XXIII. DA PRECE DO SACERDOTE E DOS ANJOS
PELOS QUE OUVEM A SANTA MISSA
É uma queixa geral, entre as pessoas
piedosas, de serem perseguidas pelas distrações durante a oração. Para isso,
não conhecemos remédio melhor que a freqüente assistência à santa Missa, onde
nossa pobre oração se une à de Jesus e a de seu sacerdote. Do mesmo modo que
uma moeda de cobre se torna bela e brilhante, quando imersa no ouro em fusão,
nossa oração, fraca e distraída, torna-se, por esta maneira, atenta e
fervorosa.
Por isso disse o sábio e piedoso bispo
Fornero: "A oração feita na Missa, em união com o Sacrifício, é mais
eficaz do que todas as outras, embora cheias de fervor perfeito e longa
duração".
Exporemos, neste capítulo, a razão de tão
consoladora doutrina.
O sacerdote que celebra deve orar não
somente pelos fiéis em geral e oferecer o Sacrifício por sua salvação, mas é
ainda obrigado a orar, particularmente, pelos assistentes e apresentar-lhes as
súplicas ao Altíssimo. Assim a oração do começo, chamada "Coleta" e a
"Secreta" que se segue ao Ofertório, a "Post-Comunhão", e,
em geral, todas as orações em que o pedido é feito em nome de muitos, são ditas
pelos assistentes, por ti, portanto, se és do número deles, e te são
proveitosas como se estivesses só na igreja com o sacerdote.
A fim de que saibas, minuciosamente, as
orações em que tens parte oficial, vamos enumerá-las umas após outras.
Ao começar a santa Missa, o ministrante
recita o "Confiteor", em nome do povo, sobre o qual o sacerdote
pronuncia a absolvição seguinte: "O Senhor onipotente se compadeça de vós,
e, perdoados os vossos pecados, vos conduza à vida eterna! Assim seja". Em
seguida, subindo ao altar, continua: "Apagai, Senhor, Vos suplicamos, nossas
iniqüidades, para que mereçamos, com pureza, entrar no lugar santo. Por Cristo
Senhor Nosso. Amém".
Ao "Kyrie", que é um grito, um
pedido de socorro à Santíssima Trindade; ao "Glória in excelsis",
como também à "Coleta", o sacerdote fala em seu nome e no teu. Saúda
a assembléia, reunida ao redor do altar, com a santa saudação: "Dominus
vosbiscum - o Senhor esteja convosco!" Era a saudação do Anjo a Gedeão; de
Booz aos ceifadores; do Arcanjo Gabriel à Santíssima Virgem. Por estas
palavras, oito vezes repetidas, o sacerdote deseja salvação e bênção ao povo,
porque, se Deus está conosco, que pode nos faltar?
Ao "Credo" pronuncia, em seu
nome e em nome dos fiéis, a confissão da fé católica, em que desejamos todos
viver e morrer.
"A oblação do pão" diz:
"Recebei Pai Santo, onipotente e eterno Deus, esta Hóstia imaculada que
eu, indigno servo, vos ofereço, meu Deus vivo e verdadeiro, por todos os meus
inumeráveis pecados e ofensas e negligências, por todos os presentes, e por
todos os fiéis cristãos, vivos e defuntos, para que a mim e a eles aproveite e
seja a salvação na vida eterna. Amém".
Quando deita a água e o vinho no cálice,
diz: "Deus, que criaste, maravilhosamente, a dignidade da humana natureza
e, mais admiravelmente, a reparaste, concede-nos, por este mistério da água e
do vinho, que sejamos consortes da divindade daquele que se dignou de fazer-se
partícipe de nossa humanidade, Jesus Cristo, teu Filho, Senhor nosso que
contigo reina na unidade do Espírito Santo, Deus por todos os séculos dos
séculos. Amém".
A "oblação do cálice", o
sacerdote diz: "Oferecemos-te, Senhor, o cálice da salvação, rogando-te a
clemência, para que suba à presença da divina Majestade o suave perfume, por
nossa salvação e de todo o mundo".
Depois do "Lavabo", diz o
sacerdote, inclinando-se: "Recebei, Santíssima Trindade, esta oblação que
te oferecemos em memória da Paixão e Ressurreição e Ascensão de Jesus Cristo,
nosso Senhor, e em honra da Bem-aventurada Virgem Maria, do Bem-aventurado São
João Batista, dos Santos Apóstolos São Pedro e São Paulo, e de todos os Santos;
para que lhes seja em honra e a nós em salvação, e estes, cuja memória
celebramos na terra, se dignem de interceder por nós no céu. Pelo mesmo Cristo,
Senhor nosso. Amém". Voltando-se para o povo, continua: "Orai, irmãos,
para que o sacrifício vosso e meu seja aceito por Deus onipotente"; e o
ministrante responde: "Receba o Senhor o sacrifício de tua mão, para
louvor e glória de seu nome e também para proveito nosso e de toda a sua santa
Igreja".
