30 de abril de 2013

A glória imensa que gozam no céu os religiosos.

Omnis qui reliquerit domum, vel fratres, aut sorores, aut patrem, aut matre... propter nomem meum, centuplum accipiet, et vitam aeternam possidebit - "Todo o que deixar por amor de meu nome, ou os irmãos, ou as irmãs, ou o pai, ou a mãe... receberá o centuplo, e possuirá a vida eterna" (Matth. 19, 20).

Sumário. O paraíso é chamado coroa de justiça, porque ali o Senhor premia conforme o merecimento de cada um. Considera, portanto, qual será a glória reservada aos bons religiosos que sacrificaram tudo por amor de Deus e em particular a própria vontade que é o sacrifício mais agradável. Um religioso ganha pela observância de sua regra mais em um mês do que uma pessoa secular ganha num ano inteiro por todas as suas mortificações e orações.

I. Considera em primeiro lugar que o religioso, morrendo em sua ordem, dificilmente se condena. Diz São Bernardo: "É fácil o caminho da cela ao céu. Raras vezes alguém desce da cela ao inferno." A razão disso é, como diz o Santo, que "dificilmente um religioso persevera até à morte se não é do número dos eleitos ao paraíso". Pelo que São Lourenço Justiniano chamava a religião porta do paraíso, grande sinal de predestinação.

Considera, além disto, que no dizer do Apóstolo, o paraíso é coroa de justiça; porque Deus, ainda que remunere todas as nossas boas obras mais abundantemente do que elas merecem, todavia premia à proporção dos merecimentos de cada um: Reddet unicuique secundum opera eius (1) - "Retribuirá a cada um segundo as suas obras". Disso se pode concluir quão grande será a recompensa que Deus dará no céu aos bons religiosos se atenderdes aos grandes merecimentos que eles todos os dias vão adquirindo. O religioso dá a Deus todos os bens que possuia na terra e se contenta em viver realmente pobre sem possuir coisa alguma. O religioso renuncia ao afeto dos parentes, dos amigos e da pátria, para se unir mais a Deus. O religioso mortifica-se continuamente privando-se de muitas coisas que poderia gozar no século.

O religioso finalmente dá-se a si mesmo e todo a Deus dando-Lhe a própria vontade pelo voto de obediência. A vontade própria é a coisa mais cara que temos, e é esta que Deus nos pede mais que qualquer outra coisa; pede-nos o coração, isto é, a vontade: Praebe, fili mi, cor tuum mihi (2) - "Meu filho, dá-me teu coração". Quem serve a Deus no século, dar-lhe-á as suas coisas, mas um religioso, dando a Deus a própria vontade, dá toda a sua pessoa, de forma que com verdade pode dizer: Senhor, tendo-Vos dado a minha vontade, nada mais tenho a dar-Vos.

II. Afirma Santo Anselmo que o religioso, contanto que guarde as suas regras, adquire merecimentos com tudo o que faz: não só quando faz oração, quando confessa, quando prega, quando jejua ou pratica outras mortificações, mas ainda quando toma alimento, quando varre a sua cela, quando dorme e quando se recreia, porque fazendo tudo por obediência, em tudo isso faz a vontade de Deus. - Santa Maria Madalena de Pazzi dizia que é oração tudo o que se faz por obediência. Pelo que São Luiz de Gonzaga costumava dizer que na religião se anda num barco à vela, em que se viaja sem o trabalho de remar. Oh, quanto mais ganhará um religioso, observador de suas regras, por espaço de um mês, do que um secular com todas as suas penitências e orações durante um ano inteiro!

É possível, ó meu Deus e meu verdadeiro amador, que Vós tanto desejeis o meu bem e ser amado de mim, e que eu miserável tão pouco deseje amar-Vos e dar-Vos gosto? Para que me favorecestes com tantas graças e me tirastes do mundo para Vós? Meu Jesus, já Vos entendo: Vós me amais muito e quereis que eu também Vos ame muito e seja todo vosso nesta vida e na outra. Quereis que meu amor não seja dividido entre Vós e as criaturas; mas seja todo para Vós, meu único Bem, digno de amor infinito. Ah, meu Senhor, meu tesouro, meu tudo, desejo e anhelo amar-Vos devéras e não amar senão a Vós!

Graças Vos dou por este desejo que me inspirais; guardai-o e aumentai-o sempre em mim. Fazei com que eu Vos dê gosto e Vos ame quanto desejais cá na terra afim de que depois vá amar-Vos no paraíso, face a face e com todas as minhas forças. Eis tudo o que Vos peço: quero amar-Vos, e para Vos amar ofereço-me a padecer qualquer pena. Quero fazer-me santo, não para gozar mais no paraíso, mas para mais Vos agradar, meu amado Senhor, e para Vos amar mais durante a eternidade. Atendei-me, Pai Eterno, pelo amor de Jesus Cristo. - Maria, minha Mãe, valei-me pelo amor desse vosso Filho; vós sois minha esperança, de vós espero todo o bem. (IV 418.)

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1. Matth. 16, 27.
2. Prov. 23, 26.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 77 - 80.)

A morte despoja-nos de tudo.

Divitias, quas devoravit, evomet, et de ventre illius extrahet eas Deus - "Vomitará as riquezas que devorou, e Deus lh´as fará sair das entranhas" (Iob. 20, 15).

Sumário. Os mundanos só consideram felizes os que podem gozar os bens deste mundo, os prazeres, as riquezas e as gandezas. Mas a morte põe fim a todos estes gozos terrestres, porque então tudo se há de deixar. Vê esse grande do mundo, cortejado hoje, temido e quase adorado; amanhã, quando estiver morto, será desprezado de todos, não se fará mais caso de suas ordens; será expulso de seu palácio e atirado a uma cova para apodrecer. Entretanto que será de sua alma?... Desgraçada, se vier a cair no inferno!

I. Os mundanos só consideram felizes aqueles que gozam os bens deste mundo, os prazeres, as riquezas e as grandezas; mas a morte põe fim a todos estes gozos terrestres. Quae est vita vestra? Vapor est ad modicum parens (1) - "Que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco". Os vapores que a terra exala, erguendo-se ao ar, por efeito dos raios do sol, oferecem às vezes agradável aspecto; que tempo, porém, dura isto? Ao menor vento, tudo desaparece. Vê esse grande mundo, cortejado hoje, temido e quase adorado; amanhã, quando estiver morto, será desprezado, amaldiçoado, calcado aos pés.

Na morte é preciso deixar tudo. O irmão do grande servo de Deus, Thomaz Kempis, felicitava-se de ter construído uma casa magnífica. Houve, porém, um amigo que lhe notou um defeito. Qual é? Perguntou ele. - O defeito, respondeu o amigo, é terdes feito a porta. - O que? Replicou, a porta será um defeito? - Sim, acrescentou o amigo, porque um dia deverás sair por essa porta, morto, e assim deixar a casa e tudo o mais.

Que espetáculo ver arrancar tal grande de seu plácio, para nunca mais entrar nele, e ver outros tomarem posse de seus móveis, de seus tesouros e de todos os seus outros bens! Os criados deixam-no na tumba com um vestido que é apenas suficiente para lhe cobrir o corpo. Já não há quem o estime, nem quem o lisonjeie; já não se faz caso das ordens que deixou. - Saladino, que conquistou muitos reinos da Ásia, ordenou, ao morrer, que quando lhe levassem o corpo para a sepultura, fosse um homem diante do esquife, levando suspensa de uma lança uma mortalha e gritando: Aqui está tudo o que Saladino leva para a cova. Numa palavra, a morte priva o homem de todos os bens deste mundo: Finis venit, venit finis (2) - "O fim vem, vem o fim".

II. Senhor meu Jesus Cristo, já que me iluminastes para conhecer que tudo que o mundo estima não passa de fumo e loucura, dai-me força para me desapegar dele, antes que dele me separe a morte. Que desgraçado tenho sido! Quantas vezes, por miseráveis prazeres e outros bens da terra, Vos ofendi, a Vós que sois um Bem infinito! Ó meu Jesus, ó médico celeste, lançai os olhos sobre minha pobre alma, olhai as numerosas fendas que me fiz com os meus pecados, e tende piedade de mim. Si vis, potes me mundare (3). Sei que me quereis e podeis curar; mas para me curar quereis que me arrependa das injúrias que Vos fiz. Pois bem, arrependo-me de todo o coração; curai-me agora que me podeis curar: Sana animam meam, quia peccavi tibi (4).

Eu Vos esqueci; mas Vós, Senhor, não me esquecestes; e agora dizeis-me que quereis perdoar-me as injúrias que Vos fiz, se eu as detestar: Omnium iniquitatum eius non recordabor (5). Oh! Detesto-as e abomino-as mais que todos os males. Esquecei, pois, meu Redentor, esquecei todas as amarguras que Vos causei. No futuro quero perder tudo, mesmo a vida, antes que perder a vossa graça. De que me serviriam todos os bens da terra sem a vossa graça?

Ajudai-me, por piedade! Sabeis quanto sou fraco. O inferno não deixará de me tentar; já se prepara para se lançar em mil assaltos contra mim e me tornar de novo seu escravo. Ó meu Jesus, não me abandoneis! Daqui em diante quero ser escravo de vosso amor. Sois o meu único Senhor, Vós me criastes, Vós me resgatastes, Vós me haveis amado mais do que qualquer outro, Vós sois o único digno de ser amado, e a Vós só quero amar. - Ó minha Rainha e Mãe, Maria, ajudai-me com a vossa intercessão, e obtende para mim a santa perseverança. (II 10.)

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1. Iac. 4, 15.
2. Ez. 7, 2.
3. Matth. 8, 2.
4. Ps. 40, 5.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 75 - 77.)

Tesouro de Exemplos - Parte 315

O QUE OS ESPÍRITAS DEVEM SABER

Em 1875, o Cardeal Bonnechése, arcebispo de Ruão (França), desejando informar-se pessoalmente acêrca do espiritismo, assistiu a uma sessão espírita na residência do barão de Guldenstube, Ao iniciar-se a sessão, o Cardeal colocou um crucifixo sôbre a mesa. A sagrada imagem foi imediatamente atirada ao chão, sem que se pudesse verificar por quem. Colocado novamente sôbre a mesa, repetiu-se a mesma cena. Teve o Cardeal uma prova de que os tais espíritos não são amigos nem sequer das imagens de Jesus Cristo. É isso. Nas sessões, em muitos casos atua o demônio e em muitos outros impera a fraude. Desculpam-se os espíritas, dizendo que são cristãos. "É por isso mesmo que eu aborreço os invocadores de espíritos e os detesto, porque abusam do nome de Deus e o desonram; chamam-se cristãos, e fazem obras de pagãos".

