18 de maio de 2009

Símbolos da Fé - 4ª Parte

SÍMBOLOS CONTIDOS EM COLEÇÕES ORIENTAIS DE CÂNONES


Síria e Palestina
Constitutiones Apostolorum, por volta de 380

Esta coleção grega de cânones pseudo-apostólico foi compilada ou na região siro-palestina ou em Constantinopla. O livro VIII remonta, na verdade, à Traditio apostólica de Hipólito de Roma (cf. *10), mas não assim o Símbolo contido no livro VII, c. 41, que parece ter estado em uso na Igreja do compilador.

E eu creio e sou batizado num só não gerado, o único verdadeiro Deus onipotente, o Pai do Cristo, criador e demiurgo de tudo, do qual tudo.
E no Senhor Jesus o Cristo, o seu Filho unigênito, o primogênito de toda a criação, o qual, antes dos séculos, pelo beneplácito do Pai, foi gerado, não feito; por meio do qual tudo veio a ser, tanto no céu como na terra, o visível e o invisível; o qual, nos últimos dias, desceu dos céus e assumiu carne, gerado da santa virgem Maria, e viveu retamente como cidadão segundo as leis de seu Deus e Pai, e foi crucificado sob Pôncio Pilatos e morreu por nós, e ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, depois de ter sofrido, e subiu aos céus e está sentado à direita do Pai, e vem de novo, no término do século, com glória, para julgar vivos e mortos; e cujo reino não terá fim.
Eu sou batizado também no Espírito, isto é, o Paráclito, que operou em todos os santos desde sempre, posteriormente mandado também aos Apóstolos da parte do Pai, segundo a promessa do nosso Salvador e Senhor Jesus Cristo, e depois dos apóstolos a todos os que, na santa Igreja católica e apostólica, crêem na ressurreição da carne e na remissão dos pecados, e no reino dos céus e na vida do século a chegar.


Testamentum Domini Nostri Iesu Christi

Trata-se de uma compilação de cânones e de textos litúrgicos tomados de Hipólito de Roma, oriunda da Síria por volta do séc. V. O livro II, c.8 contém um Símbolo da fé em forma interrogatória.

Crês em Deus Pai onipotente?
Crês também em Jesus Cristo, Filho de Deus, que vem do Pai, que está desde o princípio com o Pai, que nasceu de Maria virgem, pelo Espírito Santo, que foi crucificado sob Pôncio Pilatos, morreu, ressuscitou ao terceiro dia, revivendo dos mortos, subiu aos céus, está sentado à direita do Pai e virá julgar os vivos e os mortos?
Crês também no Espírito Santo, na santa Igreja?


Egito
Constituições da Igreja egípcia

Cf. *3°, onde constam informações prévias e os títulos completos das edições.


a) Versão copta: profissão de fé depois do batismo

Tu crês no Senhor nosso, Jesus Cristo, Filho único de Deus Pai; que ele, admiravelmente, se fez homem por nós, numa unidade incomparável, pelo seu Espírito Santo, de Maria, a santa virgem, sem sêmen viril, e que em prol de nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos, e ao mesmo tempo morreu segundo a sua vontade pela nossa salvação, ressuscitou ao terceiro dia, livrou os prisioneiros, subiu aos céus, está sentado à direita de seu bom Pai nas alturas e vem de novo para julgar os vivos e os mortos, segundo sua revelação e seu reino.
E crês no Espírito Santo, bom e vivificante, que tudo purifica, na santa Igreja.


b) Versão etíope: profissão de fé depois do batismo

Crês no nome de Jesus Cristo, nosso Senhor, Filho único de Deus Pai, que ele, por milagre incompreensível, se fez homem, do Espírito Santo e da virgem Maria, sem sêmen viril, e que foi crucificado nos dias de Pôncio Pilatos, e ao mesmo tempo morreu segundo a sua vontade pela nossa salvação; e ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, e livrou os prisioneiros e subiu aos céus, e sentou-se à direita do Pai e virá para julgar os vivos e os mortos segundo sua revelação e seu reino?
Crês no Espírito Santo, bom e que purifica, e na santa Igreja? E crês na ressurreição da carne, que aguarda todos os homens, e no reino dos céus, e no juízo eterno?


