31 de dezembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 242

O PADRE DA SUA VIDA PELAS ALMAS

Refere o P. Vítor van Tricht que um venerando pároco da Bretanha, muito velho e no leito de morte, soube que um seu paroquiano não queria receber os últimos Sacramentos. Enviou ao enfermo um de seus coadjutores, que voltou sem ter conseguido nada.
— Rogo-vos que torneis a ir lá — insistiu o pároco — e dizei-lhe que me prometera de não morrer sem reconciliar-se com Deus.
Voltou o coadjutor, mas ouviu do enfermo esta lacônica resposta:
— Foi ao pároco que eu prometi.
O pobre pároco, apesar de seu estado desesperador, fez-se transportar numa padiola à casa do paroquiano obstinado. A noite era escura e o frio intensíssimo. Ao entrar no quarto do doente, este perguntou-lhe:
— Que vens fazer aqui a estas horas?
— Venho salvar a tua alma.
Retiraram-se as outras pessoas e ficaram os dois sozinhos. Pouco depois os dois choravam... O velho pároco deu ao doente a sua última bênção e, despedindo-se, acrescentou:
— Até logo no céu!...
Quando chegaram de volta à casa paroquial e descobriram a maca, o corpo do padre estava inerte: a alma já havia voado para o céu...

30 de dezembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 241

O QUE DIZEM DO SACERDOTE

Segundo S. Jerônimo, “os sacerdotes são os salvadores do mundo”.
Segundo S. Euquério, “são as colunas que sustentam o universo vacilante”.
No dizer de S. Dionisio Areopagita “a dignidade do sacerdote é angélica e divina”.
Segundo S. Clemente Papa, post Deum terrenus Deus, isto é, o sacerdote é um Deus na terra ou Sacerdos alter Christus, o sacerdote é um outro Cristo.
S. Próspero dizia que “os sacerdotes são as portas da cidade eterna pelas quais todos chegam a Jesus Cristo”.
S. Gregório Nazianzeno diz que o oficio do sacerdote é deificare homines, transformar, os homens em deuses.

29 de dezembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 240

PREPARAR SACERDOTES

Um venerando vigário de mais de setenta anos de idade estava a dar lições de latim a um menino, provavelmente seu ajudante de missa.
Um colega, recém-chegado à casa paroquial, perguntou-lhe em que se ocupava. O vigário respondeu-lhe que dava aulas de latim para salvar a sociedade.
— Dar aulas de latim... para salvar a sociedade?
— Não te admires — replicou o ancião — contribuo para a salvação da sociedade, preparando este meu aluno, que será um dia sacerdote de Jesus Cristo. Não basta dirigir associações, fazer conferências, fundar sindicatos... A Igreja não pode passar sem sacerdotes. Formemos, pois, bons padres e tudo o mais virá por acréscimo.
Falando do Seminário, disse alguém: “Viveiro de virtudes — Forja de sacerdotes —. Nazaré da diocese — Esperança dos povoados sem Sacrário”.
“No Seminário cultivam-se as tenras plantas que, quando se transformarem em árvores, darão frutos copiosos; no Seminário preparam-se os trabalhadores que hão de cultivar a vinha do Senhor; finalmente, no Seminário exercitam-se os atletas valorosos que hão de sustentar valorosamente as batalhas do Senhor”.

28 de dezembro de 2016

Vídeo-Aula para Católicos

O problema da verdade: refutação do subjetivismo e do relativismo

Professor Orlando Fedeli - Associação Montfort

Tesouro de Exemplos - Parte 239

O VIVO DESEJO DE SER PADRE

Monsenhor Thiamer Toth, célebre escritor húngaro, conta no seu livro “Cristo Rei” o seguinte episódio:
“Era nos dias sangrentos do comunismo na Hungria. Encontrei-me com um rapaz de olhos vivos, estudante do quarto ano de bacharelato. Travamos animada conversação. A certa altura ele me disse que queria ser padre.
— Agora, meu filho? — perguntei-lhe — precisamente agora, no mais aceso da perseguição religiosa, queres ser sacerdote?
— Sim, Monsenhor; é o meu mais vivo desejo.
— Mas sabes o que te espera?
— Sim, Monsenhor; preparo-me para padre desde criança.
— E sabes, meu filho, que sendo sacerdote estarás exposto a morrer de fome, talvez num calabouço?...
O rapaz teve uma resposta decisiva:
— Não importa, Excelência; Jesus Cristo, também então, estará ao meu lado.

27 de dezembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 238

O CASTIGO NÃO SE FEZ ESPERAR

Na vida do P. Filipe Jeningen, falecido em 1704, lê-se que uma mulher, achando-se gravemente enferma, pediu ao marido que mandasse chamar um padre, pois queria receber ao menos a Extrema-Unção. O homem, porém, — que bom marido certamente não era! — não quis dar à esposa esse consolo.
Chegou a hora da morte e então chamaram a toda pressa o P. Jeningen. Contra toda esperança a mulher pôde ainda confessar-se, mas expirou de repente sem receber o santo Viático e a Extrema-Unção.
Com grande seriedade e santo rigor o Padre dirigiu-se aquele mau marido, dizendo: “Prepara-te, porque daqui a três dias também tu morrerás!”, e saiu, deixando os presentes cheios de espanto. No segundo dia aquele homem começou a sentir-se mal; no terceiro dia, já muito arrependido, recebeu das mãos daquele santo sacerdote os últimos sacramentos, falecendo em seguida como lhe fora predito.

26 de dezembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 236 e 237

A EXTREMA-UNÇÃO DÁ A PAZ

1. Outro sacerdote, o P. Vincent, S. J., refere de um soldado gravemente enfermo no hospital militar de Oran, que mostrou vivos desejos de receber o sacramento da Extrema-Unção. Depois de recebe-la, exclamou cheio de alegria: “Obrigado, meu Padre! mil vezes obrigado! Agora posso morrer tranqüilo; cumpri com meu dever e espero que a Bondade divina terá piedade de mim”.

2. Ao marechal Villars, ferido mortalmente na batalha de Malplaquet, propuseram que recebesse em segredo os últimos Sacramentos. “Não; em segredo, não; é conveniente que o exército me veja morrer como bom cristão, já que não pode ver-me morrer como valente no campo de batalha”. E diante de seus soldados reunidos, recebeu devotamente os Sacramentos.

25 de dezembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 235

QUANTO BEM FAZ A EXTREMA-UNÇÃO

Em sua obra “Os jesuítas alemães nos campos de batalha e nos lazaretos”, refere o P. Rist que administrou a Extrema- Unção a um soldado em estado tão lastimoso, que todos o davam por morto no prazo de poucas horas.
Entretanto, na manhã seguinte, voltando o padre ao hospital, encontrou o doente sentado na cama em franca melhora.
— Mas como é isso — disse o padre — passando assim tão bem?
— Ah! Padre, devo a vida ao senhor; desde que recebi os Sacramentos estou passando tão bem, que parece um milagre.
— Pois dê graças a Deus; a saúde é um dos efeitos da Extrema-Unção.
Poucos dias mais tarde, o doente deixava o hospital são e salvo, seguindo para Paderborn, sua residência. No batalhão, em que servia, haviam-lhe dado baixa, julgando-o falecido, e comunicaram o fato à sua esposa. Entretanto, quando chegou a infausta noticia, Matias (assim se chamava o soldado) já se achava são, contente e feliz em companhia de sua mulher.

24 de dezembro de 2016

Novena de Natal - 2016


16/12/2016     -     19:30h
17/12/2016     -     17:00h
18/12/2016     -     17:00h
19/12/2016     -     19:30h
20/12/2016     -     19:30h
21/12/2016     -     19:30h
22/12/2016     -     19:30h
23/12/2016     -     19:30h
*24/12/2016     -     09:30h*
 * O encerramento da Novena será após a missa do dia

Tesouro de Exemplos - Parte 232 a 234

BELOS EXEMPLOS DE ADORADORES

1. O venerável João B. Bertrán, pároco de Alcora, desde estudante passava longas horas em silenciosa mas carinhosa visita, oculto num canto da igreja, com os olhos fitos no Sacrário. Mais tarde, quando sacerdote, passava todos os dias três ou quatro horas de joelhos fazendo oração diante do tabernáculo.

2. O beato João de Rivera, apesar das graves ocupações que os cargos de Arcebispo e Vice-Rei de Valência lhe impunham, passava até sete horas de joelhos e imóvel aos pés da Hóstia consagrada, adorando a Jesus Sacramentado.

3. Santo Afonso de Ligório, quando estudante e mesmo quando jovem advogado, nunca deixava de assistir à devoção das Quarenta Horas, em Nápoles, onde, naquele tempo, esse piedoso exercício se fazia em todas as igrejas. Mais tarde, como sacerdote e religioso, embora ocupadíssimo com os cargos de superior e missionário, demorava-se em oração diante do Santíssimo o mais que podia. De seus longos e fervorosos entretenimentos com Nosso Senhor nasceram as belíssimas “Visitas ao Santíssimo .Sacramento” para cada dia do mês, que o. Santo compôs e que até hoje encontram enorme aceitação. Deste Santo se lê que, já um ancião venerável, quando Deus demorava em atender aos seus pedidos, não vacilava em ir ao Sacrário e bater à portinha, dizendo com ingênua e piedosa audácia: “Mas, Jesus meu, não me ouvistes?"

23 de dezembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 231

VISITAR O SANTÍSSIMO SACRAMENTO

O P. Adolfo Petit, que morreu não faz muitos anos em odor de santidade, gostava de entreter-se com Jesus no tabernáculo. Muitas vezes viram-no ir à capela, levando na mão uma carta que acabava de receber e que ia ler ao seu divino conselheiro e perguntar-lhe o que convinha responder.
Nunca saía de casa, sem ter antes pedido a bênção de Nosso Senhor na capela; e ao regressar, antes de ir para o seu aposento, tornava a saudar a Jesus sacramentado.
Uma tarde, voltando de uma viagem, disse-lhe o Irmão porteiro que alguém o esperava na sala de visitas. O P. Petit dirige então para a capela um olhar cheio de amor; e o Irmão ouve como ele diz baixinho: “Desculpai-me, Senhor, não demorarei muito”.
Outra vez na residência de Bruxelas, após um dia de calor, regressava morto de fadiga e molhado da chuva e, ao passar pela capela, na penumbra, crendo que estava só, disse à meia-voz: “Bem vedes, Senhor, em que estado me encontro. Permiti-me que vá primeiro ao meu aposento; voltarei neste instante”. Dali a pouco voltava pressuroso para adorar Nosso Senhor.. Até de noite, se tinha ocasião, ia com gosto visitar a Jesus. Assim, quando pregava retiro no seminário de Gante, informou-se se fechavam de noite a capela. “Não tenha receio — disse o superior — as Sagradas Espécies estão bem seguras”. “Oh! não é por. isso — replicou o P. Petit — é que, quando não durmo, gosto de ir visitar o SS. Sacramento”.