29 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 314

NÃO SE DEIXAR ENGANAR PELA FORMOSURA

Uma jovem, não obstante as advertências de seu pároco, obstinou-se em casar-se com um perdido. "Senhor Vigário, afirmava ela, depois de casados, eu o converterei... Êle é rico, e sobretudo é a figura mais elegante que conheço; no casamento é preciso haver também alguma coisa que entre pelos olhos". Calou-se o vigário. Celebrou-se o casamento. Passados alguns meses, o vigário encontra-se com a recém-casada. Ela tem um dos olhos feridos e horrívelmente inchado. "Veja, senhor vigário, o que me fêz meu marido!" "Filha - respondeu o padre - não dizias que no casamento precisa haver alguma coisa que entre pelos olhos? Pois aí o tens; não te podes queixar".

28 de abril de 2013

Maria Santíssima, modelo de pobreza.

Si vis perfectus esse, vade, vende quae habes, et da pauperibus; ...et veni, sequere me - "Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, e dá-o aos pobre; ...depois vem, e segue-me" (Matth. 19, 21).

Sumário. O divino Redentor, para nos ensinar a desprezar os bens do mundo, quis sempre ser pobre nesta terra. E a Santíssima Virgem seguiu-lhe o exemplo, mostrando-se a sua discípula mais perfeita, porque ela também nasceu, viveu e morreu na maior pobreza. Somos nós também amantes de tão bela virtude e dos incômodos que a acompanham?... Esforcemo-nos a todo custo por imitar a nossa querida Mãe, lembrando-nos de que o que ama as comodidades e as riquezas, nunca será santo.

I. O nosso amoroso Redentor, para nos ensinar a desprezar os bens mundanos, quis ser pobre neste mundo. Por isso Jesus exorta a todo aquele que queira segui-Lo a que venda todos os seus haveres e distribua o produto entre os pobres: Si vis perfectus esse, vade, vende quae habes, et da pauperibus... et veni, sequere me - "Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, e dá-o aos pobres... depois vem e segue-me". Eis como Maria, a sua discípula mais perfeita, lhe seguiu exatamente o exemplo. Afirma o bem-aventurado Canisio, que a Santíssima Virgem, com a herança de seus pais, teria podido viver muito comodamente, mas preferiu ficar pobre, reservando para si uma pequena parte, e distribuindo o mais em esmolas ao templo e aos pobres.

Querem muitos escritores que Maria tivesse feito também voto de pobreza, e sabe-se que ela mesma revelou a Santa Brígida, que desde o principio de sua vida prometera no coração nunca possuir alguma coisa no mundo: A principio vovi in corde meo, nihil umquam possidere in mundo. - Os dons que recebeu dos santos Magos não foram certamente de pouco valor, mas distribuiu-os todos aos pobres, como atesta São Bernardo. Isto se deduz também de que ela, indo ao templo, não ofereceu o cordeiro, que era a oferta das pessoas abastadas (1), mas duas rolas ou dois pombinhos (2), a oferta dos pobres. Maria mesma disse a Santa Brigida: "Tudo o que podia obter, eu dava-o aos pobres, e não reservei nada para mim, senão um tênue alimento e o vestido."

Por amor à pobreza a Virgem não duvidou desposar-se com um pobre oficial, qual foi São José, e depois sustentar-se com o trabalho de suas mãos, fiando ou cosendo, como atesta São Boaventura. Numa palavra, as riquezas do mundo foram para Maria como que lodo, e ela sempre viveu pobre e morreu pobre. Na morte não se sabe que deixasse outra coisa além de duas pobres vestes, que deu a duas mulheres que a haviam servido em vida (3).

II. Quem ama os bens do mundo, nunca se fará santo, dizia São Filipe Neri. E Santa Teresa acrescentava: É justo que quem vai atrás das coisas perdidas, também se perca. por outro lado, dizia a mesma Santa que a virtude de pobreza é um bem que encerra todos os outros bens. - Disse a virtude de pobreza, a qual, como observa São Bernardo, não consiste em ser somente pobre, mas em amar a pobreza. Pelo que Jesus Cristo disse: Beati pauperes spiritu - "Bem-aventurados os pobres de espírito" (4). Bem-aventurados, sim, porque aqueles que não querem senão a Deus, em Deus acham todos os bens, e encontram na pobreza o seu paraíso na terra.

Amemos, pois, aquele único bem em que se acham todos os bens, conforme exortava Santo Agostinho, e peçamos ao Senhor com Santo Ignácio: Meu Deus, dai-me somente o vosso amor com a vossa graça, e sou bastante rico. E quando nos aflige a pobreza, consolemo-nos com o pensamento que Jesus e sua divina Mãe foram também pobres como nós.

Ah, minha Mãe Santíssima, bem tivestes razão de dizer que em Deus estava a vossa alegria: Et exultavit spiritus meus in Deo salutari meo (5) - "E meu espírito alegrou-se em Deus meu Salvador", porque neste mundo não ambicionastes nem amastes outro bem senão Deus. Trahe me post te (6). Senhora, desapegai-me do mundo e arrastai-me atrás de vós, para amar só àquele que só merece ser amado. - E Vós, ó meu Jesus, vinde pelo vosso amor consumir em mim todos os afetos que não sejam para Vós. Fazei com que no futuro eu não atenda senão a Vós, não pense senão em Vós, não suspire senão por Vós. Fazei, numa palavra, com que imitando a virtude de vossa querida Mãe e minha grande Rainha, eu morra a todos os bens da terra e a todas as minhas inclinações, para não amar senão a vossa bondade infinita e não desejar senão a vossa graça e o vosso amor. (*I 267.)

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1 Lev. 12, 6.
2 Luc. 2, 24.
3 Apost. Metaph.
4 Matth. 5, 3.
5 Luc. 1, 47.
6 Cant. 1, 3.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 72 - 73.)

Tesouro de Exemplos - Parte 313

TRATO AFÁVEL ENTRE ESPOSOS

Ao grande Franklin chamou a atenção um trabalhador que sempre aparecia alegre e sorridente. Perguntou-lhe um dia: "Porque estais sempre tão contente?" "É porque em casa vivemos em muita paz; tenho uma espôsa que vale mais que pesa. Quando saio de casa despede-me muito amável; quando volto rebe-me muito alegre. Traz tudo em ordem: A casa limpa como uma taça de prata; a comida preparada, que é uma delícia. Minha mulher - eis o segrêdo da minha alegria".

27 de abril de 2013

Sermão 3º Domingo depois da Páscoa - Padre Daniel Pinheiro - IBP


[Sermão] A obediência devida às autoridades humanas


Sermão para o Terceiro Domingo depois da Páscoa
21 de abril de 2013 - Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
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Sede, pois, submissos a toda instituição humana.
Caros católicos, nós aprendemos no quarto mandamento – honrar pai e mãe – que devemos não somente obedecer aos pais, mas aos superiores de modo geral. Aprendemos que devemos obedecer à autoridade civil e às suas leis. E isso porque, como diz São Paulo (Rom. XIII, 1), todo poder vem de Deus e não há poder que não venha de Deus. Todo poder vem de Deus porque foi Deus quem criou o homem como animal racional e social, como um ser que precisa se associar aos outros para alcançar a sua perfeição. Assim, os homens se unem na sociedade civil a fim de poderem alcançar tudo o que é necessário para o bem temporal, o que inclui não somente bens materiais, mas também bens espirituais. Se os homens vivessem sozinhos eles teriam somente o mínimo necessário para a própria sobrevivência. A vida em sociedade proporciona muitos outros bens ao homem, em particular possibilita ou, ao menos deveria possibilitar, o tempo necessário para a contemplação da verdade. A vida em sociedade é para o bem do homem. Agora, onde existe a associação de homens em vista de um fim, é preciso que haja um chefe ou um grupo de chefes. É preciso que haja um chefe que ordene os diversos membros da sociedade em busca do fim pelo qual se reuniram. Portanto, a existência da autoridade decorre da própria natureza humana. Como a natureza humana foi criada por Deus, toda autoridade vem de Deus, é instituída por Deus e devemos obediência a ela. Essa verdade era muito claramente significada quando os reis, ao assumir o trono, recebiam também a consagração por parte de um Bispo.
Sagração de São Luis (Rei Luis IX) - Iluminura do séc. XIII
Sagração de São Luis (Rei Luis IX) – Iluminura do séc. XIII
Hoje, todavia, pretende-se afirmar que a autoridade vem não de Deus, mas do povo, que tem um poder absoluto e ilimitado. Dizem, então, que se alguém exerce alguma autoridade é simplesmente por delegação do poder absoluto e ilimitado que lhe foi delegado pelo povo e que, sendo assim, a autoridade é obrigada a fazer o que quer o povo, seja o que for. A fonte da autoridade não é mais Deus, e sim o povo, que toma o lugar de Deus. Nesses tempos de “inclusão”, há um só excluído, ou dois: Deus e sua Santa Igreja.
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Dessa forma, a autoridade, representando o povo – que tem poder absoluto e ilimitado – pode decretar o que é o bom e o que é ruim, pode estabelecer o bem e o mal. A autoridade pode aprovar o aborto, ela pode subverter a lei natural aprovando o divórcio ou aprovando a união civil homossexual. A autoridade vem do povo, aquilo que o povo deseja ou aquilo que eles pretendem que o povo quer deve ser feito. Toda a política moderna, todo Estado moderno, se baseia nesse poder absoluto e ilimitado do povo que toma o lugar de Deus e que passa a ser a fonte de todo poder. E isso é um erro. Um erro grave.
Como dissemos no início, a própria natureza humana, criada por Deus, demanda a união das pessoas em sociedade e demanda, consequentemente, a existência de uma autoridade. Assim, a fonte primeira de toda a autoridade é Deus, criador de todas as coisas. E é por isso que devemos obedecer à autoridade civil, às suas leis. Ao longo da história, os cristãos sempre se destacaram pela prática exata das leis civis, pela obediência aos soberanos, à autoridade. Primeiro, porque respeitar tal autoridade é respeitar a autoridade divina, enquanto desrespeitar tal autoridade é desrespeitar a autoridade divina. Segundo, porque respeitar tal autoridade é um apostolado eficaz, como nos diz São Pedro na Epístola: devemos ter bom procedimento entre os gentios para que, considerando as boas obras, eles glorifiquem a Deus.
Toda autoridade vem de Deus e devemos respeitá-la e obedecer a ela por causa disso. Todavia, com a afirmação moderna de que o poder e a autoridade vêm do povo e só do povo e não de Deus, temos visto cada vez com maior frequência, ênfase e violência a promulgação de leis que se opõem às leis de Deus e à lei natural. É evidente que uma autoridade só guarda sua autoridade na medida em que ela permanece submetida à autoridade superior. Assim, quando uma autoridade humana age contrariamente ao que Deus manda, ela perde toda autoridade com relação a isso. Na verdade, uma lei injusta não é uma lei. Uma lei é um ditame para a razão promulgado pela autoridade legítima para o bem comum. Verdadeira e legítima autoridade não pode haver sem que derive de Deus. Não se pode chamar reta razão aquela que discorda da verdade e da razão divina e não pode ter por finalidade o bem comum a lei que se opõe ao bem supremo dos homens que é Deus. Assim, uma lei injusta não é, na verdade, uma lei e pode ser desobedecida e em alguns casos deve ser desobedecida. Ocorre o mesmo com os pais e o filho. Ensinamos no catecismo às crianças que elas devem fazer tudo o que os pais mandam, a não ser que seja algo contrário à fé ou à moral. Devemos fazer tudo o que nos manda a autoridade civil, a não ser que mandem algo contra a fé, contra a moral, contra a lei natural, contra o bem comum. No Império Romano, apesar de perseguidos e martirizados, os cristão eram considerados cidadãos exemplares. Mas se fosse colocado de um lado Deus e de outro a obediência ao Império, não tinham dúvida: preferiam Deus, preferiam morrer a ofender gravemente a Deus.
martiresNinguém pode servir ao mesmo tempo a dois senhores, nos diz Nosso Senhor. Quando a autoridade civil exerce sua autoridade em conformidade com Deus, servimos Deus ao servir a autoridade civil. Quando a autoridade civil age contrariamente a Deus, temos que escolher entre dois senhores: o Estado ou Deus. É preciso escolher Deus, evidentemente. Não devemos temer aquele que pode nos colocar na prisão ou que pode tirar a vida de nosso corpo. Devemos temer aquele que vai nos julgar e que pode nos condenar à morte eterna em razão de nossa desobediência à sua suprema autoridade. Devemos obedecer à autoridade civil, às autoridades humanas e a nossos superiores, mas devemos obedecer em primeiro lugar a Deus.
O Papa Leão XIII tratou em várias ocasiões desse assunto. Ele fez isso porque foi justamente durante seu papado – final do século XIX – que várias nações deixaram de ser católicas em decorrência da revolução francesa e da ação das sociedades secretas.  Ao deixarem de ser católicas, passaram a promulgar várias leis contrárias à religião católica, à fé, à moral, à lei natural. Em sua encíclica Sapientiae Christianae, sobre os deveres fundamentais dos cidadãos cristãos, o Papa assim o diz:
;eao xiii“Se as leis dos Estados se puserem em aberta contradição com a de Deus, se forem injuriosas para a Igreja ou contrárias aos deveres religiosos, se violarem no Sumo Pontífice a autoridade de Jesus Cristo, então resistir é obrigação e obedecer seria um crime – um crime até contra a pátria – porque pecar contra a religião é fazer mal ao próprio Estado.”
Precisamos ter bem presente esse ponto da doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo, caros católicos, pois cada vez teremos mais leis que se opõem à religião divinamente revelada e cada vez mais essas leis serão violentas. E nesse caso, cumprir o quarto mandamento, é obedecer a um só Senhor, Deus. Assim, agiremos para a glória de Deus para o bem da nossa alma e para o bem da sociedade civil.

