XXIX. QUE DEVOÇÃO SE DEVE PRATICAR DURANTE
A ELEVAÇÃO
Imediatamente depois da consagração, o
sacerdote procede à elevação das santas espécies, cerimônia sublime, prescrita
pela santa Igreja, para que o povo possa gozar e aproveitar, mais
perfeitamente, da presença real do divino Salvador. É desta elevação e da
devoção que, durante ela, se deve praticar, que queremos tratar neste capítulo.
Oh! que júbilo pra o céu! Que fonte de
salvação para a terra! Que refrigério para as almas do purgatório! Que terror
para o inferno! Nesta elevação, se oferece o dom mais precioso que possa ser
apresentado ao Altíssimo! Sabes sob que forma a santa humanidade de Jesus é
oferecida a seu Pai, pelas mãos do sacerdote? Esta humanidade que é a imagem,
muito perfeita, da Santíssima Trindade, jóia única dos tesouros celestes e
terrestres.
É oferecida debaixo de várias formas,
porque entre as mãos do sacerdote, o Verbo encarna-se novamente, nasce de novo
e sofre a Paixão; o suor de sangue, a flagelação, a coroação de espinhos, a
crucificação, a morte... oh, que emoção para o coração do Pai eterno, durante
esta elevação de seu Filho predileto!
Entretanto, o sacerdote não é o único a
expor Jesus Cristo aos olhos de seu Pai, o próprio Salvador se expõe: "À
elevação, vi Jesus Cristo apresentar-se a seu Pai e oferecer-se de uma maneira
que ultrapassa toda a compreensão", refere Santa Gertrudes no seu
"Livro das Revelações". Mas, se não podemos fazer idéia deste
encontro do Pai com o Filho, a fé deve nos levar a uma oração muito mais
fervorosa no momento em que se realiza".
São Boaventura convida o sacerdote e os
fiéis a dizerem então, ao Pai celeste: "Vede, ó Pai eterno, vede vosso
Filho, que o mundo inteiro não pode conter e tornou-se nosso prisioneiro. Não o
deixaremos ir sem que nos tenhais concedido o que vos pedimos em seu nome: o
perdão de nossos pecados, o aumento da graça, a riqueza das virtudes e alegria
da vida eterna".
O sacerdote, ao mostrar a sagrada Hóstia,
poderia ainda dizer ao povo: "Eis cristãos, vosso divino Salvador, vosso
Redentor. Olhai-o com fé viva e derramai vossos corações diante dele em
ardentes súplicas. Bem-aventurados os olhos que vêem o que contemplais!
Bem-aventurados os que crêem, firmemente, na presença de Jesus Cristo, nesta
santa Hóstia!" Se adoras assim, asseguras a salvação de tua alma, e
poderás repetir com o patriarca Jacó: "Vi a Deus face a face, a minha alma
foi salva" (Gen. 32, 30).
À elevação, todo o povo deve levantar os
olhos para o altar e olhar, com piedade, o Santíssimo Sacramento. Jesus Cristo
revelou a Santa Gertrudes quanto é útil à alma esta prática. "Cada vez,
escreve ela, que olharmos para o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo, oculto no
Sacramento do Altar, aumentamos o grau de nosso mérito para o céu, o prazer, o
gozo da vida eterna". Não te inclines, pois, tão profundamente à elevação
que te seja impossível ver a sagrada Hóstia.
A santa Igreja também não o deseja; ela
prescreve ao sacerdote levantar as santas espécies, alguns instantes, acima da
cabeça, a fim de que o povo possa vê-las e adora-las. A eficácia deste olhar
para o divino Salvador foi figurada no antigo Testamento: "Ao povo de
Israel, que tinha murmurado contra o Senhor e contra Moisés, mandou o Senhor
cobras, cujas mordedura queimavam como fogo. Muitos, tendo sido feridos, foram
ter com Moisés, dizendo: "Pecamos; roga ao Senhor para que nos livre
destas serpentes". Moisés fez uma serpente de bronze, colocou-a como
sinal, e os que, sendo feridos, olhavam para ela, ficaram curados" (Num.
21, 8).
O santo Evangelho vê, neste fato, um
símbolo tocante de Cristo, porque diz: "Como Moisés levantou a serpente no
deserto, assim o Filho do homem deve ser levantado sobre a cruz" (Jo. 3,
14). Se a imagem da serpente de bronze tinha a virtude de curar os israelitas e
de preservá-los da morte, com maior de razão, a piedosa contemplação do próprio
Jesus curará as almas feridas, aflitas e desanimadas.
