12 de fevereiro de 2014

O Diabo, Lutero e o Protestantismo - Pe. Júlio Maria - Capítulo 14

CAPÍTULO XIV

OS SUCESSORES DE LUTERO
Já vimos pormenorizadamente a reforma de Lutero e a contra-reforma da Igreja Católica.
Esta ação simultânea, gigantesca, não podia limitar-se à época; devia influir nos séculos posteriores.
Como sinal distintivo desta luta, podemos dizer que é a realização da grande profecia proferida no berço da humanidade: porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua posteridade a posteridade dela. Ela pisar-te-á a cabeça, e tu armarás traições ao seu calcanhar.
Até a época de Lutero tinha havido heresias, não há dúvida, porém heresias parciais, que foram se dissipando diante de um estudo mais apurado da verdade em discussão. A grande heresia, a heresia universal, que procura, sempre e em tudo, dizer o contrário da Igreja, é o protestantismo.
Os dois campos separaram-se, bem definidos.
De um lado Satanás com seus adeptos, em atitudes de protesto; de outro lado a Virgem Santíssima com o exército dos escolhidos.
A posteridade de Lutero continuou e continua; enquanto a posteridade da Igreja, da Virgem Santíssima continua, igualmente, esmagando a cabeça da serpente, representada pelos protestantes, assíduos em armar contínuos assaltos ao calcanhar dos católicos.
Terminou, sem dúvida, a luta religiosa, brutal, sanguinária, de Lutero, porém o seu ódio continua na ação de sua posteridade, incapaz de viver sem atacar a Igreja Católica.
Os católicos, por sua vez, devem responder às objeções, repelir os ataques e restabelecer a verdade deturpada.
A luta continua e perdurará sempre, até a misericórdia divina abrir os olhos aos nossos irmãos dissidentes, fazendo-os compreender o seu erro e a sua heresia.
No presente capítulo vamos seguir um instante o desenrolar do protestantismo, as mudanças, o seu esfacelamento em centenas de seitas diferentes.
Não é preciso seguir a origem de todas as seitas, pois só as principais são uma 888 (veja NE no parágrafo acima) sem falar das milhares de pequenas seitas secundárias.
Escolhamos entre elas as 4 seguintes, amostra e modelo das outras, e analisemo-las mais minuciosamente.
1. Os batistas, fundados em 1534 por Leyde.
2. Os presbiterianos, nascidos em 1555, por obra de Knox.
3. Os quakers, fundados em 1650, por Fox.
4. Os metodistas, fundados em 1738, por Wesley.

1. OS BATISTAS
A seita batista das 888 é, talvez, a mais pretensiosa, rancorosa e fanática.
Estes sectários não querem ser netinhos de Lutero, e, para renegar a sua origem, fabricaram-se uma genealogia que remontaria até S. João Batista.
É grotesco, mas o absurdo, na linguagem da reforma, se denomina ciência e progresso.
Com uma seriedade que faz rir, estes protestantes dizem ter a verdadeira Igreja fundada por Jesus Cristo sido infiel à sua missão, falsificado a doutrina de seu fundador, tornando-se desse modo, inépta para conduzir as almas ao céu; uma parte, entretanto, ficou fiel, separou-se do restante, e foi assim atravessando os séculos até chegar a nós, sob o título de “batistas”.
Escalando, porém, todo o curso da sua história, chega-se a uma tristíssima figura de polígamo chamado JOÃO DE LEYDE, um doido, amancebado com 17 mulheres.
Este homem exaltado é o único e verdadeiro fundador desta seita.
S. João Batista figura no credo batista, como Pilatos figura no nosso; o nome do precursor é para eles um meio de se atribuírem uma origem remota e de esconder melhor a vida torpe e escandalosa de seu genuíno pai.
* * *
O princípio de discórdia foi o batismo das crianças.
Já no princípio da reforma Lutero condenava os chamados profetas de Zwickau, cujo chefe e fundador era o famoso TOMÁS MUNZER, como vimos, um dos participantes na revolta dos campônios, preso na batalha de Frakenhausen, e aí decapitado.
Os sectários de Münzer fizeram depois da cidade de MÜNSTER o centro de sua ação, e foram chamados de ANABATISTAS, um dos quais chamado JOÃO BOCKHOLD, mudou depois o seu nome em JOÃO DE LEYDE; este fanático revolucionou a cidade em 1534 e, na frente de um verdadeiro exército de exploradores, expulsou o bispo, - estabeleceu a comunidade de bens e a poligamia, entregando-se a mil extravagâncias de pseudo êxtases, de profecias e visões.
* * *
Em 1536 um pároco católico de WITTMARSUM, MENON SIMÃO, seduzido pela reforma, apostatou e abraçou as idéias de João de Leyde.
Menon quis suavizar um pouco a doutrina dos sanguinários ANABATISTAS; para distinguir a sua reforma das seitas congêneres, deu-lhe o nome de BATISTAS.
MENON morreu pobre, deixando na miséria a sua infeliz amásia com 10 filhos.
Os batistas estiveram, pois, a sua origem de João de Leyde e de Menon, sacerdote apóstata, de maus costumes, que os separou dos anabatistas.
A doutrina dos batistas reformados respirava ódio implacável ao poder civil.
Batizavam somente os adultos, com uma imersão completa, e estavam aferrados à teologia calvinista da predestinação, salvação e santificação do sábado em vez do domingo.
João Leyde, tendo chegado a dominar com seus adeptos a cidade de Münster, proclamou-se REI ABSOLUTO DE SIÃO, casou-se com 17 mulheres, deu o exemplo da mais hedionda orgia e mandou executar, sem julgamento, todos aqueles qu3e se opuseram à sua vontade.
A reação não se fazer. Os católicos, indignados contra o monstro, cercaram a cidade. Esta se encontrava sem víveres. O carrasco Leyde mandou retalhar os cadáveres dos mortos e distribuir as suas carnes para alimentar os vivos.
O cerco da cidade apertou-se cada vez mais, e, tendo sido tomada a praça, João de Leyde foi supliciado pela indignação popular.
Os anabatistas, repelidos em toda a parte pelos seus crimes de violência e imoralidades, foram se espalhando e enfraquecendo, dando origem a várias seitas novas.
Em 1.600 um anabatista fundou na Holanda a nova seita dos MERGULHADORES (DOMPELAARS).
Estes conservaram as mesmas idéias a respeito do batismo das crianças e obrigaram os adultos a um segundo batismo pela imersão.
Da Holanda as idéias anabatistas passaram à Inglaterra, penetraram na seita dos puritanos, e formaram uma nova ramificação: OS CONGREGACIONALISTAS.
Nesta nova seita, cada grupo devia reger-se a si mesmo; só os anciãos tinham direito de ensinar e apenas os rebatizados podiam ser admitidos.
Entre estes houve nova subdivisão: uns admitiam o batismo por INFUSÃO e outros por IMERSÃO; os primeiros chamaram-se: os primeiros GENERAIS-BATISTAS; os segundos eram ANABATISTAS.
