25 de outubro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

O Corpo da Virgem Santíssima Livre de Concupiscência


Parte 1/4

O corpo da Virgem Santíssima foi perfeitíssimo e formosíssimo. Mas ainda não dissemos tudo desse relicário que guardou o Filho de Deus.
O corpo da Virgem Santíssima não herdou de seus pais nenhuma tara, nenhum desequilíbrio; porém todos os homens recebem de seus pais uma triste herança: a concupiscência.
Tê-la-ia recebido também a Virgem Santíssima? Deus, ao criar os primeiros homens, livrou-os desta fonte de tentações e de pecados.
Ainda que a natureza humana, dada a sua constituição, tivesse que a sentir, Deus, gratuitamente fez ao primeiro homem a graça de afogar na sua natureza a concupiscência. Os primeiros homens pecaram, e Deus tirou-lhes esse privilégio, e desde então todos os descendentes de Adão sentem esta inclinação para o pecado. Suposto isto, apresenta-se uma questão ao falar da Virgem Maria. Suposto isto, apresenta-se uma questão ao falar da Virgem Maria.
A Virgem Santíssima era descendente de Adão, como todos os homens; por conseguinte, devia receber essa herança de seus pais. Mas a Virgem Santíssima não herdou, como todos os homens, o pecado original; foi imaculada na sua conceição e, se não herdou o pecado, herdaria esta consequência do pecado?
Estaria o seu corpo sujeito à concupiscência?  Comecemos por conhecer a natureza da concupiscência. Concupiscência equivale a desejo. A concupiscência, num sentido lato, significa o desejo do bem em geral.
A sabedoria é um bem; o desejo da sabedoria seria uma concupiscência no sentido lato.
Mas não é este o significado próprio da palavra concupiscência. A concupiscência de que falamos agora é uma faculdade que tem raízes no corpo e se chama apetite sensitivo, faculdade que deseja os objetos bons, mas sensíveis, quer dizer, aqueles objetos apreendidos pelos sentidos; e depois dos sentidos pela imaginação. É o desejo do bem, mas não do bem espiritual, intelectual, moral, mas do bem sensível, do bem que se apresenta aos sentidos e à imaginação.
Esta faculdade de desejar o bem sensível, não seria má, se fosse sempre ordenada. Mas que sucede? que muitas vezes deseja um bem que agrada aos sentidos: à vista, ao ouvido, ao tato; mas que é mau moralmente, porque é indigno do homem e porque é proibido por Deus. Que o homem deseje contemplar belas paisagens, monumentos artísticos, isso não é mau; mas que deseje ver objetos desonestos, isso é desordenado. Que o homem deseje ouvir música delicada, conversas dignas, não é mau; mas que deseje ouvir chistes grosseiros, conversas impuras, canções obscenas, isto é desordenado. E o que dizemos do ouvido e da vista, podemos dizer do gosto e do tato e podemos dizer da imaginação.
Esse desejo, essa inclinação que sente o homem para o bem sensível, para o que agrada aos sentidos, mas que é indigno da natureza humana e, por conseguinte, é proibido por Deus, isso é o que chamamos concupiscência.
A concupiscência, neste sentido próprio, chama-se também "fomes pecati", instinto do pecado, estímulo do pecado; não porque essa tendência seja pecado, mas porque incita ao pecado, arrasta ao pecado, impele para o pecado. A concupiscência tem raízes no corpo do homem, por isso lhe chama São Paulo corpo de pecado, corpo de morte.
O homem que não quiser pecar, tem que lutar contra ela; e esta luta do espírito que não quer pecar, contra a carne que tende para o pecado, é a luta que têm que sustentar todos os homens. É a luta que experimentava São Paulo e que ele descreve dizendo que sente dentro de si dois inimigos continuamente em guerra: o espírito que quer subir para o céu e a carne que tende para a terra. Luta encarniçada que fazia o apóstolo exclamar: "quem me livrará deste corpo de morte?!". 
Esta inclinação com mais ou menos força sentem-na todos os homens. Até os santos a sentiram e para a enfraquecerem, e não chegar a vencer o espírito, fizeram penitências horrorosas. São Pedro Damião mergulhava-se em água gelada. São Jerônimo no deserto jejuava e martirizava tanto o seu corpo, que parecia um molho de raízes. São Bento atirava-se para o meio dos silvados.
Assim conseguiram reprimir e amortecer os ímpetos da concupiscência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.