A fim de tornar muito eficaz este olhar
para o divino Salvador, faze atos de fé em sua presença real e no Sacrifício
que ele oferece a seu Pai celeste, por nós, pobres pecadores. Estes atos de fé
valer-te-ão uma insigne recompensa. "Bem-aventurados os que não viram e
creram" (Jo. 20, 29). Estas palavras podem bem se aplicar àqueles que têm
uma fé viva na presença real de Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento.
Tendo adorado a Santa Hóstia, faze dela
oferta ao Rei celeste. Já expusemos a virtude deste ato; acrescentamos somente
a seguinte palavra da Santa Gertrudes: "A oblação da sagrada Hóstia é a
mais eficaz satisfação por nossas culpas". Com isso quer dizer que, pobres
pecadores como somos, devemos concentrar todas as forças de nossa alma, para
oferecer a Deus a Hóstia santa, a fim de obter-lhe o perdão e a misericórdia.
À elevação da santa Hóstia, sucede a do
Cálice sagrado, cerimônia igualmente significativa. É então que o precioso
Sangue corre, de maneira mística, sobre os circunstantes, como se vê das
palavras do missal: "Isto é o Cálice de meu Sangue, do novo e eterno
Testamento: mistério da fé que será derramado por vós e por muitos, para o
perdão dos pecados". Neste momento, recebes a mesma graça como se
estivesses, cheio de arrependimento, debaixo da Cruz no Calvário e o precioso
Sangue te inundasse.
Deus disse, no Antigo Testamento, ao povo
de Israel: "Imolai um cordeiro e marcai, com seu sangue, as portas e os
portais; e o Anjo exterminador passará a porta de vossa casa, quando vir este
sangue" (Ex. 12, 22). Se o sangue do cordeiro pascoal preservou os
israelitas dos golpes do Anjo exterminador, mais poderosamente, o Sangue do
Cordeiro sem mancha nos protegerá contra a raiva do anjo das trevas que, como
um leão rugidor, anda em redor de nós, procurando a quem possa devorar.
Vejamos ainda o que devemos fazer depois
da elevação do Cálice. Muitas pessoas têm o costume de rezar então cinco
Padre-Nossos em honra das cinco chagas; excelente prática, porém muito mal
colocada. Outros que se sobrecarregam de orações, continuam a fazê-las. Seria,
infinitamente, melhor fazer o que faz o sacerdote; pois, o Sacrifício nos
pertence tanto quanto a ele. Apesar das ofertas reiteradas antes da elevação, o
sacerdote continua a oferecer depois. Nada aliás poderíamos fazer mais agradável
a Deus. É por isso que o sacerdote diz, depois de ter posto o Cálice sobre o
altar: Por esta razão, Senhor, nós, vossos servos, mas também vosso povo
santo... oferecemos à vossa augusta Majestade de vossos dons e dádivas, a
Hóstia pura, a Hóstia santa, a Hóstia imaculada, o Pão santo da vida eterna e o
Cálice da salvação perpétua".
Sanchez diz destas palavras: "Em toda
a Missa, o sacerdote não pronuncia palavras mais consoladoras; pois, nem ele
nem o povo poderiam fazer cousa melhor do que oferecer a Deus o augusto
Sacrifício". Compreende, portanto, como prejudicas a teus interesses,
substituindo esta preciosa oferta por tuas pobres e tíbias orações.
Criaturas indigentes que somos,
desprovidos de méritos e virtudes, como não nos apoderaríamos, avidamente, de
imenso tesouro que podemos apresentar, como sucesso, ao Pai celestial? E este
tesouro, Deus no-lo dá em cada Missa, e, com ele, nos entrega todas as suas
riquezas, para que as empreguemos em saldar nossas dívidas. Oferece, pois, a
santa Missa, oferece-a ainda, oferece-a sempre.
As pessoas que não sabem ler os excelentes
métodos de oferecer o santo Sacrifício, contido nos formulários de orações,
podem decorar a oração seguinte:
Meu Deus, eu vos ofereço esta Santa Missa;
ofereço-vos vosso caro Filho, sua encarnação, seu nascimento, sua dolorosa
paixão; ofereço-vos seu suor de sangue, sua flagelação, sua coroação de
espinhos, sua via sacra, sua crucificação, sua morte, seu precioso Sangue.
Ofereço-vos, para vossa maior glória e a salvação de minha alma, tudo quanto
vosso caro Filho fez, padeceu, mereceu, e todos os Mistérios que ele renova
nesta santa Missa. Amém.
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