XVII. A SANTA MISSA É A OBRA MAIS
EXCELENTE DO ESPÍRITO SANTO
Quase em cada página deste livro,
entrevimos alguma relação da santa Missa com Deus Pai e Deus Filho. Estudemos
agora a parte que toma a terceira Pessoa divina no santo Sacrifício.
Os dons e graças, com que o Espírito Santo
cumula a Igreja e a alma cristã, são inumeráveis: não há língua que possa
especificá-los. O Espírito Santo é amor e misericórdia: aplica-se,
continuadamente, em acalmar a Justiça divina e em preservar os pecadores da
condenação eterna. É quem começou e há de acabar a obra de nossa santificação.
Começou-a, quando, por sua operação, o Verbo divino se fez carne no seio
imaculado de Maria Santíssima, que a alma de Jesus Cristo uniu a seu corpo, a
divindade à humanidade. Terminou-a, comunicando-se, no dia de Pentecostes, aos
apóstolos e discípulos, e pela conversão das almas que ficaram insensíveis ao
espetáculo de Cristo moribundo. Hoje, este mesmo Espírito habita no coração dos
verdadeiros fiéis. Não abandona, inteiramente, aqueles que o ofendem, mas
fica-lhes à porta do coração e esforça-se para reconquistá-los.
Esta operação à redenção, quem não chamará
uma obra grande e magnífica? Não obstante mantemos o título do presente
capítulo e dizemos: a santa Missa é a obra mais excelente do Espírito Santo.
Todos os teólogos consideram o mistério da
Encarnação, isto é, a união da divindade com a humanidade em uma pessoa, como a
maior das maravilhas. Esta maravilha, como todas as obras exteriores de Deus, é
comum às três Pessoas divinas. A santa Igreja, porém, e o ensino dos santos
Padres, atribuem-na, com especialidade, ao divino Espírito Santo, a quem se
deve atribuir, com maioria de razão, a obra prima do amor.
Apesar disso, o milagre que se efetua
sobre o altar ultrapassa o primeiro, porque o Homem-Deus aí se aniquila até
ocultar-se na menor partícula da Hóstia sagrada. Ora, na liturgia de São Tiago,
lê-se, expressamente, antes da fórmula da consagração: "Mandai, Senhor,
sobre estes dons, o Verificador, o Divino, o Eterno, que, um convosco, Deus
Pai, e com o vosso Filho único, reina, a fim de que, por sua santa, salutar e
gloriosa presença, este pão seja santificado e transubstanciado no Corpo, e
este vinho, no Sangue precioso do vosso Cristo".
Oração semelhante encontra-se na liturgia
de São João Crisóstomo: "Abençoai, Senhor, este pão, mudai-o no Corpo
adorável do vosso Cristo. Abençoai o santo cálice e transformai, pelo Espírito
Santo, o que contém, no precioso Sangue de Cristo".
Nos primeiros missais, a transubstanciação
é sempre atribuída ao Espírito Santo, que se invoca, que se chama para efetuar
esta obra, como efetuou a obra da Encarnação, segundo a palavra do Anjo Gabriel
dirigida a Maria Santíssima: "O Espírito Santo descerá sobre ti e a
virtude do Altíssimo te cobrirá de sua sombra" (Lc. 1, 35). O sacerdote indica
esta participação da terceira Pessoa divina, quando, erguendo os braços,
suplica-lhe que desça do céu, dizendo: "Vinde, Santificador onipotente,
Deus eterno, e abençoai este sacrifício preparado em honra de vosso santo
nome" (Missal Romano: Ofertório).
Santo Ambrósio ora da mesma maneira antes
da Missa: "Fazei, Senhor, que a invisível Majestade de vosso Santo
Espírito desça sobre ele, como desceu, outrora, sobre as vítimas dos nossos
antepassados". Esta descida do Espírito Santo é claramente descrita por
Santa Hildegardes: "Enquanto o sacerdote, diz ela, ornado de vestes
sacerdotais, caminhava para o altar, vi descer do céu uma claridade
deslumbrante que cercou o altar, durante a celebração da Missa. Ao
"Sanctus" uma chama muito forte caiu sobre o pão e o vinho,
penetrando-os como os raios do sol penetram o vidro. Entretanto, elevou as duas
espécies ao céu para trazê-las em breve; não houve mais então senão a Carne e o
Sangue de Jesus Cristo, se bem que permanecessem, aparentemente, o pão e o
vinho. Enquanto considerava as santas espécies, vi passar, diante de meus
olhos, tais quais se cumpriram na terra, a Encarnação, o Nascimento, a Paixão e
Morte do Filho de Deus.
O antigo Testamento possuía duas belas
figuras deste mistério; uma, o sacrifício de Arão: "A glória do Senhor,
diz a Sagrada Escritura, apareceu a toda a assembléia do povo e um fogo que
saiu, devorou o holocausto e as gorduras que estavam sobre o altar, e o povo,
vendo-o, louvou ao Senhor, prostrando-se com o rosto em terra" (Lev. 1,
23).
A outra se realizou na consagração do
templo: "Salomão, ao acabar a prece, viu o fogo descer do céu e consumir
os holocaustos e as vítimas, e a Majestade de Deus encheu toda a casa. Os
filhos de Israel, vendo descer o fogo e a glória do Senhor, sobre esse Templo,
prostravam-se, a face em terra, adorando e louvando o Altíssimo, e diziam:
"Quanto é bom o Senhor! sua misericórdia é eterna" (II Paralip. 7, 1
e 3).
Compreendes bem, agora, a infinita bondade
do Espírito Santo? Não é uma prece que dirige por nós a Deus Padre, são gemidos
inenarráveis. Confia, pois, em um amigo tão fiel, retribuindo-lhe, e visto que
ora por ti, sobretudo na santa Missa, assiste-a, algumas vezes, também em sua
honra e em ação de graças por seus benefícios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário