A barca na tempestade e a Igreja Católica
Motu magnus factus est in mari, ita ut navicula operiretur fluctibus; ipse vero dormiebat — “Levantou-se no mar uma grande tempestade, tal que as ondas cobriam a barca; entretanto ele dormia” (Matth. 8, 24).
Sumário. Ao vermos a horrenda tempestade que o inferno suscita contra a religião, dirijamos súplicas fervorosas ao Senhor e temamos perder o grande tesouro da fé. Temamos por nós mesmos, mas não pela Igreja, porque a Barca de São Pedro pode ser coberta pelas ondas, mas não sossobrar. Virá o tempo em que o Senhor, despertado de seu sono místico pelas orações dos justos, mandará aos ventos e ao mar e logo se seguirá uma grande bonança.
I. Narra São Mateus que “subindo Ele (Jesus) para uma barca (no lago de Tiberíades), o seguiram seus discípulos. E eis que se levantou no mar tão grande tempestade, que as ondas cobriam a barca; e entretanto Ele dormia. Então se chegaram a Ele os seus discípulos, e O acordaram, dizendo: Senhor, salvai-nos, que perecemos. E disse-lhes Jesus: Porque temeis, homens de pouca fé? E, erguendo-se, mandou aos ventos e ao mar, e segui-se logo uma grande bonança. Então muito se admiraram os homens, dizendo: “Quem é este, que até os ventos e o mar Lhe obedecem? — venti et maré obediunt ei!”
O santos intérpretes vêem naquela barca a figura da Igreja Católica. O inferno, por meio de seus ímpios satélites, lhe tem sempre suscitado, e especialmente hoje em dia lhe suscita as mais tremendas tempestades, que ameaçam submergi-la. E entretanto Jesus está dormindo, quer dizer, simula que não vê as tempestades ou que com elas não se importa. Mas o verdadeiro crente deve ter fé e não temer; porque a barca de Pedro pode, sim, ser coberta pelas ondas, mas nunca poderá sossobrar: portae inferi non praevalebunt (1) – “as portas do inferno não prevalecerão”.
Ah! Não duvidemos: tempo virá em que o Senhor, acordado de seu sono místico, pelas orações dos fiéis, se levantará, mandará aos ventos e ao mar, e se seguirá então um grande bonança. Também os inimigos da Igreja, assombrados pelo modo como Deus a protege, dirão com as multidões do Evangelho: Quis est hic, quia venti et mare obediunt ei? (2) — “Quem é este a quem os ventos e o mar obedecem?”
II. Não temamos pela Igreja, mas temamos por nós mesmos, que talvez, fracos como somos e cercados de tantos perigos, naufraguemos miseravelmente. Por isso roguemos com a Igreja ao Senhor, “que, pelo seu auxílio, possamos vencer os males que por nossos pecados padecemos”(3). Roguemos-Lhe sobretudo, pelos merecimentos de Maria Santíssima, que nos conserve o precioso dom da fé e repitamos muitas vezes: Domine, salva nos, perimus — “Senhor, salvai-nos; perecemos”.
† “Ó meu Redentor, terá por ventura chegado o momento terrível em que não restarão mais do que poucos cristãos animados do espírito de fé? O momento em que, provocada a vossa indignação nos tirareis a vossa proteção? Terão enfim as faltas e a vida criminosa de vossos filhos impelido irrevogavelmente vossa justiça a se vingar? Ó autor e consumador de nossa fé, nó Vos conjuramos, na amargura de nosso coração contrito e humilhado, não permitais que a bela luz da fé se extinga em nós. Lembrai-Vos de vossas antigas misericórdias; lançai um olhar de compaixão sobre a vinha que foi plantada pela vossa dextra, regada com o suor dos apóstolos, inundada pelo sangue de milhares de mártires, pelas lágrimas de tantos generosos penitentes e fertilizada pelas orações de tantos confessores e virgens inocentes.”
“Ó divino Mediador, olhai para estas almas fervorosas, que elevando o seu coração a Vós, Vos pedem incessantemente a conservação do mais precioso de todos os tesouros, a verdadeira fé. Diferi, ó Deus justíssimo, o decreto de vossa reprovação, voltai vossos olhos de nossos pecados, fixai-os sobre o Sangue adorável que, derramado sobre a cruz, nos adquiriu a salvação, e intercede quotidianamente por nós sobre nossos altares. Ah! Conservai-nos a verdadeira fé católica romana. Aflijam-nos embora as enfermidades, os pesares nos consumam, acabrunhem-nos as desgraças; mas conservai-nos a santa fé, porque, ricos com este dom precioso, suportaremos de boa mente todas as dores, e nada poderá turbar a nossa felicidade. Ao contrário, sem o soberano tesouro da fé, a nossa desgraça será indizível e imensa.”
“Ó bom Jesus, autor da nossa fé, conservai-a pura; guardai-nos firmemente na barca de Pedro, fiéis e obedientes a seu sucessor, vosso vigário na terra, a fim de que a unidade da santa Igreja seja mantida, a santidade animada, a Sé Apostólica livre e protegida e a Igreja universal dilatada para bem das almas.”
