega para lhes tocar.
Assim é a alma pudica. Logo que aparece o perigo que pode manchar a sua pureza, recolhe os sentidos, compõe o seu exterior e põe-se em vela para se defender da tentação.
Pio XII descreve primorosamente a natureza do pudor:  "A  natureza pôs nos seres criados um instinto que os impele a defender a própria vida e a integridade dos seus membros; e a natureza e a graça, que longe de se destruírem se aperfeiçoam, puseram na alma como que um sentido que a põe em guarda contra os perigos e os assaltos que espreitam a pureza e que é especialmente característico da rapariga cristã". Como vedes, o pudor não é a própria pureza, mas a sua defesa.
O pudor defende a castidade como as folhas das árvores defendem os frutos, disse São Gregório Nazianzeno. E podíamos acrescentar que a defendem como a casca protege a medula da fruta.

12 de outubro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

O pudor, Esplendor da Beleza Corporal


Parte 3/8

Quantas vontades débeis sucumbem nessa luta cruel e contínua!
Que energias necessita a vontade para não se deixar arrastar pela corrente de sensualidade que está passando sobre a terra e a arrasta toda na sua passagem. Para que a vontade possa resistir é necessário robustecê-la.
Antes de levar um soldado para a frente de batalha, treinam-no, acostumam-no a uma vida dura, endurecem-no com exercícios difíceis, para que depois possa suportar as incomodidades da campanha e os ataques dos inimigos.
Isto é a vontade humana. Um soldado que tem de lutar, lutar sem tréguas, resistir a inimigos muito poderosos, para isso tem que se robustecer para a luta. Como se robustece a vontade?
Acostumando-a a impor sempre as suas ordens, a não se deixar levar pelos caprichos, a não se quebrar pela indolência; acostumando-se ao sacrifício nas coisas pequenas, para que saiba sacrificar-se nas grandes.
A condescendência da vontade com a preguiça, com a gula, com o comodismo debilitam a vontade para os combates mais árduos. E essa vontade não tem nenhum aliado que a ajude neste penoso batalhar? Sim, tem-no e muito poderoso, mais poderoso que os seus inimigos.
Tem o auxílio do céu, que virá prontamente quando o peça.
Tem o santo temor de Deus. Quando as verdades eternas estão bem arraigadas na alma, ao aparecimento da tentação, o temor de Deus desperta a sua recordação, e fortalecida com ele a vontade, contém-se no declive do pecado.
Esses são os aliados da vontade e quando a luta é para conservar a pureza, tem ainda outra ajuda que Deus pôs na própria natureza do homem.
Essa ajuda é o pudor.

10 de outubro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

O pudor, Esplendor da Beleza Corporal


Parte 2/8

O pudor é o guardião da pureza.
O templo de Jerusalém foi o lugar mais venerável da antiguidade.  Ali se ofereciam a Deus sacrifícios prescritos pela Lei; ali se comunicava Deus com os homens e lhes manifestava a sua glória.
O próprio Deus dirigiu a sua construção nos mínimos detalhes. As madeiras mais preciosas, os mais ricos metais foram empregados na sua construção. Destruído várias vezes, outras tantas reedificado.
O templo que os olhos de Jesus contemplaram era de uma magnificência suntuosa. A fachada era recoberta de espessas lâminas de ouro que batidas pelos raios de sol resplandeciam com cintilações de fogo. As paredes e torreões de pedra branca como o marfim, assemelhavam-se ao longe a uma montanha de neve. E para que as aves não se pousassem nele nem o manchassem, o telhado era eriçado de finíssimas agulhas de ouro. Nem sequer o roçar das aves devia manchar o ouro e a neve daquele templo venerando.
Templo do Espirito Santo chama São Paulo ao cristão. Templo purificado e consagrado a Deus no batismo.
O demônio habitava nesse templo e o sacerdote soprando suavemente no rosto da criança ordenou em nome de Jesus Cristo: " Sai dele, espírito imundo; deixa o posto ao Espírito Santo."
As águas santificadoras caíram sobre a fronte da criança; a sua alma ficou mais branca e mais limpa que a neve; o Espírito Santo penetrou nela e revestiu-a com o ouro da caridade. A caridade de Deus difundiu-se nos vossos corações.
O sacerdote consagra aquele templo ao Espírito Santo, ao serviço de Deus, fazendo o sinal da cruz na fronte e no coração da criança: "que os teus costumes sejam dignos e tais, que possas ser um templo de Deus".
E para que o ouro e a neve desse templo não se manchem, para que a pureza e a caridade da alma não percam o brilho, Deus pôs nesse templo uma defesa; sabeis qual é? - O pudor.
O pudor é a defesa que Deus deu ao homem para que conserve imaculada a pureza do seu corpo e da sua alma. O pudor é como as agulhas de ouro do templo de Jerusalém.
Disse São Cipriano às virgens cristãs: "Tende cuidado que nada de impuro e de profano entre nesse templo de Deus para não ficar ofendido e não abandonar essa morada o que a habita". Nada de impuro, mais ainda, nada de profano, deve manchar o templo de Deus; e o guardião zeloso desse templo há de ser o pudor.
Conquistar a vontade, essa é a aspiração suprema dos inimigos da alma. Todos os seus assaltos vão encaminhados para isto: a conquista da vontade. E porquê? Porque a vontade é a autora do pecado. Quando a vontade aceita livremente o que Deus proibiu, o pecado está consumado. Enquanto a vontade permanecer firme, os inimigos estão em derrota. Pobre vontade humana! Tão débil como é e com tantos inimigos que a arrastam ao pecado!
O mais traidor de todos eles é o seu companheiro inseparável: as paixões. As paixões que se lançam cegamente nos prazeres que lhes apresentam os sentidos e querem arrastar consigo a vontade. Essas paixões têm um aliado muito poderoso: o mundo.
Que seduções atraentes oferece às paixões a sociedade moderna! Nas ruas, nos salões de diversões. Esses objetos pecaminosos são como ímãs que atraem fortemente as paixões humanas. E a pobre vontade, se não quer ofender a Deus, se quer conservar sem mancha a pureza da alma e a pureza do corpo, tem que lutar e resistir energicamente a esse duplo inimigo associado.

