31 de março de 2015

Catecismo Ilustrado - Parte 11

O Símbolo dos Apóstolos

5º artigo (continuação): Ao terceiro dia ressuscitou dos mortos

1. Estas palavras "ao terceiro dia ressuscitou dos mortos" significam que Jesus Cristo, ao terceiro dia após a sua morte, reuniu a sua alma ao seu corpo pela sua omnipotência e saiu do túmulo vivo e glorioso.
2. O corpo de Nosso Senhor esteve no túmulo durante três dias no todo ou em parte, a saber: uma parte da Sexta-Feira, todo o Sábado, e uma parte do Domingo.
3. Torna-se preciso saber que Jesus Cristo não quis retardar a sua Ressurreição até ao fim do mundo, a fim de dar uma prova da sua divindade; mas não quis também ressuscitar imediatamente depois de sua morte, mas só três dias depois, para dar a conhecer que era verdadeiro Homem e que morrera com efeito. Aquele lapso de tempo era suficiente para provar a verdade da sua morte.

Aparições

4. Sabemos que Jesus Cristo ressuscitou pelo testemunho dos Apóstolos e dos discípulos a quem Ele se mostrou muitas vezes depois da Ressurreição.
5. No dia da Ressurreição, Jesus Cristo mostrou-se aos Apóstolos reunidos no cenáculo e deu-lhes o poder de perdoar os pecados.
6. Algum tempo depois, Jesus Cristo mostrou-se a muito Apóstolos que estavam pescando no mar de Galileia. Foi nesta aparição que o Redentor elevou São Pedro à dignidade de pastor supremo da Igreja.
7. Antes de subir ao Céu, Jesus Cristo mostrou-se ainda uma vez aos Apóstolos, ordenando-lhes que pregassem o Evangelho a todas as nações.
8. Devemos acreditar no testemunho dos Apóstolos em favor da Ressurreição de Jesus, porque estes deram a vida para atestar que tinham visto Jesus Cristo ressuscitado. Não podiam ser impostores os homens que se deixam matar para confirmação do seu testemunho.

Qualidade dos corpos ressuscitados

9. O corpo de Jesus Cristo ressuscitado tinha todas as qualidades dos corpos gloriosos, a saber: impassibilidade, esplendor, agilidade e sutileza.
10. Por "impassibilidade" entendo que o corpo de Jesus Cristo não podia sofrer nem morrer.
11. Por "esplendor" entendo que o corpo de Nosso Senhor era brilhante como o sol; Jesus porém não quis aparecer assim antes da sua Ascensão.
12. Por "agilidade" entendo que o corpo de Jesus Cristo se podia transportar a grandes distâncias, até da Terra ao Céu, com a rapidez do relâmpago.
13. Por "sutileza" entendo que o corpo de Jesus Cristo podia atravessar sem dificuldade os corpos mais rijos. Foi assim que Ele saiu do túmulo sem remover a pedra que tapava a entrada.
14. Reunindo a sua alma ao seu corpo Jesus Cristo fez desaparecer a maior parte das chagas que recebera durante a paixão. Apenas conservou as das mãos, dos pés e do lado.
15. E conservou-as: 1º para as mostrar aos Apóstolos em testemunho da sua Ressurreição; 2º para as apresentar a seu Pai intercedendo por nós; 3º para confundir os pecadores no dia do Juízo, fazendo-lhes ver que tanto sofreu por eles como pelos justos.
16. Foi necessário que Jesus ressuscitasse, a fim de fazer brilhar a justiça de Deus, pois era um ato absolutamente digno da sua justiça elevar Aquele que, para Lhe obedecer, fora desprezado e coberto dos maiores opróbrios. São Paulo refere esta razão na sua epístola aos Filipenses: "Humilhou-se a si mesmo, feito obediente até à morte e morte na Cruz, pelo que Deus também o exaltou, e lhe deu um nome que está acima de todos os nomes." (Fil. II, 7-9)

Explicação da gravura

17. A gravura representa a "Ressurreição do Salvador." As numerosas mulheres que vemos à esquerda vinham com o fim de embalsamar o corpo de Jesus, quando de repente se sentiu um grande tremor de terra. Um anjo veio arredar a pedra do sepulcro e sentou-se nele. Os guardas, tomados de assombro, ficaram como mortos. Quando entraram no santo Sepulcro as santas mulheres ficaram cheias de temor ao verem o anjo. Mas ele lhe disse: "Não temais; buscais Jesus de Nazaré que foi crucificado. Não está aqui; vede o lugar onde o tinham posto."

Sermão para o 1º Domingo da Paixão – Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] A Paixão de Cristo

