XVIII. A SANTA MISSA É A MAIS DOCE ALEGRIA
DA MÃE DE DEUS E DOS SANTOS
Nosso Senhor disse, uma vez, ao
Bem-aventurado Alano: "Da mesma maneira que a divina Sabedoria escolheu
uma virgem, entre todas, para ser a Mãe do Salvador, assim instituiu o
sacerdócio para distribuir ao mundo, em todo o tempo, os tesouros da redenção
pelo santo Sacrifício da Missa e pelos santos Sacramentos. Eis a maior alegria
da minha Mãe, as delícias dos Bem-aventurados, o socorro mais seguro dos vivos
e a melhor consolação das almas do purgatório" (Alanus rediv. part. E, c.
27).
A Mãe de Deus e todos os Santos gozam duma
felicidade dupla: da bem-aventurança essencial e da bem-aventurança acidental.
A primeira consiste na vida e na posse de Deus, conforme o grau de glória, em
que foram confirmados, no momento de sua entrada no céu. Esta bem-aventurança
essencial não pode aumentar nem diminuir. A bem-aventurança acidental consiste
nas horas particulares que Deus, os outros Santos ou os homens rendem aos
felizes habitantes do céu. Podemos acreditar, por exemplo, que, quando lhes
celebramos a festa aqui na terra, eles recebam, no céu, honras particulares e
todas as nossas orações e boas obras feitas em sua honra lhes sejam
apresentadas por nossos Anjos, como um ramalhete de perfume delicioso.
O Evangelho indica esta crença claramente,
por estas palavras de Nosso Senhor: "Assim vos digo que haverá júbilo
entre os Anjos de Deus por um pecador que faz penitência" (Lc. 15, 10).
Esta alegria renova-se pelo bom Pastor, pelos Anjos e pelos Santos a cada volta
de uma ovelha desgarrada, porém, cessa logo que o pecador deixa de novo o
aprisco por uma recaída no pecado.
Este curto esclarecimento fará compreender
em que sentido a santa Missa é a maior alegria de Maria Santíssima.: é a maior
alegria acidental e ultrapassa todas as outras felicidades desta ordem.
Se, em honra da Rainha do Céu, recitasse o
terço, o ofício, as ladainhas, ou entoasse cânticos, enquanto um outro
assistisse, piedosamente, à santa Missa, este cumpriria um ato de religião
muito superior e causaria um prazer, infinitamente maior, à Santíssima Virgem.
O que torna ainda a santa Missa muito cara
à Mãe de Deus, é o zelo que tem pela glória de Deus, que a divina Majestade faz
consistir, sobretudo, na salvação das almas. Pelo santo Sacrifício do Altar,
prestamos à augusta Trindade a única homenagem digna dela e lhe oferecemos, ao
mesmo tempo, o preço da redenção do gênero humano. Ainda uma vez, que prazer
agradável, suave, perfeito para Maria Santíssima ver-nos cercar o altar, onde
seu amado Filho é adorado, onde choramos os pecados, onde contemplamos a
dolorosa Paixão e onde o precioso Sangue é derramado sobre nossas almas!
Daí ainda expor a vantagem da santa Missa
para os outros Santos.
Devemos homenagem aos Santos. São amigos
de Deus que os honra; seguem a Cristo vestido de branco, "porque disso são
dignos" (Apoc. 3, 4) e é deles que Nosso Senhor diz: "Quem vos
glorifica, a mim glorifica" (II Reis, 2, 35). Durante a vida fugiram das
honras, desprezaram-se a si próprios, sofreram, com paciência, as injúrias, os
insultos, as perseguições dos maus. Por essa razão, Deus manifesta-lhes a
inocência e a virtude e quer que sejam reverenciados por toda a cristandade.
Sob a inspiração do Espírito Santo, a
Igreja exprime a admiração pelos filhos vitoriosos com os ofícios próprios do
breviário, com cânticos, prédicas, procissões, peregrinações, mas,
principalmente, pelo Sacrifício da Missa. - "Assim será honrado a quem o
Rei dos Céus quiser honrar".
Na verdade, a honra mais excelente é
prestada aos Santos pelo santo Sacrifício do Altar, se mandamos celebrá-lo, ou
se o assistimos com a intenção de aumentar-lhes a honra acidental. - Para
honrar a um príncipe, dá-se, às vezes, uma representação teatral, e, ainda que,
na peça, não se faça menção dele, o príncipe não deixa de experimentar prazer.
Da mesma maneira, apesar de, na santa Missa, representar-se apenas a vida e a
paixão do divino Salvador, os Santos sentem grande alegria e delícias
singulares, quando este espetáculo se realiza em sua honra, e todo o céu se
regozija.
Quando o sacerdote pronuncia o nome dos
Santos, o coração se lhes enternece, porque, observa São João Cirsóstomo, tendo
o rei alcançado a vitória, o povo, querendo exaltar-lhe os feitos, nomeará
também os companheiros d'armas do herói que, valentemente, destroçou o inimigo.
Da mesma forma, é grande honra para os Santos serem nomeados, em presença de
seu divino Mestre, do qual se celebram, como em triunfo, a paixão e morte,
ouvindo louvar as vitórias alcançadas sobre o inimigo infernal. O escritor
Molina diz sobre este assunto: "Não podemos ser mais agradáveis aos Santos
do que oferecendo o santo Sacrifício em seu nome à Santíssima Trindade, em
reconhecimento das graças que receberam, em lembrança dos méritos
adquiridos" (Tract. 4, c. 10).
Observa que não se oferece o santo
Sacrifício a São Miguel nem aos outros Anjos, mas a Deus Pai. Não encontrarás,
em nenhum lugar, que o Santo Sacrifício possa ser oferecido à Maria Santíssima,
aos Anjos ou aos Bem-aventurados. É sempre oferecido em honra da Santíssima
Trindade; apenas se menciona o nome dos felizes habitantes do céu, porque, diz
Santo Agostinho, "não é aos Mártires que erigimos altares, mas unicamente
a sua memória". Qual o sacerdote que disse jamais no altar em que se acham
as relíquias dos Santos: "A vós, São Paulo, a vós, São Pedro, oferecemos o
Sacrifício?". Nunca. Jamais.
O Concílio de Trento usa quase dos mesmos
termos: "Se bem que a Igreja tenha o costume de celebrar a santa Missa em
hora dos Santos, não pretende oferecê-la aos Santos, porém a Deus, que os coroou".
Também o sacerdote não diz: "Ofereço-vos este sacrifício, oh! São Pedro,
São Paulo", mas agradecendo a Deus a vitória concedida a tal Santo pede
àqueles de quem celebramos a festa na terra que intercedam por nós no céu.
Aproveita, pois, caro leitor, do excelente
poder de aumentar a felicidade acidental dos habitantes do céu, oferecendo o
santo Sacrifício em honra da Santíssima Trindade e, na elevação da Sagrada
Hóstia, dize a Deus: "Ofereço-Vos Vosso querido Filho para maior glória e
alegria do Bem-aventurado N. ...".
Para este fim, antes de ir à igreja, tem
cuidado de consultar o calendário sem jamais esquecer teu padroeiro, e, na hora
da morte, bendirás o dia em que abraçaste esta prática.
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