8 de outubro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

O Pudor, Esplendor da Beleza Corporal


Parte 1/8

Diz a Sagrada Escritura: "graça sobre graça, a mulher santa e pudica".
A beleza própria da mulher realça-se com a santidade e com o pudor.
Acabamos de ver que a Virgem Santíssima foi belíssima de corpo, porque foi mulher perfeita, porque foi santíssima, porque tinha algo de divino; mas essa beleza do corpo da Santíssima Virgem era realçada pelo brilho do pudor.
Tão pouco lhe devia faltar esse encanto exterior.
 O pudor podemos dizer que é defesa da pureza e que é rebento espontâneo, floração exterior dela; por isso não pode faltar na Santíssima Virgem.

6 de outubro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

Beleza Corporal da Santíssima Virgem


Parte 6/6

E agora vem o assunto principal. Sendo tal a beleza de Maria, como a podemos imitar?
Isto é o mais maravilhoso, porque precisamente por ser de tal natureza essa beleza pode-se imitar.
A beleza de Maria, como disse Teódoto de Ancira, não é beleza de flor artificial conseguida com pinturas postiças, é beleza de rosa natural, beleza nascida de dentro, que espontaneamente, naturalmente, brota para o exterior.
Essa beleza portanto não se consegue pintando o rosto com pinturas artificiais, consegue-se imitando interiormente a alma da Virgem Maria.
Consegui-la-ás fazendo que cresça na tua alma a graça santificante.
Consegui-la-ás cultivando todas as virtudes. Consegui-la-ás crescendo todos os dias em santidade.
Consegui-la-ás comunicando-te muito intimamente com Deus. E consegui-la-ás cultivando a virtude da virgindade, essa raiz onde os Santos Padres creem encontrar a causa principal da beleza corporal de Maria.
Todas essas belezas sobrenaturais, divinas, todas elas juntas transparecerão no teu semblante e em todo o teu corpo e em todas as tuas ações e terás um encanto indefinível que jamais as mulheres mundanas poderão imitar com todos os cremes e pinturas do seu toucador.
Encanta-te a beleza?
Procura a beleza verdadeira; procurando essa beleza não pecarás, pelo contrário, merecerás que Deus te olhe com agrado e que Jesus Cristo te olhe com uma complacência semelhante à que sentia quando olhava para sua Mãe; e, sobretudo, olhará para ti encantada a Santíssima Virgem, porque verá que reproduzes a sua beleza com mais perfeição que os quadros dos melhores artistas, e que te podes chamar com toda a verdade sua filha.

4 de outubro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

Beleza Corporal da Santíssima Virgem


Parte 5/6

Agora compreendeis porque nenhuma pintura da Santíssima Virgem nos satisfaz.
Temos uma ideia grande da beleza de cada virtude, sabemos que a Santíssima Virgem teve todas as virtudes e esperamos ver no seu semblante o esplendor de todas elas.
Temos uma ideia elevadíssima da beleza da virgindade e sabemos que Maria teve essa virtude celestial em maior grau que os anjos e queremos descobrir no seu semblante todos os encantos dessa virtude angelical; procuramos o pudor e a modéstia, floração da pureza em toda a sua exuberância primaveril.
Adivinhamos o que deve ser uma alma na graça de Deus, sabemos que Maria era cheia de graça e esperamos encontrar no rosto da Virgem Maria o transbordar exterior de toda essa beleza interior.
Temos alguma experiência da beleza sobrenatural da santidade que admiramos e veneramos nas pessoas santas; sabemos que a Mãe de Deus foi mais santa que todos os santos juntos e queremos ver retratada em seu rosto toda a santidade da sua alma.
Sabemos que Maria é um ser excepcional,  que se eleva sobre todos os seres criados, sobre os homens e sobre os anjos e se aproxima mais que todos eles de Deus e, por conseguinte nela tem que refletir-se mais que em nenhum ser criado a própria beleza de Deus, e com razão procuramos no rosto de Maria algo da beleza infinita da divindade.
Todas estas belezas juntas teve a Santíssima Virgem, por isso foi toda bela e com toda a razão as procuramos juntas nas suas imagens; e como não as encontramos, nem as podemos encontrar, por isso todas as suas imagens decepcionam e, por muito belas que sejam , exclamamos: Maria tinha que ser muito mais bela.
Somente podia fazer uma imagem menos imperfeita de Maria, o artista que sentisse as belezas do mundo sobrenatural, as belezas de todas as virtudes, a beleza da graça santificante e sobretudo a beleza sutil, impalpável, ultraterrena da virgindade.
O que não sentiu isto, que parta os seus pincéis antes de pintar uma imagem da Mãe de Deus, porque a profana.
Para pintar o rosto de Maria, não basta conhecer a técnica do desenho e do colorido, não basta ter estudado as obras primas dos museus; não basta copiar os modelos mais completos da beleza humana da mulher; é necessário compreender, sentir e adivinhar belezas de uma ordem sobrenatural e divina.
Algo disso compreendiam os artistas do século de ouro, porque tinham fé muito arraigada; por isso nos deixaram as imagens mais belas de Maria apesar de distarem quase o infinito da realidade.
Os artistas sem fé, que só consideram a arte um negócio, esses pintaram caricaturas grotescas da Mãe de Deus, que deviam ser queimadas.