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave-Maria…
Entramos hoje no Tempo da Paixão. Os sinais de austeridade se acentuam. OGloria Patri é tirado do Asperges, do Intróito e do Lavabo. O Salmo 42, que expressa alegria, é omitido. A Cruz e as imagens dos santos são cobertas com panos roxos, simbolizando que a Paixão de Cristo ainda não ocorreu e, se ela ainda não ocorreu, os santos também ainda não entraram no céu. Somente na Sexta-Feira Santa a Cruz será descoberta e somente na Vigília, após a ressurreição, os santos serão descobertos.
Entramos hoje, caros católicos, nesse tempo particular dentro do Tempo da Quaresma: o Tempo da Paixão. É tempo oportuno para refletir bem e meditar bem a obra da nossa Redenção e o mistério dos sofrimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo durante a sua Paixão. Não basta, no entanto, considerar somente o fato dos sofrimentos suportados por Nosso Senhor. É preciso conhecer também as causas e os efeitos da Paixão, pois somente assim poderemos começar a ter ideia da grandeza da bondade divina e poderemos haurir uma água viva para a nossa vida espiritual.
A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo encontra sua origem no pecado de nossos primeiros pais. Com efeito, Nosso Senhor se encarnou para nos livrar do pecado, que entrou no mundo pela falta cometida por Adão. Nós sabemos, a gravidade de uma ofensa se mede a partir da dignidade da pessoa ofendida. Como o pecado é uma ofensa feita a Deus, infinitamente digno, o pecado é uma ofensa infinita. E isso não só para o pecado de Adão, mas também para todos os nossos pecados graves, que são, então, ofensas infinitas feitas a Deus. Ora, como nós somos seres finitos, como podemos satisfazer por nossos pecados, que são ofensas infinitas? Como podemos satisfazer, quer dizer, como podemos oferecer a Deus algo que lhe agrade mais do que a ofensa infinita lhe desagradou? Isso é, para nós, impossível. Até mesmo se oferecêssemos a Deus todas as vidas de todos os homens de todos os tempos, seria largamente insuficiente. Assim, é impossível para nós satisfazer pelo pecado. Como resolver esse problema?
Nós, na nossa sabedoria humana, teríamos pensado em um perdão gratuito e completo de Deus, que Ele poderia nos dar sem nenhuma injustiça e sem prejudicar ninguém. Todavia, nessa hipótese, a justiça divina, embora não fosse violada, não seria perfeitamente satisfeita. Além disso, com um perdão gratuito, o homem não se daria conta da gravidade de seu pecado: se Deus perdoa com tanta facilidade, o pecado não é assim tão grave, diria o homem. Podemos dizer também que esse perdão gratuito não manifestaria claramente e perfeitamente o amor de Deus pelos homens. O perdão puramente gratuito é uma solução humana.
A sabedoria divina, que dispõe perfeitamente todas as coisas, nos deu outra solução. Deus permite um mal sempre em vista de um bem superior. Dessa forma, se a sabedoria divina permitiu o pecado, que é o maior dos males, foi justamente para que ocorresse a encarnação e para que a obra da redenção se cumprisse pelo Verbo feito carne, Nosso Senhor Jesus Cristo, homem e Deus. Sendo homem e Deus, uma só ação de Nosso Senhor basta para satisfazer abundantemente a ofensa infinita do pecado. E isso pela simples razão de que a mais simples ação de Cristo é feita sempre com uma caridade, com um amor infinito por Deus. E essa caridade do Homem-Deus é infinitamente mais agradável a Deus do que todos os pecados lhe são desagradáveis. Assim, a encarnação é necessária para satisfazer plenamente a justiça divina. Um ato, então, do Menino Jesus recém-nascido teria bastado para resgatar, redimir todos os homens. A encarnação, resposta divina ao pecado, satisfaz perfeitamente a justiça divina. Mas a solução divina não se resume a isso. A solução divina compreende, além da encarnação, a paixão, os sofrimentos e a morte de Cristo.
No entanto, caros católicos, se uma única ação do Menino Jesus teria bastado para a redenção de todos os homens, por que uma paixão tão sangrenta? Estamos nós diante de um Deus sedento de vingança? Claro que não. Como dissemos, a justiça divina já está plenamente satisfeita com a mais simples ação de Cristo, homem e Deus. Se a providência divina permitiu a paixão e a morte de Nosso Senhor, há uma razão (principal) para isso. Seu amor por nós. Como nos diz São João: Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu seu Filho Unigênito. E Nosso Senhor, Ele mesmo, desejava com um desejo ardente a chegada de sua hora, que não é outra que a hora de sua Paixão. Mas como? Nosso Senhor quis padecer tantos sofrimentos por amor dos homens? Sim, caros católicos, o motivo principal da paixão e morte de Cristo é seu amor por nós. Por amor, Ele quis ser preso e amarrado no Jardim das Oliveiras, maltratado  na casa do sumo sacerdote, flagelado e coroado de espinhos diante de Pilatos. Ele quis carregar a Cruz, Ele quis as quedas dolorosas durante o caminho da Cruz. Por amor, Ele quis, enfim, ser destituído de todas as suas vestes, quis a crucificação com dores inauditas, a sede tremenda. Ele quis também padecer as dores interiores, mil vezes maiores que essas imensas dores exteriores: a tristeza mortal no Jardim das Oliveiras diante da visão de todos os tormentos que Ele ia sofrer, o sofrimento diante da perfídia dos judeus que teriam tantos imitadores ao longo dos séculos; a tristeza mortal face à infidelidade de seus discípulos e de tantos cristão frouxos, face aos pecados sem número cometidos até o final dos tempos, face à inutilidade de seu sangue para o mau ladrão e para tantas outras almas que não o aceitaram.
O Verbo Encarnado nos mostrou, pela sua Paixão e Morte de Cruz, a imensidade de seu amor porque uma das medidas mais seguras e exatas do amor é justamente o sofrimento que somos capazes de suportar para alcançar o bem do amigo. Ele quis nos mostrar esse amor infinito, amor capaz de sofrer todas as dores para o bem daqueles que eram ainda pecadores. E ao nos mostrar seu amor, ele queria uma só coisa, pois Cristo quer uma só coisa: que o amemos em troca. E que o amemos com todas as nossas forças, com toda a nossa alma, com todo o nosso ser, guardando os seus mandamentos. A paixão de Cristo destrói os obstáculos que se opõem à conversão da alma, em particular, ela destrói a dureza do coração que se obstina a não escutar a voz suave de Deus que o chama por meio de sua Paixão.
Da Paixão de Nosso Senhor há ainda vários outros frutos. A Paixão de Cristo e sua Cruz, de modo particular, é a cátedra mais eloquente que pode existir. O Salvador nos ensina, do alto dessa cátedra, pelo exemplo. Ele nos ensina a prática de todas as virtudes, sem as quais o homem não pode se salvar: obediência, humildade, paciência, justiça, constância, fidelidade à vontade de Deus, etc…
Pela Paixão de Cristo, a feiura e as gravíssimas consequências do pecado nos são mostradas claramente. Os sofrimentos, as feridas, as chagas, os opróbrios suportados por Nosso Senhor Jesus Cristo deveriam ter sido carregados por nós, os verdadeiros culpados. Assim, à vista das graves consequências do pecado, tão graves que levam Deus a um tal sofrimento, devemos ser levados a abandonar todo e qualquer pecado.
Finalmente, a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo é a derrota mais humilhante para o demônio. O inimigo do gênero humano havia triunfado fazendo nossos primeiros pais pecarem. A morte, fruto amargo do pecado, era o troféu do demônio. Nosso Senhor destruiu a obra perniciosa do demônio e abriu para nós o céu justamente pela sua morte. Quando o demônio acreditava vencer, ele foi, na realidade, definitivamente derrotado e humilhado.
Sofrer por aquele que amamos e lhe fazer o bem. Eis as duas coisas que nos fazem conhecer um amigo, diz Cícero. Todos os sofrimentos e todos os bens que decorrem da Paixão de Cristo nos mostram a grandeza de seu amor por nós. Na Paixão de Nosso Salvador, a justiça e o amor se encontram de modo perfeito. E é o amor que vence, pois a Paixão, embora tenha por finalidade satisfazer pelo pecado, ela tem como objetivo principal mostrar aos homens o amor infinito de Deus por nós, a fim de que o amemos em troca. A Paixão era, então, a maneira mais conveniente de nos resgatar porque pela paixão nós somos levados a Deus e afastados do pecado de uma maneira admirável. Um homem não seria capaz nem de suspeitar uma resposta tão perfeita ao pecado.
Não fiquemos indiferentes, caros católicos, a um tal amor. E quando Nosso Senhor se dirige a nós, como o faz agora, não endureçamos nosso coração, mas sigamos o Salvador, guardando seus preceitos e carregando nossa cruz com verdadeira alegria. Não sejamos como os judeus do Evangelho de hoje, que, não encontrando nenhuma falta em Cristo, quiseram lapidá-lo. Ao contrário, vivamos, de agora em diante, por Cristo, com Cristo, em Cristo, fazendo em tudo a sua divina vontade. Combatamos pelo triunfo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Se o pecado e a morte entraram no mundo pela falta de um só homem – Adão – a graça e a vida eterna vieram também por um só homem – Jesus Cristo. Consideremos com frequência a misericórdia, a bondade, o amor infinito de Jesus Cristo por nós, e que nos foram manifestados na sua Paixão e Morte. E peçamos também a Nossa Senhora, Virgem das Dores, a graça de nos fazer herdeiros desses bens que foram adquiridos ao preço de um sangue tão caro. Foi pela nossa alma que Cristo sofreu e morreu. Foi para salvar a nossa alma.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

30 de março de 2015

Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem - Parte 43

Pequena coroa da SS. Virgem
V: Dignáre me laudáre te, Virgo sacráta.
R: Daa mihi virtutem contra hostes tuos.
Creio em Deus.
I
Pater noster,
Ave, Maria.
Beata es, Virgo Maria quae Dominum portasti, Creartorem mundi: genuisti qui te fecit, et in aeternum permanes virgo.
V: Gaude, Maria Virgo.
R: Gaude millies.
Ave, Maria.
Sancta et immaculata virginitas, quibus te laudibus efferam nescio capere non poterant, tuo gremio contulisti.
V: Gaude, Maria Virgo.
R: Gaude millies.
Ave, Maria.
Tota pulcra es, Maria, et macula originalis non est in te,
V: Gaude, Maria Virgo.
R: Gaude millies.
Ave, Maria.
Tot tibi sunt dotes, Virgo, quot sidera caelo.
V: Gaude, Maria Virgo.
R: Gaude millies.
Gloria Patri.
II
Pater Noster.
Ave, Maria.
Gloria tibi sit, Imperatrix poli: tecum nos perducas ad gaudia caeli.
V: Gaude, Maria Virgo.
R: Gaude millies.
Ave, Maria.
Gloria tibi sit, thesauraria gratiarum Domini: fac nos participes thesauri tui.
V: Gaude, Maria Virgo.
R: Gaude millies.
Ave, Maria.
Gloria tibi sit, Mediatriz inter deun et hominem: fac nobis propitum Omnipotentem.
V: Gaude, Maria Virgo.
R: Gaude millies.
Ave, Maria.
Gloria tibi sit, haeresum et daemonum interemptria: sis pia nostra gubernatrix.
V: Gaude, Maria Virgo.
R: Gaude millies.
Gloria Patri.
III
Pater nodter.
Ave, Maria.
Gloria tibi sit refugium peccatorumm: intercede pro nobis ad Dominum.
V: Gaude, Maria Virgo.
R: Gaude millies.
Ave, Maria.
Gloria tibi sit, orphanorum Mater: fac nobis propitius sit omnipotens Pater.
V: Gaude, Maria Virgo.
R: Gaude millies.
Ave, Maria.
Gloria tibi sit, laetitia iustorum: tecum nos perducas ad gaudia caelorum.
V: Gaude, Maria Virgo.
R: Gaude millies.
Ave, Maria.
Gloria tibi sit, in vita et morte adiutrix praesentissima: tecum nos perducas ad caelorum regna.
V: Gaude, Maria Virgo.
R: Gaude millies.
Gloria Patri.
Oremus. Ave, Maria, filia Dei Patris. Ave, Maria, Mater Dei Filii. Ave, Maria, Sponsa Spiritus Sancti. Ave, Maria, teplum totius Trinitatis. Ave, Maria, domina mea, bona mea, rosa mea, regina cordis mei, mater, vita, dulcedo et spers nostra carissima, imo cor meum et anima mea. Tuus ego sum, et omnia benedicta. Sit ergo in me anima tua, ut magnificet Dominun; sit im me spiritus tuus, ut exsultet in Deo. Pone te, Virgo fidelis, ut sinaculum super cor meum, ut in te et per te Deo fidelis inveniar. Largire, o benbenigma, ut illis annumerer quos tamquam filios amas, doces, dirigis, foves, protegis. Fac ut, amore tui, terrenas omnes sperrnens consolationes, caelestibus semper inhaeream; donec in me, per Spiritum Sanctum Sponsum tuum fidelissimum, et te fidelessimam eius sponsam, formetum Iesus Chritus Filius tuus, ad gloriam Patris. Amen.