Tesouro de Exemplos - Parte 312

PREFERIR UM ESPÔSO RELIGIOSO

Aconselharam à jovem Joana Francisca de Chantal, hoje venerada sôbre os altares, que se casa com um môço muito nobre. A isso estava a Santa muito inclinada, quando, um dia, da janela de seu castelo,  viu que aquêle nobre senhor no momento em que passou o sacerdote levando o santo Viático não se ajoelhou. "Não se ajoelhou - exclamou ela indignada - nem sequer se descobriu. Não será jamais meu marido".

26 de abril de 2013

Quem ama Jesus Cristo deve odiar o mundo.

Mihi autem absit gloriari nisi in cruce Domini nostri Iesu Christi, per quem mihi mundus crucifixus est et ego mundo - "Longe esteja de mim o gloriar-me senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo" (Gal. 6, 14).

Sumário. Jesus Cristo quis morrer crucificado para nos livrar do amor ao mundo perverso. Tendo-nos chamado ao seu amor, quer que nos coloquemos acima das promessas e ameaças do mundo. Quer que não façamos caso nem das censuras do mundo nem das suas aprovações, e nos alegremos por sermos odiados e perseguidos como o próprio Jesus. Para alcançarmos um fim tão elevado, habituemo-nos a prever já de manhã as contrariedades e os desprezos que nos possam vir do correr do dia, e preparemo-nos para os sofrer com paciência.

I. Quem ama a Jesus Cristo com amor verdadeiro, alegra-se quando se ve tratado pelo mundo assim como foi tratado Jesus Cristo, que por ele foi odiado, vituperado e perseguido até morrer de dor, suspenso num patíbulo infame. - O mundo é diametralmente oposto a Jesus Cristo: e por isso, odiando a Jesus, odeia a todos os que o servem. Pelo que o Senhor animava os seus discípulos a sofrerem com paz as perseguições, dizendo-lhes que, já que tinham abandonado o mundo, não podiam deixar de ser dele odiados (1).

Ora, como as almas amantes de Deus são para o mundo objeto de ódio, assim o mundo deve ser objeto de ódio para quem ama a Deus. Dizia São Paulo: Mihi absit gloriari nisi in cruce Domini nostri Iesu Christi, per quem mihi mundus crucifixus est et ego mundo - "Esteja longe de mim o gloriar-me senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo". O mundo abominava o Apóstolo, assim como se abomina um homem condenado e morto na cruz; mas de igual maneira São Paulo abominava o mundo: mihi mundus crucifixus est. - Jesus quis morrer crucificado pelos nossos pecados, para livrar-nos do amor ao mundo perverso (2). Já que Jesus nos chamou ao seu amor, quer que nos coloquemos acima das promessas e das ameaças do mundo. Quer que não façamos mais caso nem de suas censuras, nem de suas aprovações.

Afim de chegarmos ali, representemo-nos, na nossa meditação, todos os desprezos, contrariedades e perseguições que nos possam sobrevir, e ofereçamo-nos com grande coragem a sofrê-los por amor de Jesus Cristo, não somente em paz, mas também com alegria de espírito. Procedendo desta maneira, estaremos na ocasião mais dispostos a aceitá-los. Mas sobretudo devemos pedir a Deus, que nos faça esquecer inteiramente o mundo, e alegrarmo-nos quando nos virmos rejeitados pelo mundo.

II. Para que sejamos inteiramente de Deus, não basta que nós abandonemos o mundo; é além disso mister desejarmos que o mundo nos abandone e nos esqueça de todo. Alguns abandonam o mundo, mas não deixam de querer ser por ele louvados, ainda que seja só pelo terem abandonado. Alimentado este desejo de serem estimados pelo mundo, fazem com que o mundo ainda viva neles.

Como o mundo odeia os servos de Deus, e odeia por isso os seus bons exemplos e máximas santas, assim nós devemos odiar todas as máximas do mundo, como sejam: bem-aventurado o rico; bem-aventurado o que não sofre e se diverte, infeliz o que é maltratado e perseguido dos outros! Numa palavra, se desejamos agradar a Deus só, devemos viver em contínua desavença com o mundo, que, na palavra do Apóstolo, não pode deixar de ser inimigo de Deus (3).

Sim, meu Jesus crucificado e morto por mim, só a Vós quero agradar. Que mundo, que riquezas, que dignidades! Quero que Vós, meu Redentor, sejais todo o meu tesouro; a minha riqueza é o amar-Vos. Se me quereis pobre, quero ser pobre; se me quereis humilhado, enfermo e desprezado de todos, aceito tudo de vossas mãos; a vossa vontade será sempre a minha única consolação. Mas eis aqui a graça que Vos peço: fazei que em tudo quanto me acontecer, eu me não afaste, nem sequer uma linha, da vossa santa vontade, e Vos ame de todo o meu coração.

Sei que não mereço esta graça depois de Vos ter virado tantas vezes as costas pelo amor das criaturas, mas, meu Senhor, Vós dissestes que não sabeis desprezar um coração contrito e humilhado, e eu arrependo-me de todo o coração e quisera morrer de dor. - Atendei-me, meu Jesus, fazei que nunca me afaste da vossa santa vontade e Vos ame de todo o coração. Esta mesma graça vos peço, ó grande Mãe de Deus e minha Mãe, Maria (*II 282.)

1. Io. 15, 19.
2. Gal. 1, 4.
3. Rom. 8, 7.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 67 - 70.)

Tesouro de Exemplos - Parte 311

AMABILIDADES ENTRE ESPOSOS

Ao falecer uma rainha da Espanha, dizia o rei: "Com sua morte causou-me o primeiro desgôsto após vinte e dois anos de casados". Oxalá se pudesse dizer o mesmo de  tôdas as espôsas... e de tosos os maridos!

25 de abril de 2013

A igreja onde está Jesus sacramentado é o santuário mais augusto.

Elegi et sanctificavi locum istum, ut... permaneant oculi mei et cor meum ibi cunctis diebus – “Escolhi e santifiquei este lugar... para nele estarem fixos os meus olhos, e o meu coração, em todo o tempo” (2 Par. 7, 16).

Sumário. Os peregrinos experimentam grande ternura em visitar a Casa Santa de Loreto, ou os lugares da Terra Santa onde Jesus nasceu, habitou, morreu e foi sepultado. Muito maior, porém, deve ser a nossa devoção quando estamos numa igreja em presença de Jesus Cristo mesmo, oculto no Santíssimo Sacramento. Com efeito, não há santuário mais devoto e consolador do que uma igreja a na qual está Jesus sacramentado. Todavia a maior parte dos homens o deixam quase sempre só e abandonado!

I. Oh! Que ternura experimentam os peregrinos ao visitar a Casa Santa de Loreto ou os lugares da Terra Santa, a Gruta de Belém, o Calvário, o santo Sepulcro, onde Jesus habitou, morreu, foi sepultado! Mas quanto mais terna não deve ser a nossa devoção quando nos achamos numa igreja, em presença do próprio Jesus, que está no Santíssimo Sacramento! Costumava o Bem-aventurado João de Ávila dizer que não conhecia santuário mais devoto e mais consolador do que uma igreja na qual se acha Jesus sacramentado. Por sua vez o Padre Balthazar Alvares chorava ao ver os palácios dos grandes cheios de gente, e as igrejas, onde está Jesus Cristo, vazias e abandonadas.

