CAPÍTULO XVI
UMA VISTA GERAL
Deveria o último capítulo deste livro ser uma breve síntese. Deixo-o, porém aos cuidados do inteligente leitor que poderá facilmente deduzir do que viu, conheceu e analisou, através deste estudo, a conclusão imparcial à luz da história que expusemos como absoluta sinceridade.
Certamente notaram todos que o meu principal empenho foi retraçar as origens HISTÓRICAS E MORAIS do protestantismo.
Para consegui-lo, situei o chefe da seita no ambiente e meio próprio em que viveu, 1483-1546; Lutero é, sobretudo fruto da sua época, não só pelas suas muito resumidas qualidades pessoais, mas também pela encarnação viva e ardente dos vícios então reinantes.
Se ele tivesse aparecido um século antes, não passaria, como tantos outros, de uma vulgar e desprezível herege, descendo ao túmulo, amortalhado em seus erros.
Se ele fosse dos nossos tempos, formaria ao lado dos revolucionários e comunistas, como Cales e Lenine, etc...
Consideremos o caso de Lutero.
1.. GRANDES... E GRANDES...
Percorrendo a história dos grandes homens, verificamos haver duas categorias de vultos notáveis: uma, a dos que se sobressaem pelo valor individual, e a outra, a dos que são proclamados grandes pelos conceitos da épica que em si encarnaram.
Em geral, os homens verdadeiramente grandes são opostos às idéias da sua época; são, mesmo perseguidos pelos seus contemporâneos, pelo fato de se elevarem acima da vulgaridade e das paixões populares do tempo. Possuem grandeza moral e, destarte, procuram elevar as idéias e as pessoas. Ora, elevar-se, subir, exige esforço, fadiga e luta, coisas de que muitos são incapazes; daí, a oposição que em torno deles se levanta e as surda inveja que os persegue.
Basta ver-se a vida destes homens extraordinários que são os santos; tome-se, por exemplo, a biografia de S. Francisco de Assis, S. Francisco Xavier, Stº. Inácio, S. Domingos, S. Pedro Cláver, Stº. Cura d‟Ars, S. Vicente de Paulo, S. João Bosco, Pe. Eymard, Ven. Cottolengo, etc... todos estes foram grandes pelo IDEAL, pela VIRTUDE, pela CORAGEM, pelo ZELO, pela PERSEVERANÇA.
Por serem tais, foram incompreendidos pelos medíocres, caluniados pelos covardes e repelidos pelos maus. São duas grandezas: uma que se eleva, outra que se abaixa: uma que sobre, outra que desce; a primeira encarnando o bem, a segunda representando o mal.
Há, portanto, uma espécie de pessoa que os ímpios endeusam, mau grado apareçam mesquinhas, miseráveis, cheias de baixezas. Também estes últimos são grandes, mas no mal que personificam, no ódio, na revolta e na perversidade que encarnam.
Neste último cortejo se enfileiram Locke, Clarke, Collins, Findel, grandes racionalistas; Voltaire, Rousseau, Holback, Diderot, d‟Alembert, Montesquieu, etc., declarados inimigos da Igreja, odientos
e cínicos. A impiedade do século XVIII os enalteceu como os legítimos expoentes duma época decadente sem fé e sem moral. Eles foram grandes, sim, nesse meio todo deles.
Caso parecido é o que se dá com os tais chamados VALENTES de tocaia; só são temíveis, quando matam à espreita e traição, mas muita vez tremem e fogem à vista duma luta corpo a corpo, onde têm de resistir a alguém pela frente; é que fora do ambiente escuro nada valem, são medrosos e covardes.
2. LUTERO
Vimos, pois, que o pai dos protestantes foi grande pela sua baixeza, perversidade e revolta. Toda a sua inteligência ela a pôs a serviço do erro; sua força de vontade se deixou dominar pelo mal; seu brio consistiu em bater-se contra toda ordem; a sua moral foi a prática de vícios que seria horrendo referir. Ele encarnou o que havia de ruim e pernicioso na sua época. E nisso foi até ao extremo.