Cânones Hippolyti

Esta coleção de cânones, que remonta talvez já à metade do séc. IV, é uma reelaboração egípcia da Traditio apostólica de Hipólito de Roma (cf. *10). Dela são conservadas somente as traduções árabe e etíope. O Símbolo aqui apresentado se encontra na tradução árabe, cân. 19.

Crês em Deus Pai onipotente?
Crês em Jesus Cristo, Filho de Deus, que Maria virgem, do Espírito Santo, deu à luz, [que veio para salvar o gênero humano] que [em prol de nós] foi crucificado sob Pôncio Pilatos, que morreu e ressuscitou dos mortos ao terceiro dia e subiu aos céus, e está sentado à direita do Pai, e virá para julgar os vivos e os mortos?
Crês no Espírito Santo [, o Paráclito, que procede do Pai e do Filho]?


II. ESQUEMA BIPARTIDO TRINITÁRIO-CRISTOLÓGICO


Fórmula chamada “Fides Damasi”

Esta fórmula foi atribuída no passado a Damaso I ou a Jerônimo. Na realidade, surgiu no fim do séc. V, provavelmente na França meridional (como também os Símbolos *73s e 75s). Parece que inicialmente faltavam algumas palavras, particularmente “et Filio”(“e do Filho), referentes à processão do Espírito Santo: cf. A.E.Burn, I. c. infra 245, no aparato crítico à linha 9 (com base em manuscrito dos séculos VIII-X).

Cremos em um só Deus Pai onipotente e em um só Senhor nosso, Jesus Cristo, Filho de Deus, e em [um só] Espírito Santo, Deus. Não cultuamos e professamos três deuses, mas Pai e Filho e Espírito Santo um só Deus; não um só Deus no sentido de que seja solitário, nem que o mesmo que é em si Pai, ele mesmo seja também Filho, mas que o Pai é aquele que gerou, e o Filho, aquele que foi gerado, e o Espírito Santo, não gerado nem não-gerado, não criado nem feito, mas procedente do Pai e do Filho [-!], coeterno e co-igual e cooperador com o Pai e com o Filho, porque está escrito: “Pela palavra do Senhor os céus foram firmados”, isto é, pelo Filho de Deus, “ e pelo Espírito de sua boca, toda a sua força” [Sl 33,6], e alhures; “Envia teu Espírito, e serão criados, e renovarás a face da terra” [cf. Sl 104,30]. Por isto, no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, professamos um só Deus, pois [deus] é o nome do poder deus [-!], não da propriedade. O nome próprio para o Pai é Pai, o nome próprio para o Filho é Filho, o nome próprio para o Espírito Santo é Espírito Santo. E, nesta Trindade, cremos um só Deus, pois o que é de uma só natureza e de uma só substância e de um só poder com o Pai do único Pai. O Pai gerou o Filho, não pela vontade ou pro necessidade, mas por natureza.
O Filho, no último tempo, desceu do Pai para nos salvar e para cumprir as Escrituras, ele que jamais cessou de estar com o Pai, e foi concebido do Espírito Santo e nasceu de Maria [-!] virgem, assumiu uma carne, uma alma, uma inteligência, isto é, um homem perfeito; não renunciou ao que era, mas começou a ser o que não era; porém de modo que fosse perfeito no seu e verdadeiro no . De fato, ele que era Deus nasceu como homem, e aquele que nasceu como homem atua como Deus; e aquele que atua como Deus morre como homem, e aquele que morre como homem ressurge [surge] como Deus. Ele que, vencido o domínio da morte com aquela carne na qual tinha nascido, sofrido e morrido, ressuscitou ao terceiro dia [-!], subiu ao Pai e está sentado à sua direita, na glória que sempre teve e tem. Cremos que nós, purificados na sua morte e sangue, haveremos de ser ressuscitados por ele, no último dia, nesta carne na qual agora vivemos, e temos a esperança de que dele haveremos de alcançar ou a vida eterna como recompensa do bom mérito, ou a pena do suplício eterno pelos pecados. Lê estas coisas, guarda-as, submete tua alma a esta fé. Do Cristo Senhor obterás e a vida, e a recompensa [as recompensas].


