XI. A SANTA MISSA É O HOLOCAUSTO MAIS
EXCELENTE
Havia, na antiga lei, quatro espécies de
sacrifícios: o holocausto ou sacrifício latréutico, pelo qual se reconhecia o
soberano domínio de Deus; o sacrifício de louvor e de reconhecimento; o
sacrifício pacífico, quer fosse eucarístico, quer impetratório, pelo qual se
atraíam os benefícios de Deus; e o sacrifício expiatório, em que Deus era
honrado como Juiz; era oferecido pela remissão dos pecados e pela expiação das
culpas. Cada um destes sacrifícios tinha um rito particular.
Desde a criação do mundo até a vinda do
Messias, inumeráveis holocaustos foram oferecidos ao Senhor, e a Sagrada
Escritura afirma que agradavam a Deus. A lei de Moisés ordenava aos judeus o
sacrifício perpétuo ou sacrifício da manhã e da tarde, que consistia na
imolação de um cordeiro. Nos sábados, o número era dobrado. Em cada lua nova,
imolavam sete cordeiros, duas cabras e um carneiro. O mesmo número devia ser
oferecido durante oito dias, na Páscoa e no Pentecostes. Na festa dos
Tabernáculos, o número das vítimas aumentava, eram quatorze cordeiros, treze
cabras, dois carneiros e um bode que se imolavam cada dia durante todo o
oitavário. Além destas oblações obrigatórias, cada um apresentava ainda,
segundo sua piedade, ou suas posses, bois, cabras, ovelhas, carneiros, pombas,
vinho, incenso, pão, sal e óleo.
Citamos tudo isto para mostrar como eram
custosos os sacrifícios impostos aos patriarcas e aos sacerdotes judeus, bem
que não trouxessem a Deus senão uma exígua honra, e não merecessem senão pequena
recompensa, como disse São Paulo em sua Epístola aos Hebreus. Não obstante,
agradavam a Deus, porque eram símbolos do Sacrifício incruento de Jesus Cristo.
Comparai com tudo isto o nosso holocausto que é pouco custoso, fácil de
oferecer, sendo, entretanto, o sacrifício mais agradável a Deus, o mais
precioso para o céu, o mais útil para o mundo, e o mais consolador para o
purgatório.
Se um homem tivesse imolado todas as
vítimas que foram sacrificadas desde o começo do mundo até Jesus Cristo, sem
dúvida, teria rendido uma grande homenagem a Deus. Mas que seria este culto
comparado ao que rendemos à divina Majestade por uma só Missa?
Eis como São Tomás de Aquino expõe a
essência e o fim do nosso holocausto: "Confessamos, pelo santo Sacrifício,
que Deus é o autor de toda a criatura, o fim supremo de toda a beatitude, o
Senhor absoluto de todas as coisas, a quem oferecemos, como testemunho de nossa
submissão e adoração, um sacrifício visível, que figura a oferenda invisível,
pela qual a alma se dá inteiramente a Deus como a seu princípio e a seu
fim". O holocausto somente pode ser oferecido a Deus, que o reservou para
si: "Eu sou o Senhor, é este o nome que me é próprio. Não darei a outrem a
minha glória, nem consentirei que se tribute aos ídolos o louvor que só a mim
pertence" (Is. 42, 8).
Esta proibição do Senhor de oferecer
sacrifícios a outros, diz, claramente, que o santo Sacrifício da Missa não
poderia ser oferecido a nenhuma criatura, nem a Santa Virgem, nem aos Santos;
jamais poderíamos oferecer-lhes a santa Missa. Eis neste sentido a doutrina do
Concílio de Trento: "Embora a Igreja tenha costume de celebrar a Missa em
honra e memória dos Santos, não ensina que lhes seja oferecido o sacrifício,
porém, a Deus, que os coroou" (Sess. 22, c. 3). Também o sacerdote não
diz: "São Pedro, São Paulo, ofereço-vos este Sacrifício", mas,
agradecendo a Deus de lhes haver concedido a vitória, implora-lhes o socorro, a
fim de que se dignem interceder por nós, no céu, enquanto lhe celebramos a
memória na terra.
Sendo a vida de Jesus Cristo mais nobre do
que a de todos os homens, sua morte foi mais meritória e preciosa aos olhos de
Deus. E, visto que o Salvador renova sua morte em cada Missa, segue-se que Deus
Pai recebe do santo Sacrifício maior honra e glória do que se todo o gênero
humano lhe fosse imolado em holocausto.
Que é a santa Missa senão uma embaixada à
Santíssima Trindade, para oferecer-lhe uma oferta de valor inestimável, pela
qual reconhecemos-lhe a soberania e lhe testemunhamos nossa inteira submissão?
Esta oferta quotidiana é Jesus Cristo, o
próprio Filho de Deus, o único que conhece a infinita Majestade do Senhor e a
honra que lhe é devida. Ele somente pode, com efeito, render esta honra e lha
rende dignamente, imolando-se sobre o altar. E Jesus Cristo, a adorável vítima,
dá-se-nos tão inteiramente, que nos é possível oferece-lo ao Deus três vezes
santo, como nosso próprio bem.
Pobres pecadores, prestamos-lhe, deste
modo, o culto e a honra que lhe é devida. Sem a santa Missa, ficaríamos
eternamente devedores de Deus.
Caro leitor, não desejais oferecer cada
manhã o mais precioso dos dons a teu Senhor e Deus? Que desculpa terás, no dia
do juízo, de tua negligência?
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