“Ó Jesus, autor de nossa fé, humilhai e convertei os inimigos de vossa Igreja; concedei a todos os reis e príncipes cristãos e a todo o povo fiel a paz e verdadeira unidade; fortificai-nos e conservai-nos todos em vosso santo serviço, a fim de que para Vós vivamos e em Vós também morramos. Ó Jesus, autor de nossa fé, viva eu para Vós e para Vós morra. Assim seja.”(4)
---------------Sumário. Ao vermos a horrenda tempestade que o inferno suscita contra a religião, dirijamos súplicas fervorosas ao Senhor e temamos perder o grande tesouro da fé. Temamos por nós mesmos, mas não pela Igreja, porque a Barca de São Pedro pode ser coberta pelas ondas, mas não sossobrar. Virá o tempo em que o Senhor, despertado de seu sono místico pelas orações dos justos, mandará aos ventos e ao mar e logo se seguirá uma grande bonança.
I. Narra São Mateus que “subindo Ele (Jesus) para uma barca (no lago de Tiberíades), o seguiram seus discípulos. E eis que se levantou no mar tão grande tempestade, que as ondas cobriam a barca; e entretanto Ele dormia. Então se chegaram a Ele os seus discípulos, e O acordaram, dizendo: Senhor, salvai-nos, que perecemos. E disse-lhes Jesus: Porque temeis, homens de pouca fé? E, erguendo-se, mandou aos ventos e ao mar, e segui-se logo uma grande bonança. Então muito se admiraram os homens, dizendo: “Quem é este, que até os ventos e o mar Lhe obedecem? — venti et maré obediunt ei!”
O santos intérpretes vêem naquela barca a figura da Igreja Católica. O inferno, por meio de seus ímpios satélites, lhe tem sempre suscitado, e especialmente hoje em dia lhe suscita as mais tremendas tempestades, que ameaçam submergi-la. E entretanto Jesus está dormindo, quer dizer, simula que não vê as tempestades ou que com elas não se importa. Mas o verdadeiro crente deve ter fé e não temer; porque a barca de Pedro pode, sim, ser coberta pelas ondas, mas nunca poderá sossobrar: portae inferi non praevalebunt (1) – “as portas do inferno não prevalecerão”.
Ah! Não duvidemos: tempo virá em que o Senhor, acordado de seu sono místico, pelas orações dos fiéis, se levantará, mandará aos ventos e ao mar, e se seguirá então um grande bonança. Também os inimigos da Igreja, assombrados pelo modo como Deus a protege, dirão com as multidões do Evangelho: Quis est hic, quia venti et mare obediunt ei? (2) — “Quem é este a quem os ventos e o mar obedecem?”
II. Não temamos pela Igreja, mas temamos por nós mesmos, que talvez, fracos como somos e cercados de tantos perigos, naufraguemos miseravelmente. Por isso roguemos com a Igreja ao Senhor, “que, pelo seu auxílio, possamos vencer os males que por nossos pecados padecemos”(3). Roguemos-Lhe sobretudo, pelos merecimentos de Maria Santíssima, que nos conserve o precioso dom da fé e repitamos muitas vezes: Domine, salva nos, perimus — “Senhor, salvai-nos; perecemos”.
† “Ó meu Redentor, terá por ventura chegado o momento terrível em que não restarão mais do que poucos cristãos animados do espírito de fé? O momento em que, provocada a vossa indignação nos tirareis a vossa proteção? Terão enfim as faltas e a vida criminosa de vossos filhos impelido irrevogavelmente vossa justiça a se vingar? Ó autor e consumador de nossa fé, nó Vos conjuramos, na amargura de nosso coração contrito e humilhado, não permitais que a bela luz da fé se extinga em nós. Lembrai-Vos de vossas antigas misericórdias; lançai um olhar de compaixão sobre a vinha que foi plantada pela vossa dextra, regada com o suor dos apóstolos, inundada pelo sangue de milhares de mártires, pelas lágrimas de tantos generosos penitentes e fertilizada pelas orações de tantos confessores e virgens inocentes.”
“Ó divino Mediador, olhai para estas almas fervorosas, que elevando o seu coração a Vós, Vos pedem incessantemente a conservação do mais precioso de todos os tesouros, a verdadeira fé. Diferi, ó Deus justíssimo, o decreto de vossa reprovação, voltai vossos olhos de nossos pecados, fixai-os sobre o Sangue adorável que, derramado sobre a cruz, nos adquiriu a salvação, e intercede quotidianamente por nós sobre nossos altares. Ah! Conservai-nos a verdadeira fé católica romana. Aflijam-nos embora as enfermidades, os pesares nos consumam, acabrunhem-nos as desgraças; mas conservai-nos a santa fé, porque, ricos com este dom precioso, suportaremos de boa mente todas as dores, e nada poderá turbar a nossa felicidade. Ao contrário, sem o soberano tesouro da fé, a nossa desgraça será indizível e imensa.”
“Ó bom Jesus, autor da nossa fé, conservai-a pura; guardai-nos firmemente na barca de Pedro, fiéis e obedientes a seu sucessor, vosso vigário na terra, a fim de que a unidade da santa Igreja seja mantida, a santidade animada, a Sé Apostólica livre e protegida e a Igreja universal dilatada para bem das almas.”
“Ó Jesus, autor de nossa fé, humilhai e convertei os inimigos de vossa Igreja; concedei a todos os reis e príncipes cristãos e a todo o povo fiel a paz e verdadeira unidade; fortificai-nos e conservai-nos todos em vosso santo serviço, a fim de que para Vós vivamos e em Vós também morramos. Ó Jesus, autor de nossa fé, viva eu para Vós e para Vós morra. Assim seja.”(4)
1. Matth. 16, 18.
2. Matth. 8, 27.
3. Or. Dom. curr.
4. Oração de São Clemente Maria Hoffbauer. Indulg. de 300 dias, uma vez por dia.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 191 - 193.)
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