22 de dezembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 230

PARA EVITAR SACRILÉGIOS

Conta o P. Baeteman, conhecido escritor ascético, o seguinte caso ocorrido na retirada da Charleroi, durante a guerra européia (1914-1918). Um maçon, muito conhecido por suas ideias anticlericais, dirige-se à igreja em busca de abrigo e encontra-se com um ferido estendido no chão e banhado de sangue. O maçon, ao aproximar-se do ferido, ouve estas palavras: “Meu amigo, sou sacerdote e vou morrer. Vim me arrastando até aqui... queria chegar ao tabernáculo... para consumir as Hóstias consagradas e salvá-las dos sacrílegos atentados dos inimigos. Ai! vou morrer sem poder chegar ali... Por favor, comungue o senhor em meu lugar...”
O maçon ficou comovido; ajoelhou-se aos pés do sacerdote e pediu-lhe que o ouvisse de confissão. Em seguida, acercando-se do sacrário, consumiu devotamente as Hóstias.

21 de dezembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 229

PEDRINHO, O COROINHA

Em Graverolles, uma ilhota do Sena, viviam 40 famílias com sua igrejinha tão bela e tão devota, quando veio a inundação de 28 de fevereiro de 1910. Todos os moradores tiveram de abandonar as casas e fugir. Pedrinho, o coroinha, que ajudava à missa aos domingos, fora aquele dia à escola de Rigny; e, como ignorava o que acontecerá, voltou à ilha. Em vão chamou por sua família e percorreu várias casas, não encontrando ninguém. Entrou na igreja e viu que a lâmpada estava acesa. Lembrou-se de Nosso Senhor; tomou a chave do sacrário, retirou o sagrado cibório e. subiu ao altar, porque a água já lhe chegava até a cintura. Passou a noite toda molhado, sentindo muito frio e todo angustiado. No dia seguinte foi o sacerdote numa barca em busca do Santíssimo. Qual não foi o seu espanto ao encontrar seu querido coroinha apertando nos bracos o sagrado cibório com o Santíssimo!
O menino estava passando tão mal, que não demoraria a morrer. Por sinais manifestou seu grande desejo de comungar, de receber Nosso Senhor, a quem salvara das águas. E comungou ali mesmo, vindo a falecer pouco depois nos bracos do sacerdote.

20 de dezembro de 2016

Vídeo-Aula para Católicos

A partir de hoje estaremos publicando diversas vídeo-aulas, com o objetivo de divulgar a Doutrina Católica ensinada pelos Santos Padres e Santos nos últimos dois mil anos.

As Provas da Existência de Deus


"Ninguém afirma: `Deus não existe' sem antes ter desejado que Ele não exista". Esta frase, de um filósofo muito suspeito, por ser esotérico - Joseph de Maistre - tem muito de verdade. Com efeito, o devedor insolvente gostaria que seu credor não existisse. O pecador que não quer deixar o pecado, passa a negar a existência de Deus.

Por isso, quando se dá as provas da existência de Deus para alguém, não se deve esquecer que a maior força a vencer não é a dos argumentos dos ateus, e sim o desejo deles de que Deus não exista. Não adiantará dar provas a quem não quer aceitar sua conclusão. Em todo caso, as provas de Aristóteles e de São Tomás a respeito da existência de Deus têm tal brilho e tal força que convencem a qualquer um que tenha um mínimo de boa vontade e de retidão intelectual.
Professor Orlando Fedeli - Associação Montfort


Tesouro de Exemplos - Parte 228

SAUDAR A JESUS SACRAMENTADO

Um menino de seis anos, acompanhando o pai, que era doutor em medicina, passou diante de uma igreja. Já tinha dado alguns passos, quando, inesperadamente, larga a mão do papai, volta para trás e descobre-se.
O pai, voltando-se, pergunta-lhe:
— Que é que estás fazendo?
— Papai, eu não tinha saudado a Jesus.
— Quem te disse que é preciso voltar para saudar a Jesus?
— Foi a mamãe; ela disse que nunca se deve passar por uma igreja sem cumprimentar a Jesus.
As palavras daquela inocente criança calaram na alma do bom médico, que dali em diante se esforçou por se tornar um católico fervoroso.

19 de dezembro de 2016

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.


Os Padres da Igreja viram no chamamento dos Magos ao berço de Jesus Cristo a vocação das nações pagãs à fé. Esta constitui a própria essência do mistério, como explicitamente o indica a Igreja na oração em que resume os votos de seus filhos nesta solenidade: Deus qui hodierna die Unigenitum tuum GENTIBUS stella duce revelasti.
 O Verbo Incarnado manifestou-se primeiramente aos judeus na pessoa dos pastores. Porquê? Porque o povo judeu era o povo eleito. Era dele que devia sair o Messias, filho de David; a ele haviam sido feitas as magníficas promessas, cuja realização constituía o reino do Messias; a ele confiara Deus as escrituras e dera a Lei; Lei, na qual todos os elementos eram a figura da graça que Jesus Cristo devia trazer. Convinha, pois que o Verbo Incarnado se manifestasse aos judeus em primeiro lugar.
Os pastores, gente simples, de coração reto, representaram no presépio o povo eleito: Evangelizo vobis gaudium magnum ... quia natus est vobis hodie Salvator. 
Mais tarde, na Sua vida pública, Nosso Senhor manifestar-se-á aos judeus pela sabedoria da Sua doutrina e pelo esplendor dos Seus milagres.
 Verificamos até que Ele reserva a Sua pregação unicamente para os judeus. Vede, por exemplo, quando a mulher Cananeia, das regiões infiéis de Tiro e de Sidonia, lhe pede que a socorra, que responde Jesus Cristo aos discípulos que intercedem a favor dela? Vim apenas para as ovelhas perdidas de Israel. Será necessária a fé viva e profunda humildade da pobre pagã para arrancar, para assim dizer, a Jesus a graça que implora. Durante a vida pública, quando Nosso Senhor enviava os discípulos a pregar, como Ele, a boa nova, dizia-lhes igualmente: «Não vades aos gentios; não vos demoreis entre os samaritanos, procurai antes as ovelhas perdidas de Israel». Por que motivo fez Jesus tão estranha recomendação? Estariam os pagãos excluídos da graça da salvação e da redenção trazida por Jesus Cristo? Não; mas entrava na economia divina reservar aos Apóstolos a evangelização das nações pagãs depois de os judeus terem crucificado o Messias e desprezado definitivamente o Filho de Deus. Quando Nosso Senhor morre na cruz, rasga-se em dois o véu do templo para significar que tinha acabado a antiga aliança feita só com o povo hebreu.
Com efeito, muitos judeus, não quiseram receber Jesus Cristo: o orgulho duns e a sensualidade doutros cegaram-lhes as almas, e .eles não quiseram aceitá-Lo como Filho de Deus. É deles que fala S. João, quando diz: «A luz brilhou nas trevas e as trevas não A compreenderam: veio ao que era Seu, e os Seus não O receberam». Por isso, Nosso Senhor dizia aos judeus incrédulos: «O reino de Deus ser-vos-á tirado e transferido para os gentios ».
 As nações pagãs são chamadas a tornarem-se a herança prometida pelo Pai Eterno a Seu Filho Jesus: Postula a me, et dabo tibi gentes haereditatem tuam. O próprio Jesus Cristo dizia-se «o bom pastor que dá a vida pelas suas ovelhas», acrescentando logo: «Não tenho ovelhas somente no meu povo; tenho outras ainda que presentemente não pertencem ao meu redil»: Alias oves habeo quae non sunt ex hoc ovili: «é preciso também que eu as chame a mim; escutarão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor».
 Eis por que, antes de subir ao céu, Jesus envia os Apóstolos para continuarem a sua missão de salvação, não já entre as ovelhas perdidas de Israel, mas entre todos os povos. «Ide, diz Ele, pregai a todas as criaturas, ensinai a todas as nações ... Estou convosco até à consumação dos séculos».
 No entanto, o Verbo Incarnado não esperou pela Sua Ascensão para espalhar a graça da boa-nova entre os gentios. Ao aparecer na terra, convida-os a comparecer no presépio, na pessoa dos Magos. Sabedoria eterna, queria assim mostrar-nos que trazia a paz: Pax hominibus bonae voluntatis; «não só aos que estavam perto d 'Ele» - os judeus fiéis, representados pelos pastores, - «mas também aos que se achavam longe» - os pagãos, representados pelos Magos. Assim, dos dois povos, como diz S. Paulo, fazia um só - Qui fecit utraque unum - porque é Ele, pela união da Humanidade com a Divindade, o único Mediador perfeito e é «só por Ele que temos acesso, uns e outros, junto do Pai, num só e mesmo Espírito
 O chamamento e a santificação dos Magos significam a vocação dos gentios à fé e à salvação. Deus envia um Anjo aos pastores, porque o povo eleito estava habituado às aparições dos espíritos celestes; para os Magos, que prescrutavam os astros, faz surgir uma estrela maravilhosa, símbolo da iluminação interior que esclarece as almas para as chamar a Deus. 
Cada alma de adulto é efetivamente iluminada, ao menos uma vez, tal como os Magos, pela estrela da vocação à salvação eterna. A todos é dada a luz. É um dogma da nossa fé que «Deus quer salvar todos os homens»: Qui OMNES homines vult salvos fieri, et ad agnitionem veritatis venire.
 No dia do juízo, todos sem exceção, com a convicção produzida pela evidência, proclamarão a justiça infinita de Deus e a perfeita retidão das Suas decisões: Justus es, Domine, et rectum judicium tuum. Aqueles que o Senhor houver para sempre afastado para longe de Si reconhecerão que são os autores da sua própria perda.
 Ora isto não seria verdade se os condenados não tivessem tido a possibilidade de aceitar e conhecer a luz divina da fé. É contrário, não só à infinita bondade de Deus, mas ainda à Sua justiça, condenar uma alma por causa da sua ignorância invencível.
 Sem dúvida, a estrela que chama os homens à fé cristã não é a mesma para todos; brilha de maneira diferente; mas a sua luz é suficientemente visível, para que os corações de boa vontade possam reconhecê-la ·como o sinal da vocação divina. Em Sua providência cheia de sabedoria, Deus varia incessantemente a Sua ação; e esta ação, incompreensível como o próprio Deus, varia-a segundo os desvelos sempre ativos do Seu amor e as exigências sempre santas da justiça divina. É nisto que devemos, como S. Paulo, adorar «a insondável profundidade dos caminhos de Deus e proclamar que eles ultrapassam infinitamente as nossas vistas criadas». Quem, «com efeito, conheceu o pensamento do Senhor e foi Seu conselheiro»? O altitudo divitiarum sapientiae et scientiae Dei! Quam incomprehensibilia sunt judicia ejus et investigabiles viae ejus.
 Temos a dita de ter «visto a estrela» e reconhecido como nosso Deus o Menino do presépio; temos a ventura de pertencer à Igreja, de quem os Magos eram as primícias.
 No Oficio da festa, a Liturgia denomina esta vocação de toda a humanidade à fé e à salvação, na pessoa dos Magos, as bodas da Igreja com o Esposo. Ouvi com que alegria e em que termos magnificamente simbólicos, tirados do profeta Isaías, ela proclama, na Epístola da Missa, o esplendor dessa Jerusalém espiritual, que deve receber no seu seio materno as nações que se tornaram a herança do seu divino Esposo: «Levanta-te e resplandece, porque chegou a tua luz e elevou-se sobre ti a glória do Senhor. Enquanto as trevas cobrirem a terra e a obscuridade envolver os povos, o Senhor levantar-se-á sobre ti e a Sua glória manifestar-se-á em ti. As nações caminharão para a tua luz e os reis para a claridade da tua aurora. Dirige os teus olhares em volta de ti e vê: todos se congregam e vêm a ti; de longe virão teus filhos, e a teu lado surgirão as tuas filhas. Verás então e ficarás radiante; estremecerá e dilatar-se-á o teu coração; porque verás as riquezas do mar e os tesouros das nações». Ofereçamos a Deus incessantes ações de graças por «nos haver tornado capazes de participar da herança dos santos na luz, libertando-nos do poder das trevas para nos transportar ao reino de Seu Filho, isto é, à Igreja.
 O chamamento à fé é um insigne benefício, porque encerra em germe a vocação à eterna bem aventurança da visão divina. Nunca nos esqueçamos de que este chamamento foi a aurora de todas as misericórdias de Deus para connosco e que para o homem tudo se resume na fidelidade a esta vocação; a fé deve conduzir-nos à visão beatífica.
 Devemos, não somente agradecer a Deus a graça da fé cristã, mas ainda tornar-nos cada dia mais dignos dela, salvaguardando-a contra todos os perigos a que se acha exposta no nosso século de naturalismo, de cepticismo, de indiferença, de respeito humano, mantendo-nos constantemente fiéis em viver a vida de fé.
 Além disso, peçamos a Deus que conceda este dom precioso da fé a todas as almas que se acham «ainda assentadas nas trevas e na sombra da morte»; imploremos o Senhor para que a estrela brilhe sobre elas; que Ele próprio seja «O sol que as visite do alto pela Sua terna misericórdia»: Per víscera misericordiae Dei nostri in quibus visitavit... Oriens ex alto.
 Esta oração é muito agradável ao Senhor; pois se Lhe pede que Ele seja conhecido e exaltado como Salvador de todos os homens e como Rei dos reis.
 É também muito agradável ao Pai Eterno que nada deseja tanto como a glorificação de Seu Filho. Repitamos, pois, a miúdo, nestes santos dias, a oração que o próprio Verbo Incarnado pôs em nossos lábios: ó Pai celeste, «Pai das luzes», venha a nós o Vosso reino, esse reino de que o Vosso Filho Jesus é o chefe: Adveniat regnum tuum! Seja o vosso Filho cada vez mais conhecido, glorificado e servido, para que, por sua vez, manifestando-Vos cada vez mais aos homens, Ele Vos glorifique na unidade do Vosso comum Espírito: Pater. clarifica Filium tuum ut Filius tuus clarificet te! 

