Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
A oitava de Natal é o dia da circuncisão do Senhor. Nosso Senhor, obedecendo à lei mosaica submeteu-se a esse rito que havia sido dado por Deus a Abraão e que devia ser observado por todos os seus descendentes do sexo masculino no oitavo dia de seu nascimento. Nesse momento, se dava também o nome ao menino, como vemos no breve Evangelho da festa de hoje. A circuncisão foi dada por Deus a Abraão como sinal de fé na promessa que havia sido feita ao Santo Patriarca, promessa que de sua descendência viria o Messias, o Salvador. Ela era, portanto, um ato de fé na promessa divina, além de ser um símbolo da consagração a Deus e do reconhecimento de sua soberania, e também um sinal de reconhecimento do pecado e da satisfação que é devida pelo pecado. A circuncisão era a ocasião para que Deus purificasse a alma do menino do pecado original, dando a sua graça. A circuncisão era prefiguração do batismo, com a diferença que o batismo não é mera ocasião para que Deus dê a Sua graça. O batismo, como sacramento, dá efetivamente a graça de Deus.
Aproveitemos a ocasião para tratar um pouco do Batismo no Rito Romano tradicional. Não insistiremos sobre a necessidade do batismo para a salvação. Sabemos que é o sacramento mais necessário. Não insistiremos sobre o fato de que deve ser conferido o quanto antes à crianças, não devendo passar de um mês, o que já seria negligência grave dos pais com a salvação da alma dos filhos.
Lembremos que o batismo, sendo um dos sete sacramentos, é algo sobrenatural. O batismo não é um evento social. O batismo é um sacramento. É o primeiro sacramento a ser recebido. Ele vai apagar a mancha do pecado original, vai dar a graça de Deus, vai tornar a pessoa filha de Deus e vai fazer dela membro do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja Católica Apostólica Romana. O Batismo marca a alma da pessoa com um selo espiritual e indelével, isto é, que não pode ser apagado. É o selo da filiação divina. Além disso, o batismo vai dar a graça para que a pessoa possa viver bem como filha de Deus e membro da Igreja. Tudo isso ocorre em um instante, no momento em que, realizando a essência do sacramento, o sacerdote derrama a água sobre a criança, dizendo: eu te batizo em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.
Todavia, o rito do Batismo não se reduz a essa parte essencial. O batismo é composto de várias outras cerimônias antes e depois. A Igreja quis que a essência dos sacramentos fosse acompanhada de outros ritos. Assim ocorre com o batismo e com todos os outros sacramentos. Por exemplo, na Missa, a consagração é acompanhada de várias cerimônias antes e depois. A Igreja colocou essas cerimônias em torno dos sacramentos por três motivos.
Primeiro, para favorecer a devoção, a reverência, o respeito devido ao sacramento. Se os sacramentos se reduzissem à sua essência, pensaríamos que é algo banal, sem muita importância. Em 30 segundos, o sacramento seria realizado. Não daríamos importância alguma. Algo importante deve ser preparado e anunciado com cuidado e deve ser seguido também de uma certa solenidade. A essência do sacramento é precedida de cerimônias, isto é, de orações e gestos, e é seguida também de cerimônias. Assim, em primeiro lugar, essas cerimônias dos sacramentos favorecem a devoção e o respeito.
Em segundo lugar, essas cerimônias servem para instruir os fiéis. Se o sacramento se reduzisse à sua essência, compreenderíamos mal o que ele realiza. Nossa inteligência teria que compreender em um instante tudo o que ocorre. E, como dissemos, o que ocorre é algo sobrenatural. Nossa inteligência compreenderia muito superficialmente os sacramentos se não existissem essas outras cerimônias em torno da essência dele. Essas cerimônias, antes e depois, nos explicam, então, tudo o que ocorre no instante em que o sacramento é conferido. Elas nos instruem muito bem e nos dispõem a receber melhor o sacramento.