Em 1640, HENRY JESLEY, pastor puritano, mandou um delegado para a Holanda, para ali receber dos mergulhadores o batismo de imersão, e depois, implantar a mesma prática na Inglaterra, onde introduziram a nova seita dos BATISTAS, cujos adeptos foram os puritanos que se insurgiram contra as determinações reais em matéria religiosa.
A seita ficou sem importância até 1688, data em que começou a se expandir na América do Norte.
Os pastores batistas sujeitavam-se servilmente às comunidades cujos membros se consideravam SANTOS ELEITOS, não obstante se entregarem a todos os vícios e torpezas, porque não admitiam o sexto mandamento do Decálogo.
Atualmente os batistas estão classificados como socialistas e anarquistas; as outras seitas não reconhecem a liberdade de LIVRE ARBÍTRIO; os batistas ensinam a licença, isto é, o abuso da liberdade.
Para onde vai o bode com ele vai a catinga, diz o povo.
Os batistas vieram para o Brasil, fundaram colégios, revistas, etc. que trazem o mesmo cunho de SOCIALISMO (quem sabe?) senão o comunismo.
Entre as demais seitas distinguem-se pelo seu orgulho, sua pretensão desenfreada, seu ódio aos sacerdotes católicos, procurando por todos os meios atrair para as suas fileiras os pobres decaídos e indignos, que querem vender sua batina por uma costela de Adão.
É bem a catinga do bode!... Eles continuam a mostrar-se os descendentes de um louco exaltado e de um padre apóstata e sacrílego.
* * *
A nova seita trilhou o caminho das outras: tempo de entusiasmo, perseguições das outras seitas, proteção de Lorde Oliver Cromwell, lutas intestinas na seita e divisões.
Em 1793, rebentou a primeira divisão, ocasionada por WILLIAM CAREY que de encontro às idéias batistas, aceitara uma missão entre os pagãos.
Outras divisões tiveram lugar por causa do batismo.
Uns rejeitaram completamente este sacramento intitulando-se IGREJAS ABERTAS\outros iam negando o caráter sacramental, considerando-o como simples cerimônia bíblica, sem força para dar a vida sobrenatural.
Um puritano inglês, Roger William, fez-se batista, veio para a América, onde fundou nova seita chamada: BATISTA DOS SEIS PRINCÍPIOS.
Houve, deste feito, em pouco tempo, os BATISTAS LIVRES, os BATISTAS REFORMADOS, os BATISTAS CAMBELISTAS, os BATISTAS CONGREGADOS, os BATISTAS DOS SEIS PRINCÍPIOS, os BATISTAS DO SÉTIMO DIA (ADVENTISTAS), os BATISTAS DE IGREJAS ABERTAS, os BATISTAS DA IGREJA DE DEUS, os BATISTAS CRISTIANOS, etc., etc..., os BATISTA DE COMUNHÃO LIVRE etc.,etc.,
Em julho de 1905 fundou-se a UNIÃO MUNDIAL BATISTA, para dar uma semelhança de aliança, o que é inteiramente impossível, visto não haver união na fé, sem sequer sobre a divindade. A interpretação individual da Sagrada Escritura não permite a concórdia, nem ao menos acerca de pontos essenciais da religião, pois: QUOD CAPITA, TOT SENSUS, quantas cabeças há tantas idéias haverá.
No Brasil a obra capital, fundamental, que concentra toda a atividade dos batistas é caluniar a Igreja Católica, ridicularizar o ensino desta Igreja e procurar aliciar padres vacilantes ou ciciados, por meio de empregos lucrativos e casamentos sacrílegos.
São sofistas, semeando o ódio nos corações dos ignorantes contra uma doutrina que eles mesmos ignoram e contra uma instituição que desconhecem por completo.
Pode-se dizer que é a seita mais baixa, mais fanática, mais hipécrita de todas as geradas pela reforma luterana.
E qual é o seu característico doutrinal?
“É a pretensa liberdade de não obrigar os adeptos a aceitarem um símbolo claro, preciso, e não conhecer em obrigações impostas pela fé”.
Para ser batista basta fazer-se rebatizar por meio de um banho público em qualquer riacho, ter ódio à Igreja Católica, a Maria Santíssima e ao Papa; com tal bagagem religiosa, qualquer idiota ou ignorante vira de repente batista fervoroso.
Nascido na lama e da lama, a seita batista exerce um apostolado de lama. O ódio, a calúnia e o empenho diabólico de procurar fazer cair em suas armadilhas, pobres e infelizes sacerdotes já infiéis à virtude e a seu caráter, para depois se tornarem infiéis a Deus e à verdade, é o princípio da ação.

2. OS PRESBITERIANOS
O fundador da seita dos presbiterianos e dos puritanos é JOÃO KNOX, uma das figuras mais repelentes da reforma.
Nasceu na Escócia em 1515. Foi ordenado padre parecendo oferecer garantias de perseverança, porém poucos anos depois mostrou o que era: escravo dos vícios e instintos revolucionários.
Aderiu logo às idéias protestantes, e, tendo sido denunciado ao seu bispo como herege, foi interrogado e repreendido, para que mudasse de idéias. Não querendo sujeitar-se e continuando a mesma vida, foi condenado como herege e degradado do sacerdócio.
O primeiro ato, que o tornou conhecido, foi a sua cumplicidade no assassínio do cardeal Beaton, arcebispo de Santo André.
Começou a pregar a reforma e ao mesmo tempo tornou-se INFAME, pelas torpezas praticadas com a mãe de sua amásia e com outras mulheres, donde resultou grande escândalo entre seus próprios sectários Hungen-rethes – Hist. Ec. T.V. p. 247).
Forçado a fugir por causa das suas infâmias e violências, refugiou-se em Genebra, ao lado de seu amigo Calvino; ali acabou de instruir-se no ódio à Igreja Católica e na prática de todas as devassidões.
E, 1555 voltou à Escócia, continuando as suas pregações e invectivas contra o Catolicismo.
Reclamava para si a tolerância, mas não a exercia para os outros, fazendo infligir os mais cruéis castigos aos que assistiam à Missa.
A sua violência exasperou a multidão. Esta quis prendê-lo. Foi novamente declarado herege e a sua efígie foi queimada em praça pública, em Edimburgo.
Fugiu outra vez para Genebra, ficando com Calvino até 1559.
Regressou então à Escócia pôs-se à frente de uma multidão de fanáticos e, nessa ocasião, praticou uma infinidade de roubos, incêndios e assassínios, além dos crimes infamantes de que já estava coberto.
Com efeito, por instigação de Knox, foram barbaramente assassinadas, depois de uma anistia, 78 pessoas da mais alta sociedade, como senadores e bispos.
Atiçou a revolta contra a rainha Maria Stuart, católica fervorosa, e implorou o auxílio da rainha Isabel, para firmar o triunfo do presbiterianismo.
Ele mesmo pediu a Cecil, ministro de ISABEL, “cortasse o mal pela raiz”, isto é, que mandasse assassinar Maria Stuart.
E, juntando blasfêmias aos outros crimes que praticara, pedia a Deus a sabedoria para aqueles a quem aconselhava assassinar a sua soberana.
A morte de Knox foi o que fora a sua vida: um modelo de hipocrisia infame.
