XXIV. A SANTA MISSA NÃO PREJUDICA AO
TRABALHO, ANTES O FAVORECE
Um dos principais pretextos alegados pelos
homens, para dispensar-se da santa Missa, é o trabalho. Dia e noite a ele se
entregam, lastimam a perda de tempo, se devem consagrar uma hora ao serviço de
Deus, e qualificam de preguiçosos os que encaram, de modo sobrenatural, o
emprego da vida. Que erro grosseiro é o destes insensatos!
Se encontram um amigo, quando vão para o
trabalho, param de bom grado para ouvir novidades, conversam sobre isto ou
aquilo; tratando-se, porém, de ouvir a santa Missa, a lembrança do trabalho os
atormenta. Não vê que o inimigo é quem os torna tão apressados para as cousas
da terra e tem grande interesse em afastar da santa Missa? Longe, porém, de
prejudicar o trabalho, o santo Sacrifício o adianta e o torna mais lucrativo.
Nosso divino Mestre nos recomenda a
procurar, antes de tudo, o reino de Deus e sua justiça, porque tudo o mais nos
será dado por acréscimo. Estas palavras podem se interpretar assim: Não te
inquietes do alimento corporal, porém, antes de principiar o trabalho, procura
ouvir a santa Missa, ou pelo menos que um membro da família o assista em nome
da família toda. Assim prestes a Deus, o culto que lhe é devido, e Deus, em
troca, te dará o pão de cada dia.
Se prestares um serviço importante e
agradável a um príncipe deste mundo, não serás recompensado? Ora, assistindo à
santa Missa, rendes a Deus uma homenagem relevante, uma glória infinita, uma
incomparável satisfação: ofereces um presente mais precioso que o próprio céu.
O Senhor, riquíssimo e bondosíssimo, deixaria este ato sem recompensa? Jamais!
Se todo e qualquer bem é recompensado por Ele, quanto mais o maior de todos os
bens!
Sim, a santa Missa é o tesouro de que fala
o livro da Sabedoria: "É um tesouro inestimável para os homens; os que
nele têm parte gozam da amizade de Deus". É uma mina donde se extrai o
ouro terrestre e o celeste. O que assiste a este Sacrifício, sai enriquecido
dos méritos de Jesus Cristo, cumulado de bênçãos do Pai celeste: a bênção da
santa Missa é, ao mesmo tempo, temporal e espiritual, assim como vemos pela
oração que se segue à consagração: ... "para que todos, participando deste
altar, recebendo o sacrossanto Corpo e Sangue de teu Filho, fiquemos cheios de
toda a graça e bênção celestial".
Em virtude desta oração e do santo
Sacrifício, és abençoado em teu corpo e tua alma, em tuas empresas e teus
trabalhos.
Todos reconhecem a verdade do velho
provérbio: "Tudo depende da bênção de Deus". Por maiores que sejam o
zelo e a habilidade do homem no trabalho, sem a mão de Deus, não frutificará.
Ora, não há meio mais eficaz neste mundo, de atrair os favores celestes, do que
a piedosa audição da santa Missa. Numa visão, Santa Brígida viu o divino
Salvador que, depois da elevação da sagrada Hóstia, traçava com a mão direita o
sinal da cruz sobre o povo, dizendo: "Eu vos abençôo a vós todos que credes
em mim". - Avalia, pois, o prejuízo, mesmo no teu trabalho, se, podendo
assistir à santa Missa, por descuido, lhe perderes as graças abundantes.
Não digas, caro leitor, que a santa Missa
de pouco serve, materialmente falando. Pois, só a ignorância pode afirmar isto
e não duvidamos de que a leitura deste livro te iluminará a inteligência e te
fará apreciar o valor e eficácia do santo Sacrifício dos nossos altares.
"No dia em que ouvires a santa Missa, diz Fornero, bispo de Hebron, teu
trabalho andará melhor, tuas penas serão mais aliviadas, tua cruz menos
pesada". "O Senhor te fortificará no corpo e na alma, acrescenta
outro autor de vida espiritual, os Anjos te cercarão mais afetuosamente e, se
vieres, neste dia, a morrer, Jesus te assistirá no último momento, como o
assististe pela manhã na santa Missa".
A audição da santa Missa favorece o
trabalho; nossa própria experiência no-lo testemunha.
Lemos, na vida de Santo Isidoro, que
cultivava as terras de um rico senhor. Entregava-se ao trabalho com todo o zelo
possível, sem, todavia, faltar à santa Missa um dia. Sua devoção agradou de tal
modo ao bom Deus, que Ele mandou que os Anjos ajudassem-no nos trabalhos
campestres. Quando sua esposa lhe levava a refeição, via, não raras vezes, dois
Anjos trabalhando ao lado de Isidoro. Este não os via e a piedosa mulher nada
dizia, com receio de incitá-lo ao orgulho.
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