A "Secreta", oração misteriosa,
segue-se em voz baixa e, nela, o sacerdote reza também por todo o povo.
Ordinariamente são três, outras vezes mais, nas grandes festas, uma apenas.
No "Prefácio", o sacerdote
excita a assembléia a unir os louvores aos seus, dizendo: "O Senhor seja
convosco. - Erguei os vossos corações! - demos graças ao Senhor, nosso Deus! -
verdadeiramente é justo, conveniente e salutar que, sempre e em toda a parte,
demos graças, Senhor santo, Pai onipotente, Deus eterno, porque, pelo Mistério
do Verbo encarnado, resplandeceu, aos olhos de nossa mente, uma nova luz de tua
claridade; de sorte que, enquanto conhecemos a Deus visivelmente, sejamos por
ele arrebatados ao amor das cousas invisíveis. E por isso, com os Anjos e
Arcanjos, com os Tronos e Dominações e com toda a milícia do celestial
exército, cantemos o hino de tua glória, dizendo sem cessar: - Santo, Santo,
Santo, Senhor Deus dos exércitos! Cheios estão o céu e a terra de tua glória.
Hosana nas alturas! Bendito seja o que vem em nome do Senhor! Hosana nas
alturas!"
Logo depois começa o "Cânon",
parte da santa Missa que se reza em voz baixa, e da qual lembraremos somente o
"Memento" pelos vivos: "Lembrai-vos, Senhor, de vossos servos e
servas N. N. ..... e de todos os circunstantes, cuja fé e devoção vos são
conhecidas, pelos quais vos oferecemos este sacrifício de louvor, por eles e
por todos os seus, pela redenção de suas almas, pela esperança de sua salvação
e incolumidade, e vos tributam os votos, a vós, eterno Deus, vivo e
verdadeiro".
Aprende, por estas palavras, a não te
afligir, se tua pobreza te priva de mandar celebrar Missas. Aquela que ouves é
oferecida em tua intenção pelo sacerdote que aplica o mérito também a ti e aos
teus, segundo tua piedade e teu desejo.
O sacerdote continua: "Nós, que participamos
duma mesma comunhão, honramos, em primeiro lugar, a memória da gloriosa sempre
Virgem Maria, Mãe de Jesus Cristo, nosso Senhor e Deus, e a dos Bem-aventurados
Apóstolos e Mártires, Pedro e Paulo... e todos os Santos; pedimos que nos
concedais, pelos seus merecimentos e rogos, que, em todas as cousas, sejamos
defendidos pelo auxílio de vossa proteção. Por Cristo, Nosso Senhor.
Amém".
As mãos estendidas sobre a oferta, o
sacerdote prossegue ainda: "Por isso vos pedimos, Senhor, que recebais,
favoravelmente, esta nossa oferta, e de toda a Igreja; e que, enquanto
vivermos, gozemos de vossa paz e, depois, sejamos livres da eterna condenação e
contados entre o número de vossos escolhidos. Por Jesus Cristo Nosso Senhor.
Amém".
Depois da "elevação", diz: "Portanto,
Senhor, nós, teus servos e teu povo santo, lembrando-nos da Paixão de Cristo,
teu Filho e Senhor nosso, de sua Ressurreição saindo vitorioso do sepulcro, e
de sua gloriosa Ascensão aos céus; oferecemos à tua gloriosa Majestade, de teus
mesmos dons e dádivas, a Hóstia pura, a Hóstia santa, a Hóstia imaculada, o Pão
santo da vida eterna, e o Cálice da salvação perpétua. Sobre estes dons te
dignes lançar um olhar favorável e recebê-los benignamente, assim como
recebestes as ofertas do justo Abel, teu servo, e o sacrifício de nosso
patriarca Abraão, e o que te ofereceu o sumo sacerdote Melquisedec, santo
sacrifício, Hóstia imaculada".
O sacerdote faz, depois, uma profunda
reverência, humilhando-se diante de Deus, e continua: "Ó Deus onipotente,
nós te suplicamos, com humildade profunda, que mandes levar estes dons pelas
mãos de teu santo Anjo, a teu sublime altar, na presença de tua divina
Majestade, para que todos nós que, participando deste altar, recebamos o
sacrossanto Corpo e Sangue de teu Filho, fiquemos cheios de toda a graça e
bênção celestial. Pelo mesmo Cristo, Nosso Senhor. Amém".