Há entre os reformadores vários outros que, como Melanchton, sobrepujavam Lutero por seu preparo e cultura intelectuais, mas permaneceram figuras apagadas, justamente porque foram calmos, moderados prudentes, e tais qualidades, mesmo naturais, não reproduziram com exatidão a ambição e o espírito revolucionário que fervia no âmago das almas sem fé, a cuja frente sobressai Lutero.
Os grandes homens são sempre EXTREMISTAS da direita ou da esquerda: os primeiros são os grandes do bem; os segundos, são os grandes do mal: os assassinos e traidores. Entre os dois se encontram os medíocres, dos quais se deve dizer serem BONS DEMAIS, PARA SEREM MAUS, E RUINS DEMAIS, PARA SE TORNAREM BONS.
Ingenieros descreveu tipicamente esta dupla classe.
O homem bom combate o mal por todos os meios; o perverso pratica-o por um requinte de maldade, permanece na lama por desejo de macular o mundo inteiro e a própria Igreja; o medíocre fica no mal por preguiça e sair dele.
O ÍMPIO, grande pela maldade, é um grande herege, grande revoltoso, um obsesso pelo ódio, um corrupto, além de corruptor. É tão grande a sua aversão ao bem, que ele pretende erigir em lei o seu exemplo, a sua revolta, a sua heresia, sua obsessão e a sua própria corrupção. Eis o retrato de Lutero. Tal foi ele: grande, sim, mas no mal.
De temperamento extremo e exaltadiço, Lutero não admitia meias quedas e meios erros. Virando-se para do erro e do mal, havia necessariamente de precipitar-se em grandes erros.
Daí proveio a legítima criação dele – o protestantismo, negação radical de todas as verdades católicas, seita que não é um erro isolado, mas um conjunto de falsidades. Tudo o que a Igreja afirma, Lutero negou.
Eis o que diz Weiss em sua apologia do Reformador: “bastava um papista afirmar um coisa, para que Lutero a rejeitasse”.
Certo homem perguntou-lhe um dia: Não era S. Pedro o chefe dos apóstolos?
- Qual o que!... – Era o ínfimo entre eles.
Não é o Papa a autoridade suprema da Igreja?
- Nada disto! Está abaixo dos bispos, abaixo dos diabos, abaixo dos governos civis!
Que explosão impetuosa, a demonstrar seu descomedido orgulho” Parece demais! Mas é apenas o começo.
Considere-se o que ele fala dde si próprio: “Seja Lutero patife ou santo, é o que menos importa, pois a doutrina dele é a doutrina de Cristo em pessoa! Tanta certeza tenho de que é do céu o meu
ensino, que ele tem triunfado contra quem possui poder e astúcia maiores do que todos os Papas, reis e doutores juntos”.
E prossegue o novo Papa rebelde: “Aquilo que nós interpretamos é o que o Espírito Santo entende; aquilo que outros interpretam, sejam eles grandes vultos, é derivado de Satanás” (Paquier: Luther aux yeus du rationalisme, pág. 50).
Lutero não admite infalibilidade do Papa; quer que ela só exista para ele, “reformador”; é o cúmulo do orgulho e da insensatez.
Lutero intitula-se o maior, o mais clarividente de todos os homens... e considera-se até superior aos anjos, como se deve concluir desta outra passagem mais estupenda ainda que a precedente:
“Não quero a minha doutrina julgada nem pelos anjos, antes pretendo com ela julgar todos, e até os anjos” (Comment. Ad Gal. V. Ad. Wittemberg).
E pensam que o pobre obsesso para nisto?...
Enganam-se; após o absurdo vem a loucura, e Lutero é um demente.
Escutem este pedacinho digno do próprio Satanás:
“Desde que o mundo existe jamais alguém falou e ensinou como eu, Martinho Lutero!”