Em terceiro lugar, essas cerimônias, com suas orações e gestos, alcançam graça diante de Deus, dispondo melhor a nossa alma para receber o sacramento.
Podemos ver, caros católicos, que o rito de um sacramento tem uma grande importância. Pode ser um rito que nos inspire um grande respeito pelo sacramento, pode ser um rito que nos instrua claramente, pode ser um rito que, pela perfeição de suas cerimônias, nos alcança muitas graças e nos disponha muito bem para receber as graças do sacramento. Ou pode ser um rito que não faça tudo isso muito bem. O rito em torno do sacramento tem uma importância grande, sobretudo quando se trata da Missa. As cerimônias em torno da consagração fazem grande diferença para a nossa alma. Esse um dos mais importantes motivos para o nosso combate pelo rito tradicional na Missa e nos outros sacramentos.
Voltemos ao rito do batismo. O Rito do Batismo tradicional é uma das mais antigas cerimônias da Igreja. São resquícios de algo se realizava ao longo de toda a quaresma visando o batismo no Sábado Santo. Isso explica, em parte, a repetição de algumas cerimônias ao longo do rito, como por exemplo, os reiterados exorcismos, que visam também mostrar a perda do poder do demônio e o senhorio de Deus sobre a alma prestes a ser batizada.
O Rito
O primeiro pedido da criança, pela boca dos padrinhos, no batismo é esse: A fé e a vida eterna que se alcança pela prática dos mandamentos. É a finalidade para qual cada homem foi criado: conhecer a Deus pela fé, amá-lo e servi-lo pela prática dos mandamentos a fim de alcançar a felicidade eterna no céu. Estamos claramente aqui na ordem sobrenatural: a fé e a vida eterna.
O batismo começa, porém, fora da Igreja, para manifestar que está ainda sob a escravidão do pecado original e que ela ainda não é membro da Igreja. A estola é roxa, manifestando a tristeza da Igreja pelo estado de pecado em que se encontra a alma antes do batismo.
Ao longo do rito, são feitos vários exorcismos. Eles têm por objetivo expelir o demônio. Lá onde está o pecado, lá está o demônio como senhor. E essa alma antes do batismo está em pecado original. Os exorcismos têm por objetivo rebater e anular sua força do demônio pela qual ele tenta impedir o batismo. O primeiro é feito com três sopros em homenagem à Santíssima Trindade e na cabeça, que representa a parte mais nobre do homem e lembra que N. Sr. destrói o ímpio com o sopro de sua boca (II Tessalonicenses, 2,8).
No batismo, são feitos também inúmeros sinais da cruz: eles têm por objetivo primeiro mostrar qual é o distintivo do cristão: a cruz de Cristo, sem a qual ninguém pode salvar-se. O sinal da cruz é feito principalmente na testa e no peito: a testa é a inteligência que deve se submeter à doutrina de Cristo pela fé, enquanto o peito é a vontade para fazer a vontade de Deus, cumprindo seus mandamentos pela caridade. O sinal da cruz é reiterado na testa, como selo inviolável do domínio soberano de Deus sobre aquela alma.
É colocado sal na boca do batizando. O sal tem uma dupla função. Primeiro, conserva os alimentos da podridão. Assim, pela doutrina da fé e pelas boas obras o cristão deve conservar-se da corrupção do pecado. Em segundo lugar, o sal dá gosto aos alimentos, significando o gosto que deve ter o Cristão pelas coisas celestes, gosto pelas coisas celestes que é a verdadeira sabedoria indispensável para alcançar a vida eterna. O Cristão é o sal da terra.
A imposição das mãos sobre a cabeça da criança se repete também algumas vezes. Ela significa a invocação das bênçãos divinas sobre aquela alma e também o domínio de Deus sobre a alma. Quando coloco a minha mão sobre algo, é para indicar que tenho a posse daquilo. Assim, pelo batismo a alma deixará a escravidão do demônio para submeter-se a Deus, que será o Senhor dessa alma.