2 de outubro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

Beleza Corporal da Santíssima Virgem


Parte 4/6

Mas procuremos já a raiz da beleza exterior de Maria.
É um fato evidente que as almas transparecem através do corpo. Transparecem os vícios e transparecem as virtudes, transparecem a ira e a sensualidade. É que os atos repetidos dessas paixões vão deixando como petrificados no rosto os traços, as expressões que toma o rosto quando está em atividade a paixão. E como transparecem os vícios, também transparecem as virtudes. É este o argumento principal que exploram os antigos escritores eclesiásticos para ponderar a beleza física de Maria.
A beleza interior da alma de Maria era incomparável. Era-o a sua beleza moral e era-o também a sua beleza espiritual. Pois bem, toda essa beleza interior transparecia através do seu corpo.  O seu corpo visível era como uma estátua da alma invisível. A formosura e perfeição da alma irrompia no corpo e transformava-o, como a luz do sol se esconde numa nuvem e a ilumina e transforma. A luz do seu espírito ardia no vaso de alabastro do seu corpo. O porte do seu corpo era a imagem da sua alma, disse Santo Ambrósio.
É que a sumptuosidade de um palácio conhece-se no vestíbulo: desde que se entra nele entrevê-em-se os esplendores de dentro.
E Teódoto de Ancira, depois de expor as artes da vaidade com que exteriormente se arranjavam as mulheres do seu tempo, terminava dizendo que a beleza exterior da Virgem não foi artificial e rebuscada, mas nascida de dentro, como a rosa natural, em oposição à rosa artificial.
Por conseguinte, para que pudéssemos adivinhar a beleza corporal de Maria, teríamos que conhecer a beleza moral, a beleza espiritual e, poderíamos dizer, a beleza quase divina da alma de Maria.
Cada virtude tem um encanto especial que se comunica ao exterior do corpo, a inocência, a humildade, a mansidão.
Maria teve todas as virtudes no mais alto grau e todas elas deixavam transparecer os seus encantos para o exterior. Que conjunto de beleza tão admirável! Os encantos de todas as virtudes a transparecerem no rosto de Maria!
Por isso, disse Santo Ambrósio que Maria era "figura bonitatis", a imagem própria da virtude e da bondade. Todas as virtudes morais são fontes de beleza na Mãe de Deus; mas os escritores primitivos coincidem em que a raiz principal da sua beleza corporal era a virgindade. A virgindade sobre humana e celestial. A virgindade interior floresce no exterior com as belas flores da modéstia e do pudor. Essa modéstia que é a moderação, o equilíbrio, a perfeição de todas as atitudes exteriores do homem. Esse pudor que dá um tom encantador a todos os sentidos, e tinge as faces com o belíssimo carmim do rubor.
A virgindade é a raiz principal da beleza exterior e Santo Ambrósio disse de Maria que era "imago virginitatis", o retrato vivo da virgindade.
Além da beleza moral existe outra beleza interna que é a beleza da alma que tem a graça santificante. A graça santificante é uma participação da própria beleza de Deus. Todas as belezas da terra são como que uma derivação da beleza de Deus. Como o raio de luz se desprende do sol, como o fio de água se desprende da fonte, assim todas as belezas da terra se desprendem da fonte de toda a beleza, do sol de toda a formosura, que é o mesmo Deus.
O céu estrelado, as paisagens da terra, os encantos das pessoas. Mas há algo mais belo que tudo isso, porque não é somente sinal de Deus, mas é a imagem verdadeira do mesmo Deus, é a graça santificante; essa graça que dá a beleza aos anjos e aos bem aventurados do céu.
E essa graça, fonte preciosa de beleza sobre natural, teve-a Maria num grau tal, como nunca ninguém a teve. Essa beleza interior da graça que se nota em todos os santos e lhes comunica um tom sobre humano que cativa e impressiona, esse aspecto exterior da santidade interior, teve-o Maria num grau incomparável. Com razão podemos dizer-lhe: "Tota pulchra es, Maria". Verdadeiramente sois toda bela, Maria.
A alma de Maria tinha ainda outra beleza maior, algo de beleza divina, que não possuiu nenhuma outra pessoa; e a causa desta beleza era a sua maternidade divina.
O contacto com o próprio Deus feito homem, nas suas entranhas. As flores deixam o seu perfume na casa onde estão algum tempo; a divindade esteve encerrada nove meses no seio de Maria; como não havia de deixar ali algo de divino? E algo de divino que existia no interior de Maria tinha que transparecer também no exterior e comunicar a seu corpo qualquer coisa da beleza da divindade.
A beleza de Deus refletindo-se no nosso barro, como a luz do sol se reflete na lua opaca e fria.
Maria tinha no seu exterior algo daquele encanto, daquele atrativo irresistível de Jesus Cristo que arrastava após si as multidões. Com toda a razão podemos entoar à Virgem Imaculada este louvor: "Toda pulchra es, Maria". Sois toda bela, ó Maria!