“Não me importo com textos bíblicos, a minha doutrina não precisa de argumento: FAZ LEI A MINHA VONTADE”
“Eu, o doutor Martinho, quero que assim seja: sou mais sábio do que todo o mundo!” (Denifle: Luther et lê Lutheranisme)
Eis a que paroxismo a vesânia levou o pobre Lutero!
É o cúmulo do orgulho, ou então é uma verdadeira possessão diabólica.
É bem o diabo, Lutero e o protestantismo, intimamente unidos numa só explosão de orgulho e de revolta.
3. O GRANDE ERRO
Tão bem sentem os protestantes a baixeza do reformador, o seu papel diabólico, que nenhuma de suas seitas quer tê-lo por pai.
Todos eles procuram outro nome e outra doutrina, mas não falam sequer de Lutero.
Quando se lhes aponta a perversidade de seu pai na fé, respondem de pronto nada terem a ver com Lutero, mas só, com a Bíblia.
É uma afirmação gratuita.
Se para os protestantes a Bíblia é a regra de fé, como se explica que o seu protestantismo seja radicalmente oposto à religião Católica que segue também integralmente a Bíblia?
Como pode a mesma Bíblia inspirar e ser fonte de duas doutrinas opostas?
É impossível. A verdade á uma só.
Por que se chamam protestantes os discípulos de Lutero?
Não é porque protestam? Não é o protesto a essência de sua seita?
Ora, só se pode protestar contra aquilo que já existe.
A Igreja Católica existe desde a vinda de Jesus Cristo, e segue tão bem a Bíblia, que em sua doutrina não se pode encontrar o menor ponto ou vírgula que esteja em discordância com ela.
Os protestantes protestam contra a Igreja, guarda da Escritura integral, protestam, pois, contra a Bíblia, são, portanto, antibíblicos, inimigos da Bíblia.
A diferença de crença entre católicos e protestantes é esta: os primeiros aceitam a Bíblia totalmente e com ela se identificam; os segundos rejeitam muitas partes e a interpretam a seu talante.
E nisto está o grande erro crentista.
A arte da pintura, da música, da poesia, é uma só; mas como acontece haver pintores que só produzem garatujas, músicos que nos estragam o tímpano, e poetas que nos fazem bocejar e dormir com seus versos?
A arte é UMA SÓ, porém a sua aplicação é indefinida; todos pretendem ser artistas, embora haja apenas um modo de sê-lo.
A Bíblia é UMA SÓ, porém muitos são os modos de interpretá-la, como mostrei acima.
Será permitido a cada um entendê-la segundo suas preferências pessoais?
Seria isso tão absurdo quanto o seria cada pintor, músico ou poeta pretender possuir a arte da pintura, da harmonia e da poesia.
Aliás, a própria Bíblia proíbe tal modo de pensar. S. Pedro nos avisa que nas epístolas de S. Paulo HÁ ALGUMAS COISAS DIFÍCEIS DE ENTENDER, QUE OS INDOUTROS E INCONSTANTE ADULTERAM (como também as outras escrituras) PARA SUA PRÓPRIA PERDIÇÃO. (2 Pedro 3, 16).
E na mesma Epístola S. Pedro nos diz que DEVEMOS ATENDER, ANTES DE TUDO, A ISTO: QUE NENHUMA PROFECIA DA ESCRITURA É DE INTERPRETAÇÃO PARTICULAR, PORQUE A PROFECIA NUNCA FOI DADA PELA VONTADE DOS HOMENS... MAS PELO ESPÍRITYO SANTO, POR MEIO DOS HOMENS SANTOS DE DEUS. (2 Pedro 1, 20,21).
Note-se bem: nestas duas citações há duas grandes verdades bíblicas, negadas pelos protestantes.
1. – A Bíblia não é sempre bem inteligível; necessita de explicação.
2. – Tal explicação não pode vir de particulares; deve emanar de uma autoridade competente.
E qual seria esta autoridade competente? É possível descobri-la?...
Jesus Cristo disse que devemos escutar a Igreja: SE ALGUÉM NÃO OUVIR A IGREJA, CONSIDERA-O COMO UM GENTIO E UM PUBLICANO. (Mateus 18, 17).
