2 de março de 2015

Confessai-vos Bem - Padre Luiz Chiavarino.

Com quê freqüência?

D. — E agora, Padre, tenha a bondade de me dizer: com que freqüência é bom
chegar-se à Confissão?
M. — Com a máxima freqüência possível. Os Santos foram os primeiros a dar-nos o
exemplo, tanto que pode parecer exagero a freqüência com a qual se chegavam à Confissão.
Citarei alguns deles: São Francisco no seu regulamento de vida, escrevia: Confessar-me-
ei de dois em dois e, no máximo, cada três dias. São Vicente de Paula confessava-se duas
vezes por semana, São Felipe Néri um dia sim e outro não, e o mesmo queria que fizessem
os seus religiosos. São Vicente Ferrer, São Carlos Borromeu, Santo Inácio de Loiola, São
Luiz Bertrando, Santo André Avelino e muitos outros se confessavam diariamente.
D. — Mas, Padre, isso é exagero; talvez o fizeram por passatempo ou por escrúpulo.
M. — Nada disso. Todos eles eram trabalhadores, bem longe estavam, de se
deixarem dominar pelos escrúpulos. Faziam-no para se manterem numa grande pureza de
consciência, e para poderem gozar das inúmeras vantagens deste Sacramento.
São Leonardo de Porto Maurício, o infatigável apóstolo italiano, depois de ter tido o
belo hábito de se confessar diariamente com constância, chegando aos quarenta e dois anos,
pensou em duplicar a dose e escreveu no seu regulamento particular: "De agora em diante
confessar-me-ei duas vezes por dia, para aumentar a graça que espero tornar maior com uma
única confissão do que com muitas boas obras, de qualquer espécie".
D. — Padre, creio que aqui podemos aplicar provérbio: o apetite vem comendo!
M. — É mesmo! Quando se trata de confissão freqüente é assim mesmo. Felizes
daqueles que sentem essa fome e essa sede espiritual, enquanto que aqueles que ficarem
afastados morrerão de inanição.
D. — Diga-me, Padre, esses Santos usavam esse remédio divino só para uso próprio?
M. — Pelo contrário! Inculcavam-no constantemente nos outros, e se tornavam seus
dispenseiros generosos à custa dos maiores sacrifícios. S. Felipe Néri costumava pregar que,
se ele estivesse com um pé no Paraíso, e se alguém o chamasse para confessar, teria voltado
para ouvi-lo.
Santo Antônio pregava ao seu povo: Mesmo que eu esteja descansando venham,
batam a porta, acordem-me para que eu os possa confessar. São Francisco de Sales
interrompeu uma viagem para confessar um pobre velho. Quê direi então do Beato Sebastião
Volfré, do Beato Cafasso, São João Borco e outros tantos sacerdotes que passavam noites
inteiras no confessionário, até mesmo nos hospitais e nas prisões?
D. — Isto prova que a confissão é tudo, não é Padre?
M. — Justamente! É com isto que conseguiam sanear cidades e nações corrompidas
pelos maus costumes. É por este ministério que se distinguem os verdadeiros artífices do
Evangelho.
D. — Quanto a mim, Padre, quanto mais eu me confesso, pior eu fico... tenho sempre
mais defeitos.
M. — Isso não é verdade! São defeitos que você já tinha e não conhecia. A confissão
o ilumina para que você os deteste, os combata e os corrija. "Cada absolvição, diz-nos o
admirável Santo que foi S. Francisco de Sales, cada absolvição é um novo sol que ilumina a
câmara escura da consciência".
D. — Se assim é, todo o cristão devia chegar-se a confissão o mais possível. Todavia
não haverá uma regra para as diversas classes de pessoas?
M. — Há sim; e é esta:
Para viver uma "vida cristã" basta confessar-se tantas vezes quantas forem
necessárias para evitar o pecado mortal, porque com o pecado mortal, nossa alma está morta,
e não somos filhos nem apóstolos de Jesus. Para levar uma vida piedosa, o mínimo que podemos
fazer é ao menos uma confissão por mês, digo ao menos porque, podendo, seria
preferível que nos confessássemos mais a miúdo, não deveríamos conciliar uma devoção
sincera com a negligência de um tal meio de santificação. Para almas realmente fervorosas,
que aspiram a uma união íntima com Deus, é indispensável a Confissão semanal, pois que a
confissão é não só o remédio, mas também um fortificante, e precisamos freqüentá-la com
curtos intervalos de tempo, afim de que o seu efeito não sofra interrupções.