Esse perseguidor e sacrílego, cúmplice de tantos morticínios, profanadora de Igrejas, causa da matança do povo, esse homem morreu proferindo uma mentira infame: “Deus sabe, diz, que jamais tive ódio às pessoas, mas sim aos seus pecados, e trabalhei para encaminhá-las a Jesus Cristo!. Devia ter ajuntado: “assassinando-as”.
Knox deu a seus adeptos o nome de PURITANOS que significa: santos eleitos.
Já naquele tempo dia um escritor protestantes: “tal título fazia rir até aos diabos do inferno”.
Os puritanos se separaram da igreja anglicana episcopal, rejeitando o episcopado, para se tornarem os “puros eleitos”.
De víbora só sai víbora.
Das víboras: Calvino e Knox proveio a víbora dos puritanos, seita que pretende reduzir a Igreja ao puro estado primitivo, dizendo-se “santos eleitos”, embora tenham saído uma fonte tão imunda como é o fundador Knox.

3. OS METODISTAS
Entre as diversas seitas protestantes a de origem menos desonesta é o metodismo; digo a origem, pois desde o tempo de seu fundador JOÃO WESLEY, a divisão e a corrupção entraram na seita e nela operaram os estragos que havia e ainda há nas outras.
Justiça seja feita ao fundador, a quem não se podem negar boas intenções, uma vida regrada, honesta, isenta de escândalos.
Comparando a vida de João Wesley com a de seus colegas reformadores, ele nos aparece quase como um santo no meio de uma corja de autênticos bandidos.
A seita metodista não correspondeu ao desinteresse e às boas intenções de seu fundador, e fica-lhe, como característico, a sua origem puramente humana, desprovida de autoridade para dirigir as almas e levá-las a Deus.
João Wesley nasceu em junho de 1703. era filho de uma pastor anglicano, homem de nos sentimentos, casado com uma mulher igualmente distinta e piedosa.
Fez os seus estudos e recebeu a ordenação sacerdotal na igreja anglicana, em 1728.
No ano seguinte, auxiliado por seu irmão, Carlos, e por mais dois amigos: Morgan e Kirkman, fundou, em Oxford, um clube para iniciar uma vida mais religiosa.
Os membros de tal clube dedicavam-se à leitura das Bíblia, à visita dos pobres e enfermos e à instrução dos presos.
Pela regularidade dos sócios ao seu regulamento, os estudantes de Oxford chamaram-nos “metodistas”, enquanto os sócios se intitulavam um pouco pretensiosamente “clube dos santos”.
O número de sócios crescia dia por dia. Cehgou a contar homens de real valor tanto pela vida como pelos conhecimentos.
Até 1738 o clube progrediu, conservando um espírito religioso sincero e ativo, que se manifestava pelas obras de caridade e de dedicação; desde então data a sua decadência.
* * *
Um seita alemã, “os hernhutters”, juntou-se ao clube, trazendo idéias novas de uma religiosidade toda sentimental: convicção de estar em graça de Deus; convicção que, entrando na alma, lhes trazia uma paz celeste.
Compreende-se logo que tal doutrina falsa tenha enganado facilmente almas sonhadoras, inclinadas à nevrose e ao misticismo doentio.
Wesley abandonou deste modo a doutrina evangélica inspirada e aceitou idéias humanas de uma seita filha do luteranismo.
Continuou com seus companheiros, a pregar, com zelo e sem medo, nas igrejas anglicanas, até que, em princípios de 1739, a autoridade anglicana lhes interditasse o acesso a seus templos.
O reformador prosseguiu a sua evangelização nas ruas e nas praças públicas e a sua palavra ardente, fogosa, alcançou resultados admiráveis, mas de pouca duração. Em 1740 deu-se a primeira cisão da seita. O clube se separou dos “hernhutters”, dos quais havia recebido o princípio fundamental da sua vida interior.
O ano seguinte, nova divisão foi operada por um de seus mais ardorosos companheiros, Jorge Whitefield, que aceitou a doutrina calvinista da predestinação, doutrina que Wesley odiava como blasfematória.
Foi a origem da seita metodista-calvinista.
* * *
Diante do começo de esfacelamento da sua obra, Wesley imaginou um meio de organização mais rígida; dividiu a seita em sociedades; cada sociedade em classes; cada classe continha apenas 12 pessoas e um condutor.
Os Condutores de classes deviam, cada semana, dar informações a Wesley. Cada condutor tinha um adjunto que devia semanalmente conferenciar com todas as pessoas da sua classe, uma por uma, sobre s situação espiritual das suas almas.
Mais tarde Wesley completou a nova organização pela instituição dos circuitos, reunindo várias sociedades num circuito, presidido por um superintendente.
Os superintendentes deviam reuni-se de 3 em 3 meses, numa espécie de concílio, para resolver, sem apelação, todas as dificuldades e responder a todas as questões.
Em 1770, quarenta anos depois do nascimento da seita, o metodismo contava 50 circuitos, com 30.000 adeptos.
Como se vê, este homem, que parecia sincero, sentia a necessidade de uma autoridade suprema, infalível; e, negando esta prerrogativa ao Papa e aos concílios dos bispos, copiou a hierarquia da Igreja Católica, Atribuindo a infalibilidade a um grupo de homens, entre os quais ele mesmo era o Papa.
Temos, deste modo, Wesley na função e no lugar do Papa; superintendentes, em vez de cardeais; chefe de sociedade, em vez de bispos; condutores, em vez de párocos. Os nomes forma mudados; os ofícios e a hierarquia ficaram.
Infelizmente, apesar de tão boa e lógica organização, faltava à seita de Wesley o lado sobrenatural, a convicção da doutrina e a assistência da graça divina.
O reformador sentia a necessidade de uma autoridade infalível, mas não aceitando a estabelecida por Jesus Cristo, foi obrigado a instituir uma autoridade puramente humana, como impossível, pois só Deus pe unbfalível, e aquele a quem ele comunica este privilégio, como o fez a S. Pedro.
* * *
João Wesley era simples sacerdote anglicano, e, como tal, não podia transmitir o sacerdócio a seus pregadores. Pediu aos bispos anglicanos que dessem ordenação aos seus companheiros; encontrando, porém, oposição da parte dos anglicanos resolveu ele mesmo ordenar sacerdotes.
Foi uma nova causa de divergência. Seu irmão Carlos, o amigo mais dedicado, separou-se dele, não admitindo tal ordenação feita por simples sacerdote.
Este fato veio completar e salientar a origem puramente humana do metodismo.
O princípio fundamental da sua vida interior é o subjetivismo sentimental dos “hernhutters”; a autoridade doutrinária, moral e eclesiástica é a autoridade dos CHEFES DE CIRCUITOS; e o poder sacerdotal para a confecção da ceia é a própria autoridade de Wesley fazendo-se bispo.
O fundador do metodismo morreu em 1791.
Não se pode negar a João Wesley muita sinceridade, boa vontade, zelo e uma vida honesta, isenta desta libertinagens que distinguem a maior parte dos reformadores.