1 de outubro de 2018

A Comissão Pontifícia Ecclesia Dei como organismo encarregado da forma extraordinária do rito romano Pe Mateusz Markiewicz

A Comissão Pontifícia Ecclesia Dei – Pe Mateusz Markiewicz [Conferência]


A Comissão Pontifícia Ecclesia Dei como organismo encarregado da forma extraordinária do rito romano

Pe Mateusz Markiewicz

Antes de tudo, eu gostaria de agradecer meus confrades de Belém, e especialmente o Padre José Zucchi, pela possibilidade que eles me deram de participar de suas celebrações do 10º aniversário da Missa tradicional em Belém. Que Deus os abençoe e que Nossa Senhora os proteja.
Enquanto eu decidia o tema desta conferência, eu parei para pensar sobre a instituição responsável oficial da liturgia tradicional, este encargo sendo a ela conferida pela vontade do Papa e em seu nome. Esta instituição é a Comissão Pontifícia Ecclesia Dei, que é um organismo muito conhecido, mas pouco presente em publicações. Ora, a explicação sobre a natureza deste organismo curial e as suas competências podem ser úteis para aqueles que desejam difundir as informações sobre a Missa do vetus ordo, sobretudo no objetivo de abrir novos lugares para a celebração da Santa Missa.
Para lhes falar desta comissão, eu procederei por etapas. Na primeira parte, serão tratadas as origens e o desenvolvimento das competências desta parte da Cúria Romana. Na segunda parte da conferência, eu gostaria de lhes apresentar as normas canônicas atuais sobre o assunto da forma extraordinária do rito romano. Essas normas foram estabelecidas pela Comissão e ela é encarregada de executá-las.
I – As origens e o desenvolvimento da Comissão Pontifícia Ecclesia Dei
Para falar de um organismo da Cúria Romana, é bom citar a definição que São João Paulo II nos dá na Constituição Apostólica Pastor Bonus : “A Cúria Romana é o conjunto de Dicastérios e de organismos que ajudam o Pontífice no exercício da seu encargo supremo de pastor para o bem, para o serviço da Igreja universal, e também das Igrejas particulares, exercício pelo qual são reforçadas a unidade da fé e a comunhão do povo de Deus, pelo qual se desenvolve a missão própria da Igreja no mundo” (PB, art. 1).
Aplicando esta definição ao nosso caso em particular, o que é legítimo mesmo que a Comissão não apareça em tal documento, nós podemos dizer que, primeiro, a Ecclesia Dei é constituída para ajudar o Papa, em vista do serviço da Igreja. Enquanto um organismo da autoridade suprema da Igreja, a Comissão deve reforçar a unidade da fé e dos sacramentos entre os fiéis. Mas esta explicação merece ser aprofundada, pela apresentação da história da Comissão. De uma maneira que corresponde à cronologia da legislação canônica, nós podemos distinguir dois períodos: o primeiro, desde a criação da Comissão até a sua unificação com a  Congregação para a Doutrina da Fé  e o segundo começa com essa unificação e dura até os nossos dias.
  1. De 1998 até 2009
No primeiro parágrafo do Motu Próprio Ecclesia Dei, do dia 2 de julho de 1998, São João Paulo II explica a razão deste documento: as consagrações episcopais feitas no dia 30 de junho de 1988 por Dom Marcel Lefebvre, sem mandato pontifício. Lembrando seu dever de guardar a unidade da Igreja, o Papa julga o ato de Monsenhor Lefebvre como uma grave desobediência e declara sua excomunhão, como também as dos quatro Bispos sagrados por ele.
No entanto, o Papa polonês percebe que é preciso cuidar daqueles que são ligados à forma antiga da liturgia e ele se propõe como objetivo guardar a unidade com eles. Por esta razão, ele instituiu a Comissão Pontifícia Ecclesia Dei, decidindo que ela terá um Cardeal como presidente.
A primeira tarefa desta Comissão será estabelecer a plena comunhão eclesial com os membros da Fraternidade Sacerdotal São Pio X e as comunidades anexas. E é somente em segundo lugar que o Pontífice afirma uma vontade mais generosa de dar acesso à liturgia tradicional: “Nós deveremos respeitar em todo lugar as disposições interiores de todos aqueles que se sentem ligados à tradição litúrgica latina, e isso por uma aplicação larga e generosa das diretivas dadas em seu tempo pela Sé Apostólica para o uso do Missal Romano segundo a edição típica de 1962”.
Pelas diretivas, é preciso compreender aqui as disposições da Carta da Congregação para o Culto Divino Quattuor Abhinc Annos. Vale lembrar que essas normas eram muito estritas, pois a celebração da Missa segundo o missal de 1962 devia ser somente para os grupos que a pediam e nas igrejas não paroquiais, salvo exceção.
Nós podemos então ver que, no momento de sua instituição, a Comissão Pontifícia Ecclesia Dei não tinha como finalidade o se encarregar daqueles que desejavam guardar as formas litúrgicas de antes da reforma do beato Paulo VI. Ela foi criada para restaurar a unidade com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X. É a visão do documento que emana do próprio Papa. Mas  tal visão das competências da Comissão seria distorcida se não fosse tomada em consideração a audiência que foi concedida ao primeiro Presidente da Comissão, Cardeal Augustin Mayer, no dia 18 de outubro de 1988, que era o Prefeito da Congregação para o Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos.