Símbolo “Clemens Trinitas”

Esta fórmula foi chamada também “Fides catholica Sancti Augustini episcopi” (Codex Augiensis [de Reichenau] XVIII, séc. IX, ed. KüBS). Teve origem no séc. V/VI na França meridional e foi depois introduzida na Espanha.

A Trindade clemente é uma só divindade. Por isso, Pai e Filho e Espírito Santo é uma só fonte, uma só substância, uma só força, um só poder. Dizemos que o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus, não três deuses, mas professamos com toda piedade um só . Pois, nomeando três pessoas, professamos com voz católica e apostólica que somente uma é a substância. Portanto, Pai e Filho e Espírito Santo, e “os três são um só” [cf. IJo 5.7]. Três, não confusos nem separado, mas distintamente unidos e unidamente distintos; unidos quanto à substância, mas distintos quanto aos nomes, unidos quanto à natureza, distinto quanto às pessoas, iguais quanto à divindade, semelhantes na majestade, concordes na Trindade, partícipes no esplendor. Eles são um, num modo tal que não devemos duvidar que são também três; são três, num modo tal que devemos dizer que não se podem separar entre si. Pelo que não há dúvida de que a injúria a um é insulto a todos, já que o louvor de um concerne à glória de todos.

“Isto é, pois o ponto principal de nossa fé segundo a doutrina evangélica e apostólica: que Jesus Cristo, Senhor nosso e Filho de Deus, não se separa do Pai, nem pelo reconhecimento da honra, nem pelo poder da força, nem pela divindade da substância, nem pela diferença de tempo”. E por isso, se alguém diz que o Filho de Deus, que é tão verdadeiramente Deus como é verdadeiro homem, porém sem pecado, tenha tido alguma coisa a menos quanto à humanidade ou quanto a divindade, deve ser considerado ímpio e estranho à Igreja católica e apostólica.


Símbolo pseudo-atanasiano “Quicumque”

Entre os estudiosos predomina a convicção de que o autor deste Símbolo não é Atanásio de Alexandria, mas deve ser procurado entre os teólogos do Ocidente. A maioria dos manuscritos mais antigos alega como autor Atanásio, outros, o Papa Anastásio I. Mas como não remontam a um período anterior ao séc. VIII, com razão se questiona sua confiabilidade. Os textos gregos ainda existentes são traduções do latim, não vice-versa; por este motivo não são aduzidos aqui. Entre os possíveis compositores deste Símbolo são mencionados particularmente: Hilário de Poitiers, + ca. 367 (assim M. Speroni); Ambrósio de Milão, + 397 (H. Brewer, B. Schepens, A. E. Burn 1926); Nicetas de Remesiana, + ca. 414 (M. Cappuyns, cf. *19); Honorato de Arles, + 429 (Burn 1896); Vicente de Lérins, + antes de 450 (G.D.W. Ommaney); Fulgêncio de Ruspe, + 532 (I. Stiglmayr); Cesário de Arles, + 543 (G. Morin antes de 1932); Venâncio Fortunato, + ca. 601 (L.A. Muratori). A hipótese de uma origem hispânica antiprisciliana (K. Künstle) atualmente não é mais sustentada, prevalecendo a opinião de que este Símbolo tenha surgido, entre 430 e 500, no sul da Gália, possivelmente na região de Arles, por obra de um autor desconhecido. No decorrer do tempo, este Símbolo adquiriu tal autoridade, no Ocidente como no Oriente, que na Idade Média chegou a ser equiparado aos Símbolos apostólico e niceno e a ser usado na liturgia.