Nascido no anglicanismo, compreendeu ele os erros da seita e separou-se dela; procurou restabelecer ele mesmo a verdade, em vez de subir até o berço renegado pelo anglicanismo, e que a Igreja Católica lhe teria mostrado. Pode ter sido por ignorância no assunto proveniente da convicção exagerada de estar na verdade, e de a Igreja Católica, como tanto o repetia útero, ter-se afastado da doutrina de Jesus Cristo.
Há em tudo isto pontos escuros e bastantes interrogações, é certo, e, apesar da sua boa vontade e zelo, custa-nos acreditar que Wesley não tenha suspeitado, pelo menos, no meio das divagações das seitas religiosas, que a verdade, a única verdade, estava com o Papa de Roma e a Catolicidade.
Seja como for, o certo é que entre todos os reformadores Wesley é a figura menos antipática e menos extremista que a história nos apresenta, não obstante numerosos erros de prepotência e usurpações de poder, no quais caiu, até julgar-se um verdadeiro Papa.
* * *
Apesar da vida regular de seu fundador, o metodismo não escapou à putrefação que sempre ataca as seitas separadas de Roma.
Um escritor desta época já dizia, do tempo de Wesley: “Cada metodista representa ou, para melhor dizer, contém em si um curso ambulantes, completo de imoralidade, como os batistas”.
Eis o que escreveu um zeloso partidário de Wesley: “Semelhante ao fogo, diz Flechter, a imoralidade está fazendo pavoroso estrago em nossas fileiras. Entre nós há quem fale do divino Salvador, com um ar de compunção; entretanto, entrega-se ao mesmo tempo aos mais hediondos crimes.
Em quase todas as nossas igrejas, a fraude, a injustiça, o perjúrio, o adultério, etc. caminha de cabeça erguida e reinam soberanamente.
Vejo homens dizerem-se crentes e, ao mesmo tempo, entregarem-se à maiores torpezas da natureza corrompida; vejo pastores lastimarem-se do império conservado pela lei em suas consciências: „Nossos corações depravados, dizem eles, nos sugerem a fazer alguma coisa para a nossa salvação”.
“Em vez de refletirem e combaterem o vício, ao contrário, os pastores fazem dele a mais rasgada apologia, do alto da cadeira, e vão propinando o veneno da imoralidade, gota por gota, nos corações dos ouvintes”.
O Dr. Halle, luzeiro metodista, chegou a sustentar que o adultério, o infanticídio, etc. longe de enfraquecerem a graça, aumenta a santidade diante de Deus.
“Cometesse eu pecados mais graves que Manasses, diz ele, seria ainda um filho da graça. Tu te enchafurdas na lama do pecado; cometes incesto, adultério; tens as mãos tintas no sangue inocente, não importa, és bela, minha amada, minha esposa fiel és imaculada. É certo que o adultério, o incesto e o homicídio me tornam mais santo, mais aceito no céu” (Flechter: cheks to Antinam, vol. S2, pág. 200).
Wesley ensinou também que a justificação está na fé e não na prática das boas obras, de modo a adotar o mesmo princípio básico do luteranismo: Peca corajosamente e crê mais firmemente: - Pecca fortiteret crede fortius.
Tal máxima é a apologia mais completa dos maiores crimes, como do assassínio, do roubo, do adultério, do infanticídio, do incesto, da poligamia, enfim de todas as torpezas escandalosas de que os protestantes foram propagadores, como no-lo mostra a história imparcial.
Já durante a vida do fundador mostraram-se causas de separação futuras: o descontentamento de pregadores não eleitos como membros de conferência geral; a parte leiga querendo participar na administração da seita; o orgulho ferido de pregadores destituídos.
Em 1797 o pregador Kilham fundou uma nova seita: UNIÃO METODISTA NOVA.
Em 1810 fundou-se a seita: “União Metodista Primitiva”.
Em 1815 o pregador Bryan principiou a seita metodista dos CRISTÃOS BÍBLICOS.
O ano de 1815 viu nascer a seita dos “metodistas WESLEYANOS ORIGINÁRIOS”, formada pelo pregar Averil.
O Ano de 1828 produziu duas novas seitas: a dos “Wesleyanos Independentes” e a dos “Metodistas Wesleyanos Protestantes”.
O pregador Warren fundou em 1829 uma outra seita: a “Associação Metodista Wesleyana”.
Em 1857, de uma só vez, se separaram da seita madre 19.000 adeptos e formaram juntos com os “Wesleyanos Protestantes! E a associação nascida em 1829; “Igrejas Livres Unidas ao Metodismo”.
No mesmo tempo outra parte abandonou az mãe para constituir a “União Wesleyana Reformada”.
* * *
A conferência geral lutou para salvar a situação, e, para não ver a debandada geral, institui em 1878 uma outra conferência, chamada representativa, cotando 480 membros: 140 clérigos e 240 leigos.
Tal mudança de regime e de autoridade salientou mais claramente a orig humana da sei e ausência do elemento divino.
Mas nem aquela medida da conferência geral, aceitando diretamente o elemento leigo no governo da igreja impediu a desmembração do metodismo.
Hoje em dia (1950) absolutamente separadas umas das outras, portanto não constituindo uma Igreja una, há a conferência CANADENSE, a AUSTRALIANA, a FRANCESA, duas na ÍNDIA OCIDENTAL e a SUL-AFRICANA... ... ... ...
Na América do Norte, Tomás Coke, ordenado por João Wesley, ordenou, por sua vez, o pregador leigo Asbury. Os dois tomaram, por própria autoridade, o título de bispos e principiaram assim a Igreja Metodista EPISCOPALIANA, a seita preponderante na América e a mais agressiva.
A Igreja Metodista Episcopaliana, por sua vez, provou a sua fraqueza, dividindo-se em seitas independentes.
Só nos Estados Unidos há 16 igrejas metodistas saídas da seita episcopaliana: igreja protestante metodista, igreja original metodista, igreja congregacionalista metodista, igreja metodista livre, igreja congregacionalista nova, igreja independente, sete seitas independentes para negros (umas na América, outras na África), etc. Os alemães têm na América: a igreja metodista “dos irmãos unidos em Cristo” e “da união evangélica” etc., etc.
Magnífica resposta do metodismo à oração de Jesus na última ceia: Ut unum sint sicut et tu, Pater, et ego unum sumus, unidade de natureza unidade de idéias, unidade de vontade, unidade de operação!
Desde 1881 se reuniu cada sete anos uma conferência geral de todas as seitas metodistas, para tentar uma aparência de união e uma semelhança de concordância na doutrina, o que jamais conseguiram.
* * *
O fazendeiro Jacó Albrecht não concordando, na igreja metodista episcopaliana, com a eleição dos bispos para a vida toda, fundou em Pensilvânia a sua seita metodista, estipulando os bispos ficarem bispos durante 4 anos somente. Da Pensilvânia se ramificou na Alemanha; o total de adeptos nunca ultrapassou a 500 mil almas.
O metodismo original, de João Wesley, tem como idéias principais as seguintes: A Escritura Sagrada é a única fonte de doutrina. Sobre Deus e a Redenção por Jesus Cristo aceita a doutrina Católica. O pecado original é explicado francamente no sentido protestante. Negam a instituição do Papado por Cristo.