Nós podemos conhecer os frutos desta audiência graças ao escrito que foi publicado em seguida. Podemos ver neste documento um desenvolvimento muito interessante da ordem de tarefas da Comissão, pois as primeiras frases aprovadas no decorrer desta audiência não tratavam da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, mas do uso do Missal de 1962. A Comissão recebe então, a faculdade de proporcionar o uso do Missal de 1962 para aqueles que o pediam, informando deste fato o bispo diocesano. Entre outros poderes dados à Comissão se encontra sobretudo a possibilidade de erigir Sociedades de Vida Apostólica e Institutos de Vida Consagrada que guardem a antiga disciplina litúrgica. É também essa Comissão que exerce a tutela destas sociedades e institutos, e não a Congregação respectiva. Enfim, a comissão pode tornar válidos os casamentos celebrados sem a forma canônica, ou seja, diante de um padre não autorizado pelo bispo. Ela pode também acolher na plena comunhão os padres e diáconos saídos da Fraternidade Sacerdotal São Pio X.
As primeiras mudanças nas atribuições da Comissão são dadas pelo Motu Proprio Summorum Pontificum. Como primeira mudança, nós podemos mencionar o fato de que a Comissão não é mais um organismo a consultar para poder celebrar a Missa sem o povo segundo o Missal de 1962, pois é em virtude do próprio direito que cada padre pode utilizá-lo (cf. SP, art. 2) Uma competência mais importante é, no entanto, reconhecida à Comissão : ela se responsabiliza pelas situações nas quais o bispo diocesano não quer satisfazer o pedido dos fiéis de ter a Missa segundo o vetus ordo. Trata-se de uma via de recursos que é dada aos fiéis, mas eu falarei disso depois (cf. SP, art, 7). Mas a Comissão tem também por tarefa ajudar o Bispo que queira encontrar uma solução, mas que encontra dificuldades (cf. SP, art. 8). Enfim, a existência da Comissão e das suas prerrogativas está confirmada (cf. SP, art. 11-12), tudo isso sendo indicado que ela “exercerá a autoridade da Santa Sé, zelando pela observação e a aplicação destas disposições” (SP, art. 12).
A carta do Papa Bento XVI aos bispos, que deve acompanhar e explicar o documento motu proprio, adiciona alguns pequenos lembretes interessantes para nosso assunto. É uma carta mais pessoal do Papa, que quer tranquilizar os bispos sobre as intenções do Soberano Pontífice. Nesta carta, a Comissão recebe uma tarefa: estudar as possibilidades de inserir no Missal de São João XXIII os novos prefácios, assim como os novos santos.
Nós podemos dizer que, pouco a pouco, a missão da Comissão Pontifical Ecclesia Dei é esclarecida. Suas atribuições são especificadas e nós ressaltamos outra tarefa deste organismo, o cuidado da liturgia segundo o vetus ordo. Eu creio não exagerar dizendo que por esse fato, o Papa Bento XVI mostrou à Igreja que a ligação às antigas formas litúrgicas não é somente uma questão daqueles que aderem à Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Trata-se de um fato eclesiástico bem mais vasto e que se desenvolve. O objetivo é de curar o ferimento interno na Igreja, causada pela rejeição da tradição litúrgica própria para alguns. Donde a necessidade de ter um órgão da Cúria Romana, encarregado da unidade de fé e a comunhão do povo de Deus, em proveito da porção deste povo que é ligada às formas litúrgicas tradicionais. Mas a estrutura da Comissão não parará seu desenvolvimento em 2007.
  1. A Comissão Pontifícia Ecclesia Dei depois de 2009
O último passo decisivo para a estrutura da Comissão Pontifícia Ecclesia Dei foi feito com o Motu Proprio Ecclesiae Unitatem, de 11 de julho de 2009. O Papa Bento XVI lembra neste documento que um dos deveres principais de seu encargo é guardar a unidade da Igreja. Ele traça a história do desacordo com o movimento criado por Monsenhor Marcel Lefebvre, ele fala da sua ação para aumentar o acesso à Missa segundo o vetus ordo, das excomunhões dos quatro bispos consagrados por Monsenhor Lefebvre. Depois, ele apresenta suas decisões, a fim de manifestar sua vontade de dar as bases sólidas para continuar tanto o diálogo com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, quanto se responsabilizar da forma extraordinária do rito romano tradicional.
Para Bento XVI, antigo Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, a questão doutrinária das relações com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X é crucial. Para isso, ele decide ligar a Comissão Pontifical Ecclesia Dei a tal congregação. A fim de exprimir, de tornar real esta ligação, o Papa decide que o Prefeito da Congregação será de ofício o Presidente da Comissão. Ele será ajudado pelo Secretário da Comissão, que é o único cargo que não será o mesmo, pois ele é um cargo exclusivo da Comissão. As causas tratadas pela Comissão podem ser objeto de provas e de decisões tomadas pela plenária da Congregação, ou seja, pela reunião dos membros. A Comissão não tem então mais seus próprios membros, o que era o caso até então.