18 de dezembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 227

BISMARCK E O DIABO

Conta um jornal católico alemão que, um dia, o Chanceler de Ferro passeava no parque de Potsdam, quando de repente foi cumprimentado por um desconhecido, que falava com distinção e elegância. A conversa recaiu sobre as Ordens e Congregações Religiosas, que Bismarck estava perseguindo e exilando. A certa altura o Chanceler exclamou com satisfação:
— Mais alguns dias e não existirá nem uma Congregação, ouviu? nem uma só!
— O senhor é mais poderoso do que eu — replicou o desconhecido. — Há dezenove séculos que eu me esforço por suprimi-las e nada consegui até hoje.
Bismarck, o poderoso inimigo da Igreja, admirado, perguntou:
— Mas quem é o senhor?
— Eu? eu sou o... diabo.
— O diabo?... e Bismarck tremia... Mas o elegante desconhecido, que acabava de dizer quem era, desaparecerá.
Bismarck era uma vez!... E as Congregações continuam.

17 de dezembro de 2016

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

VIII 

EPIFANIA 

. Todas as vezes que a alma se encontra em contacto mais íntimo com Deus, sente-se envolta em mistério: Nubes et caligo in circuitu ejus. Este mistério é a consequência inevitável da distância infinita que separa a criatura do Criador. Por todos os lados o ser finito é ultrapassado por Aquele que é eternamente a verdadeira plenitude do Ser.
 Um dos caracteres mais profundos do Ser divino é a Sua incompreensibilidade e invisibilidade; é uma coisa deveras notável a invisibilidade divina neste mundo.
 «Deus é luz», diz S. João; é a luz infinita, «sem sombras nem trevas»; Deus lux est, et tenebrae in eo non sunt ullae. S. João tem cuidado de notar que esta verdade constitui uma das bases do seu Evangelho: Et haec est annuntiatio quam audivimus ab eo, et annuntiamus vobis. Mas esta luz que nos envolve a todos na sua claridade, em vez de revelar Deus aos olhos da nossa alma, oculta-O. O mesmo se dá com o sol, cujo fulgor impede que o contemplemos: Lucem inhabitat inaccessibilem. E, no entanto, esta luz é a vida da alma. Já reparastes como na Escritura Sagrada estão frequentemente incarnadas as ideias de vida e de luz? Quando o Salmista quer descrever a eterna bem-aventurança de que Deus é a fonte, diz que «n'Ele se encontra o princípio da vida»: Torrente voluptatis tuale potabis eos. Quoniam apud te est fons VITAE. E logo acrescenta: «E em tua luz veremos a luz»: Et in lumine tuo VIDEBIMUS LUMEN. Igualmente, quando Nosso Senhor declara ser «a luz do mundo», diz ainda (e aqui há mais que uma simples justaposição de palavras): «Aquele que me segue não anda em trevas, mas terá a luz da vida»: Habebit LUMEN VITAI. E esta luz da vida procede da vida por essência, que é luz: In ipso vita erat, et vita erat luz hominum. A nossa vida no céu será conhecer sem véu a luz eterna e gozar dos seus esplendores.
 Já na terra Deus dá uma participação da Sua luz, dotando a alma humana com a inteligência: Signatum est super nos lumen vultus tui, Domine. A razão é para o homem uma verdadeira luz. Toda a atividade natural do homem, para ser digna dele mesmo, deve, principalmente, ser dirigida por esta luz, que lhe indica o bem a praticar; luz tão poderosa, que é capaz de revelar ao homem a existência de Deus e algumas das Suas perfeições. S. Paulo, escrevendo aos fiéis de Roma, declara que os pagãos não têm desculpa de não terem conhecido a Deus, pois contemplam o mundo, obra de Suas mãos. As obras de Deus contêm um vestígio, um reflexo das Suas perfeições, e revelam assim, até certo ponto, a luz infinita. 
Há outra manifestação mais profunda e misericordiosa que Deus fez de Si mesmo: a Incarnação.
 A luz divina, demasiadamente brilhante para se manifestar aos nossos olhos em todo o seu esplendor, escondeu-se sob a Humanidade: quod est velamen. É o pensamento de S. Paulo. «Esplendor da luz eterna»,  luz derivada da luz, lumen de lumine, o Verbo revestiu a nossa carne para que através dela nós pudéssemos contemplar a Divindade; Nova mentis nostrae oculis lux tuae claritatis infulsit. Jesus Cristo é Deus posto ao nosso alcance, mostrando-se a nós numa existência autenticamente humana; o véu da Humanidade impede que nos cegue o esplendor infinito e deslumbrante da Divindade.
  Mas deste Homem desprendem-se raios que revelam a Sua Divindade a toda a alma de boa vontade; a alma esclarecida pela fé conhece os esplendores que se escondem por trás do véu deste Santo dos Santos. No homem mortal que é Jesus, a fé encontra o próprio Deus e, quando encontra Deus,sacia-se na fonte de luz, de salvação e de vida imortal: Quia cum Unigenitus tuus in substantia nostrae mortalitatis apparuit, nova nos immortalitatis suae luce reparavit. 
Esta manifestação de Deus aos homens é um mistério tão inaudito, uma obra tão cheia de misericórdia, e constitui um dos caracteres tão essenciais da Incarnação, que nos primeiros séculos da Igreja não havia festa alguma para honrar particularmente a Natividade do Salvador em Belém; celebrava-se a festa das «Teofanias» ou «das manifestações divinas» na pessoa do Verbo Incarnado: manifestação aos Magos; nas margens do Jordão por ocasião do Batismo de Jesus; nas bodas de Caná, onde Jesus Cristo realiza o primeiro milagre. Passando da Igreja do Oriente para a do Ocidente, a festa conservou o nome grego - Epifania -  «manifestação»; mas tem por objeto quase exclusivo a manifestação do Salvador aos gentios, às nações pagãs, na pessoa dos Magos.
Conheceis suficientemente a narração evangélica da vinda dos Magos a Belém, narração ilustrada e popularizada pela tradição. Dir-vos-ei apenas algumas palavras sobre a significação geral do mistério; demorando-me em seguida em certos pormenores, indicar-vos-ei alguns dos inúmeros ensinamentos que contém para a nossa piedade. 