D. — Padre, o que vem a ser essa união íntima com Deus?
M. — É o que os teólogos chamam de "vida íntima", o Santo Vianney, cura de Ars, a
descreve assim: "A vida interior é um banho de amor no Sangue de Jesus Cristo no qual a
alma mergulha e fica como afogada. Deus sustém estas almas como uma mãe sustém a
cabeça de seu filho entre as mãos para cobri-la de beijos e carícias".
D. — Como são felizes essas almas! E a confissão semanal é necessária para elas?
M. — É, e não devemos deixá-la por negligência porque todos os outros meios não
seriam bastantes sem constância na confissão.
D. — Padre, não seria bom se nos confessássemos até mais de uma vez por semana,
como os Santos?
M. — Tratando-se de sacerdotes, respondo afirmativamente, segundo o conselho e a
prática dos Santos. Sendo eles os dispenseiros quotidianos do Sangue de Jesus Cristo na
confissão, quem ousaria limitar-lhes o uso?
Tratando-se de outras pessoas, contanto que não estejam em estado de pecado mortal,
a melhor regra é a de se confessarem uma vez por semana.
D. — Por quê?
M. — Porque uma longa experiência nos mostrou de perto que, salvo poucas
exceções, a confissão mais freqüente que de oito em oito dias, principalmente quando se trata
de mulheres, não forma almas santas, ruas as torna escrupulosas e egoístas. Quem sentir
maior desejo de absolvição recorra à absolvição espiritual.
D. — Absolvição espiritual?!... Eu nunca ouvi falar nisso, Padre.
M. — Entretanto, assim como há a Comunhão espiritual há também a absolvição
espiritual. Nem isso deve causar-lhe admiração: se a "contrição perfeita" com o desejo da
confissão, é capaz de cancelar da nossa alma os pecados mortais, também pode certamente
produzir o mesmo efeito com os veniais.
D. — Assim, não é só uma absolvição por semana que podemos obter, mas quantas
quisermos, mesmo mais de uma por dia?
M. — Justamente!
D. — Mas, se estivermos em estado de pecado mortal e se houver possibilidade de
nos confessarmos?
M. — Então vão se confessar quantas vezes for necessário, e o mais cedo possível,
quanto a mim, devo dizer que sempre me arrependi todas as vezes que adiei a confissão. Até
bom que ponham em prática a conselho de São Felipe Néri e do seu digno imitador D.
Bosco: "Nunca te vás deitar para dormir com um pecado mortal na alma".
Monsenhor de Ségur conta que um menino tinha justamente prometido a Jesus que
nunca haveria de ir dormir com pecado na alma. Ora, aconteceu que, tendo ele um dia
cometido um pecado, quis cumprir a promessa. Apesar de ser já noite, criou coragem, foi
confessar-se e voltou agradecendo a Deus de coração pelo que fizera. Bom para ele Assim
que se deitou adormeceu e, dormindo sonhou com Jesus e Maria Santíssima; ouviu as
melodias celestiais e voou, voou pelo espaço infinito do Paraíso. De manhã, sua mãe, vendo
que ele demorava muito para se levantar, foi acordá-lo; chamou-o e ele não respondeu,
sacudiu-o e ele não se mexeu. Estava morto! E, no seu rosto, cândido como um lírio brilhava
a auréola dos santos!
D. — Feliz criança! A confissão livrou-a do pecado e do inferno.
M. — Justamente! Podemos pois chegar à conclusão de que, se a confissão é muitas
vezes penosa, o seu fruto é sempre doce e suave, que a inocência, a castidade, a felicidade, o
dever, a vida cristã e por conseguinte a verdadeira alegria e a paz, são frutos da confissão
freqüente; que da mão direita do confessor, derivam sempre vantagens infinitas; que ela é um
meio poderoso de educação e que podemos temer tudo da parte de quem não se confessa.
Um ministro inglês, desejando conhecer Dom Bosco, do qual tanto ouvia falar, e,
para aprender o seu método de educação, foi para Turim e pediu licença para visitar o
Oratório Salesiano, Dom Bosco acolheu-o com benevolência e acompanhou-o na visita
daquela casa enorme. A maravilha do ministro aumentava à medida que atravessava
laboratórios e repartições, e ele elogiava a ordem e a disciplina perfeita que ali reinava. Mas
quando foi introduzido na sala enorme, onde estudavam, com a máxima seriedade, e no meio
do mais perfeito silêncio, mais de quinhentos jovens, vigiados somente por dois seminaristas,
a surpresa transformou-se em estupor e, virando-se para D. Bosco exclamou:
— Senhor Abade, não sabe que isto é um espetáculo magnífico? Diga-me, por favor,
qual é o seu segredo para obter tanto silêncio e tanta disciplina?
