2 de outubro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

Beleza Corporal da Santíssima Virgem


Parte 4/6

Mas procuremos já a raiz da beleza exterior de Maria.
É um fato evidente que as almas transparecem através do corpo. Transparecem os vícios e transparecem as virtudes, transparecem a ira e a sensualidade. É que os atos repetidos dessas paixões vão deixando como petrificados no rosto os traços, as expressões que toma o rosto quando está em atividade a paixão. E como transparecem os vícios, também transparecem as virtudes. É este o argumento principal que exploram os antigos escritores eclesiásticos para ponderar a beleza física de Maria.
A beleza interior da alma de Maria era incomparável. Era-o a sua beleza moral e era-o também a sua beleza espiritual. Pois bem, toda essa beleza interior transparecia através do seu corpo.  O seu corpo visível era como uma estátua da alma invisível. A formosura e perfeição da alma irrompia no corpo e transformava-o, como a luz do sol se esconde numa nuvem e a ilumina e transforma. A luz do seu espírito ardia no vaso de alabastro do seu corpo. O porte do seu corpo era a imagem da sua alma, disse Santo Ambrósio.
É que a sumptuosidade de um palácio conhece-se no vestíbulo: desde que se entra nele entrevê-em-se os esplendores de dentro.
E Teódoto de Ancira, depois de expor as artes da vaidade com que exteriormente se arranjavam as mulheres do seu tempo, terminava dizendo que a beleza exterior da Virgem não foi artificial e rebuscada, mas nascida de dentro, como a rosa natural, em oposição à rosa artificial.
Por conseguinte, para que pudéssemos adivinhar a beleza corporal de Maria, teríamos que conhecer a beleza moral, a beleza espiritual e, poderíamos dizer, a beleza quase divina da alma de Maria.
Cada virtude tem um encanto especial que se comunica ao exterior do corpo, a inocência, a humildade, a mansidão.
Maria teve todas as virtudes no mais alto grau e todas elas deixavam transparecer os seus encantos para o exterior. Que conjunto de beleza tão admirável! Os encantos de todas as virtudes a transparecerem no rosto de Maria!
Por isso, disse Santo Ambrósio que Maria era "figura bonitatis", a imagem própria da virtude e da bondade. Todas as virtudes morais são fontes de beleza na Mãe de Deus; mas os escritores primitivos coincidem em que a raiz principal da sua beleza corporal era a virgindade. A virgindade sobre humana e celestial. A virgindade interior floresce no exterior com as belas flores da modéstia e do pudor. Essa modéstia que é a moderação, o equilíbrio, a perfeição de todas as atitudes exteriores do homem. Esse pudor que dá um tom encantador a todos os sentidos, e tinge as faces com o belíssimo carmim do rubor.
A virgindade é a raiz principal da beleza exterior e Santo Ambrósio disse de Maria que era "imago virginitatis", o retrato vivo da virgindade.
Além da beleza moral existe outra beleza interna que é a beleza da alma que tem a graça santificante. A graça santificante é uma participação da própria beleza de Deus. Todas as belezas da terra são como que uma derivação da beleza de Deus. Como o raio de luz se desprende do sol, como o fio de água se desprende da fonte, assim todas as belezas da terra se desprendem da fonte de toda a beleza, do sol de toda a formosura, que é o mesmo Deus.
O céu estrelado, as paisagens da terra, os encantos das pessoas. Mas há algo mais belo que tudo isso, porque não é somente sinal de Deus, mas é a imagem verdadeira do mesmo Deus, é a graça santificante; essa graça que dá a beleza aos anjos e aos bem aventurados do céu.
E essa graça, fonte preciosa de beleza sobre natural, teve-a Maria num grau tal, como nunca ninguém a teve. Essa beleza interior da graça que se nota em todos os santos e lhes comunica um tom sobre humano que cativa e impressiona, esse aspecto exterior da santidade interior, teve-o Maria num grau incomparável. Com razão podemos dizer-lhe: "Tota pulchra es, Maria". Verdadeiramente sois toda bela, Maria.
A alma de Maria tinha ainda outra beleza maior, algo de beleza divina, que não possuiu nenhuma outra pessoa; e a causa desta beleza era a sua maternidade divina.
O contacto com o próprio Deus feito homem, nas suas entranhas. As flores deixam o seu perfume na casa onde estão algum tempo; a divindade esteve encerrada nove meses no seio de Maria; como não havia de deixar ali algo de divino? E algo de divino que existia no interior de Maria tinha que transparecer também no exterior e comunicar a seu corpo qualquer coisa da beleza da divindade.
A beleza de Deus refletindo-se no nosso barro, como a luz do sol se reflete na lua opaca e fria.
Maria tinha no seu exterior algo daquele encanto, daquele atrativo irresistível de Jesus Cristo que arrastava após si as multidões. Com toda a razão podemos entoar à Virgem Imaculada este louvor: "Toda pulchra es, Maria". Sois toda bela, ó Maria!

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