Elegi et sanctificavi locum istum, ut... permaneant oculi mei et cor meum ibi cunctis diebus – “Escolhi e santifiquei este lugar... para nele estarem fixos os meus olhos, e o meu coração, em todo o tempo” (2 Par. 7, 16).
Sumário. Os peregrinos experimentam grande ternura em visitar a Casa Santa de Loreto, ou os lugares da Terra Santa onde Jesus nasceu, habitou, morreu e foi sepultado. Muito maior, porém, deve ser a nossa devoção quando estamos numa igreja em presença de Jesus Cristo mesmo, oculto no Santíssimo Sacramento. Com efeito, não há santuário mais devoto e consolador do que uma igreja a na qual está Jesus sacramentado. Todavia a maior parte dos homens o deixam quase sempre só e abandonado!
I. Oh! Que ternura experimentam os peregrinos ao visitar a Casa Santa de Loreto ou os lugares da Terra Santa, a Gruta de Belém, o Calvário, o santo Sepulcro, onde Jesus habitou, morreu, foi sepultado! Mas quanto mais terna não deve ser a nossa devoção quando nos achamos numa igreja, em presença do próprio Jesus, que está no Santíssimo Sacramento! Costumava o Bem-aventurado João de Ávila dizer que não conhecia santuário mais devoto e mais consolador do que uma igreja na qual se acha Jesus sacramentado. Por sua vez o Padre Balthazar Alvares chorava ao ver os palácios dos grandes cheios de gente, e as igrejas, onde está Jesus Cristo, vazias e abandonadas.
Meu Deus! Se o Senhor se tivesse deixado ficar em uma só igreja da terra, por exemplo, na de São Pedro em Roma, e ali quisesse dar audiência só num dia do ano, quantos peregrinos, quantos personagens grandes, quantos monarcas procurariam ter a ventura de se achar ali em tal dia, afim de prestarem homenagem ao Rei do céu, voltado à terra! Que tabernáculo precioso, de ouro e ornado de pedrarias não lhe seria preparado! Com que profusão de luzes não se havia de solenizar em tal dia a permanência de Jesus Cristo! Mas não, diz o Redentor, não quero morar em uma só igreja, nem por um dia do ano somente; não exijo tamanha riqueza nem tantas luzes; quero morar continuamente em todos os tempos e lugares, onde quer que vivam os meus fiéis, afim de que todos me achem com facilidade e sempre, na hora que quiserem.
Ah! Se Jesus Cristo não tivesse concebido tão grande fineza de amor, quem jamais pudera excogitá-la? – Se na Ascensão do Senhor ao céu alguém Lhe tivesse digo: Senhor, se quereis demonstrar-nos o vosso amor, ficai conosco sobre os altares debaixo das espécies de pão, afim de que possamos achar-Vos quando quisermos; não seria semelhante pergunta tida por excessivamente temerária? Mas o que nenhum homem podia imaginar, o nosso Salvador o excogitou e executou.
II. Grande Deus! Como correspondem os homens a um Deus que parece como que enlouquecido pelo amor que lhes tem?... Ao menos tu, meu irmão, procura com a tua devoção dar desagravo de tamanha ingratidão, e, quanto o permite a tua condição, procura com palavras e exemplos excitar os outros a visitarem freqüentes vezes o grande Santuário, onde se acha Jesus Cristo presente em pessoa.
Ó Jesus, meu Redentor, ó amor de minha alma, quanto Vos custou o desejo de morardes conosco nesse Sacramento! Primeiro Vos foi preciso sofrer a morte, antes de poder residir em nossos altares, e depois devíeis sofrer tantos ultrajes nesse Sacramento para nos dardes as vantagens de vossa presença! E nós, entretanto, tão lentos e descuidados somos em visitar-Vos, embora saibamos que desejais nossas visitas, para nos cumulardes de bens, quando estamos na vossa presença. Perdoai-me, Senhor, pois que eu também sou do número desses ingratos. De agora em diante quero visitar-Vos freqüentemente e ficar na vossa presença o mais que puder, para Vos oferecer meus agradecimentos, testemunhar meu amor e pedir vossas graças, pois é para isto que ficastes na terra, encerrado nos tabernáculos, feito nosso prisioneiro de amor.
Amo-Vos, ó bondade infinita; amo-Vos, ó Deus de amor; amo-Vos, ó Bem supremo, o mais amável de todos os bens. Fazei com que me esqueça de mim mesmo, me esqueça de tudo, para não pensar senão no vosso amor e empregar todo o tempo de vida que me resta em dar-vos gosto. Fazei com que no futuro não tenha maiores delícias do que em ficar a vossos pés. Abrasai-me todo no vosso santo amor! – Ó Maria, minha Mãe, obtende-me um grande amor ao Santíssimo Sacramento; e quando me virdes cair na negligência, recordai-me a promessa que faço, agora, de ir visitá-lo todos os dias. (II 166.)
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 65 - 67.)
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