Tradução
V: concedei-me que vos louve, Virgem sagrada.
R: Daí-me valor contra os vossos inimigos.
Creio em Deus.
I
Pai-nosso
Ave, Maria.
Sois bem-aventurada, Virgem Maria, que levastes em vosso seio o Senhor, Criador do mundo; destes à luz a quem vos formou, e sois Virgem perpétua.
V:Alegrai-vos, Virgem Maria.
R:. Alegrai-vos mil vezes.
Ave, Maria.
O santa e imaculada virgindade, não sei com que louvores vos possa exaltar; pois quem os céus não podem conter, vós o levastes em vosso seio.
V:. Alegrai-vos, Virgem Maria.
R: Alegrai-vos mil vezes.
Ave, Maria.
Sois toda formosa, Virgem Maria, e não há mancha em vós.
V: Alegrai-vos, Virgem Maria.
R: Alegrai-vos mil vezes.
Ave, Maria.
Possuís, ó Virgem Santíssima, tantos privilégios, quantas são as estrelas no céu.
V: Alegrai-vos, Virgem Maria.
R: Alegrai-vos mil vezes.
Glória ao Pai.
II
Pai-Nosso. Ave, Maria.
Glória a vós, imperatriz do céu; conduzi-nos convosco aos gozos do paraíso.
V: Alegrai-vos, Virgem Maria.
R. Alegrai-vos mil vezes.
Ave, Maria.
Glória a vós, tesoureira das graças do Senhor; dai-nos parte em vosso tesouro.
V:. Alegrai-vos, Virgem Maria.
R:. Alegrai-vos mil vezes.
Ave, Maria.
Glória a vós, medianeira entre Deus e os , homens, tornai-nos propício o Todo-poderoso.
V: Alegrai-vos, Virgem Maria.
R: Alegrai-vos mil vezes.
Ave, Maria.
Glória a vós, que esmagais as heresias e o demônio: sede nossa bondosa guia.
V: Alegrai-vos, Virgem Maria.
R: Alegrai-vos mil vezes.
Glória ao Pai.
III
Pai-Nosso.
Ave, Maria.
Glória a vós, refúgio dos pecadores; intercedei por nós junto ao Senhor.
V: Alegrai-vos, Virgem Maria.
R: Alegrai-vos mil vezes.
Ave, Maria.
Glória a vós, Mãe dos órfãos; fazei que nos seja propício o Pai todo-poderoso.
V:Alegrai-vos, Virgem Maria.
R: Alegrai-vos mil vezes.
Ave, Maria.
Glória a vós, alegria dos justos; conduzi-nos convosco às alegrias do céu.
V: Alegrai-vos, Virgem Maria.
R: Alegrai-vos mil vezes.
Ave, Maria.
Glória a vós, nossa. auxiliadora mui prestimosa na vida e na morte; conduzi-nos convosco ao reino do céu.
V: Alegrai-vos, Virgem Maria.
R: Alegrai-vos mil vezes.
Glória ao' Pai.
Oremos. Ave, Maria, Filha de Deus Pai. Ave, Maria, Mãe de Deus Filho. Ave, Maria, Esposa do Espírito Santo. Ave, Maria, templo da Santíssima Trindade. Ave, Maria, Senhora minha, meu bem, meu amor, Rainha do meu coração, Mãe, vida, doçura e esperança minha mui querida, meu coração e minha alma. Sou todo vosso, e tudo que possuo é vosso, ó Vir-gem sobre todos bendita. Esteja, pois, em mim vossa alma, para engrandecer o Senhor, esteja em mim vosso espírito, para rejubilar em Deus. Colocai-Vos, ó Virgem fiel, como selo sobre meu coração, para que, em vós e por vós, seja eu achado fiel a Deus. Concede i, ó Mãe de misericórdia, que me encontre no número dos que amais, ensinais, guiais, sustentais e protegeis como filhos. Fazei que, por vosso amor, despreze todas as consolações da terra e aspire só às celestes; até que, para a glória do Pai, Jesus Cristo, vosso Fi- lho, seja formado em mim, pelo Espírito Santo, vosso Esposo fidelíssimo, e por vós, sua Esposa mui fiel.
Assim seja.

Essência do Santo Sacrifício da Missa - Explicação da Santa Missa 29

XXIX. QUE DEVOÇÃO SE DEVE PRATICAR DURANTE A ELEVAÇÃO

Imediatamente depois da consagração, o sacerdote procede à elevação das santas espécies, cerimônia sublime, prescrita pela santa Igreja, para que o povo possa gozar e aproveitar, mais perfeitamente, da presença real do divino Salvador. É desta elevação e da devoção que, durante ela, se deve praticar, que queremos tratar neste capítulo.
Oh! que júbilo pra o céu! Que fonte de salvação para a terra! Que refrigério para as almas do purgatório! Que terror para o inferno! Nesta elevação, se oferece o dom mais precioso que possa ser apresentado ao Altíssimo! Sabes sob que forma a santa humanidade de Jesus é oferecida a seu Pai, pelas mãos do sacerdote? Esta humanidade que é a imagem, muito perfeita, da Santíssima Trindade, jóia única dos tesouros celestes e terrestres.
É oferecida debaixo de várias formas, porque entre as mãos do sacerdote, o Verbo encarna-se novamente, nasce de novo e sofre a Paixão; o suor de sangue, a flagelação, a coroação de espinhos, a crucificação, a morte... oh, que emoção para o coração do Pai eterno, durante esta elevação de seu Filho predileto!
Entretanto, o sacerdote não é o único a expor Jesus Cristo aos olhos de seu Pai, o próprio Salvador se expõe: "À elevação, vi Jesus Cristo apresentar-se a seu Pai e oferecer-se de uma maneira que ultrapassa toda a compreensão", refere Santa Gertrudes no seu "Livro das Revelações". Mas, se não podemos fazer idéia deste encontro do Pai com o Filho, a fé deve nos levar a uma oração muito mais fervorosa no momento em que se realiza".
São Boaventura convida o sacerdote e os fiéis a dizerem então, ao Pai celeste: "Vede, ó Pai eterno, vede vosso Filho, que o mundo inteiro não pode conter e tornou-se nosso prisioneiro. Não o deixaremos ir sem que nos tenhais concedido o que vos pedimos em seu nome: o perdão de nossos pecados, o aumento da graça, a riqueza das virtudes e alegria da vida eterna".
O sacerdote, ao mostrar a sagrada Hóstia, poderia ainda dizer ao povo: "Eis cristãos, vosso divino Salvador, vosso Redentor. Olhai-o com fé viva e derramai vossos corações diante dele em ardentes súplicas. Bem-aventurados os olhos que vêem o que contemplais! Bem-aventurados os que crêem, firmemente, na presença de Jesus Cristo, nesta santa Hóstia!" Se adoras assim, asseguras a salvação de tua alma, e poderás repetir com o patriarca Jacó: "Vi a Deus face a face, a minha alma foi salva" (Gen. 32, 30).
À elevação, todo o povo deve levantar os olhos para o altar e olhar, com piedade, o Santíssimo Sacramento. Jesus Cristo revelou a Santa Gertrudes quanto é útil à alma esta prática. "Cada vez, escreve ela, que olharmos para o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo, oculto no Sacramento do Altar, aumentamos o grau de nosso mérito para o céu, o prazer, o gozo da vida eterna". Não te inclines, pois, tão profundamente à elevação que te seja impossível ver a sagrada Hóstia.
A santa Igreja também não o deseja; ela prescreve ao sacerdote levantar as santas espécies, alguns instantes, acima da cabeça, a fim de que o povo possa vê-las e adora-las. A eficácia deste olhar para o divino Salvador foi figurada no antigo Testamento: "Ao povo de Israel, que tinha murmurado contra o Senhor e contra Moisés, mandou o Senhor cobras, cujas mordedura queimavam como fogo. Muitos, tendo sido feridos, foram ter com Moisés, dizendo: "Pecamos; roga ao Senhor para que nos livre destas serpentes". Moisés fez uma serpente de bronze, colocou-a como sinal, e os que, sendo feridos, olhavam para ela, ficaram curados" (Num. 21, 8).
O santo Evangelho vê, neste fato, um símbolo tocante de Cristo, porque diz: "Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim o Filho do homem deve ser levantado sobre a cruz" (Jo. 3, 14). Se a imagem da serpente de bronze tinha a virtude de curar os israelitas e de preservá-los da morte, com maior de razão, a piedosa contemplação do próprio Jesus curará as almas feridas, aflitas e desanimadas.
A fim de tornar muito eficaz este olhar para o divino Salvador, faze atos de fé em sua presença real e no Sacrifício que ele oferece a seu Pai celeste, por nós, pobres pecadores. Estes atos de fé valer-te-ão uma insigne recompensa. "Bem-aventurados os que não viram e creram" (Jo. 20, 29). Estas palavras podem bem se aplicar àqueles que têm uma fé viva na presença real de Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento.
Tendo adorado a Santa Hóstia, faze dela oferta ao Rei celeste. Já expusemos a virtude deste ato; acrescentamos somente a seguinte palavra da Santa Gertrudes: "A oblação da sagrada Hóstia é a mais eficaz satisfação por nossas culpas". Com isso quer dizer que, pobres pecadores como somos, devemos concentrar todas as forças de nossa alma, para oferecer a Deus a Hóstia santa, a fim de obter-lhe o perdão e a misericórdia.
À elevação da santa Hóstia, sucede a do Cálice sagrado, cerimônia igualmente significativa. É então que o precioso Sangue corre, de maneira mística, sobre os circunstantes, como se vê das palavras do missal: "Isto é o Cálice de meu Sangue, do novo e eterno Testamento: mistério da fé que será derramado por vós e por muitos, para o perdão dos pecados". Neste momento, recebes a mesma graça como se estivesses, cheio de arrependimento, debaixo da Cruz no Calvário e o precioso Sangue te inundasse.
Deus disse, no Antigo Testamento, ao povo de Israel: "Imolai um cordeiro e marcai, com seu sangue, as portas e os portais; e o Anjo exterminador passará a porta de vossa casa, quando vir este sangue" (Ex. 12, 22). Se o sangue do cordeiro pascoal preservou os israelitas dos golpes do Anjo exterminador, mais poderosamente, o Sangue do Cordeiro sem mancha nos protegerá contra a raiva do anjo das trevas que, como um leão rugidor, anda em redor de nós, procurando a quem possa devorar.
Vejamos ainda o que devemos fazer depois da elevação do Cálice. Muitas pessoas têm o costume de rezar então cinco Padre-Nossos em honra das cinco chagas; excelente prática, porém muito mal colocada. Outros que se sobrecarregam de orações, continuam a fazê-las. Seria, infinitamente, melhor fazer o que faz o sacerdote; pois, o Sacrifício nos pertence tanto quanto a ele. Apesar das ofertas reiteradas antes da elevação, o sacerdote continua a oferecer depois. Nada aliás poderíamos fazer mais agradável a Deus. É por isso que o sacerdote diz, depois de ter posto o Cálice sobre o altar: Por esta razão, Senhor, nós, vossos servos, mas também vosso povo santo... oferecemos à vossa augusta Majestade de vossos dons e dádivas, a Hóstia pura, a Hóstia santa, a Hóstia imaculada, o Pão santo da vida eterna e o Cálice da salvação perpétua".
Sanchez diz destas palavras: "Em toda a Missa, o sacerdote não pronuncia palavras mais consoladoras; pois, nem ele nem o povo poderiam fazer cousa melhor do que oferecer a Deus o augusto Sacrifício". Compreende, portanto, como prejudicas a teus interesses, substituindo esta preciosa oferta por tuas pobres e tíbias orações.
Criaturas indigentes que somos, desprovidos de méritos e virtudes, como não nos apoderaríamos, avidamente, de imenso tesouro que podemos apresentar, como sucesso, ao Pai celestial? E este tesouro, Deus no-lo dá em cada Missa, e, com ele, nos entrega todas as suas riquezas, para que as empreguemos em saldar nossas dívidas. Oferece, pois, a santa Missa, oferece-a ainda, oferece-a sempre.
As pessoas que não sabem ler os excelentes métodos de oferecer o santo Sacrifício, contido nos formulários de orações, podem decorar a oração seguinte:
Meu Deus, eu vos ofereço esta Santa Missa; ofereço-vos vosso caro Filho, sua encarnação, seu nascimento, sua dolorosa paixão; ofereço-vos seu suor de sangue, sua flagelação, sua coroação de espinhos, sua via sacra, sua crucificação, sua morte, seu precioso Sangue. Ofereço-vos, para vossa maior glória e a salvação de minha alma, tudo quanto vosso caro Filho fez, padeceu, mereceu, e todos os Mistérios que ele renova nesta santa Missa. Amém.