Logo, é a Igreja que está incumbida por NM. Senhor de interpretar as palavras da Bíblia e comunicar-nos o seu sentido verdadeiro.
E, para que este sentido não se origine deste ou daquele homem, mas seja, de fato, do Espírito Santo, Jesus Cristo disse a Pedro, o primeiro Chefe, ou o primeiro Papa, da Igreja; PEDRO, EU ROGUEI POR TI PARA QUE A TUA FÉ NÃO DESFALEÇA. (Lucas, 22,32).
E ainda falou aos apóstolos, só a eles e a mais ninguém: QUEM VOS ESCUTA, ESCUTA A MIM. (Lucas 10,16).
Eis o que é claro; desde que é proibida a interpretação particular, temos forçosamente de recorrer ao Chefe da Igreja, a Pedro, que é infalível para conhecer a verdade; e quem não o faz é UM GENTIO, diz o divino Mestre.
Eis o ponto de discordância entre católicos e protestantes: os primeiros escutam a Pedro, conforme recomendação do Mestre; os segundos interpretam a Bíblia, conforme a sua própria cabeça, em oposição à proibição do chefe dos Apóstolos.
Quem tem razão? Aquele que segue o conselho da Bíblia ou quem a contradiz e faz o que ela proíbe?
Não há dúvida. O católico está com a razão.
4. A INTERPRETAÇÃO INDIVIDUAL
A interpretação individual é a porte de todos os desvios sectários. Ela constitui a base do protestantismo; é, pois, um erro formalmente condenado pela Bíblia.
Lamenais, falando do galicanismo, disse que este se reduzia a “crer o menos possível, sem ser herege, e obedecer o menos possível, sem se tornar rebelde”
Do protestantismo pode-se asseverar consistir “EM CRER NO QUE SE QUER, OPROFESSAR O QUE SE CRÊ”.
Cada um pode adotar, pois, adotar o seu próprio CREDO, aderir là seita preferida ou formar novas, se tal lhe convier, mudar de denominação religiosa, conforme as circunstâncias, e tudo isso em virtude da livre interpretação. Tal vacilação é para eles a coisa mais simples do mundo.
Eis o que nos refere um protestante inteligente e sincero, o professor Vinet: “A palavra de Deus, em si mesma, não pode ter senão sentido único, mas pode ter mil sentidos no espírito do leitor”.
“Uns há que não procuram na Bíblia TODA a verdade, mas simplesmente aquela que agrade e adula”.
“Enxergam os protestantes na Bíblia o que querem enxergar, de tal modo que, praticamente, cada um tem a sua Bíblia, dela tira o que quer e com ela sustenta erros os mais antibíblicos, ao ponto de ficar a mesma bandeira desfraldada por sobre opiniões as mais contraditórias e antagônicas.
Só concordam eles num ponto: o procurar, na Bíblia, não as idéias dela, mas a confirmação das idéias deles” (L‟Eglise e lês confessions de foi, p.29).
Estas palavras, proferidas por um protestante, excitam a nossa admiração pela sinceridade com que são pronunciadas, mas provocam o nosso espanto, ao ver um homem tão sincero não abjurar o erro que combate.
É mais um prova de que, para alguém se converter, não basta a lógica de um espírito reto; para tal se requer a graça divina que Deus dá aos humildes que a pedem, e recusa aos orgulhosos que se apóiam unicamente sobre a sua inteligência.
É o que explica a dificuldade de conversão para um protestante: no seu desmesurado orgulho só acredita em si... e Deus, que vem em auxílio do humilde que de si desconfia, afasta-se do soberbo presumido.
É o caso de se aplicar aqui a resposta chistosa de um bispo francês (Mgr. De Cheverus) a um ministro protestante que quis discutir com ele, dizendo fazer tudo o que está na Bíblia e nada mais.
- Muito bem, meu amigo, retrucou o prelado com um sorriso, não está ali escrito que JUDAS MORREU ENFORCADO?
