7 de fevereiro de 2014

Recompensa da devoção ao Sagrado Coração: a perseverança.

Neque creatura alia poterit nos separare a caritate Dei — “Nenhuma criatura nos poderá separar do amor de Deus” (Rom. 8, 39).

Sumário. Pode-se dizer que a devoção ao Sagrado Coração de Jesus é um penhor e sinal de predestinação, porque este Coração é o coração mais amante, mais reconhecido, mais misericordioso, mais desejoso da nossa salvação. É um Coração divino, criado de propósito para nos amar e ser amado por nós. Se os corações que se amam, buscam unir-se para não se separarem mais, o Coração de Jesus deve desejar imensamente unir-se às almas de uma maneira inseparável no céu.

I. Pode-se dizer sem exageração que a devoção ao Sagrado Coração de Jesus é um penhor e sinal de predestinação. É evidente que este Coração é o coração mais amante: é todo amor para nós. O divino Salvador ama todos os homens, pois deu a sua vida por todos eles sem exceção; mas “Ama com afeto especial aqueles que O amam” — Ego diligentes me diligo (1). Que belo testemunho de amor é a devoção ao Sagrado Coração, que não é outra coisa senão um exercício de amor. Ora, se os corações que se amam, buscam unir-se para não se separarem mais, o Coração de Jesus deve desejar imensamente unir-se às almas de uma maneira inseparável, pela união perfeita e eterna do paraíso.

Demais, o Coração de Jesus é de tal modo reconhecido, que não pode deixar sem recompensa um copo de água fria dado por seu amor. Como poderia abandonar, na última hora, a quem o honrou por tantas orações, comunhões, boas obras feitas na intenção de Lhe agradar? Santo Hilarião, chegada a hora da morte, animava-se dizendo: “Minha alma, que temes? Não serviste a Jesus Cristo durante setenta anos? Seu Coração, que é tão reconhecido, poderia te abandonar agora que tens tanta necessidade do seu socorro?”

Deveríamos, porventura, temer por causa dos nossos pecados passados? Mas temos de tratar com um Deus cujo Coração é tão misericordioso, que mais ardentemente deseja nos conceder o perdão dos nossos pecados, do que nós obtê-lo, segundo diz São João Crisóstomo. “Ele se gloria de usar misericórdia com os culpados”, diz o profeta (2) — Expectat Dominus, ut misereatur vestri, e perdoa-lhes, apenas lhe pedem perdão. Pois bem! Este Deus cheio de clemência, a quem fará misericórdia senão àqueles que tiverem honrado durante a vida o seu Coração, infinitamente misericordioso, e lhe tiverem oferecido tantos atos de reparação, tantas generosas satisfações, pelos seus próprios pecados e pelos dos outros?

II. Quão própria é a devoção ao Sagrado Coração para nos tranqüilizar com relação ao Juízo. Porquanto, quem será o nosso Juiz? Consolemo-nos: “A nosso Redentor mesmo é que o Padre Eterno confiou o poder de nos julgar” — Omne iudicium dedit Filio (3). Também São Paulo nos anima dizendo: Quem é que vos condenará? É o mesmo Salvador que, para não nos condenar à morte eterna, condenou-se a si mesmo à morte por nós, e, não contente deste imenso benefício, continua ainda a interceder por nós no céu junto de Deus, seu Pai (4). Oh! Que sinal de predestinação é a devoção ao Sagrado Coração! Oh! Quão doce é morrer depois de ter sido discípulo fiel do Coração de Jesus.

Ah! Meu Jesus, quando virá o dia em que poderei dizer: Meu Deus, não posso mais Vos perder? Quando vos verei face a face e estarei certo de Vos amar com todas as minhas forças durante toda a eternidade? Ó meu Bem supremo, meu único amor, enquanto eu viver cá na terra, estarei sempre em perigo de Vos ofender e perder a vossa amável graça! Houve um triste tempo em que eu não Vos amava, em que desprezava o vosso amor, agora arrependo-me de toda a minha alma e confio que já me haveis perdoado; amo-Vos de todo o meu coração, desejo fazer tudo o que posso, para Vos amar e Vos agradar. Contudo, estou sempre exposto ao perigo de Vos recusar o meu amor e afligir o vosso divino Coração que tanto amor me tem.

Ah! Meu Jesus, vida e tesouro da minha alma, não o permitais. Se esta desgraça extrema tivesse de me suceder, fazei antes que eu morra neste momento do modo mais doloroso; eu o aceito e Vos darei as graças por isto. Eterno Pai, pelo amor de Jesus Cristo e pelos merecimentos do seu divino Coração, não me desampareis no meio dos perigos que me cercam. Castigai-me quanto quiserdes, mas preservai-me da desgraça de perder o vosso amor. Maria, minha boa Mãe, obtende-me do Coração tão generoso do vosso Filho a perseverança na sua amizade.

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1. Prov. 8, 17.
2. Is. 30, 18.
3. Io. 5, 22.
4. Rom. 8, 34.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 462 - 464.)

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