(1) Todo o que quiser ser salvo, antes de tudo é necessário que mantenha a fé católica; (2) se alguém não a conservar íntegra e inviolada, sem dúvida perecerá para sempre.
(3) A fé católica é que veneramos um só Deus na Trindade e a Trindade na unidade, (4) não confundindo as pessoas, nem separando a substância; (5) pois uma é a pessoa do Pai, outra a [pessoa] do Filho, outra a [pessoa] do Espírito Santo; (6) mas uma só é a divindade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, igual a glória, coeterna a majestade.
(7) Qual o Pai, tal o Filho, [e] tal o Espírito Santo: (8) incriado o Pai, incriado o Filho, incriado o Espírito Santo; (9) incomensurável o Pai, incomensurável o Filho, incomensurável o Espírito Santo; (10) eterno o Pai, eterno o Filho, eterno o Espírito Santo; (11) e, no entanto, não três eternos, mas um só eterno; (12) como também não três incriados nem três incomensuráveis, mas um só incriado [incomensurável] e um só incomensurável [incriado]. (13) Semelhante, onipotente o Pai, onipotente o Filho, onipotente o Espírito Santo; (14) e, no entanto, não três onipotentes, mas um só onipotente. (15) Assim Deus o Pai, Deus o Filho, Deus o Espírito Santo; (16) e, no entanto, não três deuses, mas um só Deus. (17) Assim, Senhor o Pai, Senhor o Filho, Senhor o Espírito Santo, (18) e, no entanto não três Senhores, mas um só é [-!] o Senhor: (19) pois, como somos obrigados pela verdade cristã a professar cada pessoa em sua singularidade como Deus e Senhor, (20) assim a religião católica nos proíbe falar de três Deuses e Senhores.
(21) O Pai não foi feito por ninguém, nem criado nem gerado; (22) o Filho é só pelo Pai, nem feito nem criado, mas gerado; (23) o Espírito Santo <é> do Pai e do Filho, nem feito, nem criado, nem gerado, mas procedente. (24) Portanto, um só Pai, não três Pais; um só Filho, não três Filhos; um só Espírito Santo, não três Espíritos Santos. (25) E [-!] nesta Trindade nada é antes ou depois, nada maior ou menor, (26) mas todas as três pessoas são entre si coeternas e coiguais. (27) De modo que, em tudo, como já foi dito acima, deve ser venerada e a unidade na Trindade e a Trindade na unidade [a Trindade na unidade e a unidade na Trindade]. (28) Quem, pois, quiser ser salvo pense assim a respeito da Trindade.
(29) Mas é necessário para a salvação eterna que também creia fielmente na encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo. (30) É, portanto, reta fé que creiamos e professemos que nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, é Deus e homem [tanto Deus como igualmente homem]: (31) é Deus gerado antes dos séculos da substância do Pai, e é homem nascido no século da substância da mãe; 932) perfeito Deus, perfeito homem, subsistente de alma racional [dotada de razão] e carne humana; (33) igual ao Pai segundo a divindade, inferior ao Pai segundo a humanidade; (34) ele, apesar de ser Deus e homem, contudo não é dois mas um só Cristo; (35) um só, porém não pela transformação da divindade em carne [na carne], mas pela assunção da humanidade em Deus; (36) absolutamente um só não por confusão da substância mas pela unidade da pessoa. (37) Pois, como o homem uno é alma racional [dotada de razão] e carne, assim o Cristo uno é Deus e homem. (38) Ele padeceu pela nossa salvação, desceu aos infernos, ao terceiro dia [-!] ressurgiu dos mortos, (39) subiu aos céus, está sentado [sentou-se] à direita do Pai, de onde virá para julgar os vivos e os mortos. (40) À sua vinda, todos os homens devem ressuscitar com [em] seus corpos e hão de prestar contas de suas ações; (41) e os que fizeram o bem irão para a vida eterna, aqueles, porém [-!], que o mal, para o fogo eterno.
(42) Esta é a fé católica; se alguém não crer nela fiel e firmemente, não poderá ser salvo.

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