- Sem dúvida, respondeu o pastor, admirado.
- Não está escrito ainda, continuou o bispo: Ide e fazei o mesmo – Vade, et tu fac similiter? (Lucas 10, 37).
Então, concluiu o bispo, admiro-me de o senhor não ter ainda obedecido à Bíblia. O pastor julgou prudente não discutir mais com um homem de tanto espírito.
5. RETRATAÇÃO DE LUTERO
Lutero blasfemava, exaltava-se, mandava todo o “mundo para o inferno e o Papa para o diabo”. São seus próprios termos; nas horas de calma e de reflexão, porém, este pobre coitado confessava os seus erros do modo mais covarde.
Uma tal averiguação tem sua importância: pois demonstra que a obra, feita por ele, é produto do seu temperamento e de sua paixão, resultado do vício, fruto de uma espécie de cegueira e conseqüência do orgulho desenfreado.
Bastaria tal fato, para um protestante sincero compreender a falsidade da seita fundada por Lutero.
O fogoso rebelde pretendeu REFORMAR a Igreja Católica. De quem lhe veio a missão?
De Deus? Não pode ser, pois Lutero ataca a Deus.
De zelo pela glória de Deus?
Menos ainda, pois Lutero calca aos pés esta mesma glória, confessando-se arrependido do mal praticado e garantindo que, se pudesse recomeçar a vida, não o faria mais.
Querem prova mais frisante por Lutero produzida contra ele mesmo?
Tais confissões encontram-se numerosas na vida do fundador do protestantismo.
Recolhamos algumas dentre muitas que nos mostrem o desvario, a paixão do triste DEFORMADOR.
Num desses momentos de lucidez chegou ao ponto de exclamar:
“Se Deus não me tivesse fechado os olhos, e se tivesse previsto estes escândalos, eu nunca teria começado e ensinar o Evangelho” (Walch. Ed. Vol. VI p. 920).
Ele mesmo assevera que “as cidades que o receberam de braços abertos tornaram-se quais novas “Sodomas e Gomorras”, e ele se mostrou admirado de que as portas do ingferno ainda não se tivessem aberto “para lançar e chover diabos”.
Em, 1529 Lutero proclamou que as condições morais e sociais, após o advento do protestantismo, se tinham tornado sete vezes piores do que eram antes sob o Papado.
Escutem as suas palavras que explicam o motivo de tudo: “Por que depois de termos aprendido o Evangelho, nós roubamos, mentimos, enganamos, praticamos a glutonia, a embriaguez e toda espécie de vícios”.
“Agora que um demônio foi expulso, sete outros piores do que o primeiro se apossaram de nós, como os podemos ver nos príncipes, senhores, nobres, burgueses e camponeses. Assim eles agem, assim vivem, sem nenhum temor, com desprezo de Deus e de suas ameaças” (Erlangen ed. V 34, p. 441).
Eis mais uma preciosa confissão do inovador, verificando os frutos da sua reforma, e mostrando claramente não acreditar na sua próprio obra, que reputa apenas DEFORMAÇÃO.
“Desde que o novo Evangelho foi pregado, diz ele ainda, as coisas pioraram cada vez mais”. E, no fim, ele não receia dizer que “elas nunca foram piores que agora” (Ib. VII, p. 302).
Depois de tais fato, aliás, certos e históricos, após pesar as conseqüências horrorosas de suas doutrinas bolchevistas, Lutero exclama:
“E tenho ao mundo inteiro inimizade e ódio! Não posso crer no que ensino! Outros, porém, julgam-me completamente convicto. Se fosse mais moço, não pregaria de modo algum e buscaria outra profissão”.
São interessantes tais confidências do pai dos protestantes.
Ele mesmo diz não ter recebido missão nenhuma mas atesta fazer o que faz somente por profissão, mostrando-se arrependido e garantindo CLARAMENTE NÃO ACREDITAR no que ensina.
