15 de novembro de 2016

Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

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Expondo segundo  S. Paulo a obra de Jesus Cristo Pontífice no céu não esgotamos as maravilhas do sacerdócio de Jesus.
O  céu tem a sua oblação eminente inefável mas contínua e gloriosa. O Verbo Incarnado não quis deixar o mundo sem lhe legar igualmente um sacrifício. É  a santa Missa, que recorda e reproduz ao mesmo tempo dum modo místico, a imolação do Gólgota.
O  sacrifício da cruz é o único sacrifício, como já disse ; é inteiramente suficiente ; mas Nosso Senhor quis que ele se renovasse para aplicar os seus frutos às almas.
Esta verdade será exposta mais pormenorizadamente quando contemplarmos o mistério da Eucaristia. Por agora, só quero dizer-vos como o nosso Pontífice per­petua o Seu sacrifício na terra.
Jesus Cristo escolhe certos homens a quem dá uma participação real do Seu sacerdócio. São os padres que o Bispo consagra no dia da ordenação. Com as mãos estendidas sobre a cabeça daquele que vai consagrar o Bispo invoca o Espirito Santo, pedindo-lhe para que desça à sua alma. Naquele momento poder-se-iam repetir ao sacerdote as palavras do Anjo a Maria: Spiritus Sanctus  superveníet  in  te.  O  Espírito Santo envolve-o para assim dizer e opera nele uma semelhança
e uma união tão estreita com Jesus que como Jesus Cristo se torna sacerdote para a eternidade. A tradição cristã denominou o sacerdote «outro Cristo» : é escolhido para ser em nome de Jesus Cristo, mediador entre o céu e a terra. a esta uma realidade sobrenatural Vede: quando o sacerdote oferece o sacrifício da Missa que reproduz o sacrifício do Calvário identifica-se com Jesus Cristo. Não diz: «isto é o corpo de Cristo, isto é o sangue de Cristo». Se assim o fizesse, não haveria sacrifício. Mas diz : «isto é o meu corpo, isto é o meu sangue».
Desde aquele momento, o sacerdote, consagrado a Deus pelo Espírito Santo, torna-se, como Jesus Cristo, Pontífice e Mediador entre os homens e Deus, ou antes, é a mediação única de Jesus Cristo que se prolonga na terra, através dos tempos, pelo ministério dos sacerdotes. O padre oferece a Deus, em nome dos fiéis, sobre o altar, o sacrifício eucarístico ; do altar distribui ao povo
a Vítima sagrada, o pão da vida, e, com ele, todos os dons e todas as graças.
O altar é, na terra, o centro da religião de Jesus, como o Calvário é o remate e a culminação da Sua
vida. Todos os mistérios da existência terrestre de Jesus convergem, como já disse, para a imolação da cruz ; todos os estados da Sua vida gloriosa aí vão haurir o seu esplendor.
É por isso que a Igreja não comemora nem celebra mistério algum de Jesus sem oferecer o santo sacrifício da Missa. Todo o culto público organizado pela Igreja gravita em torno do altar ; o conjunto de leituras, orações, louvores e homenagens, que se denomina Ofício divino, em que a Igreja descreve  e  exalta os mistérios do Seu celeste Esposo, foi por ela regulado para enquadrar o sacrifício eucarístico.
Seja, pois, qual for o mistério de Jesus que cele­bremos, não podemos, depois de o termos contemplado e.  meditado com a Igreja, participar nele de modo mais perfeito nem prepara- nos melhor para dele colhermos os frutos, do que assistindo com fé e amor ao sacrifício da Missa e unindo-nos, pela Comunhão, à  Vítima divina por nós imolada sobre o altar.
Conta-se na vida de Maria d'Oignies que Nosso Senhor costumava, nas diferentes festas, aparecer-Ihe no Santíssimo Sacramento  vestido de harmonia  com  o mistério que se celebrava.
Nada temos a invejar-lhe. Pela Comunhão, Jesus Cristo não se mostra somente à alma vem a ela comuni­ca-lhe todo com a Sua Humanidade de Pontífice mise­ricordioso que conhece as nossas fraquezas, com a virtude da Sua Divindade que nos pode elevar até Ele, à direita do Pai. Vem a nós, não para se nos manifestar, mas para rogar ao Pai em nós e conosco : para Lhe oferecer homenagens divinas e unir a essas homenagens as nossas súplicas: vem principalmente para realizar no íntimo das nossas almas, por Seu Espírito, o fruto de cada  um  dos Seus mistérios.
Já deveis  ter  notado como a ação de graças que segue a santa oblação e á Comunhão (postcommunio) toma uma expressão diversa segundo os diferentes mistérios. Que significa isto, senão que Jesus Cristo, pela Comunhã, quer despertar em nós os pensamentos e sentimentos que experimentou vivendo o mistério celebrado nesse dia e aplicar-nos, consequentemente, os frutos particulares e as graças próprias desse mistério?  É o que a Igreja pede na  postcommunio  da festa do Rosário, em que soleniza a união da Mãe do Verbo Incarnado com todos os mistérios do Seu Filho Jesus. Que pede ela na oração da Missa? Lembra a Deus que «Seu Filho único nos mereceu as recompensas da salvação eterna pela Sua vida, morte e Ressurreição» ; depois roga-lhe «que, ao
honrar estes mistérios, imitemos o que eles contêm e obtenhamos o que prometem ».  Concede . . . ut haec mysteria recolentes, et imitemur quod continent et quod promíttunt assequamur. Pensamento idêntico inspira a  postcommunio  da festa : «Fazei, Senhor, que alcancemos as graças inerentes aos mistérios cuja memória celebramos»:  Ut mgsteriorum quae recolimus virtus percipiatur.
É assim que, pouco a pouco, se realiza a nossa identificação com Jesus : Hoc enim  sentite  in vobis quod et in Christo Jesus .  Não é esta a própria fórmula da nossa eterna predestinação :  Conformes fieri imaginis Filii ?
Tais sãos  os  traços essenciais da pessoa e da obra de Jesus Cristo .
O Verbo eterno, por nós feito carne, torna-se. pelos Seus mistérios e pelo Seu sacrifício, nosso Pontífice e nosso Mediador. Mediador que conhece as nossas necessidades, porque foi homem como nós ; Mediador omnipotente, porque é Deus com o Pai e o Espírito Santo; Mediador cuja meditação é incessante, no céu, pela Sua oblação eterna, na terra pelo sacrifício eucarístico.
Jesus Cristo realiza esta obra por nós : pro nobis. Jesus, pelo Seu sacrifício, não nos salva senão para nos associar à Sua glória.
Ó Senhor, quem descobrirá quão inefáveis são os desígnios da Vossa sabedoria? Quem celebrará a grandeza do dom que nos fazeis? Quem Vo-lo agradecerá dignamente?

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