Meu Deus! Se o Senhor se tivesse deixado ficar em uma só igreja da terra, por exemplo, na de São Pedro em Roma, e ali quisesse dar audiência só num dia do ano, quantos peregrinos, quantos personagens grandes, quantos monarcas procurariam ter a ventura de se achar ali em tal dia, afim de prestarem homenagem ao Rei do céu, voltado à terra! Que tabernáculo precioso, de ouro e ornado de pedrarias não lhe seria preparado! Com que profusão de luzes não se havia de solenizar em tal dia a permanência de Jesus Cristo! Mas não, diz o Redentor, não quero morar em uma só igreja, nem por um dia do ano somente; não exijo tamanha riqueza nem tantas luzes; quero morar continuamente em todos os tempos e lugares, onde quer que vivam os meus fiéis, afim de que todos me achem com facilidade e sempre, na hora que quiserem.

Ah! Se Jesus Cristo não tivesse concebido tão grande fineza de amor, quem jamais pudera excogitá-la? – Se na Ascensão do Senhor ao céu alguém Lhe tivesse digo: Senhor, se quereis demonstrar-nos o vosso amor, ficai conosco sobre os altares debaixo das espécies de pão, afim de que possamos achar-Vos quando quisermos; não seria semelhante pergunta tida por excessivamente temerária? Mas o que nenhum homem podia imaginar, o nosso Salvador o excogitou e executou.

II. Grande Deus! Como correspondem os homens a um Deus que parece como que enlouquecido pelo amor que lhes tem?... Ao menos tu, meu irmão, procura com a tua devoção dar desagravo de tamanha ingratidão, e, quanto o permite a tua condição, procura com palavras e exemplos excitar os outros a visitarem freqüentes vezes o grande Santuário, onde se acha Jesus Cristo presente em pessoa.

Ó Jesus, meu Redentor, ó amor de minha alma, quanto Vos custou o desejo de morardes conosco nesse Sacramento! Primeiro Vos foi preciso sofrer a morte, antes de poder residir em nossos altares, e depois devíeis sofrer tantos ultrajes nesse Sacramento para nos dardes as vantagens de vossa presença! E nós, entretanto, tão lentos e descuidados somos em visitar-Vos, embora saibamos que desejais nossas visitas, para nos cumulardes de bens, quando estamos na vossa presença. Perdoai-me, Senhor, pois que eu também sou do número desses ingratos. De agora em diante quero visitar-Vos freqüentemente e ficar na vossa presença o mais que puder, para Vos oferecer meus agradecimentos, testemunhar meu amor e pedir vossas graças, pois é para isto que ficastes na terra, encerrado nos tabernáculos, feito nosso prisioneiro de amor.

Amo-Vos, ó bondade infinita; amo-Vos, ó Deus de amor; amo-Vos, ó Bem supremo, o mais amável de todos os bens. Fazei com que me esqueça de mim mesmo, me esqueça de tudo, para não pensar senão no vosso amor e empregar todo o tempo de vida que me resta em dar-vos gosto. Fazei com que no futuro não tenha maiores delícias do que em ficar a vossos pés. Abrasai-me todo no vosso santo amor! – Ó Maria, minha Mãe, obtende-me um grande amor ao Santíssimo Sacramento; e quando me virdes cair na negligência, recordai-me a promessa que faço, agora, de ir visitá-lo todos os dias. (II 166.)

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 65 - 67.)

Tesouro de Exemplos - Parte 310

A GRATIDÃO PARA COM DEUS

A venerável Amélia de Vannes tinha o santo costume de elevar o seu espírito a Deus. Vendo um cão, por exemplo, ela fazia esta consideração: Êste animal é amigo do homem; fiel e grato, acompanha-o sempre, faz-lhe festa, retribui com carícias o bom trato que se lhe dá. O homem, porém, que recebe de Deus benefícios sem conta, benefícios a cada instante - o homem, pela salvação do qual Deus deu seu Filho Unigênito, muitas vêzes se esquece de agradecer ao seu supremo benfeitor. Se toma alimento, não se lembra de quem lho deu; se se entrega ao repouso, nenhuma palavra de gratidão pelos benefícios que recebeu no correr do dia. O cão, o animal grato, envergonha o homem ingrato e mal agradecido.

24 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 309

NAPOLEÃO E LAPLACE

O imperador Napoleão I perguntou um dia ao ímpio astrônomo Laplace se admitia a existência de Deus. Laplace respondeu: "Estudei e observei minuciosamente o firmamento e não encontrei Deus". Napoleão acertadamente observou: "Coisa estranha! Se encontro uma obra de arte, suponho um artista, e se contemplo o universo, essa obra tão maravilhosa em si e em tôdas as suas partes, digo a mim mesmo: Deve ser obra de um artista que é tanto mais superior que o universo, pois sobrepuja tôdas as obras-primas feitas pelos homens. Uma máquina pressupõe o engenheiro, uma casa um construtor, o relógio um relojoeiro, etc. A simples razão nos diz isto, e não é preciso ser grande sábio para possuir um tal conhecimento".

A salvação é a única coisa necessária.

Porro unum est necessarium – “Uma só coisa é necessária” (Luc. 10, 42).

Sumário. Não é preciso que neste mundo sejamos cumulados de dignidades, que tenhamos riquezas, boa saúde, gozos terrestres; é necessário tão somente que nos salvemos. Não há meio termo: se não nos salvarmos, seremos condenados; estaremos ou sempre felizes no céu, ou sempre infelizes no inferno! Por isso avisa-nos o Senhor, que amontoemos tesouros, já não neste mundo, mas no céu, onde a ferrugem e os vermes não os consomem, nem os desenterram e roubam os ladrões.

I. Não é necessário que neste mundo sejamos cumulados de dignidades, que tenhamos riquezas, boa saúde e gozos terrestres; mas necessário é que nos salvemos. Não há meio termo: se não nos salvarmos, seremos condenados. Depois desta breve vida seremos ou para sempre felizes no paraíso, ou para sempre desgraçados no inferno.

Quantos mundanos, que outrora gozaram abundância de riquezas e honras, foram elevados às mais altas dignidades, quiçá a tronos, estão agora no inferno! Ali todas as prosperidades gozadas neste mundo só lhes servem para sua maior dor e desesperação. – Eis o que nos avisa o Senhor: Nolite thesaurizare vobis thesauros in terraNão queirais ajuntar tesouros na terra; mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem a ferrugem e os vermes, e onde os ladrões não os desenterram nem roubam (1). Todos os bens terrestres se perdem na hora da morte; mas os bens espirituais são tesouros incomparavelmente mais preciosos e duram eternamente.

Deus manifestou-nos a vontade de que todos sejam salvos, e a todos dá o auxílio para se salvarem. Quem se perder, perder-se-á por culpa própria, e isto será a sua pena mais grave no inferno. Vindicta carnis impii, ignis et vermis (2) – “A vingança da carne do ímpio será o fogo e o verme”. O fogo e o verme roedor (isto é, o remorso da consciência), serão os algozes do réprobo para vingança de seus pecados; mas o verme roedor o atormentará eternamente muito mais que o fogo. – Que dor não causa neste mundo a perda de um objeto de valor, de um diamante, de um relógio, de uma bolsa com dinheiro, mormente quando a perda se deu por descuido próprio? A lembrança da perda faz perder o apetite e o sono, posto que haja esperança de remediá-la de outra maneira. Qual não será então o tormento do réprobo ao lembrar-se que por sua culpa própria perdeu o seu Deus e o paraíso, sem esperança de poder ainda possuí-los?

II. Ergo erravimus (3) – “Logo nos extraviamos do caminho”. Eis aí o que fará os desgraçados réprobos chorarem eternamente: extraviamo-nos do caminho perdendo-nos voluntariamente, e não há mais remédio para o nosso erro. Para todas as desgraças que nos podem sobrevir neste mundo, acha-se com o tempo algum remédio, ou na mudança das circunstâncias ou ao menos na santa resignação à vontade divina. Mas chegados que formos à eternidade, nenhum remédio nos poderá valer, se para desgraça nossa tivéssemos errado o caminho do céu.

Por isso exorta-nos o apóstolo São Paulo a que nos empenhemos na obra da salvação com temor e tremor, isto é, com medo de a perdermos: Cum metu et tremore vestram salutem operamini (4). Este medo fará com que andemos com cautela no caminho do céu e fujamos das ocasiões perigosas e nos recomendemos continuamente a Deus, e deste modo sermos salvos. Roguemos ao Senhor, queira gravar bem fundo em nosso espírito este pensamento, que do último suspiro na hora da morte dependerá o sermos eternamente bem-aventurados ou eternamente desgraçados sem esperança de remédio.

Ó meu Deus, tenho muitas vezes desprezado a vossa graça; mas o Profeta assegura-me que sois misericordioso para com aquele que Vos procura: Bonus est Dominus animae quaerenti illum (5). Outrora fugia de Vós, mas agora Vos procuro; não desejo e não amo senão a Vós; por piedade, não me desprezeis, lembrai-Vos do sangue que por mim derramastes. Esse sangue e a vossa intercessão, ó Mãe de Deus, Maria, são todas as minhas esperanças. (II 277.)

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1. Matth. 6, 19.
2. Ecclus. 7, 19.
3. Sap. 5, 6.
4. Phil. 2, 12.
5. Thren. 3, 25.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 62 - 64.)

23 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 308

DEUS EXISTE

Tornou-se muito conhecido nos Estados Unidos o ateu Whitney. Encontrando-se, últimamente, num hotel de Baltimore em companhia de alguns amigos, começaram a falar de assuntos religiosos. Whitney negou ímpiamente a existência de Deus, e acrescentou: "Vou provar-vos claramente que Deus não existe. Exijo que o assim chamado Todo-poderoso me mate imediatamente; não o fará porque não existe".
Apenas o ateu atinha pronunciado essa blasfêmia e já caiu por terra. Os amigos acudiram, mas em vão. O homem estava morto. A morte trágica dêsse ateu causou por tôda a parte uma terrível impressão (N. Y. H., 1904).

O nada dos bens do mundo.

In manu eius statera dolosa, calumniam dilexit – “Na sua mão está uma balança enganosa; amou a calúnia” (Os. 12, 7).

Sumário. É preciso pesar os bens na balança de Deus e não na do mundo enganador. Olhemos não somente os bens que possui tal senhor, mas atentemos também no que leva consigo na morte. Perguntemos a todos esses ricos, sábios, príncipes e imperadores, que entraram na eternidade e estão queimando no inferno: Que vos restou das pompas, delícias e riquezas gozadas na terra? Todos respondem: “Nada! Os nossos gozos passaram qual sombra, e nada nos resta senão uma eterna desesperação.” Sirva a desgraça dos outros de exemplo para nós!