Dos sacramentos ficam dois: o batismo e a ceia. Mas o batismo é simplesmente uma cerimônia de entrada na seita e não dá o renascer como filho adotivo de Deus.
A justificação se opera pela fé e o Espírito Santo manifesta diretamente de maneira incontestável à alma justificada a sua aceitação como filho de Deus.
Na comunhão o fiel bem disposto recebe espiritualmente o corpo e o sangue de Cristo.
As boas obras não têm merecimentos, mas são necessárias para a salvação.
A doutrina sobre a morte, o juízo, a ressurreição, o inferno e o céu, concorda com a doutrina católica.

4. OS QUAKERS OU TREMEDORES
Como a seita dos batistas, também a dos quakers nasceu da seita anglicana. O grande viveiro das seitas que surgiram nos últimos séculos.
O nome da seita “quakers” – quer dizer “tremedor”. Foi dado ao fundador da seita, o inglês George Fox, pelo juiz de Nottingham no ano de 1650, quando, tendo de julgar a Fox acusado de blasfêmia, este último interpelou o juiz, dizendo-lhe que honrava a Deus e tremia em sua presença.
GEORGE FOX, nascido em Drayton (Inglaterra) no ano de 1624, pertencia à igreja anglicana.
Já quando rapaz, em vez de brincar com seus camaradas, às mais das vezes ficava sozinho, lendo e meditando sua Bíblia.
Um dia, Fox, contando então 19 anos, escandalizou-se à vista da embriaguez de dois pastores anglicanos: retirou-se à sua casa, andou uma grande parte da noite no seu quarto, não conseguindo dormir, rprostrando-se à miúdo por terra para rezar. Na sua imaginação cansada o melancólico jovem ouviu uma voz que lhe dizia: “Vê como os homens se deixam arrastar pelas vaidades: afasta-te para longe deles e fica como estranho para eles”.
Fox abandonou tudo: casa, família, amigos e trabalho, viajou a pé desde 1643 até 1547 de lugar a lugar, cheio de dúvidas, martirizado por tentações de desespero, vituperado e desprezado pelo povo.
Naquele estado de alma julgou, em 1647, ouvir uma voz no seu interior dizendo-lhe: “Um só pode ajudar-te ainda: Jesus Cristo. O teu nome está escrito no livro da vida”. Sossegou-se-lhe a consciência e se esforçou para conhecer bem o Cristo.
Neste estado psicológico, que as quimeras melancólicas e a antropofobia de tantos anos tinham posto na alma de George Fox, não podia ser mais pelo ensino eclesiástico, pelas argumentações universitárias nem pela leitura da Bíblia, que teria ele o meio de encontrar a verdade.
Este era o princípio de Fox: “O homem aprendeu a verdade somente pela voz divina, falando na alma humana”.
* * *
Fox logrou ganhar algumas pessoas para a sua ideologia e com elas fundou em 1649 a sua seita; chamou-a “Associação dos Amigos”.
Sem medo, eles pregavam atacando os vícios do mundo. Muito tiveram de sofrer das autoridades anglicanas; pouco a pouco cresceu o seu número, e, em 1654, 60 missionários tremedores percorriam a Inglaterra.
Como Fox, negavam o direito da guerra e o serviço militar, ensinando toda briga vir da paixão má do coração; muitos dos seus adeptos entravam no serviço militar para semear as idéias do chefe entre os soldados e acabar com o exército.
Vários quakers, impelidos por seu espírito imaginário, praticavam atos que acabavam em escândalo e demência.
Alguns houve que jejuaram até à inanidade, ficando vários dias em espasmos mortais; outros, na igreja, despojavam-se dos vestidos do corpo, ficando nus para indicar o seu renascer no Espírito Santo; estes, para imitar os profetas, vestiam-se de peles de ovelhas e de outros animais; aqueles
pregavam nas ruas contra as autoridade e insultavam nas igrejas os pregadores anglicanos, chamando-os animais, cães, hipócritas, servidores do anticristo, etc.
O quaker Perrot ousou ir a Roma, para converter o Papa.
O quaker Naylor se deixou honrar como o “mais belo dos filhos dos homens", “o rei da paz", “o rei eterno”; entrou festivamente em Bristol, enquanto as mulheres lançavam ramos e vestidos nas ruas, cantando: “Hosana àquele que vem em nome do Senhor”.
* * *
Só em 1660 é que elementos mais pacíficos começaram a dominar.
Foram compostos regulamentos da seita sobre as reuniões religiosas, o matrimônio, os cuidados a prestar aos pobres, etc. Somente nas questões de fé nada foi indicado como obrigatório; cada um devia experimentar a inspiração do Espírito Santo.
Contradição flagrante: “Desconfiar da condução pessoal do Espírito Santo na vida eclesiástica e moral e abandonar-se completamente à inspiração pessoal do mesmo Espírito na vida intelectual”. Na ausência absoluta do princípio filosófico: “as idéias governam o homem”.
Se o Espírito Santo inspira realmente as idéias da fé a cada um em particular, então estas idéias deveriam conduzir a pessoa na fé praticada, e não os regulamentos e estipulações vindos de fora.
No ano de 1673 principiaram as cisões.
O quaker Perrot se separou do chefe Fox e condenou o costume de ajoelhar-se e descobrir a caça durante as orações. Exigiu que se tirassem os sapatos e que se prostrasse a face por terra; não quis que obrigação alguma, de qualquer natureza, fosse imposta; ninguém devia fazer coisa alguma e até deveria deixar de assistir às reuniões religiosas, sem impulso pessoa do Espírito Santo.
O quaker Mucklow proibiu toda autoridade ou ministério na seita que ele formou, pois somente o Espírito Santo devia ser o Pastor, o Pregador e o Ancião. Deste modo, os princípios de Fox foram aplicados ao pé da letra.
Story e Wilkinson não chegaram a este extremo, mas formaram grupos com idéias contrárias a Fox.
A consolação de Fox, sempre perseguido e lançado várias vezes na prisão pelos anglicanos, foi William Penn, o mais famoso dos quakers, fundador da seita de Fox nos Estados Unidos, e Barclay, o teólogo da seita. Este deu um corpo de idéias e as explicou na sua apologia da fé dos quakers, trabalho que o mesmo Fox, por falta de instrução e formação intelectual não podia fazer.
Fox morreu em janeiro de 1691.
Depois da morte dos três chefes: Fox, com a sua vontade enérgica (1691), Barclay com sua ciência (1690) e Penn com seu idealismo (1718), a seita, pela sua doutrina de subjetivismo absoluto, contendo em si desde o princípio o germe da morte religiosa decaiu a pouco, mas definitivamente.
Primeiro acabaram-se as missões estrangeiras, fundadas por Fox.
Já desde 1720, aplicando a doutrina da luz interior desprezava-se a ciência e o preparo para os pregadores e foram admitidas, para pregar, pessoas sem instrução; imperceptivelmente abandonou-se todo cuidado interior das almas, e todo o interesse pelas questões eclesiásticas perdeu-se no povo quaker.
