29 de março de 2015

Essência do Santo Sacrifício da Missa - Explicação da Santa Missa 28

XXVIII. EXORTAÇÃO PARA OUVIR PIEDOSAMENTE A SANTA MISSA

Quanto não se aflige a Igreja, por ver tantos filhos assistirem, sem piedade, ao santo Sacrifício! Ocupam-se os fiéis, não raras vezes, com o que se passa ao redor, porém, não do que se realiza no altar; observam quem entra e quem sai; oram somente com os lábios, sem que o coração tome parte. Eis seu proceder na presença de Deus três vezes santo! Perguntamos se lhes existe ainda uma faísca de fé na alma e se merecem o nome de católicos. Oh! quanto nos dói o coração à vista de tão culpada irreverência, no momento em que tudo nos convida à mais ardente piedade.
A Igreja católica impõe o respeito para a santa Missa, por estas palavras: "Reconhecer que os cristãos não podem cumprir obra mais santa, mais divina que este assombroso mistério é também reconhecer que não se pode pôr cuidados e diligência suficientes para desempenhá-lo com pureza de coração, com piedade e edificação (Concílio de Trento). Não é necessário, para isso, experimentar uma devoção sensível; basta a vontade firme de assistir atenta e respeitosamente.
A verdadeira piedade, com efeito, não consiste na doçura interior, mas no fiel serviço de Deus.
A piedade ou devoção consiste, segundo todos os mestres da vida espiritual, numa vontade pronta e generosa de fazer tudo quanto Deus quer, e sofrer corajosamente tudo quanto quer que soframos. As doçuras e as consolações sensíveis não são, pois, a devoção, mais um estímulo para a devoção que o Senhor concede conforme nossas necessidades e sua sabedoria. O espírito de fé está sempre ao nosso dispor e podemos, agindo segundo esta fé, servir a Deus com inteira fidelidade e ser do número dos justos que vivem da fé.
Se não tivesses desejo algum e não fizesses nenhum esforço para sair de tua indiferença, então somente, haveria culpa e te privarias de muitos méritos. A este respeito lembrar-te-emos das palavras de Nosso Senhor à Santa Gertrudes.
Esforçando-se, uma vez, em unir alguma intenção particular a cada nota e cada palavra de seu canto, e, sentindo que se achava, muitas vezes, impedida pela fraqueza de sua natureza, dizia no interior, com muita tristeza: "Ah que fruto posso tirar deste exercício visto que sou sujeita a tão grande mudança?". Nosso Senhor, porém, apresentou-lhe nas mãos o Sagrado Coração sob o emblema duma lâmpada ardente, dizendo: "Eis que exponho, aos olhos de tua alma, meu Coração caridoso que é o órgão da Santíssima Trindade, a fim de que lhe peças, com confiança, que faça em ti tudo o que não serias capaz de operar, e desta sorte, eu nada veja, aí, que não seja extremamente perfeito; pois, da mesma maneira que um servo está sempre prestes a executar as ordens de seu amo, assim meu Coração será sempre disposto, em qualquer hora, a reparar os efeitos de tua negligência" (Líber III, c. 25). Santa Gertrudes admirava, tremendo, o excesso da bondade do divino Salvador, julgou, porém, que seria inconveniente que o Coração adorável de seu Deus suprisse os defeitos de sua criatura. Mas o Senhor animou-a com esta comparação: "Não é verdade que, se tivesses uma bela voz e achasses extremo prazer em cantar, encontrando-te com uma pessoa que tivesse a voz tão áspera, tão desagradável e desafinada que sentisse muita pena em pronunciar e em formar os menores sons, acharias mal que, oferecendo-te para cantar, ela não to quisesse permitir? Assim, meu Coração divino, reconhecendo a inconstância e a fragilidade da natureza humana, deseja com ardor que o convides, senão por palavras, pelo menos por outro sinal, a operar e cumprir em ti o que não és capaz de operares e cumprires".
Oh que palavras de animação e conforto! Estás distraído à santa Missa? Desprovido de piedade? Vai a Jesus, dizendo-lhe: "Deploro amargamente estar tão distraído e rogo a vosso divino Coração que se digne suprir a minha negligência".