I. É preciso pesar os bens na balança de Deus e não na do mundo, que é enganadora. Os bens do mundo são desprezíveis, porque não nos satisfazem a alma e acabam depressa. “Os meus dias”, dizia lamentando o santo homem Jó (1), “foram mais velozes do que um cursor; passaram como navios carregados de frutos, como uma águia que se precipita sobre a presa.” Com efeito, os dias de nossa vida passam e fogem, e que nos fica por fim dos gozos da terra? Pertransierunt quase naves – “Passaram como navios”. Os navios não deixam nenhum vestígio da sua passagem; sulcam as ondas agitadas do mar, mas pouco depois já não se vê vestígio algum, nem mesmo o sulco que a sua quilha abriu nas ondas.

Peguntemos a tantos ricos, sábios, príncipes e imperadores, que já entraram na eternidade, o que lhes ficou das pompas, delícias e grandezas gozadas nesta terra. Todos respondem: “Nada! Absolutamente nada!” Ó homem, exclama Santo Agostinho, quid hic habet attendis; quid secum fert atende. Vós vos limitais a contemplar os bens que no mundo possuiu aquele grande senhor; atentai antes no que leva consigo na hora da morte. O que é senão um cadáver infecto e uma mortalha, ambos sujeitos à mesma podridão?

Quando morre algum dos grandes do mundo, apenas se fala dele algum tempo, para logo depois cair no ouvido: Periit memoria eorum cum sonitu (2) – “A sua memória pereceu como som”. E se porventura estes desgraçados caem no inferno, que fazem ali, que dizem? Choram e dizem: Quid profuit nobis superbia aut divitiarum iactantia? – Que fruto colhemos do fausto e das riquezas? Tudo passou como sombra, e só nos resta a mágoa, o pesar e a desesperação eterna. Transierunt omnia illa tamquam umbra (3).

II. Filii huius saeculi prudentiores filiis lucis sunt (4) – “Os filhos deste século são mais prudentes do que os filhos da luz”. Coisa maravilhosa! Quão grande é a prudência dos mundanos no que diz respeito às coisas da terra! Que passos não dão para adquirirem um emprego, uma fortuna! Quantos cuidados têm para conservarem a saúde do corpo! Escolhem os meios mais apropriados, o mais hábil médico e os melhores remédios, o mais puro ar. Mas que descuido no que diz respeito à alma! E no entanto é certo que a saúde, as dignidades, as riquezas devem acabar um dia, ao passo que a alma e a eternidade não acabarão nunca.

Consideremos além disso, diz Santo Agostinho, no muito que os homens sabem sofrer para coisas amadas pecaminosamente. Que não sofre o vingativo, o ladrão, o licencioso para alcançar o seu pravo intento? E depois para a alma nada querer sofrer!

Meu Jesus, agradeço-Vos por me terdes feito conhecer a vaidade do mundo. Abomino e detesto sobre todos os males as ofensas que Vos fiz, e com o vosso auxílio proponho antes morrer mil vezes do que tornar a ofender-Vos. Ó Pai eterno, tende piedade de mim pelo amor de Jesus Cristo. Olhai para vosso Filho morto sobre a cruz. Sanguis eius super nos (5). – Venha sobre mim esse divino Sangue para lavar a minha alma. Ó Rei de meu coração: adveniat regnum tuum (6) – venha a mim o vosso reino. Estou resolvido a repelir todo afeto que não seja para Vós. Amo-Vos sobre todas as coisas; vinde a reinar só em minha alma; fazei que Vos ame e não ame senão a Vós. Desejo agradar-Vos o mais possível e contentar-Vos plenamente no resto de minha vida.

Ó meu Pai, dignai-Vos abençoar este meu desejo, e dai-me a graça de ficar sempre unido convosco. Consagro-Vos todos os meus afetos, e de hoje por diante quero pertencer só a Vós, meu tesouro, minha paz, minha esperança, meu amor, meu tudo; espero tudo de Vós pelos méritos de vosso Filho. – Minha Rainha e Mãe, Maria, valei-me com a vossa intercessão. Mãe de Deus, rogai por mim. (II 60.)

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1. Iob. 9, 25 et 26. Cf. Sap. 5, 10.
2. Ps. 9, 7.
3. Sap. 5, 9.
4. Luc. 16, 18.
5. Matth. 27, 25.
6. Matth. 6, 10.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 60 - 62.)

22 de abril de 2013

Sermão 2º Domingo depois da Páscoa - Padre Daniel Pinheiro - IBP


[Sermão] O Bom Pastor


Sermão para o Segundo Domingo depois da Páscoa
14 de abril de 2013 - Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
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Estamos hoje no Domingo do Bom Pastor. É a festa Patronal do Instituto de que faço parte, Instituto Bom Pastor. Peço que rezem pelo Instituto e por seus membros, padres e seminaristas, em particular pelo vosso servo que está aqui diante de vós.
Peço que rezem também na intenção de nosso apostolado aqui em Brasília.
E como estamos no Domingo do Bom Pastor, gostaria de lembrar que as Missas dominicais são cantadas pelo apostolado em Brasília, o que significa que elas são rezadas antes de tudo pelo bem das ovelhas, pelo bem da alma dos senhores, pelo bem da alma dos que têm ligação com esse apostolado. E isso desde o primeiro domingo que celebrei aqui.
 ***
Ego sum Pastor Bonus.
PC-Shepherd
Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dá a sua vida pelas suas ovelhas.
Nosso Senhor Jesus Cristo recebe nas Sagradas Escrituras vários títulos. Ele é chamado de Deus, Senhor, Senhor dos senhores, Salvador, Rei, Mestre… No Evangelho de hoje Nosso Senhor se designa como o Bom Pastor. A figura do pastor sempre foi tida como nobre entre os judeus. E muitos foram os pastores no Antigo Testamento que prefiguraram Nosso Senhor, o Bom Pastor. O primeiro dos pastores foi Abel, que oferecia um sacrifício agradável a Deus.  Abraão também foi pastor, assim como Jacó e seus filhos. Moisés, sendo pastor do rebanho de seu sogro, viu Deus no monte Sinai. Também David antes de ser rei havia sido pastor e foi com as armas de um pastor que ele derrotou o gigante Golias. Mas pastor significa não somente aqueles que tomam conta dos animais, dando-lhes de comer, guiando-os e defendendo-os, mas também aqueles que governam o povo, quer dizer, os sacerdotes e os reis. O Senhor havia dito ao Rei David: “És tu que apascentarás meu povo e serás o chefe de Israel.”  E  do pagão Ciro, libertador dos judeus, o Senhor disse: “É meu pastor, executará em tudo a minha vontade.” Finalmente, o próprio Deus se designa como Pastor de seu povo, quando diz, por exemplo: “E vós, minhas ovelhas, o rebanho que apascento, vós sois homens. E eu sou o Senhor seu Deus.”
Nosso Senhor Jesus Cristo se designa, então, o Bom Pastor. O texto grego, literalmente traduzido nos diz o seguinte: Eu sou o Pastor, o Bom. Isso significa que Jesus Cristo afirma ser o pastor por excelência, o único pastor, do qual alguns são uma figura – os pastores do Antigo Testamento – e os outros uma participação – os pastores da nova e eterna aliança. Ao se afirmar como o pastor por excelência, Nosso Senhor atribui a si mesmo as boas qualidades próprias dos pastores do Antigo Testamento que acabamos de citar, mas também o sacerdócio supremo e a realeza suprema. E ao afirmar ser o pastor por excelência, Ele afirma a sua divindade, porque somente Deus é o Pastor por excelência, supremo, único, que governa todas as coisas. E Ele é o Bom Pastor, que dá a sua vida pelas suas ovelhas.
Não somente nos guiou ensinando-nos uma doutrina celestial e dando-nos o exemplo. Não somente nos defendeu contra os falsos pastores e doutores, contra os mercenários. Não somente nos alimentou, dando-nos graça em abundância. Não. A bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo foi tanta que ele entregou sua própria vida para nos salvar, e a entregou quando ainda éramos pecadores. Ninguém a tirou, mas foi Ele quem deu a sua vida pelas ovelhas. Nosso Senhor poderia ter resistido aos seus inimigos e vencido com um sopro de sua boca, como mostrou no Jardim das Oliveiras, momentos antes de sua prisão pelos fariseus: Ele fez que seus inimigos caíssem por terra pela força de sua palavra. O Bom Pastor, porém, dá a vida pelas suas ovelhas, para salvá-las. Evidentemente, o pastor que cuida de animais, deve alimentá-los, guiá-los, defendê-los dos predadores, mas não deve jamais dar a sua vida por esses animais, pois a vida de um homem é muito superior ao bem de alguns animais. Todavia, o pastor de homens, os bispos, os padres, os governantes, os chefes de família, seguindo o exemplo de Cristo, devem dar a sua vida física pelo bem espiritual de seus súditos, porque o bem espiritual deles está muito acima do bem físico que é a vida do pastor.
A ovelha é o animal que mais requer a proteção do homem, tanto por seu instinto fraco quanto por sua incapacidade de se defender dos muitos inimigos a que está exposta. Para compensar tais deficiências ela é, por outro lado, extremamente dócil às ordens dadas pelo pastor. Se vemos hoje uma quantidade enorme de ovelhas mortas, que se perderam no caminho, ou que abandonaram o único rebanho de Cristo, isso se deve à falta de bons pastores, que não se espelham em Nosso Senhor, Bom Pastor por excelência, mas que agem como mercenários e ladrões. As ovelhas, abandonadas sem um bom pastor, terminam seguindo os lobos, seguindo qualquer ideologia, qualquer partido, qualquer seita, qualquer aparição. Daí a importância do pastor ser um bom pastor, porque as ovelhas vão segui-lo para o bem ou para o mal. O Bom Pastor dá a vida por suas ovelhas. E se ele não tem a oportunidade de morrer de fato por suas ovelhas, ele deve dar a sua vida por elas consagrando-se inteiramente ao serviço delas, ao bem delas. Para tanto, o Bom Pastor deve guiar suas ovelhas, ir adiante delas, defendê-las e alimentá-las.
Ele deve guiar as ovelhas ensinando com fidelidade extrema a verdade revelada por Deus, a exemplo de Cristo, que nos falou unicamente daquilo que Ele ouviu do Pai. Os pastores devem, então, guardar e transmitir com fidelidade extrema o depósito da fé, confiado por Nosso Senhor à sua Igreja. Os pastores devem transmitir aquilo que receberam de Cristo, dos Apóstolos e dos sucessores dos Apóstolos, sem novidades e desvios, sem alterar um só jota. É o mercenário, buscando seu bem próprio e não o bem das ovelhas, que as guia por caminhos tortuosos, ensinando não aquilo que recebeu de Deus, mas suas próprias invenções, vãs filosofias e ideologias. O Bom Pastor renuncia a si mesmo, para ser porta-voz fiel do ensinamento de Cristo e da Igreja.
O bom pastor, além de guiar as ovelhas, vai adiante delas. Porque ele não é como os fariseus mercenários que dizem e não fazem, impondo aos outros uma carga pesada que eles mesmos não suportam. O bom pastor, ao contrário, coloca sobre si mesmo e sobre suas ovelhas o jugo leve e suave da lei de Cristo, e ele vai adiante delas, praticando aquilo que ensina, assim como Nosso Senhor começou a fazer antes de ensinar e como nos diz São Pedro na Epístola de hoje: Ele nos deixou o exemplo para que sigamos seus passos. O bom pastor nos guia não somente pelas palavras, mas mostra o caminho a ser seguido também pelo seu exemplo.
O bom pastor, além de guiar a ovelhas e ir adiante delas, as defende, vigiando dia e noite para afastar os animais ferozes e os predadores, a exemplo de Davi, que defendia as ovelhas do rebanho de seu pai: quando vinha um leão ou um urso roubar uma ovelha do rebanho, diz Davi, eu o perseguia e o matava, tirando-lhe a ovelha da boca. E se ele se levantava contra mim, agarrava-o pela goela e estrangulava-o. Assim devem os pastores agir face ao inimigo, face ao mundo que quer tirar as ovelhas do único rebanho de Cristo, que é a Igreja Católica. Assim devem os pastores agir face aos falsos profetas que ensinam uma doutrina alheia à doutrina de Cristo, face aos mercenários que procuram unicamente o próprio bem e não o bem das ovelhas. O mercenário, preocupado unicamente com seu lucro, vendo os predadores e os inimigos, foge, deixando as ovelhas à mercê do lobo que as arrebata e as desgarra, quer dizer, que as conduz para fora do rebanho de Cristo ou lhe tira a vida da graça. Face ào mundo, face às falsas doutrinas, face ao aparicionismo, o mercenário foge, sem combater, ou fica, mas para aderir ao mundo.
Finalmente, o bom pastor alimenta suas ovelhas pela transmissão da graça, que se faz antes de tudo pela administração dos sacramentos, em particular pela eucaristia. Para tanto, o bom pastor deve ser instrumento agradável a Deus e dócil. Guiando, indo adiante de suas ovelhas, defendendo-as e alimentando-as, o bom pastor entregará inteiramente sua vida por suas ovelhas, buscando unicamente o bem espiritual delas. As ovelhas reconhecerão nesse bom pastor a voz de Nosso Senhor Jesus Cristo, assim como João Batista reconheceu Cristo pela voz de Nossa Senhora e como Maria Madalena reconheceu Cristo ressuscitado pela sua voz. As ovelhas de Cristo reconhecem a voz dEle.
O bom pastor tem o dever, além de cuidar das ovelhas que já pertencem ao rebanho de Cristo, de buscar as ovelhas que ainda não pertencem a tal aprisco, a fim de que haja um só rebanho e um só pastor. Ele deve então buscar essas ovelhas desgarradas, sem medir esforços, convertendo-as ao único rebanho de Cristo, que é a Igreja, una pela unidade da fé, de governo e de culto.
A tantas obrigações dos pastores corresponde a docilidade dos fiéis para com o bom pastor, a exemplo da docilidade das ovelhas quando são apascentadas. Nosso Senhor diz: eu conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem. As boas ovelhas devem, então, reconhecendo a voz de Cristo na boca dos bons pastores, conhecer o Salvador cada vez mais perfeitamente, e conhecê-Lo de um conhecimento não somente teórico, mas também prático, conhecendo sua doutrina, seu espírito, suas virtudes, unindo-se a Ele, imitando-o e estando pronto para sofrer por Ele.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Tesouro de Exemplos - Parte 307