29 de março de 2015

Essência do Santo Sacrifício da Missa - Explicação da Santa Missa 28

XXVIII. EXORTAÇÃO PARA OUVIR PIEDOSAMENTE A SANTA MISSA

Quanto não se aflige a Igreja, por ver tantos filhos assistirem, sem piedade, ao santo Sacrifício! Ocupam-se os fiéis, não raras vezes, com o que se passa ao redor, porém, não do que se realiza no altar; observam quem entra e quem sai; oram somente com os lábios, sem que o coração tome parte. Eis seu proceder na presença de Deus três vezes santo! Perguntamos se lhes existe ainda uma faísca de fé na alma e se merecem o nome de católicos. Oh! quanto nos dói o coração à vista de tão culpada irreverência, no momento em que tudo nos convida à mais ardente piedade.
A Igreja católica impõe o respeito para a santa Missa, por estas palavras: "Reconhecer que os cristãos não podem cumprir obra mais santa, mais divina que este assombroso mistério é também reconhecer que não se pode pôr cuidados e diligência suficientes para desempenhá-lo com pureza de coração, com piedade e edificação (Concílio de Trento). Não é necessário, para isso, experimentar uma devoção sensível; basta a vontade firme de assistir atenta e respeitosamente.
A verdadeira piedade, com efeito, não consiste na doçura interior, mas no fiel serviço de Deus.
A piedade ou devoção consiste, segundo todos os mestres da vida espiritual, numa vontade pronta e generosa de fazer tudo quanto Deus quer, e sofrer corajosamente tudo quanto quer que soframos. As doçuras e as consolações sensíveis não são, pois, a devoção, mais um estímulo para a devoção que o Senhor concede conforme nossas necessidades e sua sabedoria. O espírito de fé está sempre ao nosso dispor e podemos, agindo segundo esta fé, servir a Deus com inteira fidelidade e ser do número dos justos que vivem da fé.
Se não tivesses desejo algum e não fizesses nenhum esforço para sair de tua indiferença, então somente, haveria culpa e te privarias de muitos méritos. A este respeito lembrar-te-emos das palavras de Nosso Senhor à Santa Gertrudes.
Esforçando-se, uma vez, em unir alguma intenção particular a cada nota e cada palavra de seu canto, e, sentindo que se achava, muitas vezes, impedida pela fraqueza de sua natureza, dizia no interior, com muita tristeza: "Ah que fruto posso tirar deste exercício visto que sou sujeita a tão grande mudança?". Nosso Senhor, porém, apresentou-lhe nas mãos o Sagrado Coração sob o emblema duma lâmpada ardente, dizendo: "Eis que exponho, aos olhos de tua alma, meu Coração caridoso que é o órgão da Santíssima Trindade, a fim de que lhe peças, com confiança, que faça em ti tudo o que não serias capaz de operar, e desta sorte, eu nada veja, aí, que não seja extremamente perfeito; pois, da mesma maneira que um servo está sempre prestes a executar as ordens de seu amo, assim meu Coração será sempre disposto, em qualquer hora, a reparar os efeitos de tua negligência" (Líber III, c. 25). Santa Gertrudes admirava, tremendo, o excesso da bondade do divino Salvador, julgou, porém, que seria inconveniente que o Coração adorável de seu Deus suprisse os defeitos de sua criatura. Mas o Senhor animou-a com esta comparação: "Não é verdade que, se tivesses uma bela voz e achasses extremo prazer em cantar, encontrando-te com uma pessoa que tivesse a voz tão áspera, tão desagradável e desafinada que sentisse muita pena em pronunciar e em formar os menores sons, acharias mal que, oferecendo-te para cantar, ela não to quisesse permitir? Assim, meu Coração divino, reconhecendo a inconstância e a fragilidade da natureza humana, deseja com ardor que o convides, senão por palavras, pelo menos por outro sinal, a operar e cumprir em ti o que não és capaz de operares e cumprires".
Oh que palavras de animação e conforto! Estás distraído à santa Missa? Desprovido de piedade? Vai a Jesus, dizendo-lhe: "Deploro amargamente estar tão distraído e rogo a vosso divino Coração que se digne suprir a minha negligência".
Para ajudar a tua boa vontade, indicar-te-emos também a maneira de te comportares na santa Missa. Primeiro, indo à igreja, considera aonde vais e o que vais fazer. Não subas ao templo como o fariseu e o publicano para orar somente, mas entras aí para "oferecer", segundo a palavra de David: "Senhor, sou vosso servo, oferecer-vos-ei uma hóstia de louvor e invocarei vosso santo nome" (Sl. 115).
Entras aí para prestar a Deus o culto mais perfeito, para apresentar a oferta que lhe é mais cara. "A audição da santa Missa, diz um escritor eclesiástico, não é somente uma oração, é um ato de adoração, é uma oferta, um sacrifício divino, visto que todos os assistentes bem dispostos unem-se à ação e às intenções do sacerdote". O mesmo autor explica então o sentido da palavra "sacrificar" e diz que a ação mais excelente, é praticar a mais alta virtude, porque, sacrificando, atestamos a soberania de Deus, seu direito de ser, infinitamente, honrado e glorificado; confessarmos, ao mesmo tempo, nossa dependência absoluta como criaturas, das quais pode dispor à vontade. É por isso que o Sacrifício é o ato de religião mais agradável ao Senhor, e o mais útil aos homens.
Penetrado destas verdades, chega ao pé do altar; formula aí a intenção de ouvir a santa Missa. Tens algumas orações particulares que fazer? Faze-as até a consagração. A elevação, não te ocupes senão com Nosso Senhor: adora-o, oferece-o a seu Pai eterno, expondo-lhe tuas necessidades. Há pessoas que têm escrúpulo de renunciar a suas orações quotidianas pelas da santa Missa. É um erro. Tuas orações quotidianas, comparadas com as da santa Missa, são tão inferiores como o cobre é inferior ao ouro. Além disso, estas orações podem fazer-se em outro tempo que não seja à hora da Missa, ao passo que não podes dizer as da Missa, tão utilmente, em outro tempo como quando o santo Sacrifício se efetua; e, se te acontecesse não achar um momento para desempenhar estas devoções particulares, esta omissão seria menos prejudicial que a primeira.
Logo que o sacerdote pronunciou, no momento solene, as palavras da consagração, o pão tornou-se o Corpo de Nosso Senhor. "O homem deve tremer, diz São Francisco de Sales, o mundo estremecer, o céu inteiro ficar arrebatado, quando, sobre o altar, o Filho de Deus se entrega nas mãos do sacerdote". Oh! admirável humildade, o Mestre de todas as coisas abaixa-se, para a salvação do homem, até ocultar-se sob as aparências do pão.
Mas, porque os nossos sentidos não percebem a presença do Senhor, não lhe prestamos atenção, e, entretanto, os demônios fogem espavoridos e os Anjos tremem diante de sua face. Assim disse Jesus Cristo a Santa Brígida: "Do mesmo modo que à palavra 'Sou eu!' meus inimigos caíram por terra, às palavras da consagração 'Isto é o meu Corpo!' os demônios fogem".
A semelhança dos Anjos e dos Santos, apliquemo-nos a glorificar o Senhor sobre o altar, e a participar de seu adorável Sacrifício. É excusado dizer que, no momento da elevação, devemos deixar toda outra oração, a fim de levantar os nossos olhos para o altar e adorar, humildemente, o Cordeiro de Deus, oferecendo-o ao Pai celestial. Estes exercícios de fé e caridade devem ocupar-nos todo o tempo, até que Jesus seja consumido pela Comunhão do sacerdote.