Ao "Memento" dos defuntos, o
sacerdote ora, em primeiro lugar, por todos os fiéis defuntos, depois por todos
aqueles em cuja intenção celebra ou que lhe foram recomendados, e acrescenta:
"E também a nós pecadores, que esperamos na multidão de tuas
misericórdias, te dignes dar alguma parte e sociedade com teus santos Apóstolos
e Mártires: com João, Estevão, Matias, Barnabé, Inácio, Alexandre, Marcelino,
Pedro, Felicidade, Perpétua, Águeda, Lúcia, Cecília, Anastácia, e com todos os
santos, em cuja companhia te rogamos nos admitas generoso, não considerando
nossos méritos, mas a tua indulgência. Por Cristo, Nosso Senhor. Amém".
Em seguida, reza o "Padre-Nosso"
por si, e acrescenta: "Livrai-nos, te rogamos, Senhor, de todos os males
passados, presentes e futuros e, pela intercessão da gloriosa sempre Virgem
Maria e de teus Bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, de André e de todos os
Santos, dá-nos benigno a paz em nossos dias; para que, ajudados com o socorro
de tua misericórdia, vivamos sempre livres do pecado e seguros de toda a
perturbação. Pelo mesmo Senhor nosso, teu Filho Jesus Cristo, que contigo vive
e reina em unidade com o Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
Amém".
Depois faz a fração da sagrada Hóstia,
dizendo: "Esta mistura e consagração do Corpo e Sangue de Nosso Senhor
Jesus Cristo, aproveite-nos para a vida eterna. Amém". - Inclinando-se
então profundamente, diz três vezes: "Cordeiro de Deus, que tirais os
pecados do mundo, tende piedade de nós ... dai-nos a paz".
Depois da "Comunhão", seguem-se
algumas orações que o sacerdote reza por si, mas, antes de abençoar os fiéis,
diz ainda: "Agradável vos seja, Santíssima Trindade, o obséquio de minha servidão,
fazei que este Sacrifício, que eu, indigno, Vos ofereci, aos olhos de vossa
Majestade, seja aceito por Vós, e por vossa misericórdia se torne propiciatório
para mim e todos aqueles por quem o ofereci. Por Cristo Nosso Senhor.
Amém".
Enfim, o sacerdote te abençoa em nome de
Jesus Cristo e de sua Igreja para que estejas preservado do mal durante o dia.
Eis as orações que o ministro de Deus diz
em teu favor. Simples na aparência, têm, todavia, uma maravilhosa eficácia,
pois são inspiradas pelo divino Espírito Santo, compostas e sancionadas pela
santa Igreja. O sacerdote não as diz em seu nome, porém em nome de Jesus Cristo
e de toda a cristandade, da qual é o representante. Com efeito, a santa Igreja,
isto é, todos os fiéis enviam o sacerdote como seu representante ao altar e o
encarregam de seus pedidos, para que os exponha a Deus, durante a santa Missa,
e trate da felicidade eterna e temporal de todos os fiéis e, em particular
também, da libertação das almas do purgatório. As palavras deste sublime entretenimento
acham-se ditadas e encerradas no missal pela própria Igreja; de maneira que,
quando o sacerdote chega ao altar e se apresenta diante da divina Majestade,
Deus não o considera mais como pecador, porém como embaixador da Igreja, como
representante de seu Filho, do qual traz as vestes e as insígnias, e em nome do
qual pronuncia as palavras da consagração: "Isto é o meu Corpo, isto é o
meu Sangue". Nestas condições, sua oração vale junto a Deus tanto como a
oração do próprio Jesus. E não somente ora o sacerdote, mas oferece também um
dom, uma jóia de valor infinito: o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo. Este dom,
Deus não o pode repelir, nem recusar ao sacerdote os piedosos pedidos. Unamos,
pois, nossa fraca oração à do sacerdote e assim tornar-se-á mais eficaz, mais
nobre e obterá o que nunca obteríamos sozinhos.
Talvez perguntes: Todas as santas Missas
são igualmente boas? - Antes de responder, dizemos que deves bem distinguir
entre o sacrifício e a piedade de quem o oferece. O sacrifício, sem dúvida, é
igualmente santo e agradável a Deus, tanto do bom como do mau sacerdote, pois
quem é oferecido, em todas as Missas, é o próprio Jesus Cristo. A celebração,
isto é, a recitação das orações na santa Missa, porém, não é igualmente
agradável a Deus em todas as Missas. Neste sentido, o maior ou menor agrado
depende do fervor e da devoção do celebrante. O sacerdote bem o sabe e, por
isso, pede em cada Missa, freqüentemente, a Deus as suas graças, e aos
assistentes, que o ajudem com as orações, a fim de que seu sacrifício seja
agradável a Deus onipotente. É o sentido do "Orate fratres":
"Orai, irmãos", diz o sacerdote voltando-se para o povo, "para
que o vosso sacrifício e o meu seja agradável a Deus onipotente".
