[Sermão] A obediência devida às autoridades humanas
Sermão para o Terceiro Domingo depois da Páscoa
21 de abril de 2013 - Padre Daniel Pinheiro
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
***
Sede, pois, submissos a toda instituição humana.
Caros católicos, nós aprendemos no quarto
mandamento – honrar pai e mãe – que devemos não somente obedecer aos
pais, mas aos superiores de modo geral. Aprendemos que devemos obedecer à
autoridade civil e às suas leis. E isso porque, como diz São Paulo
(Rom. XIII, 1), todo poder vem de Deus e não há poder que não venha de
Deus. Todo poder vem de Deus porque foi Deus quem criou o homem como
animal racional e social, como um ser que precisa se associar aos outros
para alcançar a sua perfeição. Assim, os homens se unem na sociedade
civil a fim de poderem alcançar tudo o que é necessário para o bem
temporal, o que inclui não somente bens materiais, mas também bens
espirituais. Se os homens vivessem sozinhos eles teriam somente o mínimo
necessário para a própria sobrevivência. A vida em sociedade
proporciona muitos outros bens ao homem, em particular possibilita ou,
ao menos deveria possibilitar, o tempo necessário para a contemplação da
verdade. A vida em sociedade é para o bem do homem. Agora, onde existe a
associação de homens em vista de um fim, é preciso que haja um chefe ou
um grupo de chefes. É preciso que haja um chefe que ordene os diversos
membros da sociedade em busca do fim pelo qual se reuniram. Portanto, a
existência da autoridade decorre da própria natureza humana. Como a
natureza humana foi criada por Deus, toda autoridade vem de Deus, é
instituída por Deus e devemos obediência a ela. Essa verdade era muito
claramente significada quando os reis, ao assumir o trono, recebiam
também a consagração por parte de um Bispo.
Hoje, todavia, pretende-se afirmar que a
autoridade vem não de Deus, mas do povo, que tem um poder absoluto e
ilimitado. Dizem, então, que se alguém exerce alguma autoridade é
simplesmente por delegação do poder absoluto e ilimitado que lhe foi
delegado pelo povo e que, sendo assim, a autoridade é obrigada a fazer o
que quer o povo, seja o que for. A fonte da autoridade não é mais Deus,
e sim o povo, que toma o lugar de Deus. Nesses tempos de “inclusão”, há
um só excluído, ou dois: Deus e sua Santa Igreja.
Dessa forma, a autoridade, representando o
povo – que tem poder absoluto e ilimitado – pode decretar o que é o bom
e o que é ruim, pode estabelecer o bem e o mal. A autoridade pode
aprovar o aborto, ela pode subverter a lei natural aprovando o divórcio
ou aprovando a união civil homossexual. A autoridade vem do povo, aquilo
que o povo deseja ou aquilo que eles pretendem que o povo quer deve ser
feito. Toda a política moderna, todo Estado moderno, se baseia nesse
poder absoluto e ilimitado do povo que toma o lugar de Deus e que passa a
ser a fonte de todo poder. E isso é um erro. Um erro grave.
Como dissemos no início, a própria
natureza humana, criada por Deus, demanda a união das pessoas em
sociedade e demanda, consequentemente, a existência de uma autoridade.
Assim, a fonte primeira de toda a autoridade é Deus, criador de todas as
coisas. E é por isso que devemos obedecer à autoridade civil, às suas
leis. Ao longo da história, os cristãos sempre se destacaram pela
prática exata das leis civis, pela obediência aos soberanos, à
autoridade. Primeiro, porque respeitar tal autoridade é respeitar a
autoridade divina, enquanto desrespeitar tal autoridade é desrespeitar a
autoridade divina. Segundo, porque respeitar tal autoridade é um
apostolado eficaz, como nos diz São Pedro na Epístola: devemos ter bom
procedimento entre os gentios para que, considerando as boas obras, eles
glorifiquem a Deus.
Toda autoridade vem de Deus e devemos
respeitá-la e obedecer a ela por causa disso. Todavia, com a afirmação
moderna de que o poder e a autoridade vêm do povo e só do povo e não de
Deus, temos visto cada vez com maior frequência, ênfase e violência a
promulgação de leis que se opõem às leis de Deus e à lei natural. É
evidente que uma autoridade só guarda sua autoridade na medida em que
ela permanece submetida à autoridade superior. Assim, quando uma
autoridade humana age contrariamente ao que Deus manda, ela perde toda
autoridade com relação a isso. Na verdade, uma lei injusta não é uma
lei. Uma lei é um ditame para a razão promulgado pela autoridade legítima para o bem comum.
Verdadeira e legítima autoridade não pode haver sem que derive de Deus.
Não se pode chamar reta razão aquela que discorda da verdade e da razão
divina e não pode ter por finalidade o bem comum a lei que se opõe ao
bem supremo dos homens que é Deus. Assim, uma lei injusta não é, na
verdade, uma lei e pode ser desobedecida e em alguns casos deve ser
desobedecida. Ocorre o mesmo com os pais e o filho. Ensinamos no
catecismo às crianças que elas devem fazer tudo o que os pais mandam, a
não ser que seja algo contrário à fé ou à moral. Devemos fazer tudo o
que nos manda a autoridade civil, a não ser que mandem algo contra a fé,
contra a moral, contra a lei natural, contra o bem comum. No Império
Romano, apesar de perseguidos e martirizados, os cristão eram
considerados cidadãos exemplares. Mas se fosse colocado de um lado Deus e
de outro a obediência ao Império, não tinham dúvida: preferiam Deus,
preferiam morrer a ofender gravemente a Deus.
Ninguém
pode servir ao mesmo tempo a dois senhores, nos diz Nosso Senhor.
Quando a autoridade civil exerce sua autoridade em conformidade com
Deus, servimos Deus ao servir a autoridade civil. Quando a autoridade
civil age contrariamente a Deus, temos que escolher entre dois senhores:
o Estado ou Deus. É preciso escolher Deus, evidentemente. Não devemos
temer aquele que pode nos colocar na prisão ou que pode tirar a vida de
nosso corpo. Devemos temer aquele que vai nos julgar e que pode nos
condenar à morte eterna em razão de nossa desobediência à sua suprema
autoridade. Devemos obedecer à autoridade civil, às autoridades humanas e
a nossos superiores, mas devemos obedecer em primeiro lugar a Deus.
O Papa Leão XIII tratou em várias
ocasiões desse assunto. Ele fez isso porque foi justamente durante seu
papado – final do século XIX – que várias nações deixaram de ser
católicas em decorrência da revolução francesa e da ação das sociedades
secretas. Ao deixarem de ser católicas, passaram a promulgar várias
leis contrárias à religião católica, à fé, à moral, à lei natural. Em
sua encíclica Sapientiae Christianae, sobre os deveres fundamentais dos cidadãos cristãos, o Papa assim o diz:
“Se as leis dos Estados se puserem em aberta contradição com a de Deus, se forem injuriosas para a Igreja ou contrárias aos deveres religiosos, se violarem no Sumo Pontífice a autoridade de Jesus Cristo, então resistir é obrigação e obedecer seria um crime – um crime até contra a pátria – porque pecar contra a religião é fazer mal ao próprio Estado.”
Precisamos ter bem presente esse ponto da
doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo, caros católicos, pois cada vez
teremos mais leis que se opõem à religião divinamente revelada e cada
vez mais essas leis serão violentas. E nesse caso, cumprir o quarto
mandamento, é obedecer a um só Senhor, Deus. Assim, agiremos para a
glória de Deus para o bem da nossa alma e para o bem da sociedade civil.
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