16 de dezembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 226

FALÊNCIA SENSACIONAL

Um banqueiro de Poitiers (Franca) declarara falência. Os credores apresentaram-se para exigir seu dinheiro: um trinta mil francos, outro quarenta mil e, assim, milhares de credores reclamavam grandes somas. Um credor, porém, reclama apenas sete francos e meio. Surpreendidos, os demais perguntaram-lhe como se explicava que exigisse só aquela pequena quantia, quando se sabia que depositara naquele banco quarenta e cinco mil francos. Éle tranquilamente respondeu:
— Já os retirei há algum tempo,
— Como? Alguém avisou ao senhor que o banco ia falir?
— Sim; eu o li num jornal.
— Num jornal? E como nós não lemos essa noticia?
— Leram, sim; mas não a entenderam. Eu li que o banqueiro assistiu aos funerais de um livre-pensador e pronunciou um discurso veemente defendendo a impiedade; daí me veio o pensamento, agora comprovado, de que um homem que não era em Deus nem na vida futura, não pode ter consciência, nem honra, e apressei-me a retirar o meu dinheiro.

15 de dezembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 225

LEVANTA-TE E VEM COMIGO!

Uma jovem, embora tivesse aprendido a amar a Virgem Santíssima, sentia-se contudo muito inclinada a bailes e passeios. A mãe, condescendente, proporcionava-lhe para isso os vestidos mais ricos e vistosos.
Um domingo, muito cansada de dançar, sentou-se a jovem debaixo de uma árvore do jardim para descansar. Ali, apareceu-lhe o diabo e disse-lhe:
— Levanta-te e vem comigo!
— Quem és?
— Sou o diabo, a quem com tuas desonestidades serves tão bem, dando-me muitas almas. Agora é a tua vez; vem comigo!
Quando o diabo quis agarrá-la, ela gritou por socorro, invocando a Nossa Senhora e rezou uma Ave-Maria.
— Sem essa oração — disse-lhe o demônio — por justo juízo de Deus estarias morta e eu te levaria para o inferno.
Aqueta jovem nunca mais quis saber de bailes e tornou-se dali em diante fervorosa filha de Maria, a Virgem Imaculada.
Este fato nós o lemos num autor digno de fé, que, por prudência, não menciona o nome da jovem nem o da cidade, onde isso se deu. Sirva de escarmento!

14 de dezembro de 2016

Sermão para a Festa da Imaculada Conceição – Pe Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] Imaculada Conceição: destruidora dos erros


Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Caros católicos, hoje é a Festa da Imaculada Conceição de Maria. Todos nós, após Adão e Eva, nascemos com o pecado original, separados de Deus. Nossa Senhora, não. Por antecipação dos méritos de seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, ela foi preservada do pecado original, da mácula do pecado original. Preservada em virtude da sua futura maternidade divina. O dogma foi declarado em 1854 pelo Papa Pio IX.
Nossa Senhora não esteve um momento sequer sob o domínio do demônio. Nossa Senhora em momento algum esteve no pecado, no erro, na mentira, na imperfeição. Maria, Imaculada Conceição, é aquele que esmaga a cabeça da serpente, a cabeça do demônio. O demônio tenta armar ciladas aos seus pés, mas Nossa Senhora, por meio de seu Filho e com a graça de seu Filho, esmaga a cabeça do demônio. Nossa Senhora, diz a Igreja, é a destruidora das heresias, dos erros, das ciladas do demônio. Ao longo de toda a história, o recurso a Nossa Senhora sempre ocorreu no combate aos erros, ainda que o demônio, insistente, faça os erros ressurgirem regularmente. Por exemplo, a devoção a Nossa Senhora que acabou com a heresia dos cátaros, quando São Domingos recebeu o Rosário das mãos de Maria. Quando metade, praticamente, da Cristandade, caía na heresia protestante, Nosso Senhor converteu um continente, com a aparição em Guadalupe, com a devoção a Nossa Senhora da Conceição no Brasil.
Nós estamos, hoje, imersos em um emaranhado de erros, que procuram nos afogar. Erros evidentes no campo moral, como se não houvesse a lei natural escrita no coração do homem, como diz São Paulo. Assim, temos a dissolução da família, como se a indissolubilidade e a fidelidade não estivessem escritas no coração do homem. O assassinato de crianças indefesas pelo aborto, como se a preservação da vida dos inocentes não estivesse inscrita no coração do homem. Uniões contrárias à natureza, como se a geração dos filhos e a necessária preservação e desenvolvimento do gênero humano não estivessem escritos no coração dos homens. A ideologia de gênero, como se o ser humano não nascesse homem ou mulher e como se não permanecesse homem e mulher até o fim de sua vida. O erro do feminismo, que masculiniza a mulher. O erro da emasculação dos homens, que feminiliza o homem.
Erros evidentes no campo da fé. O relativismo, como se a religião fosse uma questão de gosto e não de verdade, e verdade que nos foi dita por Deus e que devemos aceitar por ser a verdade e por ser bom para nós. O indiferentismo religioso, como se qualquer religião fosse boa ou conduzisse à salvação, como se a religião católica não fosse a única verdadeira. A afirmação de que as religiões são a expressão de uma única religião, que chamam de religião perene, sabedoria perene ou filosofia perene (esse último termo às vezes usado também para designar a filosofia aristotélico-tomista), como se a religião católica não fosse a única verdadeira e como se não estivesse em contradição com as outras. A afirmação de que haveria um conhecimento superior à fé, como se a fé não fosse o mais seguro e perfeito conhecimento possível nesse mundo. O erro de revoltar-se ou rebelar-se contra o Papa, como se não fosse o nosso Pai na fé, como se não fosse o Vigário de Cristo. O erro de não respeitar e obedecer à autoridade legítima em suas ordens legítimas. O erro do servilismo, isto é, de obedecer a eventuais ordens ilegítimas, mesmo da autoridade legítima.
Os erros nas condutas, combatendo um erro com vários outros, como se isso não fosse fazer o jogo do inimigo e fazer o inimigo triunfar de um jeito ou de outro. Atualmente, isso ocorre principalmente no combate ao socialismo com o erro do liberalismo (ver o Sermão: A doutrina social da Igreja: socialismo ou liberalismo econômico? Nem socialismo nem liberalismo econômico).O erro da direita que surge no Brasil e no mundo, eivada de um liberalismo já condenado pela Igreja, mesmo o liberalismo econômico. Uma direita, muitas vezes, com fundo esotérico (Ver o Sermão: Nem direita, nem esquerda, nem centro. Sejamos católicos).Uma direita próxima da maçonaria, inimiga jurada da Igreja. Uma direita que dissemina sutilmente seus erros com fachada de catolicismo e que muitos, católicos, com os olhos embaçados, não percebem. Uma direita que, sob pretexto de alta cultura e política, destrói uma verdadeira restauração de todas as coisas em Cristo.  Querem conciliar direitismo e catolicismo e lei natural. Não conseguem. Enganam-se a si mesmos. Têm olhos, mas não querem ver. O erro da esquerda com seu materialismo e negação de Deus e das verdades e realidades sobrenaturais. Com sua negação de uma legítima desigualdade entre os homens. Com sua negação da propriedade privada. A teologia da libertação que torna simplesmente a religião em instrumento do socialismo e comunismo, tão reiteradamente condenados pela Igreja. O erro de mendigar à direita ou à esquerda a salvação das pessoas e o bem comum da sociedade, como se tudo isso não se encontrasse na Igreja e na sua influência na sociedade. O erro da primazia da política, como se fosse por ela, pura e simplesmente, que se resolvem os problemas e não pelo fundamento sólido da religião católica.
Mas também os erros do dia-a-dia: as nossas impaciências face às cruzes, porque fomos formados na geração dos que não podem sofrer. A nossa falta de decisão em não corrigir os nossos erros e defeitos porque fomos formados na sociedade da passividade, com a televisão o tempo todo, os jogos eletrônicos, as redes sociais, que viraram a vida de muitos. A nossa falta de vontade firme, para aplicar o bem que conhecemos. O nosso orgulho para não nos submetermos à vontade de Deus, ainda quando nos for dolorosa. A nossa fraqueza, como se a finalidade de nossa vida fosse o entretenimento, a diversão e não a salvação de nossa alma. Como se tudo, mesmo a diversão, não devesse se ordenar para a glória de Deus e nossa salvação. O erro da vida mundana. O erro de querer conciliar Cristo e o mundo, entendido como aquilo que nos leva ao pecado. O erro de querer agradar aos outros, mas desagradar a Deus. O sentimentalismo, não agindo pela razão iluminada pela fé, mas pelos nossos sentimentos, pelos nossos gostos… O romantismo, como se essa vida fosse um conto de fadas e não um vale de lágrimas no qual devemos combater vigorosamente pelo triunfo da Verdade e do Bem, isto é, pelo triunfo de NSJC, pelo triunfo da Igreja. O erro de esperar uma retribuição nesse mundo pelas nossas boas obras, como se essa retribuição não fosse a graça de Deus, as cruzes e como se a retribuição não viesse na vida futura.
Quantos erros, quantas calamidades! E temos olhos… E não queremos ver. Maria Santíssima, a Imaculada Conceição, esmaga todos esses erros. Devemos recorrer a ela. Ela nos dará a graça de seu Filho, Jesus Cristo, Nosso Senhor. Para enfrentarmos os erros com vigor e alegria profunda e verdadeira, em meio às tormentas do dia-a-dia, em meio às tormentas que assolam a sociedade.  Louvor a Vós, Maria, concebida sem pecado, que esmagais as heresias e o demônio: sede nossa bondosa guia (Pequena Coroa da Santíssima Virgem).
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

