8 de abril de 2013

Sermão 1º Domingo depois da Páscoa, in albis - Padre Daniel Pinheiro - IBP



[Sermão] A Ressurreição de Cristo


Sermão para o Primeiro Domingo depois da Páscoa (Domingo in Albis)
08 de abril de 2013 - Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
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Estamos hoje na Oitava da Páscoa, no denominado Domingo in Albis, quer dizer, no Domingo em branco. Os catecúmenos que haviam sido batizados na Vigília da Páscoa guardavam a roupa branca, simbolizando a pureza batismal e o dever de conservá-la ao longo da vida, durante toda essa semana e a tiravam nesse Domingo. Esse Domingo também é chamado de Quasi modo, das primeiras palavras do Intróito.
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Dominus meus et Deus meus. Meu Senhor e meu Deus.
Comemoramos, caros católicos, ao longo desses oito dias, a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. O milagre da Ressurreição de Cristo é a prova definitiva de sua divindade, a prova definitiva que aquilo que nos falou e ensinou é verdade. A prova definitiva de que Ele é a Verdade, o Caminho, a Vida. Só Deus pode fazer um milagre, quanto mais ressuscitar um morto e ressuscitá-lo para a vida eterna. Nosso Senhor, sendo homem e Deus, ressuscitou a si mesmo, em virtude de sua divindade, que continuou unida ao seu corpo e à sua alma após a morte.
Sendo a Ressurreição de Nosso Senhor a prova definitiva de sua missão divina e de sua divindade, sendo sua Ressurreição um argumento irrefutável de que devemos crer naquilo que disse e praticar aquilo que ensinou, muitos ao longo da história quiseram negar a Ressurreição do Salvador, a fim de continuarem a seguir suas próprias paixões e suas próprias invenções. Não há escolha: ou Cristo ressuscitou e é Deus e devemos consequentemente segui-lo, ou Ele não ressuscitou e, nesse caso, vã seria a nossa fé, como diz São Paulo.
É óbvio que a Ressurreição de Cristo é um fato certo, caros católicos. Para compreendermos isso, é preciso saber primeiramente que a morte de Nosso Senhor é um fato certo e não uma aparência como disseram alguns. Ele morreu na Cruz à vista de todos, teve seu coração transpassado pela lança. Pilatos entregou o corpo de Cristo a José de Arimatéia somente depois de ter certeza de que Cristo estava morto. Os discípulos fiéis e as santas mulheres tiraram o corpo de Nosso Senhor da Cruz e o prepararam, ainda que rapidamente, pois era véspera do sábado, para colocá-lo no sepulcro. Se eles tivessem a menor esperança de que Ele estivesse vivo, não o teriam sepultado. Nosso Senhor morreu verdadeiramente e por isso Ele quis ficar três dias no sepulcro, para demonstrar a realidade de sua morte. Também o fato de ter sido sepultado é um fato indiscutível. E Nosso Senhor não foi colocado numa fossa comum, mas em um túmulo novo, aberto na rocha, túmulo que pertencia a José de Arimatéia, membro do Sinédrio, discípulo de Cristo e homem rico, capaz de ter um túmulo novo a pouca distância do Monte Calvário. Tanto é assim que os chefes dos judeus enviaram soldados para vigiar o túmulo. A lei romana em vigor na época mandava que o corpo dos supliciados fosse entregue aos amigos e parentes. Nosso Senhor morreu e foi sepultado, como recitamos no Credo. Não há dúvida.
Ao terceiro dia, Ele ressurgiu dos mortos. Voltando ao sepulcro no domingo para completar a preparação do corpo de Nosso SEnhor, as santas mulheres e depois os Apóstolos encontraram o túmulo vazio. Todas as hipóteses foram feitas para explicar esse fato de uma forma puramente natural. Sucessivamente, os Apóstolos, as santas mulheres, José de Arimatéia e até mesmo os chefes dos Judeus foram acusados de terem tirado o corpo do Salvador do Sepulcro. Evidentemente, nenhuma dessas hipóteses é minimamente plausível. Tudo se opõe à hipótese de que os discípulos tenham tirado o corpo de Jesus do sepulcro. Durante a paixão e morte de Jesus, eles o abandonaram, fugiram com medo de morrer e Nosso Senhor ainda estava vivo. Agora que Cristo está morto eles teriam coragem para enfrentar os soldados e tirá-lo do sepulcro? Além disso, o fato de levar o corpo de um lugar para o outro era uma profanação, proibida pela Lei, ainda observada pelos discípulos. Os soldados, com medo de serem castigados, disseram que os discípulos haviam tomado o corpo de Cristo enquanto estavam dormindo. Mas se os soldados estavam dormindo, como poderiam saber que os discípulos tiraram o corpo de Cristo do sepulcro? O Corpo do Mestre não foi tirado pelos discípulos. Nem pelos chefes dos judeus. Se os chefes dos judeus tivessem tirado o corpo de Cristo do sepulcro, bastaria expô-lo ao público, quando os Apóstolos começaram a pregar a Ressurreição de Nosso Senhor, para destruir o cristianismo. Mostrar o corpo de Cristo morto seria muito mais eficaz do que as perseguições.