Infelizmente, grande número de fiéis não se conforma a nenhuma destas práticas. Continuam a receitar suas orações costumeiras, dedicando-se a uma espécie de devoção rotineira, como se Nosso Senhor não estivesse presente e não fosse preciso ocupar-se dEle. Caro leitor, não procedas mais assim; no momento da consagração, cai de joelhos como o sacerdote e, repleto de fé e amor, adora aquele que se mostra a teus olhos, sob as espécies de pão e de vinho.

Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem - Parte 42

Método para rezar com fruto o S. Rosário segundo São Luis

Uno-me a todos os santos que estão no céu, a todos os justos que estão sobre a terra, a todas as almas fiéis que estão neste lugar. Uno-me a Vós, meu Jesus, para louvar dignamente Vossa santa Mãe, e louvar-Vos a Vós, Nela e por Ela. Renuncio a todas as distrações que me vierem durante este Rosário, que quero recitar com modéstia, atenção e devoção, como se fosse o último de minha vida.
Nós Vos oferecemos, Trindade Santíssima, este Credo, para honrar os mistérios todos de nossa Fé, este Pater e estas três Ave-Marias, para honrar a unidade de Vossa essência e a trindade de Vossas pessoas. Pedimo-Vos uma Fé viva, uma esperança firme e uma caridade ardente.

Mistérios Gozosos
I
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta primeira dezena, em honra de vossa Encarnação no seio de Maria; e vos pedimos, por este mistério e por sua intercessão, uma profunda humildade. Assim seja.
Pai-Nosso, dez Ave-Marias, Glória,
Graças ao mistério da Encarnação, descei em nossas almas, assim seja

II
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta segunda dezena, em honra da visitação de vossa santa Mãe à sua prima Santa Isabel e da santificação de São João Batista; e vos pedimos, por este mistério e pela intercessão de vossa Mãe Santíssima, a caridade para com nosso próximo. Assim seja.
Pai-Nosso, dez Ave-Marias, Glória,
Graças ao mistério da visitação, descei em nossas almas, assim seja

III
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta terceira dezena, em honra de vosso nascimento no estábulo de Belém; e vos pedimos, por este mistério e pela intercessão de vossa Mãe Santíssima, o desapego dos bens terrenos, o desprezo das riquezas e o amor da pobreza. Assim seja.
Pai-Nosso, dez Ave-Marias, Glória, Graças ao mistério do nascimento de Jesus, descei em nossas almas, assim seja.

IV
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta quarta dezena, em honra de vossa apresentação no templo, e da purificação de Maria; e vos pedimos, por este mistério e por sua intercessão, uma grande pureza de alma e corpo. Assim seja.
Pai-Nosso, dez Ave-Marias, Glória, Graças ao mistério da purificação, descei em nossas almas. Assim seja.

V
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta quinta dezena, em honra de vosso reencontro por Maria; e vos pedimos, por este mistério e por Sua intercessão, a verdadeira sabedoria. Assim seja.
Pai-Nosso, dez Ave-Marias, Glória,
Graças ao mistério do reencontro de Jesus, descei em nossas almas, assim seja.

Mistérios dolorosos
VI
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta sexta dezena, em honra de vossa agonia mortal no Jardim das Oliveiras; e vos pedimos, por este mistério e pela intercessão de vossa Mãe Santíssima, a contrição de nossos pecados. Assim seja.
Pai-Nosso, dez Ave-Marias, Glória,
Graças ao mistério da agonia de Jesus, descei em nossas almas, assim seja

VII
Nós vos oferecemos, senhor Jesus, esta sétima dezena, em honra de vossa sangrenta flagelação; e vos pedimos, por este mistério e pela intercessão de vossa Mãe Santíssima, a mortificação de nossos sentidos. Assim seja.
Pai-Nosso, dez Ave-Marias, Glória,
Graças ao mistério da flagelação de Jesus, descei em nossas almas. Assim seja.

VIII
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta oitava dezena, em honra de vossa coroação de espinhos; e vos oferecemos por este mistério e pela intercessão de vossa Mãe Santíssima, o desprezo do mundo. Assim seja.
Pai-Nosso, dez Ave-Marias, Glória,
Graças ao mistério da coroação de espinhos, descei em nossas almas. Assim seja.

IX
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta nona dezena, em honra do carregamento da cruz; e vos pedimos, por este mistério e pela intercessão de vossa Mãe Santíssima, a paciência em todas as nossas cruzes. Assim seja.
Pai-Nosso, dez Ave-Marias, Glória,
Graças ao mistério do carregamento da cruz, descei em nossas almas. Assim seja

X
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta décima dezena, em honra de vossa crucifixão e morte ignominiosa sobre o Calvário; e vos pedimos, por este mistério e pela intercessão de vossa Mãe Santíssima, a conversão dos pecadores, a perseverança dos justos e o alívio das almas do purgatório. Assim seja.
Pai-Nosso, dez Ave-Marias, Glória, Graças ao mistério da crucifixão, descei em nossas almas. Assim seja.

Mistérios Gloriosos
XI
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta undécima dezena, em honra de vossa ressurreição gloriosa; e vos pedimos, por este mistério e pela intercessão de vossa Mãe Santíssima, o amor de Deus e o fervor no vosso serviço. Assim seja.
Pai-Nosso, dez Ave-Marias, Glória,
Graças ao mistério da ressurreição, descei em nossas almas. Assim seja.

XII
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta duodécima dezena, em honra de vossa triunfante ascensão; e vos pedimos, por este mistério e pela intercessão de vossa Mãe Santíssima, um ardente desejo do céu, nossa cara pátria. Assim seja.
Pai-Nosso, dez Ave-Marias, Glória,
Graças ao mistério da ascensão, descei em nossas almas, assim seja.

XIII
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta décima terceira dezena, em honra do mistério de Pentecostes; e vos pedimos, por este mistério e pela intercessão de vossa Mãe Santíssima, a descida do Espírito Santo em nossas almas. Assim seja.
Pai-Nosso, dez Ave-Marias, Glória,
Graças ao mistério de Pentecostes, descei em nossas almas. Assim seja.

XIV
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta décima quarta dezena, em honra da ressurreição e triunfal assunção de vossa Mãe ao céu; e vos pedimos, por este mistério e por Sua intercessão, uma tenra devoção a tão boa Mãe. Assim seja.
Pai-Nosso, dez Ave-Marias, Glória,
Graças ao mistério da assunção, descei em nossas almas. Assim seja.