13 de dezembro de 2016

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

V

Assim, pois, para qualquer lado que dirijamos os olhares da nossa fé sobre esta permuta, quaisquer que sejam as circunstãncias que examinemos, sempre se nos depara admirável.
 Com efeito, não é admirável este nascimento duma Virgem: Natus ineffabiliter ex virgine? «Uma jovem Mãe deu à luz o Rei, cujo nome é eterno; à honra da virgindade alia as alegrias da maternidade; antes dela, nunca se viu tal prodígio; depois dela, não se dará outro semelhante». «Filhas de Jerusalém, porque me admirais? Este mistério que vedes em mim, é verdadeiramente divino» !
É deveras admirável esta indissolúvel, mas inconfundível união da Divindade com a Humanidade na única pessoa do Verbo: Mirabile mysterium; innovantur naturae. Admirável esta permuta, pelos contrastes da sua realização; Deus faz-nos partilhar da Sua Divindade,  mas a Humanidade que de nós assume para nos comunicar a vida divina é uma Humanidade sofredora, «que conhecerá a dor» - homo sciens infirmitatem -,  que passará pela morte e pela morte,  nos dará a vida.
Esta permuta é admirável na sua origem, que não é outra senão o amor infinito de Deus por nós. Sic Deus dilexit mundum,  ut Filium suum Unigenitum daret: «Deus amou a tal ponto o mundo, que lhe deu o Seu próprio Filho». Abandonemos, pois, as nossas almas à alegria e cantemos com a Igreja: Parvulus natus est nobis et filius DATUS est NOBIS. E como nos foi dado? «Na semelhança da carne do pecado». É por isso que o amor que no-Lo dá assim na nossa humanidade passível, para expiar o pecado, é um amor sem medida: Propter NIMIAM caritatem suam, qua dilexit nos Deus, misit Filium suum in similitudinem carnis peccati.
 Admirável, finalmente, nos seus frutos e efeitos. Por esta permuta restitui-nos Deus a Sua amizade; dá-nos de novo o direito de tomar posse da herança eterna; contempla outra vez a humanidade com amor e complacência.
 Por isso, a alegria é um dos sentimentos predominantes na celebração deste mistério. A Igreja a ela nos convida constantemente, por se lembrar das palavras do Anjo aos pastores: «Eis que vos anuncio uma nova que será para vós fonte de grande alegria; nasceu-vos um Salvador». É a alegria da libertação, da herança reconquistada, da paz readquirida e principalmente da visão do próprio Deus dada ao homem: Et vocabitur nomen ejus Emmanuel.
 Esta alegria só nos está assegurada, se permanecermos firmes na graça que nos vem do Salvador e nos torna Seus irmãos. S. Leão exclama, num sermão que é lido pela Igreja durante a noite santa: «Reconhece, ó cristão, a tua dignidade»: Agnosce, o christiane, dignitatem tuam; e, uma vez que participaste da Divindade, livra-te de decair de tão sublime estado!
«Se conhecêsseis o dom de Deus», dizia Nosso Senhor. «Se soubésseis quem é este Filho que vos é dado»! Se, principalmente, O recebêssemos como devemos recebê-Lo! Não se diga de nós: In proptia venit et sui eum non receperunt: «veio ao Seu domínio e os Seus não O receberam». Somos todos, pela criação o domínio de Deus; pertencemos.-Lhe; mas alguns não O receberam neste mundo. Quantos judeus, quantos pagãos rejeitaram Jesus Cristo, porque apareceu na humildade duma carne passível! Almas mergulhadas nas trevas do orgulho e dos sentidos: Lux in tenebris lucet, et tenebrae eam non comprehenderunt.
 E como devemos recebê-Lo? Pela fé: His qui credunt in nomine ejus. Aos que crêem na pessoa, na palavra, nas obras de Jesus Cristo, aos que receberam este Menino como Deus, foi-lhes dado em recompensa serem filhos de Deus: Ex Deo nati sunt.
Com efeito, esta disposição é fundamental e indispensável para que esta admirável permuta produza em nós os seus efeitos. Só a fé nos faz conhecer os termos e a maneira por que ela se realiza; só ela nos faz penetrar nas profundezas deste mistério e adquirir um verdadeiro conhecimento de Deus.
 É que há muitos modos e graus de conhecimento. «O boi e o jumento conheceram o seu Deus», escrevia Isaías, falando deste mistério. Viam o Menino deitado no presépio. Mas que contemplavam? O que pode descobrir o animal: a forma, o tamanho, a cor, o movimento - conhecimento inteiramente elementar que não ultrapassa o domínio dos sentidos. Nada mais. Os transeuntes, os curiosos que se aproximaram da gruta viram a criança; mas para esses era semelhante a todas as outras crianças. Não foram além do conhecimento puramente natural. Talvez admirassem a beleza do Menino, talvez lastimassem a Sua pobreza. Mas este sentimento foi de pouca duração; foi logo abafado pela indiferença.
 Vieram os pastores, corações simples, iluminados por um raio do alto: Claritas Dei círcumfulsit íllos. Compreenderam com certeza muito mais; reconheceram nesta criança o Messias prometido e esperado: Exspectatio gentium; prestaram-Lhe suas homenagens e por muito tempo tiveram as almas cheias de alegria e de paz.
 Os Anjos contemplavam igualmente no recém -nascido o Verbo feito carne. Viam n'Ele  o seu Deus; por isso, esse conhecimento enchia os puros espíritos de assombro e de admiração por tão incompreensível aniquilamento, porque não foi a natureza angélica que o Senhor quis unir a Si -
Nusquam angelos - , mas a natureza humana -sed semen Abrahae apprehendit.
 Que diremos da Virgem, quando olhava para Jesus? A que profundidade do mistério penetrava o seu olhar tão puro, tão humilde, tão terno e tão cheio de complacência! É impossível descrever de que luzes a alma de Jesus inundava então a Sua Mãe e que sublimes adorações, que perfeitas homenagens Maria tributava a seu Filho, ao seu Deus, a todos os estados e a todos os mistérios de que a Incarnação é a substância e a raiz.
 Há enfim - mas isto é inenarrável - o olhar do Pai Eterno contemplando o Seu Filho, feito carne por amor dos homens. O Pai Celeste via o que jamais o homem nem o Anjo nem mesmo Maria poderão compreender: as infinitas perfeições da Divindade oculta num Menino ... E esta contemplação era a fonte de indizível deslumbramento: «És o meu Filho, o meu Filho muito amado, o Filho da minha predileção, em quem pus todas as minhas complacências».
Quando contemplamos em Belém o Verbo lncarnado, elevamo-nos acima dos sentidos para só nos servirmos dos olhos da fé. A fé faz-nos participar, neste mundo, do conhecimento que as pessoas divinas têm umas das outras. Não há nisto exagero algum. A graça santificante torna-nos participantes da natureza divina; ora, a atividade da natureza divina consiste no conhecimento e no amor que as pessoas divinas têm umas das outras e umas para com as outras; participamos, portanto, desse conhecimento. E assim como a graça santificante, desabrochando na glória, nos dará o direito de contemplar a Deus como Ele se vê, na terra, nas sombras da fé, a graça permite-nos contemplar as profundezas dos mistérios pelos olhos de Deus: Lux tuae claritatis infulsit.
 Quando a nossa fé é viva e pefeita, não paramos na superfície, no exterior do mistério; mas vamos até ao âmago para o contemplar com os olhos de Deus; passamos pela Humanidade para penetrar até à Divindade que a Humanidade esconde e ao mesmo tempo revela; vemos os mistérios divinos à luz divina.
E a alma, deslumbrada e atônita diante de tão prodigioso aniquilamento, a alma, assim vivificada pela fé, prostra-se e entrega-se inteiramente para procurar a glória dum Deus que, pelo amor da criatura, esconde o esplendor próprio das Suas insondáveis perfeições. A alma adora-O, entrega-se; e não tem descanso, enquanto não der tudo para contemplar a permuta que o Senhor quer operar com ela, enquanto não submeter inteiramente tudo o que possui, toda a sua atividade, ao «Rei da paz que vem com tanta .magnificência»  para a salvar, santificar e, para assim dizer, deificar.
Aproximemo-nos, pois, do Menino Deus com grande fé. Desejaríamos estar em Belém para O receber. Mas a Comunhão dá-no-Lo com a mesma realidade, posto que os nossos sentidos O não descubram. Tanto no tabernáculo como no presépio, é o mesmo Deus Omnipotente, O mesmo Salvador cheio de bondade.
 Se assim o quisermos, durará sempre esta admirável troca. Porque é também pela Sua Humanidade que, na sagrada mesa, Jesus Cristo nos infunde a vida divina; é comendo o Seu Corpo, bebendo o Seu Sangue, unindo-se à Sua Humanidade, que bebemos na própria fonte da vida eterna: Qui manducat meam carnem, et bibit meum sanguinem. habet vitam aeternam.
E desta maneira, todos os dias, se continua e se estreita a união estabelecida entre Deus e o homem  pela lncarnação. Jesus Cristo, dando-se na Comunhão, aumenta na alma generosa e fiel a vida da graça; faz-na desenvolver mais livremente e desabrochar com mais força; «confere-lhe até o penhor dessa imortalidade feliz, cujo germe é a graça e em que o próprio Deus se nos comunica em toda a plenitude e sem véu» : Ut natus hodie Salvator mundi, sicut divinae nobis generationis est auctor, ita et immortalitatis  IPSE largitor.
Será esta a magnífica e gloriosa consumação da troca inaugurada em Belém, na pobreza e no aniquilamento do presépio.

12 de dezembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 224

SOBRE UM ROCHEDO

São Martiniano, para fugir do perigo de perder a castidade, retirara-se ao meio do mar e vivia sobre um rochedo deserto. Um marinheiro levava-lhe semanalmente algumas provisões e fora disso ninguém pisava naquela ilha.
Um dia houve um naufrágio, no qual pereceram todos os passageiros, menos uma moça. Agarrada a uma tábua, conseguiu aproximar-se daquele rochedo. Não podendo valer-se a si mesma, pedia em altas vozes que o servo de Deus a salvasse. Martiniano caridosamente a tirou da água, mas logo lhe disse: “Disponha de minhas provisões até que o marinheiro traga outras; e então ele poderá levar a senhora a outra praia; nós dois, porém, é que não podemos ficar juntos aqui”.
E, para não permanecer mais tempo exposto ao perigo, depois de breve oração, lançou-se ao mar e, nadando, afastou-se dali. Deus, porém, para mostrar quanto lhe agradava a pureza de seu fiel servo, enviou dois grandes peixes, que, sobre seus dorsos, o transportaram a outra praia.

11 de dezembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 223

SÃO BONS MÉDICOS

Um jovem religioso, molestado por tentações desonestas, com muita humildade, relatou-as ao seu abade, o qual lhe disse que pediria a Deus que o livrasse delas; contudo, para atrair as bênçãos e a graças do Senhor, deveria obedecer a todos que no convento tivessem algum oficio e fazer o que eles lhe ordenassem. Entretanto, avisou o abade secretamente os oficiais que ocupassem o mais possível o jovem religioso: de sorte que o enfermeiro o empregava para cuidar dos doentes; o cozinheiro, para lavar as louças e panelas; o jardineiro ocupava-o no jardim e na horta... O jovem já não sabia a quem melhor atender e sempre tinham algum reparo a fazer sobre o seu trabalho. Mas ele obedecia bem. Algum tempo depois chamou-o o abade e perguntou-lhe como ia com as tentações.
— Meu Padre — respondeu — estes religiosos são muito bons médicos, pois apenas me deixam tempo para respirar... Como posso ter tempo para pensar no mal?