Temos então uma instituição que exerce o cuidado do Papa com a liturgia tradicional e nós podemos agora ver quais são as normas estabelecidas pela Comissão Pontifícia Ecclesia Dei na questão da celebração da Missa segundo o Missal de 1962.
  1. As normas canônicas atuais que concernem à celebração do vetus ordo
Sabemos bem que as leis litúrgicas, isto é o conjunto das regras aplicadas na liturgia, se encontram no próprio Missal. Elas têm o nome de Código de Rubricas, ajudado pelo Ritus Servandus, que é uma instrução para o Padre, escrita para ajudar a bem celebrar a Missa, segundo a vontade da Igreja. Estas disposições são de natureza estável, elas não levam em consideração as circunstâncias de lugar e tempo. Por isso, a Igreja faz as normas suplementares. É a Comissão Pontifícia Ecclesia Dei que é autorizada a publicá-las e ela o faz,  publicando a Instrução Universae Ecclesiae, do dia 30 de abril de 2011. Antes de apresentar o conteúdo desta instrução, me parece útil de falar um pouco sobre aquilo que nós compreendemos pela instrução no Direito Canônico. O can. 34, parágrafo 1, especifica que as instruções “explicitam as disposições das leis”“explicam e fixam suas modalidades de aplicação”. Não se trata então de criar uma nova lei, mas de precisar aquela que já existe, a fim de que aqueles que devem aplicar não tenham dúvidas sobre a compreensão de alguns termos. A Comissão Pontifícia Ecclesia Dei, que detém o poder executivo sobre o vetus ordo pela vontade do Papa, jugou bom o fato de dar normas mais precisas para a aplicação do Motu Proprio Summorum Pontificum. Entre a publicação desta, em 2007 e a publicação da Instrução, em 2011, certo tempo se passou. Certas dificuldades deviam surgir e a Comissão quis responder a isso, baseando-se sobre a experiência, adquirida durante esses anos de funcionamento das normas pedidas por Bento XVI.
  1. A Instrução Universae Ecclesiae
Vejamos de perto como a Comissão precisa essas normas. A Instrução é composta de três partes: a introdução, as competências da Comissão Pontifícia Ecclesia Dei e as normas particulares. Eu as apresentarei nesta ordem.
A introdução começa pela lembrança do pensamento litúrgico de Bento XVI e sua vontade de adaptar as normas do missal de 1962 às necessidades de nossa época (cf. UE, art. 1-3). Nós trataremos em seguida da introdução do Missal reformado pelo beato Paulo VI e de suas reformas sucessivas assim como do desejo de alguns fiéis de guardar as formas litúrgicas anteriores a esta reforma (cf. UE, art. 4-5). Vem em seguida a lembrança da existência de duas formas do único rito romano, a ordinária e a extraordinária (cf. UE, art. 6). Isso é seguido da conclusão da necessidade de editar as normas legais para o uso do Missal de 1962. Enfim, para fechar a primeira parte, o documento dá três razões pelas quais Bento XVI publicou seu Motu Proprio: dar o acesso ao tesouro do usus antiquior aos fiéis, fazer que o acesso a esta liturgia seja certo e dado abundantemente e favorecer a reconciliação na Igreja (cf. UE, art. 8).
Na segunda parte, a Comissão Pontifícia Ecclesia Dei precisa primeiramente que, no domínio tratado pelo Motu Proprio Summorum Pontificum, ela tem o poder ordinário vigário. Trata-se de um poder exercido em nome de alguém, aqui, se trata do poder do Papa, donde nós dizemos que ele é o vigário. Quando se diz que este poder é ordinário, se compreende o fato de ser ligado à Comissão enquanto tal. Ele é então, o órgão que exerce o poder sobre a liturgia tradicional de maneira estável (cf. EU, art 9 ; can. 131, § 1-2).
O que é muito importante, a Comissão explica em seguida que ela deve ser considerada como a superiora hierárquica para a qual é preciso enviar o recurso contra a decisão de um ordinário que parece ir contra as disposições do Motu Proprio Summorum Pontificum (cf. UE, art. 10, § 1). Para explicar de maneira mais simples, pode-se tomar um exemplo. Se um grupo estável de fiéis pede a seu bispo respectivo para ter a Missa segundo o vetus ordo, eles podem obter uma resposta negativa. Neste caso, este mesmo grupo pode então escrever à Comissão para contestar a decisão do bispo, e recorrer, de alguma maneira. Enfim, neste caso, naquilo que concerne à posição de superiora hierárquica, a Instrução adiciona que se podem contestar as decisões da Comissão diante do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica. É o primeiro tribunal administrativo da Igreja, se quisermos usar a terminologia próxima daquela de nossos sistemas legais civis.