XV
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta décima quinta dezena, em honra da coroação gloriosa de vossa Mãe Santíssima no céu; e vos pedimos, por este mistério e por Sua intercessão, a perseverança na graça e a coroa da glória. Assim seja.
Pai-Nosso, dez Ave-Marias, Glória, Graças ao mistério da coroação gloriosa de Maria, descei em nossas almas. Assim seja.

28 de março de 2015

Sermão para o 4º Domingo da Quaresma (Laetare) 15.03.2015 – Padre Daniel P Pinheiro

[Sermão] Jesus Cristo, a alegria dos homens

“Rejubila, Jerusalém, e vós todos que a amais.”
Caros católicos, falamos, nesses três domingos precedentes da Quaresma, de Nosso Senhor Jesus Cristo. Vimos que ele é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Vimos que Ele nos ensinou uma doutrina celeste, perfeita, absolutamente necessária para a nossa salvação e, evidentemente, boa para nós. Nosso Senhor Jesus Cristo, por tudo o que é e por tudo o que fez e faz por nós é a nossa verdadeira alegria. Como já tivemos a oportunidade de dizer algumas vezes, a alegria de cada ser consiste em agir conforme a sua natureza. Assim, o cachorro é (sentimentalmente) feliz quando age como cachorro. O gato é (sentimentalmente) feliz quando age em conformidade com sua natureza de gato. Um microfone, se pudesse ser feliz, seria feliz ao transmitir o som em altura adequada para os ouvintes. Nós seres humanos somos felizes (espiritualmente, sobretudo) quando agimos como seres humanos. Agimos como seres humanos quando conhecemos a verdade, quando amamos a verdade e colocamos a verdade em prática. Somos seres dotados de inteligência e de vontade. Inteligência e vontade são a parte mais elevada do nosso ser. Portanto, somos felizes quando nossa inteligência conhece a verdade e quando nossa vontade ama a verdade, o bem verdadeiro. Somos felizes quando a inteligência iluminada pela verdade e a vontade inflamada pelo amor a essa verdade orientam os nossos sentimentos, o nosso corpo, toda a nossa vida. Ora, a verdade absoluta e o bem infinito são Deus, são Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é a Verdade. Ele é o Bem. Portanto, devemos nos alegrar imensamente com Nosso Senhor Jesus Cristo.
Devemos nos alegrar porque Nosso Senhor veio nos ensinar a Verdade. Ele veio nos falar da vida de Deus. Ele veio nos falar das perfeições de Deus. Ele veio nos ensinar a verdade, e somente ela pode nos salvar, somente ela pode ser para nós motivo perene de alegria. Ele veio também nos dar as graças para que possamos aderir à verdade que nos ensinou.
Devemos nos alegrar porque Nosso Senhor Jesus Cristo veio nos trazer o amor à verdade, o amor ao bem verdadeiro, ele veio nos trazer o amor a Deus. Somente o amor a Deus pode nos fazer realmente felizes já nessa vida e plenamente felizes no céu, se nos salvarmos. Nosso Senhor nos mostrou como devemos amar a Deus: fazendo a vontade de Deus em todas as coisas. Ele veio nos trazer o amor por Deus mostrando a sua caridade para conosco, ao sofrer tanto para nos salvar. Deus amou tanto os homens que enviou seu próprio Filho para nos salvar.
Devemos nos alegrar, então, porque a segunda Pessoa da Santíssima Trindade dignou-se vir ao mundo para nos salvar. Deus não nos abandonou depois do pecado de nossos primeiros pais, Adão e Eva. Alegremo-nos porque Ele não nos abandonou depois de nossos pecados.
Devemos nos alegrar porque o Verbo feito carne veio nos salvar pregado numa cruz. Ele veio nos salvar sofrendo mais do que todos os homens juntos.
Devemos nos alegrar porque Nosso Senhor é bom. Em todas as coisas, desde a sua encarnação até a sua ascensão, e agora no céu, Ele agiu e age par a glória de Deus e para o nosso bem: no seu nascimento em Belém, na sua apresentação no templo, na sua fuga para o Egito, na sua vida escondida em Nazaré, nos seus milagres, nos seus ensinamentos, nas suas ações.
Devemos nos alegrar porque Jesus é misericordioso. Ele quer nos tirar da miséria do pecado, Ele quer o nosso verdadeiro bem, que é nossa santificação. Devemos nos alegrar porque a misericórdia de Jesus é uma misericórdia diferente da misericórdia do mundo. A misericórdia do mundo deixa cada um nos seus erros e conforta cada um em seus erros e pecados. A misericórdia de Deus não é para nos deixar no pecado ou para no confortar no pecado. A misericórdia divina, paciente e bondosa, é para nos tirar do pecado, mostrando-nos a verdade.
Devemos nos alegrar porque Jesus Cristo nos dá as graças mais do que suficientes para que possamos resistir às tentações, para que não pequemos. Ele nos dá graças abundantes para que possamos viver uma vida virtuosa, uma vida de união a Deus, uma vida de imitação de Cristo.  Ele nos dá com generosidade essas graças que mereceu na Cruz. Devemos, porém, pedi-las.
Devemos nos alegrar porque Nosso Senhor, em meio às maiores tribulações nossas, nos consola. Talvez não sensivelmente, mas nos consola, se recorremos a Ele, nos dando a força para perseverar no bem, para termos paciência nas provações, fazendo-nos pensar em tudo o que Ele sofreu por nós e fazendo-nos pensar na recompensa da vida eterna.
Devemos nos alegrar porque Nosso Senhor fundou uma sociedade para continuar a sua obra ao longo dos séculos, até o fim dos séculos. Ele instituiu uma sociedade, que é a Igreja Católica, para assegurar a transmissão intacta dos seus ensinamentos. Ele instituiu nessa sociedade um poder de magistério que é infalível quando faz definições no campo da fé e da moral.
Devemos nos alegrar porque Nosso Senhor nos deu os sacramentos. Ele instituiu na Igreja os canais pelos quais os frutos de sua paixão deveriam ser aplicados. Ele nos deu os sacramentos que nos acompanham ao longo de toda a nossa vida. Do batismo, em nosso nascimento, até à extrema-unção perto de nossa morte.
Devemos nos alegrar porque entre os sacramentos, Nosso Senhor, nos deixou a Eucaristia. Ele nos deixou seu próprio Corpo e seu próprio Sangue sob as aparências do pão e do vinho. Grande deve ser a nossa alegria por termos Jesus Cristo realmente presente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade nos tabernáculos de nossas Igrejas. Grande deve ser a alegria por poder nos alimentar espiritualmente, se estamos em estado de graça, do próprio Cristo Jesus.
Devemos nos alegrar porque Nosso Senhor nos deixou a Santa Missa, a renovação não sangrenta do único sacrifício da Cruz. É pela Missa que podemos adorar a Deus devidamente. É pela Missa que podemos agradecer a Deus devidamente. É pela Missa que podemos pedir com toda confiança as graças de que precisamos. É pela Missa que podemos pedir a Deus o arrependimento de nossos pecados. É pela Missa que poderemos fazer bem todas essas coisas em nosso quotidiano.
Poderíamos multiplicar muito mais, caros católicos, os motivos para nossa alegria em Nosso Senhor Jesus Cristo. Todavia, nesse tempo da Quaresma, alegremo-nos porque Nosso Senhor nos chama, de modo veemente, à conversão. Alegremo-nos e aproveitemos esse tempo de conversão e misericórdia para abandonarmos os nossos pecados, para travarmos uma luta firme, mas serena, contra os nossos vícios. Aproveitemos esse tempo para nos confessarmos com grande contrição, para crescermos no amor efetivo a Nosso Senhor, guardando as suas palavras e as colocando em prática.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