Fotos Missa Festa da Imaculada Conceição de Maria Santíssima - Padre Anderson Bonin

1. Foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por ela que deve reinar no mundo.

2. Toda a sua vida Maria permaneceu oculta; por isso o Espírito Santo e a Igreja a chamam Alma Mater – Mãe escondida e secreta. Tão profunda era a sua humildade, que, para ela, o atrativo mais poderoso, mais constante era esconder-se de si mesma e de toda criatura, para ser conhecida somente de Deus.

3. Para atender aos pedidos que ela lhe fez de escondê-la, empobrecê-la e humilhá-la, Deus providenciou para que oculta ela permanecesse em seu nascimento, em sua vida, em seus mistérios, em sua ressurreição e assunção, passando despercebida aos olhos de quase toda criatura humana. Seus próprios parentes não a conheciam; e os anjos perguntavam muitas vezes uns aos outros: Quae est ista?... – Quem é esta? (Ct 3, 6; 8, 5), pois que o Altíssimo lha escondia; ou, se algo lhes desvendava a respeito, muito mais, infinitamente, lhes ocultava.

4. Deus Pai consentiu que jamais em sua vida ela fizesse algum milagre, pelo menos um milagre visível e retumbante, conquanto lhe tivesse outorgado o poder de fazê-los. Deus Filho consentiu que ela não falasse, se bem lhe houvesse comunicado a sabedoria divina. Deus Espírito Santo consentiu que os apóstolos e evangelistas a ela mal se referissem, e apenas no que fosse necessário para manifestar Jesus Cristo. E, no entanto, ela era a Esposa do Espírito Santo.

5. Maria é a obra-prima por excelência do Altíssimo, cujo conhecimento e domínio ele reservou para si. Maria é a Mãe admirável do Filho, a quem aprouve humilhá-la e ocultá-la durante a vida para lhe favorecer a humildade, tratando-a de mulher – mulier (Jo 2, 4; 19, 26), como a uma estrangeira, conquanto em seu Coração a estimasse e amasse mais que todos os anjos e homens. Maria é a fonte selada (Ct 4, 12) e a esposa fiel do Espírito Santo, onde só ele pode penetrar. Maria é o santuário, o repouso da Santíssima Trindade, em que Deus está mais magnífica e divinamente que em qualquer outro lugar do universo, sem excetuar seu trono sobre os querubins e serafins; e criatura algumas, pura que seja, pode aí penetrar sem um grande privilégio.

6. Digo com os santos: Maria Santíssima é o paraíso terrestre do novo Adão, no qual este se encarnou por obra do Espírito Santo, para aí operar maravilhas incompreensíveis.  É o grande, o divino mundo de Deus,  onde há belezas e tesouros inefáveis. É a magnificência de Deus, em que ele escondeu, como em seu seio, seu Filho único, e nele tudo que há de mais excelente e mais precioso. Oh! que grandes coisas e escondidas Deus todo-poderoso realizou nesta criatura admirável, di-lo ela mesma, como obrigada, apesar de sua humildade profunda: Fecit mihi magna qui potens est (Lc 1, 49). O mundo desconhece essas coisas porque é inapto e indigno.

7. Os santos disseram coisas admiráveis desta cidade santa de Deus; e nunca foram tão eloqüentes nem mais felizes, – eles o confessam – que ao tomá-la como tema de suas palavras e de seus escritos. E, depois, proclamam que é impossível perceber a altura dos seus méritos, que ela elevou até ao trono da Divindade; que a largura de sua caridade, mais extensa que a terra, não se pode medir; que está além de toda compreensão a grandeza do poder que ela exerce sobre o próprio Deus; e, enfim, que a profundeza de sua humildade e de todas as suas virtudes e graças são um abismo impossível de sondar. Ó altura incompreensível! Ó largura inefável! Ó grandeza incomensurável! Ó insondável!

8. Todos os dias, dum extremo da terra ao outro, no mais alto dos céus, no mais profundo dos abismos, tudo prega, tudo exalta a incomparável Maria. Os nove coros de anjos, os homens de todas as idades, condições e religiões, os bons e os maus. Os próprios demônios são obrigados, de bom ou mau grado, pela força da verdade, a proclamá-la bem-aventurada. Vibra nos céus, como diz São Boaventura, o clamor incessante dos anjos: Sancta, sancta, sancta Maria, Dei Genitrix et Virgo; e milhões e milhões de vezes, todos os dias, eles lhe dirigem a saudação Angélica: Ave, Maria..., prosternado-se diante dela e pedindo-lhe a graça de honrá-la com suas ordens. E a todos se avantaja o príncipe da corte celeste, São Miguel, que é o mais zeloso em render-lhe e procurar toda a sorte de homenagens, sempre atento, para ter a honra de, à sua palavra, prestar um serviço a algum dos seus servidores.

9. Toda a terra está cheia de sua glória, particularmente entre os cristãos, que a tomam como padroeira e protetora em muitos países, províncias, dioceses e cidades. Inúmeras catedrais são consagradas sob a invocação do seu nome. Igreja alguma se encontra sem um altar em sua honra; não há região ou país que não possua alguma de suas imagens milagrosas, junto das quais todos os males são curados e se obtêm todos os bens. Quantas confrarias e congregações erigidas em sua honra! quantos institutos e ordens religiosas abrigados sob seu nome e proteção! quantos irmãos e irmãs de todas as confrarias , e quantos religiosos e religiosas a entoar os seus louvores, a anunciar as suas maravilhas! Não há criancinha que, balbuciando a Ave-Maria, não a louve; mesmo os pecadores, os mais empedernidos, conservam sempre uma centelha de confiança em Maria. Dos próprios demônios no inferno, não há um que não a respeite, embora temendo.

10. Depois disto é preciso dizer, em verdade, com os santos:
De Maria nunquam satis... Ainda não se louvou, exaltou, amou e serviu suficientemente a Maria, pois muito mais louvor, respeito, amor e serviço ela merece.

11. É preciso dizer, ainda, com o Espírito Santo: Omnis gloria eius filiae Regis ab intus – Toda a glória da Filha do Rei está no interior (Sl 44, 14), como se toda a glória exterior, que lhe dão, a porfia, o céu e a terra, nada fosse em comparação daquela que ela recebe no interior, da parte do Criador, e que desconhecem as fracas criaturas, incapazes de penetrar o segredo dos segredos do Rei.

12. Devemos, portanto, exclamar com o apóstolo: Nec oculus vidit, nec auris audivit, nec in cor hominis ascendit (1Cor 2, 9) – os olhos não viram, o ouvido não ouviu, nem o coração do homem compreendeu as belezas, as grandezas e excelências de Maria, o milagre dos milagres da graça6, da natureza e da glória. Se quiserdes compreender a Mãe – diz um santo – compreendei o Filho. Ela é uma digna Mãe de Deus: Hic taceat omnis lingua – Toda língua aqui emudeça.

13. Meu coração ditou tudo o que acabo de escrever com especial alegria, para demonstrar que Maria Santíssima tem sido, até aqui, desconhecida, e que é esta uma das razões por que Jesus Cristo não é conhecido como deve ser. Quando, portanto, e é certo, o conhecimento e o reino de Jesus Cristo tomarem o mundo, será uma conseqüência necessária do conhecimento e do reino da Santíssima Virgem Maria. Ela o deu ao mundo a primeira vez, e também, da segunda, o fará resplandecer.




10 de dezembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 222

“A SOCIEDADE DA ALEGRIA”

S. João Bosco, durante os anos de ginásio, ganhou as simpatias de todos os colegas, ajudando-os em tudo que podia e resolvendo-lhes as dificuldades. Acudiam a ele para os estados, para as tarefas, para ouvirem historinhas e para se divertirem. Essas reuniões eram frequentes, e batizaram-nas com o expressivo nome de “Sociedade da Alegria”. Cada um se comprometeu a procurar livros, conversares e divertimentos que, contribuindo para a alegria, não fossem contrários á lei de Deus. João, colocado à frente da Sociedade, estabeleceu como bases: — Evitar o pecado, isto é, toda conversa ou ação indigna do cristão. — Cumprir com exatidão os deveres de piedade e de estudo. — Nos dias de preceito ouvir a santa missa e, à tarde, assistir ao catecismo. — Durante a semana reunir-se alguma vez para falar de assuntos religiosos.
A Sociedade da Alegria deu frutos excelentes. Que belos frutos não produziria, também entre nós, uma semelhante sociedade? Oh! quantos proveitos para a alma e para a inteligência!

9 de dezembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 221

BASTA-ME...

Um nobre oficial francês fazia uma visita a um hospital. Percorrendo as enfermarias, teve ocasião de observar — o que nunca imaginara — as terríveis misérias e enfermidades causadas pela luxúria. Naquele espetáculo hediondo, naqueles corpos meio apodrecidos, reconheceu o castigo imposto por Deus, já nesta vida, ao mais vergonhoso dos pecados.
Quando terminou a visita, horrorizado, exclamou: “Sou cristão e creio que existe um inferno, onde serão castigados os impuros; mas, para fazer-me conceber sumo horror a esse pecado, basta o que acabo de ver neste hospital”.

8 de dezembro de 2016

Missa Tridentina - Festa da Imaculada Conceição de Maria Santíssima


Festa da Imaculada Conceição de Maria Santíssima


Data: 08/12/2016
Horário: 20:00h
Sacerdote: Padre Anderson Bonin
Local: Capela de Nossa Senhora Aparecida - Capela da Polícia Militar - Associação da Vila Militar
Endereço: Avenida Marechal Floriano Peixoto, 2057 - Rebouças - Curitiba - Paraná

Tesouro de Exemplos - Parte 220

TANDEM FELIX!

Tandem felix — foi a palavra que o célebre cientista católico André Ampère (+ 1836) mandou gravar na lousa de sua sepultura. Esse eminente católico, na véspera da morte, quando alguém quis ler para ele alguns trechos da “Imitação de Cristo”, fez uma bela confissão: “Esse livrinho, eu o sei de cor”. Suas últimas palavras foram: “Felix tandem”, isto é, finalmente sou feliz.