Contudo, atentemos bem para a confissão do réu. Ele prossegue:
“Ah! Se tivesse previsto que minha empresa me levaria tão longe, teria certamente posto um freio à minha língua.
Quantos, digo suspirando, não seduziste com tua doutrina!
Sou causa de todas as revoluções atuais...
Tal pensamento não me deixa.
Sim, desejaria não ter iniciado este negócio.
A angústia que padeço é para mim um inferno, mas, já que comecei força e sustentá-lo como coisa justa” (Obr. Luppl. Mogúncia 1827).
É impossível palavra mais clara e positiva! Ela desmancha e retrata toda a obra do heresiarca orgulhoso.
É uma sentença de condenação e a retratação de sua obra.
Nada de mais explícito, mais horroroso e mais cínico ao mesmo tempo.
Reconhece o erro, vê os estragos produzidos, deplora as ruínas, sobre um inferno, mas declara que, tendo começado, quer sustenta como justa a empresa mais hedionda que se possa imaginar, e por ele mesmo conhecida como nefasta e perversa.
6. FATOS SIGNIFICATIVOS
Palavras assim positivas e claras são confirmadas quanto ao sentido, por um fato histórico, narrado na vida do reformador.
“Passeava ele uma tarde, no seu jardim, com Catarina de Bora, sua companheira. As estrelas luziam com extraordinário esplendor e o céu pareceu em festa. - Vês como brilham este ponto luminosos? – Indagou Catarina, apontando para o firmamento estrelado.
Lutero, levantando os olhos exclamou:
- Oh! Deslumbrante iluminação: mas... infelizmente, não é para nós!
- E por quê? – replicou Catarina, seríamos por acaso uns deserdados do reino dos céus?
Lutero suspirou tristemente:
- Talvez, disse, em castigo de termos abandonado nosso estado...
- Seria preciso então voltarmos para ele? – perguntou Catarina.
- É muito tarde, o carro está por demais atolado... retorquiu Lutero, e mudou de conversa.
Que confissão dolorosa e clara!...
Conta-se ainda outro fato na vida do pobre reformador. Certa noite estava ele sentado ao lado de Catarina, esquentando as mãos ao fogo aceso na sala.
Parecia taciturno, contrariado... De repente, pegando pelo o braço da companheira, introduziu-lhe a mão violentamente no meio das chamas.
Catarina soltou um grito...
- Que tens, mulher, disse Lutero, sombrio e zombeteiro; que há? Precisamos acostumar-nos ao fogo pois é o que nos espera no outro mundo!
Vê-se, nestes fatos, transparecer a consciência atormentada de remorsos do heresiarca, e o bom senso e a verdade cominarem por instantes os apetites e as paixões.
Terminemos estes depoimentos com um último, mais expressivo ainda que os precedentes, porquanto é o brado do AMOR FILIAL que às vezes sobrevive às ruínas de todas as outras afeições.
Quando o reformador estava no fastígio de sua revolta, caiu mortalmente enferma a velha mãe de Melanchton, que se fizera protestante a conselho do filho.
O mal fez rápidos progressos e em breve a velhinha viu-se à beira do túmulo.. Melanchton, que a amava, falou-lhe de Deus, e exortou-a e reconciliar-se com Ele.
A velhinha compreendeu e, juntando as últimas forças, perguntou: meu filho, sê sincero, agora, que estou para morrer; dize-me se é melhor morrer como protestante ou como católica.
O apóstata não hesitou.
- Minha mãe, disse ele, inclinando a cabeça, não vos posso enganar neste momento; o protestantismo é talvez melhor para nele se viver; mas O CATOLICISMO É MELHOR PARA NELE SE MORRER.
Que quereis mais, caros protestantes? Uma tal confissão é ou não é de valor: Ouvimos falar a voz do arrependimento, o bom senso e o medo. Aqui nos brada o amor filial.
O discípulo de Lutero, que enganara a todos, não quis enganar a própria mãe... não desejando lançá-la no inferno, aconselhou-a a morrer como católica.