O deísmo nascente, rejeitando toda a revelação e aceitando só uma religião prática e natural, invadiu a seita, não obstante a excomunhão de Hannah Bernard que trabalhou muito para fazer entrar toda a seita no idealismo deístico.
Foi em 1822 que Elias Hiscks, pregador quaker, ocasionou a maior das separações. Rejeitou todos os dogmas que se relacionavam com o Cristo.
Para ele, e para a seita por ele formada, Jesus é somente um homem como nós pecável, apesar de não haver cometido pecado, e sua morte é sem valor para nós.
Contra Hicks e os seus que não fizeram mais do que andar no princípio errôneo dos quakers, enunciado pelo mesmo fundador da seita, sobre a luz interior, para chegar à verdade, subjetivismo absurdo, antibíblico, houve em 1837 uma reação radical, contrário ao princípio de Fox. Tomavam “o nome de amigos evangélicos”. Puseram o Evangelho dependendo das luz interior pessoal.
Exemplo manifesto da origem e do espírito humano das seitas.
Idéias humanas contra idéias humanas; até os princípio teológicos dos fundadores se perdem e são rejeitados, não unicamente pelas seitas secundárias que se separaram das seita mãe, mas também pelo grupo mesmo que se diz a legítima igreja do fundador. Assim o protestantismo primitivo de Lutero, no calvinismo, na seita batista, assim nos quakers e em todos.
À medida que a seita dos quakers ia perdendo a fé, com maior zelo praticava obras de caridade exterior e de filantropia.
Era a atividade exterior que substituía a ausência da fé interior, para ser o vínculo da união entre os adeptos da seita.
O número dos quakers das diversas seitas é, mais ou menos, 140.000.
Os quakers rejeitam todos os sacramentos. Batismo, de que fala Jesus, é para ele a conversão interior pela luz divina; a comunhão nada mais é que a participação da alma no corpo espiritual do Cristo.
Desprezam também qualquer fórmula de oração e culto prescrito; cada um ora e louva a Deus como e quando a inspiração divina lho sugere.
Não há pregadores oficiais; cada qual, homem ou mulher, sábio ou ignorante, tem de pregar e publicamente rezar nas reuniões, quando e da maneira que a luz interna inspira.
Barclay descreveu assim uma reunião de sua seita numa sala sem ornamentos somente há bancos, para que nada de exterior possa impedir as sensações religiosas; aí estão sentados os amigos da luz num silêncio profundo.
Pode acontecer que durante uma hora não haja interrupção do silêncio, afora algum gemido ou suspiro de um ou mais dos assistentes, no qual o Espírito Santo opera, até que no fim um dos fiéis se sinta impelido a comunicar suas experiências interiores pregação ou reza.
Acontece também que a reunião se disperse, sem que ninguém se sinta impelido a falar. Muitas vezes manifesta o trabalho interior em soluções em tremor. “Em movimentos vivos de todo o corpo, até que a vitória pertença à luz e saia em torrentes luminosas e júbilo santo”.
Assim escreveu Barclay. Teólogo quaker.
E um participante confessou haver visto muitos dormirem nas reuniões e outros com uma cara em que se via indisfarçável fastio.

5. A FRAGMENTAÇÃO PROTESTANTE
Limitemos-nos à exposição mais desenvolvida destas 4 seitas, pois é impossível retraçar a origem de cada uma das 888 denominações diferentes que hoje o protestantismo nos apresenta. Todas elas nasceram da corrupção, da ignorância ou da loucura.
Querer percorrê-las todas seria obra de muitos volumes, e não de um livro popular, que pretende apenas analisar a origem histórica e moral da seita em geral.
Tal árvore, tal fruto, disse o divino Mestre.
A árvore do protestantismo é a revolta e a libertinagem; esta árvore só pode produzir frutos de revolta e de devassidão.
De tal lamaçal, como é a vida de Lutero e de seus primeiros companheiros, só podem sair e só têm saído miasmas mortíferos, nauseabundos, que são as centenas de seitas, em luta umas contra as outras, a mostrarem a sua origem puramente humana e, o que é pior, o seu nascimento do vício.
A fragmentação em centenas de seitas é a prova mais palpável da falsidade do protestantismo.
A verdade é UMA SÓ; os erros pululam, justamente como a saúde é uma só, enquanto há centenas de moléstias.
Mal Lutero congregava na Alemanha um manípulo de sequazes sob a sua bandeira, e eis Zwínglio, na Suiça, a levantar outra seita; ao mesmo tempo Calvino, em França, recrutava nova seita, inimiga da Igreja verdadeira, e inimiga dos seus irmãos protestantes velhos.
A Inglaterra, por sua vez, julgou-se com direitos de inovação.
Henrique VIII, enforcando as suas esposas, para poder recomeçar a comédia, fundou o anglicanismo.
Luteranismo, calvinismo zwinglianismo e anglicanismo são quatro nomes, quatro partidos e quatro facções, quatro moléstias apoiadas todas sobre a Bíblia, cada qual pretendendo possuir o Evangelho puro; têm todas só um traço comum: o seu ódio à verdade católica, à única verdade ou à única saúde.
Daí por diante, cada século viu surgir dezenas e até centenas de novas facções, para a medicina vê surge em cada ano novas moléstias contra a única saúde.
Qualquer cabeça desequilibrada, fanática ou herética, que se sinta com coragem de exibir uma novidade, reúne adeptos, constrói um barracão e funda igrejolas.
Na Alemanha registraram-se, há poucos anos, 37 IGREJAS REGIONAIS, sem contar as IGREJAS LIVRES, que são centenas.
Na Inglaterra, contavam-se em 1900 perto de 300 seitas. Só na cidade de Londres há mais de 100.
Os Estados Unidos batem o recorde de excentricidade. Os relatórios oficiais indicam a cifra pasmosa de 288 seitas.
Os seus adeptos mudam de seitas, como se muda de loja: procuram aquela onde se vende mais barato.
Já quase ninguém pensa numa igreja verdadeira... pouco importa a verdade, trata-se de pertencer a qualquer seita, como se dá o nome a qualquer clube ou se filia a qualquer partido político.
Cada seita é uma espécie de clube de futebol ou de touring-club.
Os americanos deixaram o título de igreja, para adotarem o nome de denominação evangélica.
Tudo entre eles é evangélico: Deus, diabo, São Miguel, Satanás, Caifás, Pilatos, Judas, Barrabás, Holofernes, etc. Até a Torre de Babel... tudo é título evangélico.
É uma verdadeira palhaçada de circo.
Praticamente é o ATEÍSMO escandaloso.
Entre as 888 seitas, qual é a verdadeira?
Nenhuma.
A Igreja verdadeira é aquela por todas estas contradita e combatida, a única que não muda, que não se divide, que não se fragmenta: a IGREJA CATÓLICA, APOSTÓLICA, ROMANA.
É como se, ao ler uma lista de 888 moléstias, alguém perguntasse; qual delas é a saúde?
Nenhuma.
A saúde é a impugnada por estas moléstias, e tuda que ataca não passa de moléstia.