Aproximando-se o batismo, entra-se na Igreja. Ao entrar na Igreja, coloca-se a parte esquerda da estola sobre a cabeça da criança. Essa entrada da criança na Igreja sob a estola roxa manifesta também como ela pertencerá à Igreja e estará submissa a seus ministros. Para salvar-se é preciso estar sob a estola, isto é, reconhecer a hierarquia da Igreja e submeter-se a ela em suas ordens legítimas.
O Padre recita o Credo e o Pai-Nosso com os padrinhos. O credo contém em resumo tudo o que se deve crer e os pais e padrinhos devem ensinar. O Pai-Nosso contém em resumo tudo o que se deve desejar. Os padrinhos têm a função de ajudar na instrução católica do afilhado.
Depois disso, vem o rito de insalivação: o mesmo gesto feito por N. Sr. para curar um surdo-mudo. O padre coloca um pouquinho de saliva nos ouvidos e nas narinas da criança. A Igreja quer aqui abrir os ouvidos da criança apara fé (a fé vem pelos ouvidos, como diz S. Paulo) e apurar o seu olfato para que reconheça e siga o bom odor de Cristo e da santidade.
Renuncia-se claramente a satanás pela boca dos padrinhos e faz a unção com óleo dos catecúmenos: no peito e nas costas para significar a força necessária para os combates futuros, como os lutadores da antiguidade que colocavam óleo no corpo a fim de poder lutar mais livremente e também para curar as feridas. Esta unção é sinal da força dada por Cristo para resistir às tentações do demônio e a todas as outras dificuldades na prática da virtude. É para mais facilmente lutar no combate espiritual.
O padre coloca agora a estola branca, pouco antes do batismo, manifestando a alegria da Igreja em poder ter mais um filho e herdeiro das promessas divinas. E faz-se a profissão de fé.
Chegamos, finalmente, à essência do batismo. O Batismo é feito com água, com três infusões e invocação à Santíssima Trindade: a água, que lava e purifica todas as coisas, significa e realiza o desaparecimento da mancha do pecado original e o começo da vida da graça. Três infusões em sinal da cruz: três infusões em referência à Santíssima Trindade com os sinais da cruz para nos dizer de onde vieram os méritos para tão sublime milagre: da cruz. É a Santíssima Trindade que opera essa maravilha na alma: não mais um pecador, mas um filho e amigo de Deus.
Com a criança já batizada, faz-se a unção com o Santo Crisma: essa criança é agora cristã, quer dizer, ela pertence a Cristo que significa ungido. Ela faz parte do corpo místico de Cristo e está consagrada inteiramente a Deus. Esta unção se faz na cabeça porque agora esta alma deve reinar com Cristo sobre o pecado e suas paixões desordenadas.
Impõe-se a veste branca na cabeça da criança para significa ra pureza da alma, agora limpa de todo o pecado e feita templo do Deus altíssimo. Essa pureza deve perdurar até o fim da vida. Mas significa também que ela deve revestir-se de Cristo em todas as coisas, quer dizer, ter as mesma disposições de alma dEle.
A vela acesa: essa alma agora pertence a Cristo, que é a luz do mundo. Ela deve guardar essa luz acesa e propagá-la durante toda a sua vida. Guardar a vida da graça e levá-la aos outros. Ela deve ser como as virgens prudentes do Evangelho que guardaram as velas acesas, pelas boas-obras, até a vinda do esposo, que é Cristo.
Vemos, assim, como todas essas cerimônias explicitam tão bem o que ocorre no momento essencial do batismo. Elas mostram como o demônio é afastado, como se renuncia ao pecado e como Deus se torna o Senhor e o Pai dessa alma. E isso o batizado deve lembrar-se sempre: pelo batismo e pelas promessas feitas nele, estamos obrigados a renunciar ao demônio, às suas obras e às suas seduções para sermos e vivermos como filhos de Deus. Toda a nossa vida deve ser uma aplicação disso.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.