O conselho dado na hora da morte e coisa sagrada.
Tomai-o para vós e, como disse Santo Ambrósio ao imperador Teodósio, “após ter seguido Davi nas suas fraquezas, segui-o no seu arrependimento”. Depois de terdes acreditado nos desvarios de Lutero, daí ouvidos, também aos seus conselhos de bom senso e de lucidez.
O protestantismo, permitindo tudo, pode ser mais cômodo para a vida, mas o Catolicismo vale mais para nos dar uma boa morte, após nos garantir uma vida boa, porque só ele tem as promessas da eterna salvação.
7. JUÍZO DE UM ANGLICANO
Um protestante anglicano, de alto coturno, e hoje um dos luzeiros da seita da Inglaterra, o pastor Edmonds, reitor de Whrittington escreve o que segue, confrontando o Catolicismo e o protestantismo. É um brando de alarme, um clamor partido do bom senso de uma alma que vê a verdade, sem talvez se mover a abraçá-la.
Ele escreve em seu jornal: “Não faltam indícios tendentes a provar que a única religião cristã, capaz de enfrentar o futuro, com existência assegurada, seja aquela que se pode apoiar sobre o testemunho do passado, isto é, sobre o testemunho da velha religião da cristandade histórica. E essa crença é a da religião católica.
O protestantismo aparentemente está decrépito. Conheceu um belo número de adeptos nobres, impossível, porém eternamente viver dum protesto. A religião protestante é religião parcial, favorecendo a parcialidade. Só a religião católica, que é uma religião total, isto é, do todo e não apenas da parte, satisfaz plenamente às necessidades espirituais dos homens de todos os tempos e de todos os países. O que a humanidade quer é uma religião sobrenatural e mística, que venha do próprio Deus e ofereça um culto ligado com o próprio culto celestial.
O culto livre, com a sua modalidade, caseira e autonomia, não consegue contentar e satisfazer ao sentimento religioso. Não se pode dispensar alguém das cerimônias e dos ritos. A religião que fechar a porta sobre o mundo invisível e não recomendar orações pelos defuntos, enm entretiver suave comunhão com os mortos, não poderá ser arrimo seguro para essa pobre humanidade.
O leitor dessas minhas palavras. Talvez, me dirá: Se é essa religião de que necessitamos, temos que nos sujeitar ao Papa e converter-nos ao Catolicismo.
É bem possível que seria isso acertar com o bom caminho, muito embora sobre tal ainda pudéssemos discutir”.
Todo protestante sincero, como o citado pastor, vê claramente a debandada das sua seita,o ridículo dos princípios da sua crença, a inanidade da sua vida espiritual, e a inutilidade de seus esforços, para combater a Igreja Católica... A conversão, entretanto, é difícil. Lutero, sob a inspiração do demônio, soube incutir-lhes tanto ódio ao papado. Inspirou-lhe tantos preconceitos contra a Igreja que só à força de um milagre da misericórdia divina, é, que consegue sair do abismo de seus erros e do labirinto das suas dúvidas.
8. CONCLUSÃO
É inútil prolongar citações e raciocínios.
É demais visível para qualquer um o caráter repugnante e depravado da vida do chefe-mor das seitas protestantes. Tudo nele revela perversidade.
Depois de tudo o que atrás ficou dito, seja-me lícito perguntar a todo homem sensato que leu este trabalho: PODE DEUS SERVIR-SE DO VÍCIO PARA CORRIGIR O VÍCIO? PODE ELE UTILIZAR-SE DE UM HOMEM PERVERSO PARA SANTIFICAR A IGREJA?
Todos responderão sem demora: É impossível! Deus, que é santidade deve servir-se de instrumentos dignos dele mesmo.
É o caso de se aplicar o axioma dos alopatas: CONTRARIA CONTRARIIS CURANTAUR. Para se curar uma moléstia, o médico aplica um remédio oposto a ela.