6. SEITAS... SEITAS... SEITAS...
A título de curiosidade, citemos pelo menos uns nomes da imensa lista de seitas protestantes, oficialmente reconhecidas como tais.
Basta citar uma centena, para não esgotar a paciência do leitor, deixando na sobre umas 800 outras.
Quem é capaz de percorrer uma tal lista?
Luteranistas; Calvinistas; Zwinglianistas; Anglicanistas; Metodistas; Anabatistas; Batistas regulares; Batistas dos 6 princípios; Batistas do 7º dia; Batistas de comunhão livre; Adamitas; Antinomistas; Trinitários; Antitrinitários; Socinianos; Latitudinários; Gomaristas; Episcopalianos; Presbiterianos; Huguenotes; Hussitas; Quakers; Adventistas; Unitários; Metodistas Livres; Metodistas primitivos; metodistas ocidentais; metodistas africanos;metodistas independentes; metodistas de nova Jerusalém; metodistas reformados; presbiterianos reformados e da velha escola; espiritualistas; Cristãos bíblicos; wesleyanos; mamilários; pastorecidas; mórmons; pentecostais;supralapsários; colegianos; facientes; lagrusiantes; indiferentes; multiplicantes; beamantes; labatistas; Scaqueros; Sumpers; gloaners; Milenários; wiferdenianos; recionalistas; generacionalistas; sonteístas; adioforistas; entusiastas; pneumáticos; intgerimistas;berboristas; evangelistas; lutero-calvinistas; Batistas; menicerianos; puritanos; sabaritanos; armênios-socianos; colônio-zeinglianos; ziandianos; lutero-oziandianos; estanerianos; anti-presbiterianos; lutero-zwinglianos; sincretianos; Sinerginianos; obquistianos; pietesianos; bonaquerianos; versecorianos; cesederianos; cameronianos; filisteus; mariscalianos; hofinsianeses; necessarianos; edivarianos; piestianos; viliefcedrianos; ambrosianos; morávios; monasterianos; antimonienses; anomênios; munsterianos; clancularis; grubembários; estabérios; baculários; nudípedes; sanguinários; confessionários; Impecáveis (que felizes!!!!!!); austeros; taciturnos; alegres; demoníacos; chorões; livres; espirituais; concubinos; apostólicos; oleiros; conformistas; episcopais; contra-remontantes; anticonvulsionários; Adioforistas; brownistas; amigos; místicos, conscienciosos; remontantes; herrenhuteristas; cripto-calvinistas; menoristas; socialistas; puséistas etc., etc., etc...
Até aqui 134. Quem poderá contar todas?
Basta esta lista! E falta ainda uma 800!!!

7. SEITAS EXCÊNTRICAS
Há seitas de uma excentricidade mais que ridícula... quase toda são exquisitas, mas há umas que levam a palma e merecem menção particular.
A Bíblia sem interpretação autêntica dá para tudo como cabeças exaltadas são capazes de tudo.
Abraão, prestes a sacrificar o filho Isaque, inspirou a um anabatista a idéia estupenda de degolar o irmão... E zás.... O anjo não apareceu e lá se foi a cabeça do mano!
Em Dower, uma mulher, pelo mesmo exemplo de Abraão, decapitou o filho (Cobeet, Letter XII).
Em Nova Iorque, outra mulher crucificou a própria mãe, após ter sacrificado um galo e um bezerro.
Imitadores dos antigos patriarcas, Carlostadt, João de Leyde, Oquísio e os mórmons pregaram e praticaram a pluralidade de mulheres e, cúmulo de heroísmo, também das sogras.
Biblicamente falando, aquilo tem seus visos de razão: Escutem o que Carlostadt escreveu a Lutero: “Já que nem tu, nem eu, nenhum texto encontramos contra a poligamia, sejamos bígamos, trígamos e tomemos esposas quantas pudermos sustentar. Crescei e multiplicai-vos! Ouves? Deixa-me, pois, cumprir a ordem do céu”
O patusco esquecia que a Nova Lei preceitua a monogamia e aconselha a virgindade...
Mas, não há pior cego que aquele que não quer ver. As passemos além... isso cheira a cúmulos de boemia.
O maná protestante serve para chorar e para rir. Surgiram, pois, as seitas dos chorões e dos folgazões.
Os chorões escoram-se no Salmo 51 e 79 que diz: “Dia e noite são as lágrimas meu pão” e no 79: sustentar-nos-á o pão de lágrimas!... Quem dará aos meus olhos uma fonte de lágrimas?”
Em obediência a estes textos bíblicos, os CHORÕES não comem sem antes soluçar, e regar o pão de lágrimas abundantes.
Quem não chora não mama favores divinos, naquela seita, à qual hoje apenas pertencem as senhoras vaidosas, quando o marido lhes recusa cortar o cabelo, as mangas e a saia.
Mas todos não dão para CHORÕES: não haveria cebola que chegasse!
* * *
Os FOLGAZÕES gargalham sempiternamente em obediência ao Salmo 31: “Alegrai-vos no Senhor, e exultai, justos!...”
São tais protestantes fonte de perpétuos humorismos... em casa como na rua, nos templos como no mercado, fungam de hilaridade ou torcem-se em sonoras risadas.
* * *
Outros lêem no Evangelho que o espírito sopra onde quer. Reúnem-se, pois, em silêncio, numa casa, lêem a Bíblia e daí a pouco começam todos a tremer como varas verdes, julgando-se cheios do Espírito Santo. Querendo obedecer ao conselho de S. Paulo: “Operai a vossa salvação com tremor e amor” (Tim 2,12), julgam ótimo tremer o dia inteiro, e até à noite, quando dormem.
É a seita dos QUAKERS ou TREMEDORES.
* * *
Serve para os países frios, onde a gente treme de frio... e para os estudantes na véspera e no dia dos exames.
* * *
Outros lêem, no salmo 22, estas palavras: A tua vara e o teu cajado me consolaram.
Procuram, pois, um valente cajado que lhes sirva de consolação e de defesa. Andam pelas ruas, apoiados sobre o humilde bordão que, em certas ocasiões solenes, vira insolente varapau.... sobre as cotas do próximo. É a seita dos BACULÁRIOS, havendo outra de igual jaez, chamada dos CACETES.
De uma e de outra, livrai, Senhor, as nossas costas!
Outros ainda, estribando-se em Eclesiástico: (3, 4): “Se há um tempo para prantear, o há também de saltar”, instituíram a seita dos PULADORES. Passam o dia em dar guinadas e pulinhos. Ótima seita para os dias de carnaval... mas, os entrevados, reumáticos e velhos, não podem pertencer a esta igrejola. Pelo contrário, a doutrina é ótima para a rapaziada e para os acrobatas.
* * *
Outros ainda (por que não?) – pois o maná e remédio universal – outros encontram em S. Mateus (10,20): “Não sois vós que falais, mas o Espírito Santo que está em vós”. Bela ocasião de falar francês, grego, hebraico, e até chinês, mesmo quem não sabe nem o português...
* * *
Outros ainda encontram em S. Mateus (10, 19): “Em certa hora ser-vos-á inspirado o que haveis de dizer...”