Enfim, a última de suas competências lembradas pela Comissão é o poder de zelar pela publicação dos livros litúrgicos. Esta autoridade, ela deve exercer com a autorização prévia da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (cf. UE, art.11). Poderia se dizer que esta última disposição tem por objetivo de mostrar a unicidade do rito romano, da qual fala Bento XVI e, por isso, é mantida a competência desta Congregação, encarregada da liturgia romana da Igreja Católica.
A terceira parte desta Instrução contém várias normas. Ela começa pela lembrança da autoridade do bispo diocesano no domínio litúrgico. O Bispo é o principal guardião do culto divino na sua diocese. Está no seu dever assegurar a aplicação fiel do Motu Proprio sobre a liturgia tradicional. Em caso de controvérsia ou de dúvida, a tarefa é reservada à Comissão Pontifícia Ecclesia Dei (cf. UE, art. 13-14).
Vem em seguida um artigo muito importante, que define a noção do grupo estável de fiéis. Trata-se de um grupo de pessoas “reunidas por conta de sua veneração para com a liturgia celebrada no usus antiquior e que pede sua celebração na Igreja Paroquial, um oratório ou uma capela” (UE, art. 15).
Estas pessoas podem mesmo vir de dioceses diferentes. É um ponto muito importante de conhecer para aqueles que desejam organizar um apostolado estável com a missa tradicional, mesmo se eles não são numerosos, pois a instrução convida os ordinários a encontrar ainda assim uma igreja para tais grupos. A abertura a esses grupos concernem também os grupos de passagem, em um santuário ou em outra igreja. Neste caso, é preciso, evidentemente, levar em consideração, por exemplo, os horários de missa já previstos.
Enfim, a Instrução precisa no documento que “os fiéis que pedem a celebração da forma extraordinária não devem pertencer ou ajudar grupos que negam a validade ou a legitimidade da Santa Missa ou dos sacramentos celebrados segundo a forma ordinária, ou que opõem ao Pontífice Romano como Pastor Supremo da Igreja Universal” (UE, art. 19).
Após ter falado destes grupos, a Instrução fala do celebrante, pois não há missa sem Padre. A Comissão jugou oportuno explicar o termo ‘‘Padre Idôneo’’, isto é, apto a celebrar segundo o missal de 1962 (cf. UE, art. 20). É aplicada, primeiro, a regra geral: ele não pode ser impedido pela Igreja de celebrar, por exemplo, um padre que foi punido por uma excomunhão. Em seguida, ele deve conhecer a língua latina de maneira básica, a fim de poder ler corretamente o texto e compreender seu sentido. Não é necessário que ele seja um latinista ou que ele saiba traduzir as letras clássicas. Enfim, presume-se que já tenha aprendido a missa com um Padre que já a tenha celebrado. Nós podemos então dizer que as condições colocadas pela Comissão Pontifícia não são insuperáveis, mas que elas partem do bom senso. Esta mesma Comissão pede também aos bispos para agir de tal maneira, a fim de ter padres idôneos para a celebração segundo o missal de 1962: “Nós pedimos aos Ordinários para oferecer ao clero a possibilidade de adquirir uma preparação adequada para as celebrações na forma extraordinária” (UE, art. 21). É lembrada enfim a necessidade de ensinar o latim nos seminários, e sobre este ponto a instrução se refere ao Código de Direito Canônico, e aos dois documentos do Concílio Vaticano II: a Constituição sobre a Liturgia Sacrosanctum Concilium e ao Decreto Optatam totius, sobre a formação dos seminaristas. E se faltam verdadeiramente Padres Idôneos, a instrução propõe uma solução: ‘‘Nas dioceses sem um padre idôneo, os bispos diocesanos podem pedir a colaboração de padres de Institutos erigidos pela Comissão Pontifícia Ecclesia Dei, seja para celebrar, seja mesmo para ensinar como celebrar” (UE, art. 22). Se um bispo quer se mostrar magnânimo com seus fiéis, ele tem todos os meios necessários do lado das leis da Igreja para fazê-lo.
Enfim, a Comissão lembra que no caso de uma celebração de missa sem o povo, o padre não precisa de nenhuma autorização de quem quer que seja.
Seguindo a terceira parte, é dada a resolução a certos casos que podem se apresentar na utilização do Missal de 1962. Primeiramente, lembra-se do dever de conhecer e seguir as rubricas. Em seguida, afirma-se que a disciplina eclesiástica tal como ela se encontra no Código de Direito Canônico de 1983, se aplica também às missas do vetus ordo. Trata-se, por exemplo, da duração do jejum eucarístico que é de uma hora e não de três horas, como em 1962. Entretanto, se medidas que concernam à liturgia tomadas após 1962 são incompatíveis com o missal do usus antiquior, nós não as aplicamos. A título de exemplo: nós não damos a comunhão na mão, não se deixa as moças servirem à missa e também não concelebramos. Quanto às leituras, elas são feitas em latim, depois podem ser feitas em língua vernácula; nas missas rezadas, pode-se ler unicamente em língua vernácula.