Para ajudar a tua boa vontade, indicar-te-emos também a maneira de te comportares na santa Missa. Primeiro, indo à igreja, considera aonde vais e o que vais fazer. Não subas ao templo como o fariseu e o publicano para orar somente, mas entras aí para "oferecer", segundo a palavra de David: "Senhor, sou vosso servo, oferecer-vos-ei uma hóstia de louvor e invocarei vosso santo nome" (Sl. 115).
Entras aí para prestar a Deus o culto mais perfeito, para apresentar a oferta que lhe é mais cara. "A audição da santa Missa, diz um escritor eclesiástico, não é somente uma oração, é um ato de adoração, é uma oferta, um sacrifício divino, visto que todos os assistentes bem dispostos unem-se à ação e às intenções do sacerdote". O mesmo autor explica então o sentido da palavra "sacrificar" e diz que a ação mais excelente, é praticar a mais alta virtude, porque, sacrificando, atestamos a soberania de Deus, seu direito de ser, infinitamente, honrado e glorificado; confessarmos, ao mesmo tempo, nossa dependência absoluta como criaturas, das quais pode dispor à vontade. É por isso que o Sacrifício é o ato de religião mais agradável ao Senhor, e o mais útil aos homens.
Penetrado destas verdades, chega ao pé do altar; formula aí a intenção de ouvir a santa Missa. Tens algumas orações particulares que fazer? Faze-as até a consagração. A elevação, não te ocupes senão com Nosso Senhor: adora-o, oferece-o a seu Pai eterno, expondo-lhe tuas necessidades. Há pessoas que têm escrúpulo de renunciar a suas orações quotidianas pelas da santa Missa. É um erro. Tuas orações quotidianas, comparadas com as da santa Missa, são tão inferiores como o cobre é inferior ao ouro. Além disso, estas orações podem fazer-se em outro tempo que não seja à hora da Missa, ao passo que não podes dizer as da Missa, tão utilmente, em outro tempo como quando o santo Sacrifício se efetua; e, se te acontecesse não achar um momento para desempenhar estas devoções particulares, esta omissão seria menos prejudicial que a primeira.
Logo que o sacerdote pronunciou, no momento solene, as palavras da consagração, o pão tornou-se o Corpo de Nosso Senhor. "O homem deve tremer, diz São Francisco de Sales, o mundo estremecer, o céu inteiro ficar arrebatado, quando, sobre o altar, o Filho de Deus se entrega nas mãos do sacerdote". Oh! admirável humildade, o Mestre de todas as coisas abaixa-se, para a salvação do homem, até ocultar-se sob as aparências do pão.
Mas, porque os nossos sentidos não percebem a presença do Senhor, não lhe prestamos atenção, e, entretanto, os demônios fogem espavoridos e os Anjos tremem diante de sua face. Assim disse Jesus Cristo a Santa Brígida: "Do mesmo modo que à palavra 'Sou eu!' meus inimigos caíram por terra, às palavras da consagração 'Isto é o meu Corpo!' os demônios fogem".
A semelhança dos Anjos e dos Santos, apliquemo-nos a glorificar o Senhor sobre o altar, e a participar de seu adorável Sacrifício. É excusado dizer que, no momento da elevação, devemos deixar toda outra oração, a fim de levantar os nossos olhos para o altar e adorar, humildemente, o Cordeiro de Deus, oferecendo-o ao Pai celestial. Estes exercícios de fé e caridade devem ocupar-nos todo o tempo, até que Jesus seja consumido pela Comunhão do sacerdote.

Infelizmente, grande número de fiéis não se conforma a nenhuma destas práticas. Continuam a receitar suas orações costumeiras, dedicando-se a uma espécie de devoção rotineira, como se Nosso Senhor não estivesse presente e não fosse preciso ocupar-se dEle. Caro leitor, não procedas mais assim; no momento da consagração, cai de joelhos como o sacerdote e, repleto de fé e amor, adora aquele que se mostra a teus olhos, sob as espécies de pão e de vinho.

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