22 de março de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

Nossa Senhora Mártir


Parte 7/9

Chegou a hora do enterro
Que fúnebre cortejo tão simples e tão solene! 
Os discípulos seguram de novo o cadáver de Jesus e caminham a frente. Atrás vão as piedosas mulheres e, no meio delas, Maria. E assim vão os cinquenta passos que separam a cruz do sepulcro. Legiões de anjos invisíveis assistem ao enterro do seu Deus. A seguir, a unção do sagrado corpo a entrada do sepulcro. As faixas que envolvem os seus membros. O lençol branco para o cobrir todo. Por fim o sudário para cobrir o rosto. Este último obséquio reclama-o para si a Mãe. O último beijo... O último olhar... e o branco linho cai sobre o rosto do filho. A pesada pedra redonda roda cobrindo a porta do sepulcro.
Tudo esta terminado.
No meio do Calvário fica erguida a cruz, suavemente iluminada pelos débeis fulgores de um sol que se esconde. Patíbulo infame, que desde esse dia fica convertido no símbolo mais glorioso. A triste comitiva passa diante dela e volta para Jerusalém. Que noite tão sombria começa a cair sobre a alma da Virgem Santíssima!
Abraão subiu ao monte Mória com a alma despedaçada pela dor; pois sabia que lá o cimo tinha que oferecer a Deus o sacrifício do seu único filho, único, pois tinha perdido a esperança de mais descendência. Porém Deus contentou-se com a prova da sua fidelidade; e pouco depois, descia o monte, radiante de alegria acompanhado de seu filho.
Triste subiu Maria o monte Calvário acompanhando seu filho, sentenciado à morte. No cimo do monte presenciou o sacrifício. E agora desce só, com a tristeza na alma e sem o filho, que deixou morto e sepultado.
Na cidade deicida uma calma impressionante sucede a febril agitação da Parasceve. As ruas estão desertas, as casas fechadas; tudo parece sepultado no sono da morte. Aquela hora as famílias judias estão celebrando na intimidade do lar o aniversário da saída do Egito; porém a verdadeira libertação do povo de Deus acaba de realizar-se no alto do Calvário.
E Maria, para onde encaminha os seus passos? Sem pais, sem marido, sem lar, sem filho... para onde a queiram receber por misericórdia.
Que só fica Maria! 
Que faz na terra essa alma que parece arrancada do céu?
Se a razão da sua existência era Jesus: cuidar de Jesus, preparar Jesus para o sacrifício, e Jesus morreu, porque não morreu ela também e não esta sepultada com ele?
"Quomodo sedet sola civitas plena populo!"
Que deserta a cidade antes tão concorrida!
Que desolada ficou a mais feliz das criaturas quando tinha o seu filho!
Dolorosos desdéns da noite de Belém. Ansiedades da fugida para o Egito. Solidão e pobreza do desterro. Éreis dolorosas; porém estáveis compensadas com uma consolação inefável: estava com Jesus, tinha a Jesus. Angústias dos dias de Páscoa; éreis atormenta horas; porém estáveis mitigadas com uma doce esperança: Jesus perdeu-se mas pude encontrá-lo. Agonias mortais do Calvário, com toda a vossa crueza tínheis junto algum alívio: Jesus, embora sofrendo, estava presente.
Noite de sexta-feira Santa. Não há solidão como a tua, pois na alma de Maria reuniam-se todas as soledades. Com razão o povo cristão ao contemplar essa Virgem enlutada, com os olhos banhados de lágrimas, e com o coração atravessado por sete espadas, lhe chamou: a Soledade.

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