5 de março de 2015

Confessai-vos Bem - Padre Luiz Chiavarino.

Docilidade para com o confessor

D. — Padre, devemos, além do mais, ser dóceis para com o Confessor.
M. — Tudo o que foi dito quanto à confiança, pode aplicar-se ao que diz a respeito á
docilidade; em outras palavras, devemos crer no Confessor, ter confiança nele, deixar que
nos julgue, pôr em prática as suas ordens, proibições e conselhos.
D. — Padre, alguma vez acontece que o Confessor diz: "basta, eu compreendi". E
então?
M. — Então, devemos calar-nos no mesmo instante e passar a falar de outra coisa.
D. — Mas se temos a impressão de não ter dito tudo!
M. — Quando o Confessor fala assim, é sinal de que, desde as primeiras palavras,
teve a intuição do estado da alma e pôde conhecer o que ainda não dissemos ou que não
soubemos explicar.
D. — Portanto, não fazem bem os que, quando o Confessor os interrompe, ou para
fazer uma pergunta ou para pedir uma explicação, no lugar de prestarem atenção no que ele
lhes diz, pensam nas faltas ainda não confessadas para não as esquecerem?
M. — Não, não fazem bem. Devemos prestar toda a atenção ao Confessor, mesmo
que seja para esquecer as culpas que ainda não foram ditas, estas poderão ser acrescentadas
mais tarde, quando o Confessor nos convidar a fazê-lo.
D. — E se as esquecermos?
M. — Se isso acontecer paciência. Confessá-las nas confissões seguintes.
D. — E tal confissão é considerada bem feita?
M. — É, porque quando, sem ser propositalmente, omitimos uma ou mais faltas,
mesmo graves, a confissão vale igualmente, e podemos ir para a Comunhão, até diariamente;
somente ficamos obrigados a confessar as culpas esquecidas na primeira vez que voltarmos a
Confissão.
D. — Padre, todos indistintamente, mesmo os mais instruídos do que o Confessor,
devem-lhe atenção e obediência?
M. — Sim, todos, porque devem lembrar-se de que quem fala naquele momento é
Jesus, oculto na pessoa do Confessor.
D. — Quê me diz, Padre, dos que pretendem, todas as vezes, longas explicações,
sermões e muitos palavras bonitas?
M. — Tal pretensão, é uma vaidade. O confessionário não é um púlpito, nem uma
cátedra escolástica. Mas, se o Confessor achar necessário uns conselhos ou umas
explicações, devemos prestar-lhe toda a atenção. E que não lhes aconteça o mesmo que a um
menino que, enquanto o Confessor falava, ia contando os furinhos da portinhola, e, em certo
ponto exclamou: — "Cento e dois, Padre!" — Ou então o que aconteceu com uma velhinha
que adormeceu no confessionário e obrigou o confessor a sair para acordá-la.
D. — Diga-me mais uma coisa, Padre, é preciso também acreditar no Confessor?
M. — Certamente. Como o Confessor pelo seu ofício tem a obrigação estrita de
acreditar no penitente, e só no penitente, quando se trata do que ele lhe confia assim o
penitente é obrigado a acreditar candidamente no confessor; e no entanto, muitas vezes se dá
o contrário. Não são poucos os que, se na hora confiam plenamente o seu coração ao Confessor
para receberem o remédio e o conforto, não pensam depois em recolher o fruto dessa
confiança. Muitas vezes o Confessor diz a um penitente:
— A causa do seu mal é aquela certa coisa, ou aquela pessoa, ou aquela ocupação, ou
aquele lugar, etc.
E o penitente: — Oh, não! Aquela coisa, aquela ocupação, aquela pessoa é necessária
para mim... Não posso passar sem ela.
A um outro diz: — Tome cuidado que aquela leitura, ou aquele passa-tempo, ou
aquela relação é perigosa...
E o penitente: — Nunca, Padre; eu sei o que faço... tenho juízo...
A um terceiro diz: — Aquela aversão, ou aquele ciúme, ou aquela inveja lhe
prejudica.
E o penitente: — Mas Padre, são os outros que me odeiam, que me invejam...
E assim, vai-se recusando a correção, como se o fato de não se querer ser doente,
bastasse para ser são.
D. — Não é assim que se procede com o médico do corpo, não é Padre?
M. — Pelo contrário, cremos nele cegamente, renunciamos logo à nossa opinião, na
escolha da cura e dos remédios seguimos à risca o que ele receita.