A crença na ressurreição também não se trata, caros católicos, de alucinação individual ou coletiva, nem de crença por autossugestão. Os Apóstolos e os discípulos não tinham praticamente nenhuma inclinação a acreditar na Ressurreição, apesar de Cristo tê-lo anunciado algumas vezes. Maria Madalena, os discípulos de Emaús, os Apóstolos, e, no Evangelho de hoje, São Tomé, só acreditam depois de uma prova definitiva da Ressurreição de Cristo, depois de vê-lo e de comprovarem que é Nosso Senhor com verdadeiro corpo, que come, que pode ser tocado. E as aparições de Nosso Senhor Ressuscitado são a prova direta de sua Ressurreição. O Santo Evangelho nos narra nove. Para Maria Madalena, para as santas mulheres, para São Pedro, para os discípulos de Emaús, aos Apóstolos, São Tomé estando ausente. Oito dias depois, na oitava de sua Ressurreição, Cristo aparece novamente aos Apóstolos, com São Tomé presente: é o Evangelho de hoje. E duas aparições na Galiléia, uma no Lago de Tiberíades, e uma sobre uma montanha. Ele apareceu a 500 discípulos, diz São Paulo e, finalmente, no monte das Oliveiras, antes de sua Ascensão  E o Evangelho é digno de fé. O valor histórico deles é indiscutível. A autenticidade também é indiscutível. São os Apóstolos e os Evangelistas que nos narram a verdade do que aconteceu. Qualquer historiador sério e de boa-fé chega a essa conclusão, a partir da ciência histórica. Além disso, sabemos que os Evangelhos são inspirados por Deus, isentos de qualquer erro, que são a própria palavra de Deus, que não pode se enganar nem nos enganar. Querer negar a Ressurreição é negar irracionalmente a possibilidade do sobrenatural.
Portanto, caros católicos, nossa fé na Ressurreição de Nosso Senhor tem um fundamento sólido e inabalável. E, sabendo que Cristo ressuscitou, nossa fé não é vã. Era necessário que Cristo ressuscitasse por cinco razões, diz São Tomás.
Primeiro, Cristo ressuscita para manifestar a justiça divina, que exalta aqueles que se humilham por obediência e caridade. Cristo se humilhou por obediência e caridade até a morte e morte de cruz. Nada mais conveniente que fosse exaltado pela ressurreição.
Segundo, Ele ressuscita para que mudemos de vida, morrendo com Cristo para o pecado e ressuscitando com Ele para uma vida nova, vida da graça, de virtude.
Terceiro, Cristo ressuscita para nos dirigir para as coisas do alto: se ressuscitamos com Cristo para a vida da graça, arrependidos de nossos pecados, devemos buscar as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus Pai, devemos apreciar as coisas do alto e não aquelas que estão sobre a terra (Col. 3,12).
Em quarto lugar, Cristo ressuscita para auxiliar a nossa fé quanto à sua divindade. Aquele que ressuscita por seu próprio poder e ressuscita para não mais morrer é verdadeiramente Deus.
Finalmente, Ele ressuscita para nos encher de esperança, pois quando vemos Cristo, nossa cabeça, ressuscitar, esperamos também nós, seus membros, poder ressuscitar, e esperamos com grande confiança.
Se Cristo é verdadeiramente Deus, caros católicos, e não há dúvida possível nisso, como nos mostra o Santo Evangelho e, de modo particular, sua ressurreição, confessemos com São Tomé: Meu Senhor e meu Deus. É essa a conclusão do Santo Evangelho: Meu Senhor e meu Deus. Se Cristo é nosso Senhor e nosso Deus, como não segui-lo em todas as coisas? Como não segui-lo em todas as coisas com alegria e entusiasmo, mesmo nas cruzes? Se Cristo é nosso Senhor e nosso Deus – e Ele o é – precisamos agir em consequência, caros católicos. Precisamos aderir a Ele e a sua Igreja com toda a nossa inteligência, com toda a nossa vontade, com toda a nossa alma, com todo o nosso ser. É dessa adesão total a Nosso Senhro que virá essa verdadeira paz que Cristo deseja três vezes aos seus discípulos no Evangelho de hoje. Poderíamos chamar esse domingo de “domingo da paz”, “domingo da paz de Cristo”, que não é a falsa paz do mundo, do politicamente correto, do indiferentismo religioso, do relativismo, do bom mocismo. A paz de Cristo não exclui o bom combate, mas o pressupõe. Ela exclui, isso sim, o pecado e nos dá a tranquilidade pela graça, pela ordenação da nossa vida a Deus. Para alcançar essa paz, precisamos do sacramento da confissão, instituído por Cristo junto com esse desejo de paz: “recebei o Espírito Santo: a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados”. Para alcançar essa paz, morramos com Cristo para o pecado e nasçamos novamente com Ele para a vida da graça, para vida segundo a vontade divina. Para ter essa paz, confessemos com toda força e clareza que Cristo é Deus com nossas palavras e com nossas obras. É essa a fé que venceu e vence o mundo. Não tenhamos medo. É a nossa fé que opera pelas obras que vence o mundo, que nos traz a paz e a vida eterna.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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