[Sermão] O Bom Pastor
Sermão para o Segundo Domingo depois da Páscoa
14 de abril de 2013 - Padre Daniel Pinheiro
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
***
Estamos hoje no Domingo do Bom Pastor. É a
festa Patronal do Instituto de que faço parte, Instituto Bom Pastor.
Peço que rezem pelo Instituto e por seus membros, padres e seminaristas,
em particular pelo vosso servo que está aqui diante de vós.
Peço que rezem também na intenção de nosso apostolado aqui em Brasília.
E como estamos no Domingo do Bom Pastor,
gostaria de lembrar que as Missas dominicais são cantadas pelo
apostolado em Brasília, o que significa que elas são rezadas antes de
tudo pelo bem das ovelhas, pelo bem da alma dos senhores, pelo bem da
alma dos que têm ligação com esse apostolado. E isso desde o primeiro
domingo que celebrei aqui.
***
Ego sum Pastor Bonus.
Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dá a sua vida pelas suas ovelhas.
Nosso Senhor Jesus Cristo recebe nas
Sagradas Escrituras vários títulos. Ele é chamado de Deus, Senhor,
Senhor dos senhores, Salvador, Rei, Mestre… No Evangelho de hoje Nosso
Senhor se designa como o Bom Pastor. A figura do pastor sempre foi tida
como nobre entre os judeus. E muitos foram os pastores no Antigo
Testamento que prefiguraram Nosso Senhor, o Bom Pastor. O primeiro dos
pastores foi Abel, que oferecia um sacrifício agradável a Deus. Abraão
também foi pastor, assim como Jacó e seus filhos. Moisés, sendo pastor
do rebanho de seu sogro, viu Deus no monte Sinai. Também David antes de
ser rei havia sido pastor e foi com as armas de um pastor que ele
derrotou o gigante Golias. Mas pastor significa não somente aqueles que
tomam conta dos animais, dando-lhes de comer, guiando-os e
defendendo-os, mas também aqueles que governam o povo, quer dizer, os
sacerdotes e os reis. O Senhor havia dito ao Rei David: “És tu que
apascentarás meu povo e serás o chefe de Israel.” E do pagão Ciro,
libertador dos judeus, o Senhor disse: “É meu pastor, executará em tudo a
minha vontade.” Finalmente, o próprio Deus se designa como Pastor de
seu povo, quando diz, por exemplo: “E vós, minhas ovelhas, o rebanho que
apascento, vós sois homens. E eu sou o Senhor seu Deus.”
Nosso Senhor Jesus Cristo se designa,
então, o Bom Pastor. O texto grego, literalmente traduzido nos diz o
seguinte: Eu sou o Pastor, o Bom. Isso significa que Jesus Cristo afirma
ser o pastor por excelência, o único pastor, do qual alguns são uma
figura – os pastores do Antigo Testamento – e os outros uma participação
– os pastores da nova e eterna aliança. Ao se afirmar como o pastor por
excelência, Nosso Senhor atribui a si mesmo as boas qualidades próprias
dos pastores do Antigo Testamento que acabamos de citar, mas também o
sacerdócio supremo e a realeza suprema. E ao afirmar ser o pastor por
excelência, Ele afirma a sua divindade, porque somente Deus é o Pastor
por excelência, supremo, único, que governa todas as coisas. E Ele é o
Bom Pastor, que dá a sua vida pelas suas ovelhas.
Não somente nos guiou ensinando-nos uma
doutrina celestial e dando-nos o exemplo. Não somente nos defendeu
contra os falsos pastores e doutores, contra os mercenários. Não somente
nos alimentou, dando-nos graça em abundância. Não. A bondade de Nosso
Senhor Jesus Cristo foi tanta que ele entregou sua própria vida para nos
salvar, e a entregou quando ainda éramos pecadores. Ninguém a tirou,
mas foi Ele quem deu a sua vida pelas ovelhas. Nosso Senhor poderia ter
resistido aos seus inimigos e vencido com um sopro de sua boca, como
mostrou no Jardim das Oliveiras, momentos antes de sua prisão pelos
fariseus: Ele fez que seus inimigos caíssem por terra pela força de sua
palavra. O Bom Pastor, porém, dá a vida pelas suas ovelhas, para
salvá-las. Evidentemente, o pastor que cuida de animais, deve
alimentá-los, guiá-los, defendê-los dos predadores, mas não deve jamais
dar a sua vida por esses animais, pois a vida de um homem é muito
superior ao bem de alguns animais. Todavia, o pastor de homens, os
bispos, os padres, os governantes, os chefes de família, seguindo o
exemplo de Cristo, devem dar a sua vida física pelo bem espiritual de
seus súditos, porque o bem espiritual deles está muito acima do bem
físico que é a vida do pastor.