D. — E por que com o médico espiritual não usamos da mesma docilidade?
M. — Não sei, é um mistério. Com outros penitentes dá-se o contrário. O confessor
diz-lhe, por exemplo: Não pensem mais na vida passada, não confessem mais tais pecados ou
então não façam caso desses temores, dessas dúvidas, não se preocupem com tais tentações.
Com palavras assim tão claras, com afirmações tão precisas, deviam ficar plenamente
seguros e tranqüilos, mas não! Vão repetindo: de certo eu não expliquei bem... O confessor
com certeza não me compreendeu... Talvez eu não sinta o devido pesar... e não percebem,
essas pobres almas, que, continuando assim, viverão sempre inquietas. Uma senhora, dessas
como há muitas, vai ao médico para expor-lhe uma fileira de doenças. O doutor, depois de
ouvi-la pacientemente, acaba por receitar-lhe uns pós para serem tomados em horas certas. A
boa senhora não parece muito satisfeita, contudo, vai à farmácia, manda aviar a receita,
espera por ela, paga e vai para casa. Ali chegando, em lugar de tomar sem mais o remédio,
diz consigo mesma: E se o médico não tiver compreendido bem? Se eu não tiver explicado
claramente o que sinto?!... E se a receita não for exata?!... Eu tive a impressão de que o
farmacêutico estava hesitante!... E se ele, por acaso, tivesse errado a dose?! Ai de mim!...
Estaria tudo acabado... Eu, tomar esse pozinho? Nunca!
Na manhã seguinte vai a outro médico, torna a contar a história dos seus males, desta
vez com maior cuidado e precisão. O médico ouve com atenção, e depois receita uma poção
para tomar às colheradas. A senhora agradece, paga e sai apressada. Chega a uma farmácia,
apresenta a receita e, depois de servida, volta toda satisfeita para casa. Mas, antes de tomar o
remédio, torna a cogitar e diz: — Como é que o outro receitou um pó e este um líquido? Por
ai já se vê que não estão de acordo, que não conhecem suficientemente a minha doença, que
provavelmente receitam ao acaso... e eu tenho que ser a infeliz vítima da ignorância deles?!
Não, isso não! E guarda o remédio, resolvida a não tomá-lo porque está convencida de que
lhe causará a morte.
No entanto, vai consultar um terceiro médico, e repete a mesma cantoria dos dias
precedentes, sempre com maior exatidão e abundância de detalhes precisos. Este também a
ouve com muito interesse e depois receita umas pílulas para serem tomadas de manhã e à
noite. A doente, convencida de que encontrou quem é realmente capaz de curá-la, corre a um
terceiro farmacêutico e retira as pílulas. Mas, chegando em casa, o caso foi ainda pior do que
das outras vezes. — Por que é que tenho que tomar pílulas, e não o pó? e por que não o
líquido? Os médicos não sabem nada. Será que eu tenho mesmo que morrer, sem achar quem
me compreenda? Pobre de mim!
E ela se aflige, chora, de tal modo desesperada, que causa dó, nem criados, nem
vizinhos, nem amigos, e todos que a conhecem não conseguem consolá-la e persuá-di-la. Ela
não ouve nada, segundo a sua opinião, ninguém a compreende, ela tem que morrer. Coitada:
os seus males são mais imaginários do que reais.
D. — Coitada! Daria vontade de chorar, se não fosse tão cômico.
M. — Pois bem, igualmente infelizes são os penitentes que não se querem adaptar:
não querem ser dóceis para com o confessor, nem acreditar nele cegamente, no que diz
respeito ao que interessa à alma.
D. — Quando o confessor se responsabiliza pelas coisas da nossa consciência, é sinal
que conhece o nosso íntimo, e sabe avaliar melhor do que nós nossas próprias misérias, tal
como um médico, depois de cuidadosas visitas, conhece melhor do que nós nossos males;
não é mesmo Padre?
M. — "Justamente! Como pode alguém pensar que ele queira ir para o inferno por
querer tirar de lá os outros?
D. — Isso também não!
M. — Pois então, assim como acreditamos no médico, acreditemos no confessor. Só
a alma que renuncia à opinião própria e aceita ingenuamente da parte do confessor, seja a
correção, seja o conforto, poderá sentir-se sempre tranqüila e segura.

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