ÉS UMA GRANDE PECADORA

S. Filipe Néri  foi visitar a Irmã Escolástica, da Congregação de S. Marta, que se julgava condenada, e disse-lhe:
- O céu lhe pertence: é seu.
- É impossível, sr. padre - disse ela.
- Aí está a sua loucura - respondeu o santo - Por quem morreu Jesus?
- Pelos pecadores.
- Pois bem, a sra. é uma grande pecadora e Jesus morreu para salvá-la; portanto, o céu é seu.

Da Tibieza.

Quia tepidus es, et nec frigidus nec calidus, incipiam te evomere ex ore meo – “Porque és morno, e nem frio nem quente, começarei a vomitar-te da minha boca” (Apoc. 3, 16).

Sumário. A verdadeira tibieza consiste em que a alma cai em pecados veniais plenamente voluntários, dos quais pouco se arrepende, e que menos ainda se esforça por evitar, dizendo que são coisas de pouca monta. Temamos cair nesta tibieza, porque é semelhante à febre héctica, que não inspira muito cuidado, mas é tão maligna que não deixa quase esperança de cura. Infeliz da alma que faz as pazes com os pecados, posto que leves; a desgraçada irá de mal a pior. Sendo ela tão avarenta para com Deus, como pode pretender que o Senhor seja liberal para com ela?

I. Há duas espécies de tibieza, uma inevitável, outra evitável. A inevitável é a da qual na vida presente nem conseguem isentar-se as almas espirituais, que pela fragilidade humana não podem evitar que não caiam de vez em quando, sem vontade plenamente deliberada, em alguma falta leve. Desta espécie de culpas nenhum homem pode ficar livre sem uma graça especialíssima, que foi somente concedida à Mãe de Deus, porque a nossa natureza humana ficou corrompida pelo pecado original. – Deus permite tais manchas até mesmo nos Santos, para conservá-los humildes. Muitas vezes sentem-se estes frios, aborrecidos e desgostosos em seus exercícios de devoção, e em semelhante tempo de aridez caem facilmente em muitos defeitos, ao menos indeliberados.

Quem estiver em tal estado, não omita as suas devoções habituais, nem perca o ânimo, nem creia que já caiu na tibieza, porque isso não é propriamente tibieza. A tibieza verdadeira e deplorável é a que faz a alma cair em pecados veniais plenamente refletidos, de que quase não se arrepende e que se esforça menos ainda por evitar, sob o pretexto de que são coisas de pouca monta o ofender a Deus? Dizia Santa Teresa a suas religiosas: Minhas filhas, Deus vos livre do pecado cometido refletidamente, por leve que ele seja.

Dizem: os pecados veniais não nos privam da graça de Deus. Quem fala desta maneira, está em grande perigo de ver-se um dia cair em pecado mortal e privado da graça divina. Escreve São Gregório, que quem cai em pecados veniais deliberados e habituais sem fazer caso deles e sem pensar em emendar-se, nunca para no sítio em que caiu, mas afinal cairá no precipício: Nunquam illic anima quo cadit iacet. – As enfermidades mortais não provêm sempre de graves desordens, mas de muitas desordens leves e continuadas. Do mesmo modo a queda de certas almas em pecados graves, muitas vezes provem do hábito de pecar venialmente, pois este torna a alma tão débil, que, quando assaltada por alguma tentação mais forte, não tem força para resistir, e cai.

II. Que spernit modica, paulatim decidet (1) – “Quem despreza as coisas pequenas, de pouco a pouco cairá”. Quem não faz caso das quedas leves, facilmente se verá um dia caído num precipício. Diz o Senhor: Porque és tépido, começarei a vomitar-te de minha boca (2). Estou a vomitar-te, quer dizer, para abandonar-te, ou ao menos te privarei dos auxílios divinos especiais que são necessários para te conservar na graça. – Compreendamos bem este ponto. O Concílio de Trento condena àquele que diz que nós podemos perseverar na graça sem um auxílio especial e extraordinário de Deus; mas este auxílio especial Deus o negará com justiça àquele que comete de olhos abertos pecados veniais, sem fazer caso deles. Qui parce seminat parce et metet (3) – “Quem pouco semeia, pouco colhe”. Se nós formos avarentos para com Deus, como podemos esperar que Deus seja liberal para conosco?

Infeliz, portanto, da alma que fez as pazes com os pecados, posto que veniais; irá de mal a pior. As paixões, arraigando-se cada vez mais, facilmente obcecarão a alma, e um cego facilmente cairá num precipício, quando menos o suspeita. Temamos, pois, cair na tibieza. A tibieza voluntária é qual febre héctica, que inspira pouco cuidado, mas é tão maligna, que dificilmente dela se sara.

Senhor, tende piedade de mim. Vejo que já mereço ser vomitado por Vós por causa das muitas imperfeições com que Vos sirvo. Ai de mim! É por isso que me vejo sem amor, sem confiança, e sem desejos. Meu Jesus, não me abandoneis; estendei a vossa mão poderosa e tirai-me do abismo da tibieza em que caí. Fazei-o pelos méritos de vossa Paixão, na qual confio. – Virgem Santíssima, os vossos rogos podem levantar-me; rogai por mim (4). (II 311.)

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1. Ecclus. 19, 1.
2. Apoc. 3, 16.
3. 2 Cor. 9, 6.
4. “Posto que seja difícil um tíbio emendar-se, não faltam remédios para os que quiserem usar deles. Estes remédios são: 1. Resolver-se a sair a todo custo de tão lastimoso estado. 2. Fugir das ocasiões das quedas, sem o que não há esperança de emenda. 3. Recomendar-se freqüentemente a Deus, pedir-Lhe fervorosamente que dê forças para livrar-se de um estado tão deplorável; e não deixar de rezar, enquanto se não esteja inteiramente fora de todo o perigo.” (II 311.)

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 57 - 60.)

21 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 306

POR TER QUEBRADO UM VASO

Um grande de Roma convidou à sua mesa o imperador Augusto. Durante o festim, um escravo quebrou um vaso de Cristal, pelo que seu amo o condenou à morte. Indignado, Augusto quebrou tôda a baixela, dizendo: "Cruel! Ignoras que a vida de um homem é mais preciosa que tôdas estas baixelas?"
Deus, às vezes, faz o mesmo com algum pecador: tira-lhe todos os bens para que abra os olhos e veja o grande mal que fêz, porque, se lhos deixa até ao fim, o castigo será mais terrível.