A ovelha é o animal que mais requer a
proteção do homem, tanto por seu instinto fraco quanto por sua
incapacidade de se defender dos muitos inimigos a que está exposta. Para
compensar tais deficiências ela é, por outro lado, extremamente dócil
às ordens dadas pelo pastor. Se vemos hoje uma quantidade enorme de
ovelhas mortas, que se perderam no caminho, ou que abandonaram o único
rebanho de Cristo, isso se deve à falta de bons pastores, que não se
espelham em Nosso Senhor, Bom Pastor por excelência, mas que agem como
mercenários e ladrões. As ovelhas, abandonadas sem um bom pastor,
terminam seguindo os lobos, seguindo qualquer ideologia, qualquer
partido, qualquer seita, qualquer aparição. Daí a importância do pastor
ser um bom pastor, porque as ovelhas vão segui-lo para o bem ou para o
mal. O Bom Pastor dá a vida por suas ovelhas. E se ele não tem a
oportunidade de morrer de fato por suas ovelhas, ele deve dar a sua vida
por elas consagrando-se inteiramente ao serviço delas, ao bem delas.
Para tanto, o Bom Pastor deve guiar suas ovelhas, ir adiante delas,
defendê-las e alimentá-las.
Ele deve guiar as ovelhas ensinando com
fidelidade extrema a verdade revelada por Deus, a exemplo de Cristo, que
nos falou unicamente daquilo que Ele ouviu do Pai. Os pastores devem,
então, guardar e transmitir com fidelidade extrema o depósito da fé,
confiado por Nosso Senhor à sua Igreja. Os pastores devem transmitir
aquilo que receberam de Cristo, dos Apóstolos e dos sucessores dos
Apóstolos, sem novidades e desvios, sem alterar um só jota. É o
mercenário, buscando seu bem próprio e não o bem das ovelhas, que as
guia por caminhos tortuosos, ensinando não aquilo que recebeu de Deus,
mas suas próprias invenções, vãs filosofias e ideologias. O Bom Pastor
renuncia a si mesmo, para ser porta-voz fiel do ensinamento de Cristo e
da Igreja.
O bom pastor, além de guiar as ovelhas,
vai adiante delas. Porque ele não é como os fariseus mercenários que
dizem e não fazem, impondo aos outros uma carga pesada que eles mesmos
não suportam. O bom pastor, ao contrário, coloca sobre si mesmo e sobre
suas ovelhas o jugo leve e suave da lei de Cristo, e ele vai adiante
delas, praticando aquilo que ensina, assim como Nosso Senhor começou a
fazer antes de ensinar e como nos diz São Pedro na Epístola de hoje: Ele
nos deixou o exemplo para que sigamos seus passos. O bom pastor nos
guia não somente pelas palavras, mas mostra o caminho a ser seguido
também pelo seu exemplo.
O bom pastor, além de guiar a ovelhas e
ir adiante delas, as defende, vigiando dia e noite para afastar os
animais ferozes e os predadores, a exemplo de Davi, que defendia as
ovelhas do rebanho de seu pai: quando vinha um leão ou um urso roubar
uma ovelha do rebanho, diz Davi, eu o perseguia e o matava, tirando-lhe a
ovelha da boca. E se ele se levantava contra mim, agarrava-o pela goela
e estrangulava-o. Assim devem os pastores agir face ao inimigo, face ao
mundo que quer tirar as ovelhas do único rebanho de Cristo, que é a
Igreja Católica. Assim devem os pastores agir face aos falsos profetas
que ensinam uma doutrina alheia à doutrina de Cristo, face aos
mercenários que procuram unicamente o próprio bem e não o bem das
ovelhas. O mercenário, preocupado unicamente com seu lucro, vendo os
predadores e os inimigos, foge, deixando as ovelhas à mercê do lobo que
as arrebata e as desgarra, quer dizer, que as conduz para fora do
rebanho de Cristo ou lhe tira a vida da graça. Face ào mundo, face às
falsas doutrinas, face ao aparicionismo, o mercenário foge, sem
combater, ou fica, mas para aderir ao mundo.
Finalmente, o bom pastor alimenta suas
ovelhas pela transmissão da graça, que se faz antes de tudo pela
administração dos sacramentos, em particular pela eucaristia. Para
tanto, o bom pastor deve ser instrumento agradável a Deus e dócil.
Guiando, indo adiante de suas ovelhas, defendendo-as e alimentando-as, o
bom pastor entregará inteiramente sua vida por suas ovelhas, buscando
unicamente o bem espiritual delas. As ovelhas reconhecerão nesse bom
pastor a voz de Nosso Senhor Jesus Cristo, assim como João Batista
reconheceu Cristo pela voz de Nossa Senhora e como Maria Madalena
reconheceu Cristo ressuscitado pela sua voz. As ovelhas de Cristo
reconhecem a voz dEle.
O bom pastor tem o dever, além de cuidar
das ovelhas que já pertencem ao rebanho de Cristo, de buscar as ovelhas
que ainda não pertencem a tal aprisco, a fim de que haja um só rebanho e
um só pastor. Ele deve então buscar essas ovelhas desgarradas, sem
medir esforços, convertendo-as ao único rebanho de Cristo, que é a
Igreja, una pela unidade da fé, de governo e de culto.
A tantas obrigações dos pastores
corresponde a docilidade dos fiéis para com o bom pastor, a exemplo da
docilidade das ovelhas quando são apascentadas. Nosso Senhor diz: eu
conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem. As boas
ovelhas devem, então, reconhecendo a voz de Cristo na boca dos bons
pastores, conhecer o Salvador cada vez mais perfeitamente, e conhecê-Lo
de um conhecimento não somente teórico, mas também prático, conhecendo
sua doutrina, seu espírito, suas virtudes, unindo-se a Ele, imitando-o e
estando pronto para sofrer por Ele.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
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