3 de março de 2015

Sermão para a Quarta-Feira de Cinzas – Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] Somos pó. As criaturas são menos que pó. Amemos a Deus.

Aviso

Estamos hoje na quarta-feira de cinzas, primeiro dia da Quaresma. Dia de jejum e abstinência. Abstinência é não comer carne, obrigando todos os fiéis católicos, a partir dos 14 anos. Jejum é fazer uma refeição normal, em geral o almoço, e duas colações, uma de manhã e uma de tarde, que, juntas, não cheguem a uma refeição normal. E não se deve comer nada entre as refeições. Todos os católicos entre dezoito e sessenta anos estão obrigados ao jejum, a não ser por motivo de saúde, ou por trabalho mais duro, ou uma mulher pela gravidez, por exemplo.
Recomendo muito, prezados católicos, que escolham um bom livro para acompanhá-los durante a quaresma. O livro de Santo Afonso sobre a Paixão, por exemplo, ou as Meditações Diárias do mesmo santo; a Prática do Amor a Jesus Cristo ainda de Santo Afonso; Filotéia de São Francisco de Sales, ou o Combate Espiritual, do Padre Scupoli, os Exercícios de Perfeição Cristã do Padre Rodrigues, ou uma boa Vida de Cristo. Algo que possa elevar a alma nesse tempo santo.
Sermão
Memento homo quia pulvis est et in pulverem reverteris. Lembra-te, ó homem, que és pó e que ao pó retornarás.
Entramos hoje, com a quarta-feira de cinzas, no tempo da Quaresma, caros católicos. É tempo da misericórdia divina. É tempo de grandes graças. É tempo, então, de nos convertermos ao Senhor. É tempo de deixarmos nossos pecados, é tempo de pararmos de ofender a Deus com os nossos pecados. É tempo de buscar o sacramento da confissão.
É um tempo de graça porque nos lembra, desde o início, que somos pó e ao pó retornaremos. Diante de Deus, nós somos como um nada. E se nós, seres humanos, a mais perfeita criatura que vive na terra, somos pó, o que dizer das outras criaturas terrenas? O que dizer dos bens terrenos aos quais somos apegados de maneira desordenada. Se o homem é pó, o que são os bens desse mundo? São nada. Somos pó, os bens desse mundo são ainda menos que pó. Não podemos trocar Deus, o bem infinito e nossa felicidade eterna, por nós mesmos ou pelos bens desse mundo. Não podemos trocar Deus e ofendê-lo por um monte de pó. O tempo da Quaresma é tempo de pensarmos nos novíssimos: na morte, no nosso juízo particular – que ocorrerá no momento de nossa morte -, no inferno, no paraíso. Muito útil o pensamento de tudo isso para nos convertermos a Deus. Somos pó e ao pó retornaremos.
A Quaresma é tempo de penitência. Claro, estamos obrigados a fazer durante todo o ano as penitências impostas pela Igreja, principalmente às sextas-feiras, em que é bom manter a penitência tradicional de abstinência de carne. Todavia, no tempo da Quaresma, devemos reforçar ainda mais essas práticas penitenciais. Nossas práticas quaresmais devem ser em três ordens: mortificação, oração e caridade para com o próximo. O belo prefácio da Quaresma, que hoje cantamos e que recitaremos ao longo de todo esse tempo, mostra os bons efeitos das práticas quaresmais, de modo geral, e do jejum e da mortificação em particular: os vícios são reprimidos, a mente é elevada, a virtude é concedida por Deus com largueza e Ele também nos concede o prêmio pela virtude, que é o céu. Com maior afinco devem procurar exercer as práticas quaresmais as pessoas afetadas pelo pecado contra a castidade. É o pecado que mais leva as almas ao inferno. É bom nos entregarmos então às práticas penitenciais na Quaresma, sempre guardando a prudência, de modo que a penitência não nos impeça de cumprir nossos deveres de estado. E devemos sempre manter a humildade e a discrição nas práticas penitenciais. Se as fizermos com orgulho não obteremos nenhum efeito positivo, mas, ao contrário, teremos apenas prejuízos espirituais. E devemos perseverar nessas práticas, mesmo se falharmos uma vez ou outra.
Todavia, essa penitência mais corporal, bem como todas as outras práticas quaresmais são apenas um meio – necessário, diga-se – para se chegar à penitência que realmente nos interessa: o arrependimento e a detestação dos nossos pecados, por um lado, e o amor a Deus pelo outro. Também isso está no prefácio: reprimir os vícios, isto é, deixar de lado os pecados, a inclinação para as criaturas, e elevar a mente a Deus, isto é, elevar nossa inteligência a Deus pela fé católica e elevar a nossa vontade a Ele pela prática dos mandamentos. O objetivo da quaresma, como de tudo em nossa vida, é somente um: crescer no amor a Deus ou passar a amá-lo, se estamos em pecado mortal. As práticas quaresmais nos são ajudas preciosas para isso.
Deus é benigno e compassivo, paciente e de muita misericórdia, e inclinado a suspender o castigo, como nos diz o profeta Joel na Epístola. Enquanto vivermos, Deus ainda nos dá a sua misericórdia, para que nos convertamos a Ele. Esse tempo não vai durar para sempre. A morte nos chegará, como um ladrão. Precisamos estar sempre preparados, em estado de graça. Aproveitem, aqueles que ainda vacilam no caminho da virtude, que caem com frequência em pecados mortais ou que vivem habitualmente nesses pecados, aproveitem o tempo da quaresma para remediar os próprios vícios, para alcançar a misericórdia divina, para recorrer a ela com confiança e determinação de conversão. Aproveitem aqueles que já vivem habitualmente em estado de graça, para avançar cada vez mais no caminho da virtude, sempre vigiando e rezando, com muita humildade, reconhecendo as próprias fraquezas e defeitos, para não cair em tentação. Corrijamo-nos, agora, caros católicos, amemos a Deus efetivamente agora, deixando os nossos pecados agora e fazendo o bem agora, porque depois será tarde. Convertamo-nos agora, para que não aconteça que, surpreendidos pela morte, procuremos espaço para fazer penitência e não o encontremos, como nos diz um dos cantos de imposição das cinzas.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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