20 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 305

CARLOS MAGNO E OS MANDAMENTOS

Carlos Magno, um dos maiores soberanos, foi provado por Deus com a morte de quatro de seus filhos. Restando-lhe sómente seu filho Luís, quis associá-lo ao império. Chegado o momento solene, quando todos os magnatas rodeavam o altar sôbre o qual estava a coroa, Carlos Magno volveu-se para o filho e, cheio de emoção, disse: "Filho querido de Deus e do povo; tu, a quem Deus conservou para meu consôlo, vês que minha vida está declinando; que os meus anos passam e a morte se aproxima. Prometes-me temer a Deus, guardar os mandamentos e proteger a Igreja?" Luís prometeu chorando de comoção. Carlos Magno, pondo a coroa sôbre a cabeça de seu filho, acrescentou: "Recebe, pois a coroa e jamais te esqueças de teu juramento!"

19 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 304

FUNDAMENTO DO DEVER

O dogma é a base da moral. Quando Miguel Renaud, em 1871, foi eleito deputado, ao chegar a Versalhes alugou um apartamento por 150 francos mensais. Pagou adiantado. O proprietário perguntou-lhe se queria que lhe passasse o recibo. O deputado respondeu:
- Para que passar recibo entre homens de bem? Deus nos vê.
- O senhor crê em Deus? - perguntou o dono da casa.
- Creio, naturalmente - respondeu Miguel.
- Pois eu não - replicou o outro.
- Nesse caso, passe-me logo recibo - disse o deputado - porque quando não há fé, a moral carece fundamento.

18 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 303

O MELHOR CILÍCIO

Uma senhora piedosa - ou que o julgava ser - era muito inclinada à maledicência e encontrava defeitos em tôda gente. Um dia pediu ao diretor espiritual licença para pôr-se o cilício. O sacerdote, homem de muita experiência, conhecia a fundo a sua penitente. Pôs os dedos sôbre os lábios e disse: "Filha, para a senhora o melhor cilício será prestar atenção a tudo o que passa por esta porta".

17 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 302

MAUS CONSELHEIROS

Os cortesãos do imperador Frederico III, tutor do rei Ladislau da Hungria, sugeriram-lhe o envenenamento de seu pupilo para se apoderar da coroa. Mas o nobre imperador replicou-lhes: "É êste o conselho que me dais, homens sem fé e sem honra? Fora daqui! Que meus olhos não vos tornem a ver". E os cortesãos foram expulsos da côrte e desterrados em castigo de seu criminoso conselho.

16 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 301

JUSTO REMORSO

O herege Berengário, mesmo depois de fazer penitência de seus pecados, à hora da morte experimentou grandes angústias, causadas pelos remorsos da consciência. E dizia ao sacerdote que o socorria e animava naquela hora tremenda: "Não temo os meus pecados, mas os que cometeram as almas a quem dei escândalo". E tudo isto, apesar de que, para reparar êsses pecados de escândalo, dera muito bom exemplo e se dedicara em sua casa ao ensino do catecismo.

15 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 300

A CAPA DE SÃO MARTINHO

Monsenhor Guibert, arcebispo de Tours, numa de suas visitas pastorais, advertiu que as meninas, que se apresentavam para receber o sacramento da crisma, vestiam com muita imodéstia. Não as  teria admitido ao sacramento, se o vigário não lhe houvesse apresentado tôda a sorte de escusas. Contudo, o santo prelado não se absteve de dizer em voz alta, para que o ouvissem: "Seria mister que S. Martinho desse a estas meninas a metade de sua capa".

14 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 299

ACHADO FUNESTO

Um pedreiro encontrou uma caixinha na parede da casa em que trabalhava. Abriu-a, e encontrou-a cheia de jóias e moedas de ouro e prata. A ninguém deu parte o achado, e levou a caixinha para casa. Três dias depois, indo a uma joalheria para vender as jóias encontradas, o joalheiro chamou imediatamente a polícia para que prendessem: é que o joalheiro reconheceu as jóias que há um ano apenas vendera a um senhor que fôra assassinado e roubado. O pedreiro não pôde justificar a posse das jóias e foi condenado a muitos anos de prisão.

13 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 298

INTERESSANTE ELOGIO FÚNEBRE

Em 1887 morreu na cidade de N. uma velhinha que passava dos cem anos. Fôra sempre muito admirada, porque em sua longa existência nunca a ouviram falar mal do próximo nem murmurar. E como ao morrer ainda conservava todos os dentes, fêz-lhe o pároco êste elogio original: "Esta boa mulher conservou todos os dentes porque nunca mordeu a ninguém!".

12 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 297

DESTINO DE UMA ALMA

Um comerciante que se enriquecera muito cometendo tôda a sorte de fraudes, à hora da morte, chamou um tabelião e ordenou-lhe que ao seu testamento acrescentasse o seguinte:
"Quero que, depois de morto, o meu corpo seja devolvido à terra de onde saiu, e minha alma ao demônio ao qual pertence". As pessoas presentes ficaram aterrorizadas, e esforçaram-se por dissuadi-lo; mas êle insistiu com energia, dizendo: "Não me retrato. Quero que minha alma seja entregue ao demônio, junto com a da minha espôsa e de meus filhos. A minha,  porque me enriqueci a custa de furtos e fraudes; a de minha espôsa, porque ela me induziu a tais pecados com seu luxo desmedido; as de meus filhos, porque, levado pelo amor que lhes tenho, nunca me decidi a restituir o que não é meus". Ditas essas palavras, expirou o infeliz sem poder reparar o mal que fizera.

11 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 296

INFLUÊNCIA DA MÃE RELIGIOSA

O famoso pianista Chopin teve uma mãe muito boa. Êle, porém, freqüentando o mundo corrompido, perdeu a fé. Em sua derradeira enfermidade visitou-o um grande amigo seu, o sacerdote polonês Jelowieski, que lhe falou de Deus. Nada conseguiu. E vendo que os dias iam passando sem nada conseguir, toma o Crucifixo, coloca-o nas mãos de Chopin e diz-lhe: "Tu te recusarás a crer o que tua mãe te ensinou quando eras criança?" Chopin pôs-se a chorar e pediu os santos sacramentos, que recebeu com grande fervor. Agradecido a tão bom amigo, ao despedir-se dêle antes de morrer, disse: "Adeus, Jelowieski; tú fôste para mim o amigo mais fiel". A lembrança da sua mãe salvou a Chopin.

10 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 295

OBEDIÊNCIA AO MARIDO

S. Francisca Romana estava recitando o Ofício da SS. Virgem, quando seu marido a chamou. Deixou a oração e foi atendê-lo; depois continuou. Mas, enquanto rezava uma antífona, quatro vêzes a chamou o marido, e quatro vêzes interrompeu a oração e foi atendê-lo, continuando depois de terminada a ocupação. Na quarta vez, viu com surprêsa que a antífona estava escrita com letras de ouro, e foi-lhe revelado que Deus lhe concedera aquela graça para que soubesse quanto a Nossa Senhora agradava a obediência ao marido.

9 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 294

SERVIA-OS ÊLE MESMO

A caridade de S. Luís, rei da França, era prodigiosa. Tôdas as quartas, sextas e sábados da Quaresma e do Advento dava de comer em seu palácio a treze pobres que êle mesmo servia.
Servia-lhes uma sopa e duas espécies de alimentos. Cortava e distribuía o pão. Punha, além disso, ao lado de cada um dois pães, para que levassem para casa. Se entre os pobres havia algum cego, punha-lhes as coisas na mão e guiava-o. Dava, também, a cada um dêles uma esmola em dinheiro, conforme as necessidades. Finalmente, aos sábados, fazia separar os três mais pobres e lavava-lhes os pés.