Então se juntam numa barraca, cantam... e depois, num silêncio sepulcral, inclinam a fronte até ao solo, ficando a parte traseira ma aprumada, e assim esperam a hora bendita em que qualquer URUBU venha pousar na cumeeira da casa...
Então la vai o badalo da língua, para desforrar o tempo perdido, falam pelas tripas de Judas, indo por paus e pedras, metendo os pés pelas mãos e a tesoura na reputação alheia.
* * *
Uns outros valentes biblistas, para mostrar o seu desapego das coisas terrenas, adotaram o versículo de Ezequias 7, 19: AURUM EORUM IN STERQUILINIUM ERIT – O SEU OURO ESTARÁ NO ESTRUMEIRO – e se chamaram ESTERCORÁRIOS ou ESTRUMEIROS. Que belo achado! E pela sua vida dissoluta mostram que tal esterco se lhes adaptava admiravelmente.
* * *
Ali não parou o espírito inventivo dos fervorosos adeptos de Lutero. A Bíblia em vários lugares, fala de concubinas. As concubinas de Salomão, etc. (2 Reis, 11,3)
Ora, tudo o que está na Bíblia, raciocinavam os finórios, é a palavra de Deus. A palavra de Deus é santa; logo, o concubinato é santo; e eis a seita dos concubinos a entrar solenemente na lista das seitas protestantes.
Excelente para libertinos e estróinas da vida!
* * *
Lutero, como ele mesmo disse diversas vezes, era amigo do demônio, que lhe apareceu diversas vezes para dar-lhe os parabéns pela obra de suas reforma.
Ora, o que o pai ama, convém que os filhos não desprezem e, apoiando-se valentemente sobre o texto de S. João: “UM DE VÓS É UM DEMÔNIO” (S. João 6,71) chamaram-se simplesmente DEMONÍACOS.
Ótima seita para os possessos do demônio.
* * *
Outros procuraram na vida do divino Mest45e, um texto que lhes servisse de exemplo. É o que não falta; o que todos fazem, porém, não é doisa nova, e os excêntricos querem novidades.
Encontraram em S. Mateus que Jesus, perante o tribunal de Caifaz, ficou taciturno, SEM NADA RESPONDER (São Mateus 16,63).
Resolveram não falar mais; aliás, o provérbio diz que o silêncio é de ouro e a palavra é apenas de prata. Foi a origem dos TACITURNO, seita autêntica, em que tudo deve dizer-se por sinais, sem articular palavras.
Boa seita para os surdos-mudos.
Não se pense que o furor biblista para em tão bom caminho. Para formar 888 seitas diferentes com nomes dessemelhantes, é preciso explorar todos os cantos e recantos da Bíblia.
Os antigos patriarcas não conheciam os sapatos, mas andavam de pés descalços, de pés nus. Por que não imitá-los?
E eis que um fanático fez consistir a santidade em andar com pés descalços, fundando a nova seita dos NEDÍPEDES.
Outros acharam que os verdadeiros cristãos devem viver NO AR e não na terra, pois está escrito em S. Paulo: “SEREMOS ARREBATADOS NAS NUVENS... NOS ARES” (1 Tess. 4,16), Não querendo esperar a outra vida para voarem, ele que pretendem voar desde já. É a seita dos PNEUMÁTICOS.
* * *
Até os filisteus bíblicos tiveram imitadores; querendo mostrar o seu valor guerreiro contra os judeus, inimigos de Cristo, houve protestantes que se intitulavam FILISTEUS. No protestantismo há de tudo e para tudo.
* * *
Terminemos pela seita dos ADAMITAS.
Sabe-se pelo Gênesis que, antes da prevaricação, Adão e Eva não abusavam do vestuário, trajando com um pouco menos do que certas modas modernas. Nasceu, pois, na Holanda uma seita cujos membros tiram a roupa, respondendo à polícia pudibunda de Amsterdan, que o andar despido é uso eminentemente bíblico.
Quem sabe se não há por aí, neste Brasil afora e adentro, uns amadores do sistema ADAMITA?
Digam, lá, amigos protestantes, diante de tais palhaçadas arranjadas em nome da Bíblias, poder-se-á indagar: será isso de Deus ou do demônio? Será que tanta seita é religião?... Será tanta aberração digna de Deus e do homem?
Tudo não passa de farsa.

8. CONCLUSÃO
Tal é a origem do protestantismo e das suas seitas. É uma balbúrdia!
E não digam, como fazem certos pastores, envergonhados da sua decadência, que há entre vários grupos uma unidade fundamental nos CREDOS, sendo os seus nomes apenas variedades denominacionais de sua história. Argumento ignorante.
Quem conhece um pouco as várias seitas protestantes sabe que não há entre elas ligação alguma nem acordo doutrinal. Muitas são completamente opostas entre si e professam dogmas radicalmente diversos. Onde estará a unidade protestante?
Não existe, nunca existiu, nem existirá, porque é essencialmente erro, e este é múltiplo, como são múltiplas as moléstias.
“Unus Dominus, uma fides, unum baptismum: - Um só senhor, uma só fé, um só batismo”, diz S. Paulo (Efésios 4,5). Eis o que é fundamental.
O protestantismo está todo dividido: rejeitou o único Senhor, por um agregado de seitas fundadas por Lutero, Calvino, Knox, etc. São tantos os SENHORES quantas seitas representam.
Rejeitaram a FÉ ÚNICA, pois, entre as milhares de seitas não se encontram duas que professem a mesma fé. Rejeitaram o BATISMO ÚNICO, porquanto há entre eles mais de cinqüenta batismos diferentes, e diversas seitas chegaram a suprimir este sacramento.
Como podem eles estar com a verdade?
Ou S. Paulo está enganado, dizendo que A UNIDADE É O DISTINTIVO DA VERDADEIRA FÉ, ou os amigos protestantes se iludem, na mixórdia de suas crenças!
A conclusão é, pois, rigorosa: onde está a UNIDADE aí se encontra a verdade.
Tal unidade não está no protestantismo: este é, pois, uma seita errônea.
A unidade existe na Igreja Católica; logo é aí que está a verdade... A ÚNICA VERDADE.
A Igreja Católica, no mundo inteiro, e em todos os séculos, professa o mesmo Senhor, conserva a mesma fé, administra o mesmo batismo: a unidade é o selo da verdade.
A UNIDADE É O SELO DA VERDADE.“DEVEMOS PROCURAR CONSERVAR A UNIDADE DO ESPÍRITO NO VÍNCULO DA PAZ”, diz S. Paulo (Efésios 4,3).
As inumeráveis seitas protestantes não conservam nenhuma unidade e nenhuma paz, pois procuram continuadamente guerrear a Igreja Católica; estão, pois, erradas.
A UNIDADE DA FÉ é a imagem da unidade de Deus, e o característico dos filhos de Deus, diz ainda S. Paulo (Efésios 4, 1-14).
O protestantismo não possui nenhuma unidade; está, pois, separado de Deus, enquanto a Igreja conserva integralmente e sem restrição este caráter divino. A Igreja Católica Apostólica Romana e, pois, a ÚNICA IGREJA VERDADEIRA.

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