XIII. A SANTA MISSA É O MELHOR SACRIFÍCIO
DE AÇÃO DE GRAÇAS
Os benefícios de Deus para conosco estão
acima de todo o número e de todo o alcance. Criou-nos, concedeu-nos os sentidos
e todos os membros do corpo; deu-nos uma alma feita à sua imagem e semelhança;
santificou-a pelo batismo, escolheu-a para ser-lhe esposa; confiou-a à guarda
de um Anjo. Cuida de nós, noite e dia, perdoa-nos os pecados pelo Sacramento da
Penitência, e sustenta-nos com sua Carne no Sacramento da Eucaristia. Suporta,
pacientemente, nossas ofensas, dá-nos boas inspirações, aguardando nossa
conversão. Instrui-nos pela boca de seus sacerdotes, atende as nossas fracas
orações e preserva-nos de mil perigos. É nossa consolação nas penas, nosso
escudo nas tentações, a recompensa em qualquer circunstância. Como se tantas
graças não fossem suficientes, acrescentou mais uma, excelente entre todas:
adotou-nos por seus filhos.
"Considerai que amor o Pai nos
testemunhou, fazendo que nos chamássemos filhos de Deus e que efetivamente o
fôssemos", escreve o Apóstolo São João (I Epístola, 3, 1). "Se somos
filhos", diz, por sua vez, São Paulo, "somos também herdeiros de
Cristo" (Romanos, 8, 17). Não é excesso de bondade que pobres mendigos
sejam admitidos à adoção e à herança do Rei dos reis?
Depois deste dom incomparável, sua mão
paterna não se fechou; tendo o pecado nos colocado sob o poder de Satanás, Deus
libertou-nos por seu Filho Jesus. "Deus amou tanto ao mundo que lhe deu
seu Filho único" (Jo. III, 16), não só revestindo-o de nossa natureza,
porém entregando-o por nós à morte mais dolorosa.
Se Deus não nos tivesse concedido outra
coisa além de um olhar favorável, quem poderia agradecer-lhe bastante? Não é
Ele a Majestade infinita, e nós, pobres criaturas? Como então agradecer a Jesus
Cristo sua encarnação, vida, paixão e morte? Não devemos dizer com o rei David:
"Que renderei ao Senhor por todos os bens de que me tem cumulado?"
(Sl. 115) ou com o profeta Miquéias: "Que posso oferecer ao Altíssimo que
seja digno dele?" (5, 6). E eis a resposta inspirada do santo rei:
"Oferecerei um sacrifício em ação de graças e cumprirei meus votos ao Senhor"
(Sl. 115).
Este sacrifício de ação de graças é a
santa Missa, e assistí-la com esta intenção é, por conseguinte, uma maneira
perfeita de agradecer a nosso soberano Benfeitor. "Este santo Sacrifício,
diz Santo Irineu, foi instituído a fim de que não fôssemos ingratos para
Deus" (Lib. 4, contra haer. C. 22). Fora deste Sacrifício, nada acharíamos
para oferecer à Santíssima Trindade, na proporção de seus benefícios.
Também as palavras do missal indicam,
claramente, o caráter de ação de graças da santa Missa. Além dos versículos já
citados do "Glória", se diz no "Prefácio":
"Agradeçamos ao Senhor, nosso Deus. É verdadeiramente justo e razoável, é
proveitoso e salutar agradecer-Vos, sempre e em todo o lugar, Senhor santo, Pai
poderosíssimo, Deus eterno, por Jesus Cristo, nosso Senhor".
Imediatamente antes da consagração, o
sacerdote diz: "Ele tomou o pão em suas mãos santas e veneráveis, e,
levantando os olhos para o céu, rendeu graças".
Oh! amável elevação dos olhos de meu
Jesus! Oh! poderoso testemunho de gratidão, substituindo nossos agradecimentos
incompletos! O que Jesus fez depois da última Ceia, renova-o em cada Missa. E
nesta ação de graças duma pessoa divina, sendo infinita, Deus encontra uma
satisfação incomparável.
Pesai agora o valor desta ação de graças.
Se, desde a infância até agora, tivésseis agradecido a Deus os inumeráveis
benefícios, teríeis feito menos do que assistindo apenas a uma Missa em ação de
graças. Se tivésseis convidado todas as almas piedosas a unir os cânticos de
agradecimento aos vossos, e, durante toda a vida, todos juntos, tivésseis unido
vossas vozes e vossos corações, o resultado jamais atingiria ao da celebração
da santa Missa. Dizemos mais, se o próprio exército celeste tivesse assumido
esta tarefa, não se aproximaria da perfeição do reconhecimento testemunhado a
Deus por Jesus Cristo sobre o altar.
Oh! Deus, faça-nos compreender o tesouro,
oculto na santa Missa. Tal conhecimento nos tornaria felizes e ávidos de
assistirmos ao divino Sacrifício!
"As graças, diz São Tomás de Aquino,
devem ser referidas ao seu autor pela gratidão, e isto pelo mesmo canal com que
no-las transmitiu".
Jesus, porém, é o caminho pelo qual nos
chega todo o bem. Logo, por Jesus Cristo, imolado sobre o altar, nossas ações
de graças devem subir ao céu.
Também São Paulo, escrevendo aos
Coríntios, diz: "Rendo ao meu Deus continuadas ações de graças, por vós,
pela graça que vos foi feita em Jesus Cristo. Porque nele fostes cumulados de
riquezas, de maneira que não ficais inferiores a ninguém em toda a sorte de
graças" (I Cor. 1, 4)
Considerai, pois, piedoso leitor, quanto
és devedor pela instituição da santa Missa, visto que, sem ela, não terias o
meio de agradecer, dignamente, a Deus. Praza a Deus que possas apreciar
bastante nossa felicidade. No santo Sacrifício, Jesus torna-se nossa
propriedade; com ele possuímos-lhe os méritos, de maneira que, em união com a
Vítima divina, podemos oferecê-los ao Rei celeste e apagar a dívida que nos
acabrunha.
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