7 de dezembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 219

TODOS CORRIAM PARA VÊ-LO

Já ouvistes falar de S. Bento Labre?
Era um pobre que pedia esmola de porta em porta. Dormia num palheiro, levantava-se muito cedo e corria à igreja, e ali passava toda a manhã ouvindo missas. Era tão grande a compostura, tão terna a devoção, tão profundo o recolhimento com que permanecia diante da divina Eucaristia, que — diz a sua história — o povo corria em massa à igreja para vê-lo. Ele, porém, estava no templo, como se estivesse sozinho. Gostava de ficar bem perto do altar, e ajoelhava-se, juntava as mãos, fitava os olhos na Hóstia divina e, assim, ficava horas inteiras.
A doçura do seu rosto e a luz celestial de seus olhos estavam a dizer a todos que era uma alma para a qual na igreja não havia mais que um tesouro, uma maravilha, um sol, um amor: Jesus sacramentado.
Assim viveu aquele mendigo, que não conhecia na terra nenhuma outra doçura, nenhuma outra riqueza senão Jesus sacramentado.
Crianças. Quando vierdes visitar Jesus em sua casa, em seu trono de amor, nada de pensamentos terrenos nada de olhares curiosos, de palavras inconvenientes, de leviandades infantis. Entrando na igreja, ajoelhai-vos, juntai as mãos, olhai para o Sacrário e falai com Jesus: isso, sim, é que é rezar.

6 de dezembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 218

FORMOU-SE UMA PROCISSÃO

Em todas as escolas daquele país católico encontrava-se colocada em lugar de honra a imagem de Jesus crucificado. Era ele que presidia as aulas. Aquele bom Jesus, o verdadeiro amigo das crianças, ouvira sempre com gosto a música deliciosa de suas orações infantis.
Um dia, porém, governos impios daquela nação mandaram que a imagem bendita de Jesus Cristo fosse retirada do lugar de honra. Tanto o professor como os alunos sentiram grande pesar, ficaram muito contrariados, mas — que fazer? — era preciso obedecer.
O professor, com todos os seus queridos discípulos, amava muito a Jesus. Por isso um dia, com lágrimas nos olhos, falou-lhes assim:
— Meus caros alunos. Já não nos é permitido ter por mais tempo a Jesus Cristo entre, nós. É preciso tirá-lo desse lugar de honra a que ele tinha direito por ser Deus e Mestre de professores e alunos. Vamos levá-lo solenemente à igreja; ali cada dia uma comissão de crianças irá visitá-lo para dizer.-lhe em nome de todos que, se o tivemos de tirar desta parede, onde os impios não o podem ver, todos nós o continuaremos a trazer em nossos corações”.
Formou-se uma procissão. A sagrada imagem era carregada entre duas filas de crianças. Quase não podiam rezar. Nem cantar. Iam todos chorando. Parecia-lhes que Jesus Crista estava sendo desterrado, e que sem ele não poderiam ser boas e felizes. E colocaram-no num altar da matriz. Desde aquele dia, quando saíam da escola, corriam a ajoelhar-se aos pés do Cristo e rezavam as mesmas orações e cantavam os mesmos cânticos piedosos, que costumavam cantar quando Jesus presidia às aulas na ampla sala da escola. E cantavam com mais força ainda: “Queremos Deus e a sã doutrina, que nos legou na sua cruz! Leve à escola e à oficina a lei de Cristo — amor e luz. Queremos Deus!... homens ingratos, ao Pai supremo, ao Redentor! Zombam da fé os insensatos, erguem-se em vão contra o Senhor”

5 de dezembro de 2016

Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

IV 

A Humanidade de Jesus Cristo torna Deus visível; mas principalmente - e é aqui que a divina sabedoria se mostra «admirável » - torna Deus passível.
 O pecado que em nós destruiu a vida divina exige uma satisfação, uma expiação, sem a qual não nos podia ser restituída essa vida divina. O homem, sendo simples criatura, não podia sofrer nem reparar. Deus só nos pode comunicar a Sua vida, se o pecado for extinto; por um decreto imutável da sabedoria eterna, o pecado não se apaga, se não for expiado duma maneira conforme à equidade. Como resolver o problema? 
 A Incarnação dá-nos a reposta. Considerai o Menino de Belém: é o Verbo feito carne. A Humanidade que o Verbo toma é passível; é ela quem sofrerá, quem satisfará. Esses sofrimentos e satisfações, que são obra Sua, bem Sua,  pertencerão, no entanto, como a própria Humanidade, ao Verbo; a pessoa divina dar-lhes-á um valor infinito que bastará para resgatar o mundo, destruir o pecado e fazer superabundar a graça nas almas como um rio impetuoso e fertilizante: Fluminis impetus laetificat civitatem Dei.
 Ó comércio admirável. Não nos demoraremos em prescrutar de que modo teria Deus podido operá-lo; vejamos como o realizou. O Verbo pede-nos uma natureza humana para encontrar nela com que sofrer, reparar, merecer e cumular-nos de graças. Foi pela carne que­ o homem se desviou de Deus; é fazendo-se carne que Deus liberta o homem:
 Beatus auctor saeculi
 Servile corpus induit
 Ut carne carnem 1iberans 
Ne perderet quos condidít.
 A carne revestida pelo Verbo de Deus tornar-se-á,  para toda a carne o instrumento da salvação. O admirabile commercium ! 
Evidentemente não ignorais que será necessário esperar pela imolação do Calvário para que seja completa a expiação. Mas, como no-lo ensina S. Paulo, «logo no primeiro momento da Incarnação, Jesus Cristo aceitou cumprir a vontade de Pai e oferecer-se como Vítima pelo gênero humano »: ldeo ingrediens mundum dicit: Ho­stiam et oblationem noluisti: CORPUS autem aptasti mihi .. , Et tunc dixi: Ecce venio ... ut faciam Deus voluntatem tuam . « É por esta oblação que Jesus Cristo começa a santificar-nos»: In qua voluntatem sanctificati sumus; é no presépio que inaugura essa existência de sofrimento que quis viver para nossa salvação, cujo termo é no Gólgota e que, destruindo o pecado, deve restituir-nos a amizade de Pai. O presépio é apenas o primeiro passo, mas contém radicalmente todos os outros.
 Eis por que, na solenidade do Natal, a Igreja atribui a nossa salvação ao próprio nascimento temporal do Filho de Deus. «Ó Senhor, que o novo nascimento do Vosso Filho na carne nos liberte da antiga servidão que nos trazia cativos sob o jugo do pecado ». Por isso, desde esse momento, falar-se-á constantemente de « libertação, de redenção, de salvação, de vida eterna ». É pela Sua Humanidade que Jesus Cristo, Pontífice e Mediador, nos une a Deus; mas é ·em Belém que nos aparece nessa Humanidade. 
Vede, pois, como, desde o Seu nascimento, Ele realiza a Sua missão.
 O que é que nos faz perder a vida divina?
 O orgulho. Porque acreditaram que se tornariam semelhantes a Deus, conhecedores da ciência do bem e do mal, Adão e Eva perderam, para si e para os seus descendentes, a amizade de Deus. Jesus Cristo, novo Adão, resgata-nos e reconduz-nos a Deus pela Humildade da Incarnação. «Apesar de ser Deus, aniquilou-se a Si próprio, tomando a condição de criatura, tornando-se semelhante aos homens: manifestou-se como homem em tudo o que fez ». Que humilhação! Mais tarde, a Igreja exaltará até ao mais alto dos céus a Sua glória resplandecente de triunfador do pecado e da morte; mas, por enquanto, Jesus Cristo conhece apenas o aniquilamento e a fraqueza. Quando os nossos olhares descem sobre essa criancinha que em nada se distingue das outras e pensamos estar diante de Deus, do Deus infinito, no qual se escondem todos os tesouros da sabedoria e da ciência, a alma sente-se compenetrada e o nosso vão orgulho confunde-se diante de tamanha humilhação.
Que mais nos perdeu ainda? A nossa recusa em obedecer. Vede o Filho de Deus. Ele dá o exemplo duma obediência admirável; com a simplicidade das criancinhas, entrega-se nas mãos dos Seus pais; deixa-se tocar, pegar e levar para onde desejam; e toda a infância, toda a adolescência, toda a mocidade de Jesus estão resumidas pelo Evangelho nestas únicas palavras: «Era submisso a Maria e a José». Que mais? As nossas cobiças: «a concupiscência dos olhos», tudo o que aparece, brilha, fascina e seduz; a inanidade da bagatela fugaz que preferimos a Deus. O Verbo se fez carne; mas nasceu na pobreza e na abjecção: Propter vos egenus factus est cum esset dives: «Jesus Cristo fez-se pobre, de rico que era». Posto que seja «O rei dos séculos», Aquele que com uma palavra tirou do nada toda a criação, que só «com abrir a mão enche de bênçãos todo o ser vivo», não nasceu num palácio; Sua Mãe, não encontrando lugar na hospedaria, viu-se obrigada a refugiar-se numa gruta: o Filho de Deus, Sabedoria eterna, quis nascer nu e ser deitado na palha. Se contemplarmos com fé e amor o Menino Jesus no presépio, veremos n'Ele o exemplo divino de muitas virtudes; se soubermos ouvir com o coração o que Ele nos diz, muito aprenderemos; se percorrermos as circunstâncias do Seu nascimento, veremos como a Humanidade serve ao Verbo de instrumento, não só para nos instruir, mas ainda para nos levantar, para nos vivificar, para nos tornar agradáveis ao Pai e desprender-nos das coisas que passam, de nós mesmos, para nos elevar até Deus. «A Divindade reveste a nossa carne mortal; e por isso mesmo que o  Senhor se abaixa a viver uma vida humana, o homem eleva-se para as coisas divinas»: 
Dum divinitas defectum nostrae carnis suscepit, humanum genus lumen, quod amiserat, recepit. Unde enim Deus humana patitur, inde homo ad divina sublevatur. 

4 de dezembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 217

ESSES COMUNISTAS!...

Conversava um sacerdote com um comunista e, a certa altura da conversa, perguntou-lhe:
— Serias capaz de praticar o que andas apregoando por aí?
— Sim — disse o outro — conseqüente com minhas idéias de repartição social.
— Se tivesses dois cavalos, me darias um?
— Sem dúvida.
— E se tivesses duas casas, me darias uma?
— Também.
— Então comecemos pelo que tens; dá-me a metade das tuas galinhas!
— Hum! isto já é outra cantiga — disse o comunista; — não posso desfazer-me delas.
— Como assim? e as idéias de repartição que professas?
— É que cavalos e casas nunca tive nem tenho; mas galinhas eu as trato e engordo e são minhas.
Como se vê, a bela frase “o que é meu é teu” deve ser redigida assim: “O que é teu é meu” — porque “a propriedade é um roubo”, mas não vice-versa.