Mas a adesão ao vetus ordo, não se limita apenas à Eucaristia. Todos os outros sacramentos vão junto. Pode-se então pedir a Confirmação segundo o antigo Pontifical e o Batismo segundo o antigo Ritual. No entanto, um limite é colocado quanto ao uso do antigo Pontifical: para o sacramento da Ordem e para as Ordens Menores. Ele é reservado aos Institutos de Vida Consagrada e às Sociedades de Vida Apostólica que dependem da Comissão Pontifícia Ecclesia Deiassim como àqueles nos quais se mantém o uso dos livros litúrgicos da forma extraordinária (UE, art. 31). Um bispo diocesano não pode ordenar seus próprios seminaristas com o Pontifical antigo.
Quanto aos ritos da Semana Santa, pode-se usá-los, mesmo em uma igreja onde é celebrada a Missa segundo a forma ordinária.
Durante esta mesma conferência, Monsenhor Pozzo disse que a Comissão publicará logo um documento que regula o uso de novos prefácios e o culto de santos canonizados após 1962. A Instrução Universae Ecclesiae fala disso no artigo 25.
Eu tomo a liberdade de adicionar enfim que, segundo esta instrução, todo padre pode recitar o breviário de 1962. Esta recitação deve ser feita em latim. Não é permitido o uso de suas traduções respectivas.
Para resumir a apresentação da Instrução, pode-se dizer que é um documento completo, que oferece ferramentas necessárias para a aplicação do Motu Proprio Summorum Pontificum. No entanto, sua aplicação pode encontrar às vezes a oposição da parte do bispo. Eu falarei disto brevemente para concluir.
  1. A Comissão Pontifícia Ecclesia Dei e os grupos de fiéis em dificuldade
 Os documentos apresentados até aqui tinham como objetivo a existência das dificuldades na aplicação do Motu Proprio. Entre estes problemas, os fiéis encontram mais frequentemente a oposição do bispo local. O que é preciso então fazer? Eu ouso lhes propor alguns conselhos,  mas eu não lhes prometo que eles garantam o êxito.
A primeira das coisas a observar é guardar o respeito devido ao Bispo, mesmo se vocês sabem que ele se opõe e que ele não quer autorizar a Missa tradicional.
Um grupo que não sabe observar as regras de base da boa educação não obterá nada. Manter as boas maneiras só lhes trará coisas boas. Isso não quer dizer que vocês não devam fazer nada.
Quando vocês pedirem a Missa a seu bispo, tentem fazer uma lista que prove a ele a existência de um grupo estável de fiéis. Vocês podem mesmo lhe propor um celebrante, sobretudo se o padre em questão se apresentar como voluntário. É bom também ter contatos com o clero local, sobretudo se ele pode colocar uma igreja à disposição de vocês. Se vocês apresentarem um lugar na carta, assim como o celebrante e os fiéis, o Bispo terá mais dificuldade em lhes dizer não, o que também não quer dizer que ele dirá sim logo de início. Às vezes, mesmo com essas condições já resolvidas, o Bispo pode se recusar e não querer mais ouvir falar da Missa tradicional. Por isso, fiquem atentos a tudo aquilo que vocês colocarem por escrito.
Neste caso, vocês podem enviar um recurso hierárquico à Comissão Pontifícia Ecclesia Dei. É preciso apresentar, no pedido, este grupo de fiéis com suas assinaturas. É preciso também indicar o padre idôneo que vocês encontraram. É interessante também descrever todos os passos que vocês fizeram para que o Bispo lhes desse a permissão da celebração da Missa, de onde a importância de permanecer sempre respeitoso com ele. Tal pedido tem mais possibilidade de ser atendido pelo organismo romano. E isso faz parte da realidade. A Comissão ficará de mãos atadas se vocês não apresentarem um padre apto e se o Bispo responde a Roma que ele mesmo não tem nenhum. É preciso então às vezes estar pronto para um processo longo, árduo, mas não esqueçam que todos os fiéis “tem a liberdade apresentar aos pastores da Igreja suas necessidades sobretudo espirituais, assim como os desejos” (can. 212, § 2) de mesmo modo que eles também tem “o direito de receber da parte dos Pastores sagrados a ajuda proveniente dos bens espirituais da Igreja, sobretudo da palavra de Deus e dos Sacramentos” (can. 213). A Comissão Pontifícia Ecclesia Dei toma parte na tarefa do Papa de respeitar estes direitos dos fiéis e para isso ela tem os meios.
Conclusão
Para concluir, nós podemos dizer que ao passar do tempo, a Pontifícia Comissão Ecclesia Dei mudou de um organismo responsável principalmente do diálogo com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X para uma estrutura com dupla reponsabilidade. A original, com a dita Fraternidade, e esta que se desenvolve pouco a pouco: zelar pela salvaguarda e pelo respeito do vetus ordo na Igreja romana. Isto também é devido, evidentemente, à vontade do Papa Bento XVI, preocupado em reconstruir a Igreja e curar os ferimentos do passado. Este caminho foi longo. As primeiras normas datam de 1988, as ultimas de 2011.
Isso são vinte e três anos!
Os anos que virão dependem de nós e do nosso engajamento pela Missa tradicional. Faz parte do nosso dever não somente guardá-la, mas, sobretudo, apresentá-la e propagá-la como fonte eficaz de santificação para todos os cristãos. Nós devemos transmitir aquilo que recebemos e desejo que a Missa tradicional em Belém possa festejar aniversários ainda mais importantes que o de dez anos.
Muito obrigado pela atenção!