Deus preceitua o mesmo processo racional. Para curar a libertinagem, receita a pureza; para repelir o demônio, manda a oração; para debelar a anemia espiritual, faz recorrer à Mesa eucarística. Quando um mal espiritual enfraquece o organismo das Igreja, ele recorre ao remédio conveniente.
Como vimos, a época de Lutero foi de extrema decadência social e religiosa; um duplo cancro ia roend, envenenando a sociedade e, mesmo, a Igreja; era a revolta e a libertinagem.
* * *
Jesus Cristo prometera estar sempre com a sua Igreja, e garantira que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela! A sua palavra e garantia é formal: EIS QUE ESTOU CONVOSCO TODOS OS DIAS, ATÉ A CONSUMAÇÃO DOS SÉCULOS. (Mat. 28-20).
Estado com a sua Igreja, e querendo preservá-la do contágio do erro, Jesus Cristo tem de lhe aplicar o remédio adequado e radical; e qual este remédio?
A obediência, pela sujeição da vontade; e a santidade de vida, pela pureza dos costumes.
Se Lutero se tivesse apresentado com estes dois distintivos, mereceria a sua vida ser estudada, para se descobrir nela a sua vocação de reformador; nada, porém, se nos oferece que, ao menos de longe, lembre tais virtudes.
É o contrário que transborda de todos os seus atos. É um modelo acabado de orgulho e de libertinagem.
Logo, não é o homem por Deus escolhido para reformar o século! Lutero nada mais é do que a encarnação completa dos grandes vícios do seu tempo. Não é um reformador, mas um deformador: não é um individuo são, mas um doente; não é um homem de virtude, mas um viciado;ç não é um mensageiro de Deus, mas um representante de satanás.
* * *
A época em que viveu Lutero apresenta verdadeiros reformadores, de cuja fronte se irradiam a virtude, o ideal e a santidade.
São os santos: Inácio, Francisco Xavier, Carlos Borromeu, Tomás de Vilanova, João d‟Ávila, Teresa de Jesus, João da Cruz, Francisco de Bórgia, Estanislau Luiz Gonzaga, Francisco de Sales, Joana de Chantal, etc.
Estes homens, cujas frontes estão aureoladas pela santidade, seriam capazes de reformar o mundo, como de fato consertaram muito do que Lutero havia deformado.
Se Deus necessitasse de elementos, para reformar e purificar a sua Igreja recorreria a homens santos e sábios. Estes não lhes faltariam. Ridículo seria, tivesse ele de recorrer ao que a humanidade e a época tinham de mais miserável e indigno, para empreender uma obra tão importante.
Lutero não foi, de modo algum, um escolhido para Deus, para reformar a Igreja; pelo contrário, foi um emissário do demônio, para perder as almas e semear no mundo a discórdia e o ódio.
Ao tendo saído de Deus, a sua “reforma” nada tem de divino.
Sendo mandada pelo demônio, a sua obra traz os característicos do mal e revela os estigmas do inferno.
Eis mais uma vez justificado o título dado a este livro: “O DIABO, LUTERO E O PROTESTANTISMO”.
A seita religiosa, fundada por ele, conserva do cristianismo apenas um símbolo: a Bíblia e, ainda assim, falsificada.
Oxalá tenham os caros protestantes a coragem e a sinceridade de reconhecer o mau caminho em que enveredaram e não receiem volta ao Cristo verdadeiro... ao Jesus de seus antepassados, por Lutero arrancado dos seus corações; praza a Deus se lancem eles aos braços deste Cristo amoroso e cheio de misericórdia, que a Igreja Católica adora, serve e ama.
Não há outro remédio senão voltarem ao Cristo verdadeiro do Evangelho e afastarem-se do Cristo falso de papael, fabricado por Lutero.
O Cristo verdadeiro é o Cristo da Igreja Católica, o Jesus do Corcovado, de braços abertos, que a todos acolhe.
Seja o seu coração, ferido e ansioso de perdoar, o refúgio ao qual devem voltar todos os que se transviaram dos ensinos das sua Igreja Católica, Apostólica, Romana.