3 de dezembro de 2016

Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios

III 

O que acaba de tornar esta permuta «admirável» é o modo como se realiza, a forma por que se opera. E como é? Como é que esta criancinha, que é o Verbo Incarnado, nos faz participantes da Sua vida divina?
Pela Sua Humanidade. A Humanidade que o Verbo toma de nós servir·Lhe-á de instrumento para nos comunicar a Sua Divindade; e isto por duas razões infinitamente resplandecentes de sabedoria eterna: a humanidade torna Deus visível, torna Deus passível. 
Torna-O visível.
 A Igreja canta com alegria, servindo-se das expressões de S. Paulo, essa «aparição» de Deus entre nós: Apparuit gratia Dei Salvatoris nostri omnibus hominibus: «a graça de Deus nosso Salvador apareceu a todos os homens»; Apparuit benignitas et humanitas Salvatoris nostri Dei: apareceu a benignidade e a Humanidade de Deus nosso Salvador»; Lux fulgebit hodie super nos: quia natus est nobis Dominus: «a luz brilhará hoje sobre nós, porque nasceu o Senhor para nós»; Verbum caro factum est et habitavit in nobis: «o Verbo fez-se carne e habitou entre nós».
 A incarnação realiza esta inaudita maravilha: os homens viram o próprio Deus a viver entre eles.
 S. João compraz-se em fazer sobressair este aspecto do mistério. «O Verbo de vida era antes de todas as coisas; nós O ouvimos, O vimos com nossos olhos, O contemplamos ·e nossas mãos O tocaram. Aquele que no seio do Pai é a própria vida manifestou-Se-nos e d'Ele damos testemunho. Anunciamos-vos o que vimos e ouvimos, para que a vossa alegria seja completa».
 Que alegria, efetivamente, ver Deus manifestar-Se a nós, não no deslumbrante esplendor da Sua omnipotência ou na glória indizível da Sua soberania, mas sob o véu duma Humanidade humilde, pobre, fraca, que podemos ver e tocar. 
Poderíamos atemorizar-nos com a majestade terrível de Deus. Os Israelitas prostravam-se por terra, cheios de terror e temor, quando o Senhor falava com Moisés no Sinai, entre relâmpagos. Nós somos atraídos pelos encantos dum Deus Menino. O Menino do presépio parece dizer-nos: «Tendes medo de Deus? Fazeis mal»: Qui videt me, videt et Patrem. Não vos guieis pela imaginação, não inventeis um Deus pelas deduções da filosofia, não peçais à ciência o conhecimento das minhas perfeições. O verdadeiro Deus todo poderoso é o Deus que eu sou e eu revelo; o verdadeiro Deus sou eu, que venho a vós na pobreza, na humildade e na meninice, mas que um dia darei a minha vida por vós. Eu sou «o esplendor da glória do Eterno Pai, a forma da Sua substância», o seu Filho único, Deus como Ele; em mim aprendereis a conhecer as Suas perfeições, sabedoria e bondade, o Seu amor para com os homens e a Sua misericórdia para com os pecadores: Illuxit in cordibus nostris ... in facie Christi Jesu. Vinde a mim, porque, apesar de ser Deus, quis ser homem como vós e não rejeito aqueles que confiadamente se aproximam de mim: Sicut homo genitus IDEM refulsit et Deus. 
Perguntar-me-eis: «Mas porque se dignou Deus tornar-se visível»?
 Em primeiro lugar, para nos instruir: Apparuit erudiens nos. É Deus, com efeito, quem doravante nos vai falar por Seu próprio Filho: Locutus est nobís in Filio; teremos apenas de ouvir este Filho muito amado para conhecer-mos o que Deus quer de nós. O próprio Pai celeste no-lo diz: «Hic est Filius meus dilectus: ipsum audite»; e Jesus repetir-nos-á com prazer que a Sua doutrina é a de Seu Pai: Mea doctrina non est mea", sed  ejus qui misit me,
 Em segundo lugar o Verbo torna-se visível aos nossos olhos para ser o modelo que devemos seguir.
 Para conhecermos como devemos viver diante de Deus, como filhos de Deus, basta-nos ver crescer este Menino, contemplá-Lo a viver entre nós, a viver como nós; tudo o que fizer será agradável ao Pai: Quae placita sunt ei, facio semper.
 Sendo a verdade por Seus ensinamentos, mostrará o caminho pelos Seus exemplos; se vivermos na Sua luz, se seguirmos este caminho, teremos a vida: Ego sum via, et veritas et vita. Assim, conhecendo que Deus se manifestou no meio de nós, seremos arrastados para os bens invisíveis. Ut dum VISIBILlTER Deum cognoscimus, PER HUNC in invisibilium amorem rapiamur. 

2 de dezembro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 216

CLAUDIO MONTISANBERT

Este jovem foi destinado por seus pais a carreira das armas. Aos catorze anos, no regimento e sob a influência de maus companheiros, contraiu o vicio do jogo, perdendo grandes somas, pelo que os pais, irritados, o afastaram das armas por algum tempo. Depois de melhorar, entrou noutro regimento, mas logo recaiu no triste vicio. Ferido na batalha de Malplaquet, durante a longa convalescença dedicou-se à leitura de vidas de santos. Estas leituras e a graça de Deus lograram a sua conversão definitiva. Permaneceu ainda dois anos no exército, dando belos exemplos de virtudes cristãs. Aos 22 anos dedicou-se como penitente a peregrinados, entrando logo depois na Congregado dos Irmãos das Escolas Cristãs, ai vivendo exemplarmente com o nome de Irmão Irineu.

1 de dezembro de 2016

Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

11 

Aqui temos, se assim me posso exprimir, um dos atos da permuta: Deus toma a nossa natureza para a unir a Si numa união pessoal.
 Qual é o outro ato? Que nos dará Deus em troca? Não que Ele nos deva coisa alguma - Bonorum meorum .non eges -, mas, como tudo faz com sabedoria, não se revestiu da nossa natureza sem um motivo plenamente digno d'Ele.
 O que o Verbo Incarnado dá em troca à humanidade é um dom incompreensível; é uma participação real e íntima da Sua natureza divina: Largitus est nobis suam deitatem. Em troca da humanidade que toma de nós, o Verbo Incarnado dá-nos a participação na Sua Divindade, torna-nos participantes da Sua natureza divina. E assim se efetua a mais admirável permuta que se pode dar.
 Esta participação, como sabeis, já fora, sem dúvida, oferecida e dada, desde a criação, a Adão, o primeiro homem; o dom da graça, com todo o esplêndido cortejo de privilégios, tornava Adão semelhante a Deus. Mas o pecado do primeiro homem, tronco do gênero humano destruiu e tornou impossível, do lado da criatura, esta participação inaudita. 
O Verbo incarnou para a restabelecer; para nos reabrir o caminho do céu e tornar-nos participantes da vida eterna, Deus fez-se homem. Este Menino, sendo o próprio Filho de Deus, possui a vida divina como o Pai, com o Pai; pois n'Ele «habita corporalmente a plenitude da Divindade»; n'Ele estão «acumulados os tesouros da Divindade». Mas não os tem só para Si: deseja infinitamente comunicar-nos a vida divina que é Ele próprio: Ego sum vita; foi para isso que veio: Ego veni ut vitam habeant. Foi por nós que nasceu; é a nós que é dado o Filho: Puer natus est nobis et Filius datus est nobis. Fazendo-nos participar da Sua qualidade de Filho, torna-nos filhos de Deus. <
 Tais são os dois atos da admirável permuta que Deus realiza entre nós e Ele; toma a nossa natureza para nos comunicar a Sua Divindade; toma uma vida humana para nos fazer participantes da Sua vida divina; faz-se homem para nos tornar deuses: Factus est Deus homo, ut homo fieret Deus. E o seu nascimento humano torna-se o meio do nosso nascimento para a vida divina. 
Em nós também haverá duas vidas. Uma natural, que recebemos pelo nosso nascimento segundo a carne, mas que, aos olhos de Deus, como consequência da culpa original, é não somente sem mérito, mas, antes do batismo, maculada em seu íntimo; que nos torna inimigos de Deus, dignos da Sua justiça; nascemos filii irae. Outra sobrenatural, infinitamente acima dos direitos e das exigências da nossa natureza. É esta que Deus nos comunica pela Sua graça, depois que o Verbo Incarnado no-la mereceu.
 Deus gera-nos para esta vida sobrenatural pelo Verbo e pela infusão do seu Espírito, na fonte batis-  mal: Genuit nos verbo veritatis. Per lavacrum regeneratoíns et renovatíonis Spirítus sancti; é uma vida nova que se acrescenta à nossa vida natural, ultrapassando-a e coroando-a: In Christo nova creatura. Torna-nos filhos de Deus, irmãos de Jesus Cristo, dignos de participar um dia da Sua bem aventurança e da Sua glória. 
Em nós, como em Jesus Cristo, é a vida divina que deve dominar, se bem que em Jesus Menino ainda não se manifeste e em nós permaneça sempre velada sob as grosseiras aparências da existência ordinária. É a vida divina da graça que deve, não só reger e governar, mas também tornar agradável ao Senhor toda a nossa atividade natural, assim divinizada pela sua raiz.
 Oh! se a contemplação do nascimento de Jesus e a participação deste mistério pela recepção do pão da vida nos levassem a acabar, de uma vez para sempre, com tudo o que destrói ou diminui a vida divina em nós; com o pecado de que Jesus Cristo nos vem libertar - Cujus nativitas humanam repulit vetustatem -, com toda a infidelidade,· com toda a imperfeição, com todo o apego à criatura, com a preocupação desregrada das coisas que passam - Abnegantes saecularia desideria -, com os mesquinhos cuidados do nosso vão amor próprio! .... 
Se nos levassem a dar-nos inteiramente a Deus, como prometemos no dia do batismo, quando nascemos para a vida divina; a entregar-nos ao cumprimento exato de todas as Suas vontades e do Seu beneplácito, como fazia o Verbo Incarnado quando entrou neste mundo - Ecce venio ... ut faciam Deus voluntatem tuam; a fazer-nos praticar as boas obras que nos tornam agradáveis a Deus - Pop-ulum acceptabilem, sectatorem bonorum operum.
 Então a vida divina, trazida por Jesus com o Seu nascimento, não encontraria obstáculos e desabrocharia livremente para a glória do nosso Pai dos céus; então «faríamos resplandecer na nossa vida os ensinamentos com que a nova luz do Verbo Incarnado inunda a nossa fé»; <