— Senhor Ministro, respondeu Dom Bosco, o meu segredo não serve para os
senhores. — E por quê?
— Porque pertence aos católicos, e os senhores são protestantes. O meu segredo é a
confissão freqüente e semanal.
— Sendo assim, falta-nos realmente esse poderoso meio de educação; mas não o
poderíamos suprir por outros?
— Eh! não! Quando não se usa esse elemento de religião, é preciso recorrer à
bengala. — Então, Padre, ou bem a religião, ou bem a bengala?
— Sim, ou religião ou bengala.
— Muito bem, muito bem! Ou religião, ou bengala: compreendo, quero contar isso
em Londres.
Ângelo Brofferio, grande advogado e insigne poeta piemontês, tendo perdido a velha
e fiel criada, tomou a seu serviço uma moça de vinte anos, natural de Castelnuovo Calces,
sua pátria. Depois de poucos dias, a empregada chega-se ao patrão, e chorando lhe diz:
— Desculpe-me, patrão, mas eu não posso continuar trabalhando para o senhor.
— Por quê?
— Porque o senhor não é muito de Igreja e naturalmente não me deixará assistir à
Missa nos dias de festa e nem tão pouco que eu me confesse.
— E quem foi que lhe disse isso?
— Todos o dizem, fornecedores e inquilinos.
— Pois bem, você ficará trabalhando aqui e irá a missa todas as manhãs e irá
confessar-se todos os domingos, porque acho que tudo se pode esperar de quem se confessa.
D. — Então, Padre, mesmo os que não são católicos praticantes acreditam na
confissão e a exaltam?
M. — É justamente o que acontece!
D. — Mas por quê não fazem uso dela então?
M. — Porque têm medo de serem vencidos por ela. Eles sabem muito bem que a
confissão é a varinha mágica, o anel encantado que faz prodígios, sabem que seria a alavanca
poderosa que os levantaria acima dos vícios nos quais estão submersos, e justamente por isso
a exaltam, mas fogem dela.
D. — Coitados! São como os doentes que se recusam a sarar de pena de deixar o
hospital. M. — Aqui, porém, não se trata de hospital, mas do perigo, da quase certeza de uma
morte má, de um inferno eterno.
Falando nisso, lembro-me da anedota do menino teimoso:
Dois irmãozinhos foram mandados à escola para aprender a ler. O professor recebeu-os
com carinho e, começou pelo primeiro, fazendo-o repetir o alfabeto. Quando o pequeno
acabou, elogiou e lhe deu um prêmio pela lição bem recitada. Preparou-se em seguida para
fazer o mesmo com o segundo, e, com o livro na mão disse-lhe: "Vamos, agora é a sua vez".
O rapazito olhou de esguelha para o professor e não abriu a boca. “Vamos diga a, você quer
que pensem que seu irmão é mais aplicado do que você”? Será que é tão custoso dizer: a? O
menino continuou mudo. "Por favor, não me faça perder a paciência, do contrário, logo no
primeiro dia as coisas acabarão mal".
Foi tudo inútil: nem prêmios, nem ameaças, nem promessas, nem castigos,
conseguiram induzir o cabeçudo a proferir uma única sílaba. Mais tarde, quando interrogado
pelos colegas sobre a razão de teima, explicou: "Se eu disser a, tenho que dizer b e depois c e
aprender a ler, e a escrever, e depois vem a gramática e outras tantas complicações de
ciências, e essa embrulhada não acabará senão no fins de muitos anos".
D. — Ah! que espertalhão. Nem queria começar para não ter que continuar!
M. — É assim mesmo! E no nosso caso então!
Quantos são aqueles para os quais é um aborrecimento começar a viver como bons
cristãos, pela simples e única razão que, uma vez começado, é preciso continuar. E assim os
coitados, vivendo numa espécie de Paraíso aqui na terra, deverão, depois de poucos anos,
apresentar-se diante de Deus com as mãos vazias, e, o que ainda é pior, com a alma
carregada de pecados, de remorsos e talvez até de escândalos, pelos quais serão condenados
eternamente!

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