São Boaventura escreve: "Todas as
Missas são igualmente boas no que diz respeito ao divino Salvador, com relação
ao celebrante, porém, há Missas melhores e menos boas".
O cardeal Bona acentua este pensamento,
quando diz: "Quanto mais santo e agradável a Deus for o sacerdote, tanto
mais agradável será o acolhimento reservado à sua oração e ao seu sacrifício e
mais útil a sua Missa, porque se dá com a santa Missa o mesmo que se dá com as
outras obras pias: os frutos obtidos são proporcionais ao fervor".
É certo que os Anjos estão presentes à
santa Missa. A Igreja o afirma. O profeta real assim cantou: "Ordenou a
seus Anjos que te guardem em todos os teus caminhos". Segue-se que os
Anjos nos acompanham os passos. Quando, porém, nos dirigimos para o altar do
Senhor, é, com mais alegria e maior satisfação, que desempenham o ofício,
afugentando os maus espíritos que querem perturbar-nos a devoção, impondo-lhes
silêncio ao cochichar dissipado que chamamos distrações. Há, pelo menos, o
mesmo número de Anjos presentes à santa Missa quanto de pessoas, visto que cada
assistente tem seu Anjo da guarda, ajudando-o a orar e adorar a Jesus Cristo
sobre o altar. Pede, pois, ao teu que ouça a santa Missa por ti e contigo, e
sua oração inflamada suprirá as misérias da tua.
Além dos Anjos da guarda, príncipes da
milícia celeste estão, igualmente, presentes no altar, porque ao Rei dos Anjos,
descendo do céu, em pessoa, convém que seus ministros rodeiem e lhe prestem
homenagens.
Assistindo à santa Missa, podemos, pois,
dizer a Deus com o rei David: "Adorar-vos-ei, em vosso santo tabernáculo,
cantarei vossos louvores, na presença dos espíritos celestes, e bendirei vosso
santo nome" (Sal. 137). Está, portanto, ajoelhado no meio destes espíritos
puros que ouvem a santa Missa contigo e oram, ardentemente, por tua salvação.
"Lembra-te, ó homem, diz São João
Crisóstomo, junto de quem te achas, durante este misterioso Sacrifício. Estás
entre Querubins e Serafins, entre as Potências celestes. Comporta-te, pois, de
modo a não entristecê-los com a tua impiedade, pelo contrário, regozija-os com
o teu fervor".
Quando o sacerdote celebra o sublime e
temível Sacrifício, os Anjos assistem-no e, com coro, elevam a voz para cantar
a glória daquele que se imola sobre o altar. Neste momento, não oram somente os
homens, mas os próprios Anjos dobram os joelhos ante Deus e intercedem por nós,
e esta oração dos Anjos, é mais poderosa do que a nossa. É o tempo propício,
pois o santo Sacrifício está ao dispor destas potências celestes. Entretanto,
unidos os nossos rogos aos dos Anjos, os nossos pedidos atravessam as nuvens e
são mais facilmente ouvidos do que se tivéssemos orando em casa, sozinhos.
Os Anjos não somente estão presentes à
santa Missa, como também oferecem ao Altíssimo o santo Sacrifício e as nossas
orações. São João viu-os nesta sublime função e no-lo refere assim: "Veio,
então, o Anjo e pôs-se ante o altar, trazendo um turíbulo de ouro; lhe foram
dados muitos perfumes, a fim de que fizesse a oferta das orações de todos os
Santos sobre o altar de ouro, que está diante do trono de Deus. E a fumaça dos
perfumes, emanados das orações dos Santos, subiu da mão do Anjo até a presença
de Deus" (Apoc. 8, 3 e 4).
Assim os Anjos apressam-se em recolher-te
as orações durante a santa Missa, para leva-las ao céu e espalhá-las como
perfume, em presença de Deus. E, se estas orações são unidas às de Jesus Cristo
e às dos Anjos, seu perfume é infinitamente agradável à divina Majestade e tem
uma eficácia muito maior, que todas as orações feitas fora da santa Missa. Novo
motivo, pois, para assistires, todos os dias, ao santo sacrifício, onde tão
poderosos Anjos te esperam e transmitem-te os votos a Deus, vivificando-os com
os seus santos ardores.
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