8 de abril de 2013

Sermão 1º Domingo depois da Páscoa, in albis - Padre Daniel Pinheiro - IBP



[Sermão] A Ressurreição de Cristo


Sermão para o Primeiro Domingo depois da Páscoa (Domingo in Albis)
08 de abril de 2013 - Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
***
Estamos hoje na Oitava da Páscoa, no denominado Domingo in Albis, quer dizer, no Domingo em branco. Os catecúmenos que haviam sido batizados na Vigília da Páscoa guardavam a roupa branca, simbolizando a pureza batismal e o dever de conservá-la ao longo da vida, durante toda essa semana e a tiravam nesse Domingo. Esse Domingo também é chamado de Quasi modo, das primeiras palavras do Intróito.
***
Dominus meus et Deus meus. Meu Senhor e meu Deus.
Comemoramos, caros católicos, ao longo desses oito dias, a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. O milagre da Ressurreição de Cristo é a prova definitiva de sua divindade, a prova definitiva que aquilo que nos falou e ensinou é verdade. A prova definitiva de que Ele é a Verdade, o Caminho, a Vida. Só Deus pode fazer um milagre, quanto mais ressuscitar um morto e ressuscitá-lo para a vida eterna. Nosso Senhor, sendo homem e Deus, ressuscitou a si mesmo, em virtude de sua divindade, que continuou unida ao seu corpo e à sua alma após a morte.
Sendo a Ressurreição de Nosso Senhor a prova definitiva de sua missão divina e de sua divindade, sendo sua Ressurreição um argumento irrefutável de que devemos crer naquilo que disse e praticar aquilo que ensinou, muitos ao longo da história quiseram negar a Ressurreição do Salvador, a fim de continuarem a seguir suas próprias paixões e suas próprias invenções. Não há escolha: ou Cristo ressuscitou e é Deus e devemos consequentemente segui-lo, ou Ele não ressuscitou e, nesse caso, vã seria a nossa fé, como diz São Paulo.
É óbvio que a Ressurreição de Cristo é um fato certo, caros católicos. Para compreendermos isso, é preciso saber primeiramente que a morte de Nosso Senhor é um fato certo e não uma aparência como disseram alguns. Ele morreu na Cruz à vista de todos, teve seu coração transpassado pela lança. Pilatos entregou o corpo de Cristo a José de Arimatéia somente depois de ter certeza de que Cristo estava morto. Os discípulos fiéis e as santas mulheres tiraram o corpo de Nosso Senhor da Cruz e o prepararam, ainda que rapidamente, pois era véspera do sábado, para colocá-lo no sepulcro. Se eles tivessem a menor esperança de que Ele estivesse vivo, não o teriam sepultado. Nosso Senhor morreu verdadeiramente e por isso Ele quis ficar três dias no sepulcro, para demonstrar a realidade de sua morte. Também o fato de ter sido sepultado é um fato indiscutível. E Nosso Senhor não foi colocado numa fossa comum, mas em um túmulo novo, aberto na rocha, túmulo que pertencia a José de Arimatéia, membro do Sinédrio, discípulo de Cristo e homem rico, capaz de ter um túmulo novo a pouca distância do Monte Calvário. Tanto é assim que os chefes dos judeus enviaram soldados para vigiar o túmulo. A lei romana em vigor na época mandava que o corpo dos supliciados fosse entregue aos amigos e parentes. Nosso Senhor morreu e foi sepultado, como recitamos no Credo. Não há dúvida.
Ao terceiro dia, Ele ressurgiu dos mortos. Voltando ao sepulcro no domingo para completar a preparação do corpo de Nosso SEnhor, as santas mulheres e depois os Apóstolos encontraram o túmulo vazio. Todas as hipóteses foram feitas para explicar esse fato de uma forma puramente natural. Sucessivamente, os Apóstolos, as santas mulheres, José de Arimatéia e até mesmo os chefes dos Judeus foram acusados de terem tirado o corpo do Salvador do Sepulcro. Evidentemente, nenhuma dessas hipóteses é minimamente plausível. Tudo se opõe à hipótese de que os discípulos tenham tirado o corpo de Jesus do sepulcro. Durante a paixão e morte de Jesus, eles o abandonaram, fugiram com medo de morrer e Nosso Senhor ainda estava vivo. Agora que Cristo está morto eles teriam coragem para enfrentar os soldados e tirá-lo do sepulcro? Além disso, o fato de levar o corpo de um lugar para o outro era uma profanação, proibida pela Lei, ainda observada pelos discípulos. Os soldados, com medo de serem castigados, disseram que os discípulos haviam tomado o corpo de Cristo enquanto estavam dormindo. Mas se os soldados estavam dormindo, como poderiam saber que os discípulos tiraram o corpo de Cristo do sepulcro? O Corpo do Mestre não foi tirado pelos discípulos. Nem pelos chefes dos judeus. Se os chefes dos judeus tivessem tirado o corpo de Cristo do sepulcro, bastaria expô-lo ao público, quando os Apóstolos começaram a pregar a Ressurreição de Nosso Senhor, para destruir o cristianismo. Mostrar o corpo de Cristo morto seria muito mais eficaz do que as perseguições.
A crença na ressurreição também não se trata, caros católicos, de alucinação individual ou coletiva, nem de crença por autossugestão. Os Apóstolos e os discípulos não tinham praticamente nenhuma inclinação a acreditar na Ressurreição, apesar de Cristo tê-lo anunciado algumas vezes. Maria Madalena, os discípulos de Emaús, os Apóstolos, e, no Evangelho de hoje, São Tomé, só acreditam depois de uma prova definitiva da Ressurreição de Cristo, depois de vê-lo e de comprovarem que é Nosso Senhor com verdadeiro corpo, que come, que pode ser tocado. E as aparições de Nosso Senhor Ressuscitado são a prova direta de sua Ressurreição. O Santo Evangelho nos narra nove. Para Maria Madalena, para as santas mulheres, para São Pedro, para os discípulos de Emaús, aos Apóstolos, São Tomé estando ausente. Oito dias depois, na oitava de sua Ressurreição, Cristo aparece novamente aos Apóstolos, com São Tomé presente: é o Evangelho de hoje. E duas aparições na Galiléia, uma no Lago de Tiberíades, e uma sobre uma montanha. Ele apareceu a 500 discípulos, diz São Paulo e, finalmente, no monte das Oliveiras, antes de sua Ascensão  E o Evangelho é digno de fé. O valor histórico deles é indiscutível. A autenticidade também é indiscutível. São os Apóstolos e os Evangelistas que nos narram a verdade do que aconteceu. Qualquer historiador sério e de boa-fé chega a essa conclusão, a partir da ciência histórica. Além disso, sabemos que os Evangelhos são inspirados por Deus, isentos de qualquer erro, que são a própria palavra de Deus, que não pode se enganar nem nos enganar. Querer negar a Ressurreição é negar irracionalmente a possibilidade do sobrenatural.
Portanto, caros católicos, nossa fé na Ressurreição de Nosso Senhor tem um fundamento sólido e inabalável. E, sabendo que Cristo ressuscitou, nossa fé não é vã. Era necessário que Cristo ressuscitasse por cinco razões, diz São Tomás.
Primeiro, Cristo ressuscita para manifestar a justiça divina, que exalta aqueles que se humilham por obediência e caridade. Cristo se humilhou por obediência e caridade até a morte e morte de cruz. Nada mais conveniente que fosse exaltado pela ressurreição.
Segundo, Ele ressuscita para que mudemos de vida, morrendo com Cristo para o pecado e ressuscitando com Ele para uma vida nova, vida da graça, de virtude.
Terceiro, Cristo ressuscita para nos dirigir para as coisas do alto: se ressuscitamos com Cristo para a vida da graça, arrependidos de nossos pecados, devemos buscar as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus Pai, devemos apreciar as coisas do alto e não aquelas que estão sobre a terra (Col. 3,12).
Em quarto lugar, Cristo ressuscita para auxiliar a nossa fé quanto à sua divindade. Aquele que ressuscita por seu próprio poder e ressuscita para não mais morrer é verdadeiramente Deus.
Finalmente, Ele ressuscita para nos encher de esperança, pois quando vemos Cristo, nossa cabeça, ressuscitar, esperamos também nós, seus membros, poder ressuscitar, e esperamos com grande confiança.
Se Cristo é verdadeiramente Deus, caros católicos, e não há dúvida possível nisso, como nos mostra o Santo Evangelho e, de modo particular, sua ressurreição, confessemos com São Tomé: Meu Senhor e meu Deus. É essa a conclusão do Santo Evangelho: Meu Senhor e meu Deus. Se Cristo é nosso Senhor e nosso Deus, como não segui-lo em todas as coisas? Como não segui-lo em todas as coisas com alegria e entusiasmo, mesmo nas cruzes? Se Cristo é nosso Senhor e nosso Deus – e Ele o é – precisamos agir em consequência, caros católicos. Precisamos aderir a Ele e a sua Igreja com toda a nossa inteligência, com toda a nossa vontade, com toda a nossa alma, com todo o nosso ser. É dessa adesão total a Nosso Senhro que virá essa verdadeira paz que Cristo deseja três vezes aos seus discípulos no Evangelho de hoje. Poderíamos chamar esse domingo de “domingo da paz”, “domingo da paz de Cristo”, que não é a falsa paz do mundo, do politicamente correto, do indiferentismo religioso, do relativismo, do bom mocismo. A paz de Cristo não exclui o bom combate, mas o pressupõe. Ela exclui, isso sim, o pecado e nos dá a tranquilidade pela graça, pela ordenação da nossa vida a Deus. Para alcançar essa paz, precisamos do sacramento da confissão, instituído por Cristo junto com esse desejo de paz: “recebei o Espírito Santo: a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados”. Para alcançar essa paz, morramos com Cristo para o pecado e nasçamos novamente com Ele para a vida da graça, para vida segundo a vontade divina. Para ter essa paz, confessemos com toda força e clareza que Cristo é Deus com nossas palavras e com nossas obras. É essa a fé que venceu e vence o mundo. Não tenhamos medo. É a nossa fé que opera pelas obras que vence o mundo, que nos traz a paz e a vida eterna.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Tesouro de Exemplos - Parte 293

QUEM É ÊSSE MORTAL?

A irmã do rei S. Luís estava um dia a confeccionar um vestido. O santo disse-lhe:
- Minha irmã: logo me fareis presente dêsse vestido, não é?
- Meu irmão: eu o destino a um príncipe maior que V. Majestade.
- E quem é êsse afortunado mortal?
- É um pobre de Jesus Cristo, e portanto é Jesus Cristo mesmo a quem eu o prometi.

7 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 292

ACONTECIMENTO FUNESTO

Um jovem foi condenado a quinze anos de presídio. Ouvida a sentença, pediu lhe permitissem falar, e disse: "Perdôo aos juízes pela sentença, que é justa; perdôo a quem me conduz ao cárcere, porque cumpre o seu dever; mas não posso perdoar a meu pai, que ali está, porque se me tivesse dado bom exemplo, corrigido e castigado a tempo, eu não estaria aqui". Ouvida esta acusação, o pai caiu morto.

6 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 291

EU O SEREI, MAMÃE

Uma boa mãe tinha quatro filhos, aos quais formava na piedade. Uma noite, depois de rezar com êles e falar-lhes de Deus, disse-lhes com  grande ternura: "Que feliz seria eu se um de vocês chegasse a ser santo!"
O mais pequeno lançou-se nos braços da mãe, dizendo: "Eu o serei, mamãe!" E cumpriu a palavra: Foi o papa S. Pedro Celestino.

5 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 290

SEI SER FIEL

Uma mulher espartana pediu emprêgo numa casa. Quando lhe perguntaram o que sabia fazer, respondeu: "Eu sei ser fiel".

4 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 289

COMPRA-O E ASSIM TERÁS DOIS

Um pai perguntou a Aristipo quanto lhe cobraria pela educação de seu filho:
- Mil dracmas - respondeu o educador.
- É muito - replicou o pai; por êsse preço eu posso comprar um escravo.
- Compra-o e assim terás dois (o escravo e teu filho), acrescentou Aristipo.

3 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 288

AONDES IDES?

Crates, filósofo pagão, indignava-se muito contra os pais que descuraram o dever da educação dos filhos, e costumava dizer: "Se me fôsse possível, subiria à parte mais alta da cidade e gritaria com tôdas as minhas fôrças: Aonde ides, homens, cuja única preocupação é amontoar riquezas, descuidando-vos de vossos filhos, aos quais as deixareis?

2 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 287

FAÇO UM PRATO DE PAU

Um camponês estava ocupado a fazer um prato de pau. Seu filho, que o observava, perguntou-lhe o que fazia.
- Faço um prato de pau pra seu avó, - respondeu o homem - porque sempre deixa cair e quebrar o prato de louça.
O menino replicou:
- Pai, faça-o resistente, para que eu possa dar ao senhor quando fôr velho.
Estas palavras causaram-lhe tal impressão que imediatamente desistiu da obra e tratou melhor a seu velho pai.

1 de abril de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 286

CASTIGO SEM PRECEDENTE

Em Palma, Colômbia, deu-se um fato duplamente triste. Um velho de nome Ruben Miranda tinha um filho chamado Rogério, de péssimos antecedentes. Várias vêzes havia batido no pai.
Desta vez espancou-o brutalmente com um pau diante de muita gente. As pessoas que assistiram à cena quiseram castigar o mau filho, que, vendo-se em perigo, fugiu para um potreiro. Apenas ali chegado, abriu-se uma fenda aos pés do fugitivo. Produziram-se tremores e a terra começou a tragar o filho desnaturado. Foi tragado pouco a pouco. Nenhum dos presentes se atreveu a socorrê-lo, pois temiam afundar-se. Foi desaparecendo no meio de gritos espantosos, que cessaram quando a terra lhe fechou a bôca.
Os assistentes retiraram-se horrorizados.