27 de março de 2015

Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem - Parte 41

CONSAGRAÇÃO DE SI MESMO A JESUS CRISTO, SABEDORIA ENCARNADA, PELAS MÃOS DE MARIA

Ó Sabedoria Eterna e Encarnada! Ó amabilíssimo e adorável Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, unigênito Filho do Eterno Pai e da sempre Virgem Maria, adoro-vos profundamente no seio e nos esplendores do vosso Pai, durante a eternidade, e no seio virginal de Maria, vossa Mãe digníssima, no tempo de vossa Encarnação.
Eu vos dou graças por vos terdes aniquilado a vós mesmo, tomando a forma de escravo, para livrar-me do cruel cativeiro do demônio. Eu vos louvo e glorifico por vos terdes querido submeter a Maria, vossa Mãe Santíssima, em todas as coisas, a fim de por Ela tornar-me vosso fiel escravo.
Mas, ai de mim, criatura ingrata e infiel! Não cumpri as promessas que vos fiz solenemente no Batismo. Não cumpri com minhas obrigações; não mereço ser chamado vosso filho nem vosso escravo, e, como nada há em mim que de vós não tenha merecido repulsa e cólera, não ouso aproximar-me por mim mesmo de vossa santíssima e augustíssima Majestade.
É por esta razão que recorro à intercessão de vossa Mãe Santíssima, que me deste por Medianeira junto a Vós, e é por este meio que espero obter de Vós a contrição e o perdão de meus pecados, a aquisição e conservação da Sabedoria.
Ave, pois, ó Maria Imaculada, Tabernáculo vivo da Divindade, onde a Eterna Sabedoria escondida quer ser adorada pelos anjos e pelos homens!
Ave, ó Rainha do céu e da terra, a cujo império está sujeito tudo o que está abaixo de Deus!
Ave, ó refúgio seguro dos pecadores, cuja misericórdia jamais a ninguém falece! Atendei ao desejo que tenho da Divina Sabedoria, e recebei, para este fim, os votos e as oferendas, apresentadas pela minha baixeza.
Eu, N..., infiel pecador, renovo e ratifico hoje, em vossas mãos, os votos do Batismo.
Renuncio para sempre a Satanás, suas pompas e suas obras, e dou-me inteiramente a Jesus Cristo, Sabedoria Encarnada, para segui-lo levando minha cruz, em todos os dias de minha vida. E, a fim de lhe ser mais fiel do que até agora tenho sido, escolho-vos neste dia, ó Maria Santíssima, em presença de toda a corte celeste, para minha Mãe e minha Senhora.
Entrego-vos e consagro-vos, na qualidade de escravo, meu corpo e minha alma, meus bens interiores e exteriores, e até o valor de minhas boas obras passadas, presentes e futuras, deixando-Vos direito pleno e inteiro de dispor de mim e de tudo o que me pertence, sem exceção, a vosso gosto, para a maior glória de Deus, no tempo e na eternidade.
Recebei, ó benigníssima Virgem, esta pequena oferenda de minha escravidão, em união e honra à submissão que a Sabedoria Eterna quis ter à vossa Maternidade; em homenagem ao poder que tendes ambos sobre este vermezinho e miserável pecador; em ação de graças pelos privilégios com que Vos favoreceu a Santíssima Trindade.
Protesto que quero, de agora em diante, como vosso verdadeiro escravo, procurar vossa honra e obedecer-Vos em todas as coisas.
Ó Mãe admirável, apresentai-me a vosso amado Filho, na qualidade de escravo perpétuo, para que, tendo-me remido por Vós, por Vós também me receba favoravelmente.
Ó Mãe de misericórdia, concedei-me a graça de obter a verdadeira Sabedoria de Deus, e de colocar-me, para este fim, no número daqueles a quem amais, ensinais, guiais, sustentais e protegeis como a filhos e escravos vossos.
Ó Virgem fiel, tornai-me em todos os pontos um tão perfeito discípulo, imitador e escravo da Sabedora Encarnada, Jesus Cristo, vosso Filho, que eu chegue um dia, por vossa intercessão e a vosso exemplo à plenitude de sua idade na terra e de sua glória nos céus. Assim seja.

Essência do Santo Sacrifício da Missa - Explicação da Santa Missa 27

XXVII. INSTANTE EXORTAÇÃO PARA OUVIR DIARIAMENTE A SANTA MISSA

Depois de tudo quanto dissemos até aqui, pareceria desnecessário exortar-te a ouvir a santa Missa todos os dias. Entretanto, acrescentaremos algumas reflexões próprias, para afirmar, em ti, a esta resolução.
Não há dúvida de que nenhuma hora do dia é tão preciosa como a da santa Missa. É verdadeiramente uma hora de ouro, e, por sua influência, tudo o que fizeres no correr do dia será, por assim dizer, transformado em ouro. Sem esta bênção que se recebe do altar, não ganharíamos senão vil metal.
Objetar-nos-ás talvez: "O trabalho me é mais necessário que a audição da santa Missa, visto que, por ele, sustento minha família". - Mas, caro leitor, não dizemos que não trabalhes, quereríamos apenas ver-te dar a Deus pequena meia hora, cada manhã. Abençoado por sua mão paterna, teu trabalho terá melhor êxito.
O desejo de nosso coração, caro leitor, é levar-te a ouvir, quotidianamente, a santa Missa. Por isso procuramos detalhar-te os numerosos e nobres motivos sobre os quais esta excelente devoção é baseada.
Escuta e considera: Foste criado por Deus, para serví-lo: a santa Missa é o culto divino por excelência; tens a obrigação de agradecer-lhe os benefícios espirituais e temporais: a santa Missa é o mais perfeito sacrifício de ação de graças; estás no mundo, para louvar a divina Majestade do Deus onipotente: a santa Missa é o mais perfeito sacrifício de louvor; tens contraído uma dívida enorme: a santa Missa é o mais rico sacrifício de satisfação; o pecado, a doença, a morte te ameaçam: a santa Missa é o mais eficaz sacrifício de impetração; o demônio te persegue, armando ciladas, esforça-se para arrastar-te ao inferno: a santa Missa é o escudo contra o qual se despedaça o poder infernal; a morte te espanta: a audição da santa Missa será para ti a maior consolação na hora da morte.
Quando não te seja possível assistir, cada dia, à santa Missa, faze, pelo menos, que uma ou outra pessoa de tua família a assista na intenção de todos os teus.
A prática de ouvir a santa Missa, uns em favor dos outros, é, extremamente, vantajosa e perfeitamente possível. Há uma diferença notável entre a audição da santa Missa e a sagrada Comunhão. Diz-se: Comungarei por ti, pelas almas do purgatório, etc., o que, porém, não tem a mesma significação que dizer: Ouvirei a santa Missa por ti. É tão impossível receber um sacramento por outra pessoa como é impossível tomar alimento por ela. Não obstante, tua Comunhão será muito vantajosa ao próximo, porque todas as boas obras apagam parte da pena devida a teus pecados, vantagem que podes ceder a teu irmão: demais, a Comunhão, aumentando-nos a graça, torna a oração mais ardente e mais eficaz.
Observa, porém, que Jesus Cristo não instituiu a santa Missa somente pelo que a celebra, ou a assiste, mas também quer tenham os ausentes sua parte, e lhes é feita ao "Memento dos vivos": "Lembrai-vos Senhor", diz o sacerdote, "daqueles pelos quais vos oferecemos ou que vos oferecem este Sacrifício de louvor por si e por todos os seus".
Enfim, cada um pode despojar-se, em favor do próximo, dos méritos que adquire, ou dos tesouros satisfatórios que recebe no santo Sacrifício. Parece, pois, mais vantajoso ouvir a santa Missa por uma pessoa do que comungar por ela.
As palavras persuadem, os exemplos arrastam. Se nossas instantes exortações ainda não te convenceram, citar-te-emos o exemplo dos Santos que, apesar dos numerosos e importantes trabalhos, colocavam a Missa acima das ocupações.
Santo Agostinho refere de sua mãe, santa Mônica, que não deixava passar um dia sem assistir ao santo Sacrifício, tanto estimava o valor desta oblação, cuja virtude salutar apaga os vestígios de nossas faltas. Sentindo-se morrer longe da pátria, recomendava ao filho que não lhe fizesse exéquias pomposas, porém que levasse cada dia, sua lembrança ao altar.
Santa Hediviges, duquesa da Polônia, ouvia, todos os dias, várias Missas, e, quando não se achavam bastantes sacerdotes na corte, mandava chamar os outros para satisfazer a devoção.
São Luis, rei de França, assistia a duas Missas, às vezes até a quatro. As pessoas de sua comitiva o criticavam, achando que o rei devia antes ocupar-se dos negócios do governo. O Santo, porém, respondia-lhes: "Admira-me tanta inquietação. Se empregasse o duplo deste tempo no jogo, ou na caça, ninguém me criticaria". Excelente resposta que, não somente serve aos cortesãos de Luís IX, mas a nós todos. Quando, em dia útil, nos aconteceu assistir a muitas Missas, parecem prejudicados nossos negócios?... entretanto, passamos, sem escrúpulo, horas inteiras a falar, a jogar, a comer, a dormir, mesmo a enfeitar-nos! Que cegueira, pois!
Citamos acima o rei da Inglaterra, Henrique I, a quem o peso dos negócios do Estado nunca impedia de ouvir três Missas, cada dia. Numa entrevista com o rei de França, os dois príncipes vieram a falar em questões religiosas. "Julgo, observou o último, que a assiduidade ao sermão é preferível à da Missa" - "Por mim, retorquiu Henrique, prefiro olhar para meu Amigo divino a ouvir celebrar-lhe os louvores".
É também nossa opinião, caro leitor, sem querermos menosprezar a utilidade das instruções religiosas.
São Venceslau, duque da Boêmia, dava os mesmos exemplos. Refere-se, na sua vida, que durante a assembléia nacional dos Estados da Alemanha, em Worms, o imperador Óton convocou, um dia, todos os príncipes para uma hora matutina.
Todos aí se acham pontualmente, exceto Venceslau que fora à Missa, antes de ir à assembléia. O soberano disse em tom de impaciência: "Comecemos os trabalhos e, quando Venceslau vier, ninguém se levante para dar-lhe lugar". Entretanto, terminada a santa Missa, o duque chegou ao palácio. O imperador o viu entrar acompanhado de dois Anjos que lhe condecoravam o peito com uma cruz de ouro. Imediatamente deixou o trono, foi-lhe ao encontro e abraçou-o com ternura.
A assembléia teve um movimento de surpresa ao ver Óton ser o primeiro a contradizer as próprias ordens. Este, porém, desculpou-se, dizendo: "Vi dois Anjos que acompanhavam o duque, como teria eu ousado não lhe render esta honra?". Alguns dias depois, Venceslau era investido do poder real e coroado rei da Boêmia.
O célebre escritor Barônio relata que o imperador Lotário assistia, cada manhã, a três Missas, mesmo no acampamento. E Súrio afirma que Carlos V não faltou a santa Missa senão uma única vez, por ocasião de uma guerra na África.
O Breviário Romano nos faz admirar a ardente devoção de São Casimiro durante o Ofício solene, ao qual assistia todos os dias. Sua alma abrasava-se de tamanho amor de Deus, que parecia não estar mais sobre a terra.
O heróico confessor da fé, Tomás Mourus, que deu a vida por Jesus Cristo em 1535, tinha em alta estima a santa Missa. Por urgentes que lhe fossem os negócios de chanceler do império britânico, não deixava de assistí-la, cada manhã. Uma vez, enquanto orava ao pé do altar, durante o santo Sacrifício, um mensageiro veio, a toda a pressa, dizer-lhe que o rei o chamava: "Paciência, disse-lhe; devo, em primeiro lugar, prestar minhas homenagens a um príncipe maior, e assistir, até o fim, à audiência divina".
Meu Deus, que diremos, que desculpas apresentaremos no dia do juízo, nós que negligenciamos a santa Missa pelas ocupações, muitas vezes, insignificantes, ao passo que personagens encarregados dos negócios de reinos inteiros, achavam o tempo necessário para ouvir, cada dia, uma ou mais Missas?!
Não digas: "Deus não me condenará por ter deixado de ouvir a santa Missa em dias úteis, desde que é obrigatório somente aos domingos e dias de festa". Sem dúvida, Deus não tratará esta omissão como transgressão positiva; porém, far-te-á expiar este descuido, em seu santo serviço. O servo preguiçoso que foi lançado nas trevas extremas, não havia desperdiçado nem perdido, no fogo, o talento que o dono lhe havia confiado: tinha somente enterrado e foi condenado, por se ter descuidado de utilizá-lo. Toma cuidado que Deus não proceda assim contigo. Viu-se muitas vezes, com que rigor Deus pune a indiferença a respeito do santo Sacrifício.
Quanto aos pais que impedem os filhos de assistirem à santa Missa, em dia de domingo, ou de festa, bem poderiam incorrer no castigo de Gerôncia, mãe de Santa Genoveva. Um dia de festa que ela pretendia proibir à filha ir à Missa, Genoveva lhe disse com firmeza: "Minha mãe, não posso, em consciência, faltar à Missa, hoje: prefiro descontentar-vos a descontentar a meu Deus". Irritada com esta resposta, Gerôncia esbofeteou-a, chamando-a desobediente. O castigo de Deus, porém, não se fez esperar. Gerôncia cegou imediatamente e não recuperou a vista senão dois anos depois, devido às orações da piedosa filha.
Os pais e as mães de família têm obrigação de mandar à santa Missa não só os filhos, como também os criados; devem cuidar deles na igreja e exortá-los a terem grande respeito, para o santo Sacramento. O Apóstolo São Paulo prescreve-o claramente: "Se alguém, diz ele, não toma cuidado dos seus e, particularmente, dos de sua casa, renunciou à fé e é pior do que um infiel" (Tim. 5, 3). A palavra "cuidado" significa, segundo São João Crisóstomo, a conservação da alma assim como do corpo. Ora, se um pai de família deixasse de fornecer ao filho e às pessoas de sua casa alimento e vestuário, seria, aos olhos de Deus, pior do que um infiel. E não será mais desprezível ainda o que não se inquieta da salvação eterna dos seus?

