O Símbolo dos Apóstolos
5º artigo: E desceu aos infernos
1. As palavras "e desceu aos infernos" significam que, morto Jesus Cristo, a Sua alma desceu aos infernos, onde se demorou todo o tempo que o Seu corpo permaneceu no sepulcro, e ainda que a mesma pessoa de Jesus Cristo esteve ao mesmo tempo nos infernos e no sepulcro. Não deve isso parecer estranho, pois que, embora a alma de Jesus Cristo se separasse do Seu corpo, todavia a divindade ficou sempre unida à Sua alma e ao Seu corpo.
2. Deve entender-se pela palavra "Inferno" os lugares ocultos, os depósitos em que são retidas, como prisioneiras, as almas que não podem gozar logo da beatitude eterna. Neste sentido a Sagrada Escritura emprega esta palavra em muitas passagens. Foi ainda neste sentido que São Paulo disse que em nome de Jesus Cristo todos os joelhos se dobram no Céu, na terra e nos infernos.
3. Não obstante designados todos pelo nome de infernos, estes lugares não são iguais. Um deles é como que uma prisão escuríssima e horrível, onde as almas dos condenados estão continuamente atormentadas pelos demônios com um fogo que se não pode extinguir. Denomina-se este lugar a Geena, o abismo, ou mais comumente, o Inferno.
4. No segundo destes lugares encontra-se o fogo do Purgatório. As almas que morreram em estado de Graça permanecem aí durante um certo tempo, até se purificarem de todo, e poderem entrar na pátria eterna, onde não pode ter guarida nem haver sombra de pecado.
5. Ao terceiro destes lugares chama-se limbo, e neste eram recebidas, antes da vinda de Jesus Cristo, as almas dos santos, que ficavam aí em descanso, sem nenhum sentimento de dor, na esperança da sua redenção. E foram as almas destes santos que esperavam o seu Salvador no seio de Abraão, que Nosso Senhor libertou quando desceu aos infernos.
6. É um erro supor que Jesus Cristo desceu a estes lugares apenas para fazer brilhar aí o seu poder. Devemos acreditar firmemente que a sua alma desceu com efeito aos infernos e que aí se fez realmente presente, como expressamente o indicam estas palavras de David: "Não deixareis a minha alma nos infernos".
7. Esta descida de Jesus Cristo aos infernos em nada diminuiu o seu poder e majestade, e as trevas destes lugares não ofuscaram no mundo o brilho da sua glória. Pelo contrário, devemos ver neste fato, não só que era rigorosamente verdadeiro tudo o que se dissera da santidade de Jesus Cristo, como também que Este era Filho de Deus, como já o tinha provado pelos seus milagres.
8. Isto se compreenderá facilmente se compararmos as razões que levaram Jesus a descer aos infernos, com as razões que obrigam os outros homens a encontrar-se ali. Os homens tinham descido ali como cativos, ao passo que Jesus Cristo desceu como Aquele que, sendo o único livre entre os mortos e o único vitorioso, ia afugentar os demônios que os retinham ali tão severamente encerrados por causa das suas culpas.
9. E desceu não apenas para arrebatar ao demônio os seus próprios despojos, libertando deste cativeiro as almas dos santos Patriarcas e os outros Judeus ali detidos, como ainda para entrar triunfalmente no Céu em sua companhia, o que fez de um modo admirável e glorioso, porque a sua presença derramou uma luz brilhantíssima neste lugar onde estavam os felizes cativos, dilatando-lhes os corações com uma inconcebível alegria e fazendo-os gozar da suprema beatitude, que consiste na união com Deus.
Explicação da gravura
10. Esta gravura representa a alma de Jesus Cristo aparecendo no limbo. Figuram, em primeiro plano, Adão e Eva de joelhos; seguem-se à esquerda, Abraão brandindo o gládio contra Isaac; Jacob com seu cajado na mão; David com a sua Lyra, etc., à direita, Moisés de cuja fronte irradiam raios de luz; Aarão com a sua vara; São José segurando uma açucena. Nosso Senhor permaneceu na companhia deles até à sua Ressurreição.
11. No plano superior, vê-se o Inferno onde ardem os demônios e os condenados; Jesus Cristo não desceu a este abismo de dores, nem ao Purgatório; fez todavia sentir aos condenados a sua ação, dando-lhes a conhecer a sua divindade, e às almas do Purgatório dando-lhes a esperança da glória.
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