Patrões cristãos, prestai atenção à maneira pela qual cumpris os deferes a este respeito. Deixai toda a liberdade a vossos empregados para ir à Missa, quando a proximidade da Igreja e a hora matutina lhes fornecem a facilidade? Não pareceis dizer com a vossa atitude: "Não é a Deus, mas a mim a quem deveis servir, porque não é Deus, sou eu quem vos paga; trabalhareis, pois, toda a semana para mim somente?" Na verdade, tais cristãos são piores que os pagãos, mas saberão, à hora da morte, a enormidade de seu pecado.

26 de março de 2015

Catecismo Ilustrado - Parte 10

O Símbolo dos Apóstolos

5º artigo: E desceu aos infernos

1. As palavras "e desceu aos infernos" significam que, morto Jesus Cristo, a Sua alma desceu aos infernos, onde se demorou todo o tempo que o Seu corpo permaneceu no sepulcro, e ainda que a mesma pessoa de Jesus Cristo esteve ao mesmo tempo nos infernos e no sepulcro. Não deve isso parecer estranho, pois que, embora a alma de Jesus Cristo se separasse do Seu corpo, todavia a divindade ficou sempre unida à Sua alma e ao Seu corpo.
2. Deve entender-se pela palavra "Inferno" os lugares ocultos, os depósitos em que são retidas, como prisioneiras, as almas que não podem gozar logo da beatitude eterna. Neste sentido a Sagrada Escritura emprega esta palavra em muitas passagens. Foi ainda neste sentido que São Paulo disse que em nome de Jesus Cristo todos os joelhos se dobram no Céu, na terra e nos infernos.
3. Não obstante designados todos pelo nome de infernos, estes lugares não são iguais. Um deles é como que uma prisão escuríssima e horrível, onde as almas dos condenados estão continuamente atormentadas pelos demônios com um fogo que se não pode extinguir. Denomina-se este lugar a Geena, o abismo, ou mais comumente, o Inferno.
4. No segundo destes lugares encontra-se o fogo do Purgatório. As almas que morreram em estado de Graça permanecem aí durante um certo tempo, até se purificarem de todo, e poderem entrar na pátria eterna, onde não pode ter guarida nem haver sombra de pecado.
5. Ao terceiro destes lugares chama-se limbo, e neste eram recebidas, antes da vinda de Jesus Cristo, as almas dos santos, que ficavam aí em descanso, sem nenhum sentimento de dor, na esperança da sua redenção. E foram as almas destes santos que esperavam o seu Salvador no seio de Abraão, que Nosso Senhor libertou quando desceu aos infernos.
6. É um erro supor que Jesus Cristo desceu a estes lugares apenas para fazer brilhar aí o seu poder. Devemos acreditar firmemente que a sua alma desceu com efeito aos infernos e que aí se fez realmente presente, como expressamente o indicam estas palavras de David: "Não deixareis a minha alma nos infernos".
7. Esta descida de Jesus Cristo aos infernos em nada diminuiu o seu poder e majestade, e as trevas destes lugares não ofuscaram no mundo o brilho da sua glória. Pelo contrário, devemos ver neste fato, não só que era rigorosamente verdadeiro tudo o que se dissera da santidade de Jesus Cristo, como também que Este era Filho de Deus, como já o tinha provado pelos seus milagres.
8. Isto se compreenderá facilmente se compararmos as  razões que levaram Jesus a descer aos infernos, com as razões que obrigam os outros homens a encontrar-se ali. Os homens  tinham descido ali como cativos, ao passo que Jesus Cristo desceu como Aquele que, sendo o único livre entre os mortos e o único vitorioso, ia afugentar os demônios que os retinham ali tão severamente encerrados por causa das suas culpas.
9. E desceu não apenas para arrebatar ao demônio os seus próprios despojos, libertando deste cativeiro as almas dos santos Patriarcas e os outros Judeus ali detidos, como ainda para entrar triunfalmente no Céu em sua companhia, o que fez de um modo admirável e glorioso, porque a sua presença derramou uma luz brilhantíssima neste lugar onde estavam os felizes cativos, dilatando-lhes os corações com uma inconcebível alegria e fazendo-os gozar da suprema beatitude, que consiste na união com Deus.

Explicação da  gravura

10. Esta gravura representa a alma de Jesus Cristo aparecendo no limbo. Figuram, em primeiro plano, Adão e Eva de joelhos; seguem-se à esquerda, Abraão brandindo o gládio contra Isaac; Jacob com seu cajado na mão; David com a sua Lyra, etc., à direita, Moisés de cuja fronte irradiam raios de luz; Aarão com a sua vara; São José segurando uma açucena. Nosso Senhor permaneceu na companhia deles até à sua Ressurreição.
11. No plano superior, vê-se o Inferno onde ardem os demônios e os condenados; Jesus Cristo não desceu a este abismo de dores, nem ao Purgatório; fez todavia sentir aos condenados a sua ação, dando-lhes a conhecer a sua divindade, e às almas do Purgatório dando-lhes a esperança da glória.