5 de novembro de 2016

Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

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SALVADOR E PONTÍFICE

  Jesus  Cristo é o Verbo lncarnado que apareceu entre nós. ao mesmo tempo Deus e homem, verda­deiro Deus e verdadeiro homem. Perfeito Deus e perfeito homem. Nele as duas naturezas estão inseparavelmente unidas pelo laço duma só pessoa, a pessoa do Verbo.
Estes traços constituem o próprio ser de Jesus. A nossa fé e a nossa piedade adoram-No como seu Deus, e ao mesmo tempo proclamam a enternecedora realidade da Sua Humanidade.
Se quisermos penetrar mais a fundo no conhecimento da pessoa de Jesus, devemos contemplar durante alguns instantes a Sua missão e a Sua obra. A pessoa de Jesus dá à Sua missão e à Sua obra o seu valor ; a missão e a obra de Jesus acabam de nos revelar a Sua pessoa.
E o mais notável é os nomes que designam a própria pessoa do Verbo Incarnado declararem ao mesmo tempo a Sua missão e caracterizarem a Sua obra. Estes nomes não são, com muitas vezes os nossos, despidos de significado. Vêm do céu, e são ricos de sentido. Quais são estes nomes? São numerosos, mas a Igreja, nisto herdeira de S. Paulo, conservou sobretudo dois : o de  Jesus  e o de Cristo.
Como sabeis,  Cristo  significa  ungido,  sagrado, con­sagrado. - Outrora, na antiga Aliança, os reis eram frequentemente sagrados, mais raras vezes os profetas, sempre o sumo sacerdote. O nome de Cristo, bem como a  missão de rei, profeta e pontífice que ele designa, foi dado a muitos personagens do Antigo Testamento, an­ tes de o ser ao Verbo lncarnado. Mas ninguém, como
Ele, devia realizar a sua significação em toda a plenitude. Ele é o Cristo, o único Pontífice supremo e universal.
É Rei.  - É-o pela sua Divindade :  Rex  regum  et Dominus  dominantium;  domina sobre todas as criaturas que tirou do nada pelo Seu poder absoluto:  Veni­te adoremus, et procidamus ante Deum    • • •  lpse fecit nos et  non  ipsi  nos . . .
Sê-lo-á ainda como Verbo lncarnado. O cetro do mundo fora predito pelo Pai para Jesus: «Sou Eu. diz o Messias, quem Ele estabeleceu Rei em Sião, Sua montanha santa... Por isso, farei conhecer este decreto: o Senhor disse-me: «Tu  és  o meu filho, hoje te gerei. Pede-me, e eu te darei as nações por herança e os confins da terra por domínio>> . O Verbo  íncarna para estabelecer o «Reino de Deus». Esta expressão  é:  frequentemente repetida na pregação de Jesus. Ao lerdes
o Evangelho. deveis ter notado que muitas parábolas ­a da pérola preciosa, do tesouro escondido, do semeador, do grão de mostarda, dos vinhateiros assassinos, dos convidados às bodas, do joio, dos servos que aguar­dam o senhor, dos talentos. etc. - são destinadas a demonstrar a grandeza deste reino, sua origem, desenvolvimento, sua extensão às nações pagãs depois da reprovação dos judeus, suas leis, suas lutas, seus  triunfos. Jesus Cristo organiza este reino pela eleição dos Apóstolos e pela fundação da Igreja, a quem confia a autoridade, a doutrina e os Sacramentos. Reino todo espiritual que nada tem de temporal ou de político, como sonhava o espírito grosseiro da maior parte dos judeus; reino em que ingressa toda a alma de boa vontade ; reino maravilhoso, cujo esplendor final é todo celeste - a bem-aventurança eterna.
S. João celebra a magnificência deste reino ; mostra-nos os eleitos prostrados diante do Chefe divino, Je­sus Cristo, a proclamar que: Ele «os resgatou pelo Seu sangue, de toda a tribo, de toda a língua, de todo o povo, de toda a nação. para formar o reino no qual deve resplandecer a glória do Pai» :  Et  fecísti nos Deo no­stro regnum .
Jesus Cristo deve ser  Profeta.  - Não é apenas um Profeta, é o Profeta por excelência, porque Ele é a Pa­lavra, o  Verbo  em pessoa. a «luz do mundo», a única que pode realmente «iluminar todo o homem» cá neste mundo. «Outrora, dizia S. Paulo aos Hebreus. Deus falou-vos pelos Seus profetas» : eram simples enviados Seus : mas «eis que, nestes últimos tempos. Ele vos
ensinou pelo Seu próprio Filho» . Não é um Profeta que anuncia  de  longe, a uma porção restrita da humanidade e por símbolos muitas vezes  obscuros,  os desígnios ainda ocultos em Deus. É Aquele que. vivendo sempre no seio do Pai, conhece todos os segredos divinos e traz a todo o gênero humano a completa e assombrosa revelação deles :  Ipse enarravit.
Vós sabeis que, desde o princípio da Sua vida pública, Nosso Senhor aplicava a Si mesmo a profecia de Isaías que proclamava que «o Espírito do Senhor descansaria sobre Ele. Por isso, o  consagrou pela Sua unção  para levar aos pobres a boa nova, para anunciar a liberdade aos cativos, dar vista aos cegos e declarar a todos que chegou o tempo da  redenção».
Jesus é por excelência o enviado, o legado de Deus que prova, por meio de milagres operados  por  Sua pró­pria autoridade, a divindade da Sua missão, da Sua palavra e da Sua pessoa. Por isso, ouvimos a multidão exclamar, depois do prodígio da multiplicação dos pães, apontando Jesus : Ele é realmente o Profeta, é realmente Aquele que há de vir.
O Verbo Incarnado realizará sobretudo a significação do Seu nome de Cristo pela Sua qualidade de
Pontífice  e Mediador, Pontífice supremo e Mediador universal.
Mas aqui é mister unir o nome de  Jesus  ao de Cristo.  O nome de Jesus significa Salvador: «Dar-Lhe­-ás o nome de Salvador, diz o Anjo a José, pois Ele há-de resgatar o Seu povo de todas as iniquidades» É esta a Sua missão principal: Venit salvare quod pe­rierat. Ora, de fato, Jesus só realiza plenamente  o significado do Seu nome divino pelo sacrifício, desempenhando o Seu ofício de Pontífice: Venít Filius hominis dare animam suam redemptionem pro multis. Os dois nomes completam-se, portanto, e são inseparáveis. «Jesus Cristo»  é o Filho de Deus, constituído Pontífice supremo, que, pelo seu sacrifício, salva a humanidade inteira.
É por isso que, contemplando o sacerdócio e o sacrifício de Jesus Cristo, acabaremos de compreender, na medida do possível, a adorável pessoa do Verbo Incarnado.
Veremos, com efeito, que é pela Sua própria Incarnação que Jesus é consagrado Pontífice, e que, desde a Sua entrada no mundo, inaugura o Seu sacrifício : toda a Sua vida traz o reflexo da Sua missão de Pontífice e é marcada pelos caracteres do Seu sacrifício.
Assim compreenderemos  melhor a grandeza e a ordem dos mistérios de Cristo ; veremos o vínculo profundo que os une entre si ; o sacrifício de Jesus, sendo a Sua obra essencial, é o ponto culminante para o qual convergem todos os mistérios da Sua vida terrestre e a fonte donde todos os estados da Sua vida gloriosa re­cebem o seu brilho : veremos também de quantas graças
abundantes ele é o princípio para todas as almas que desejarem achar n'Ele a vida e a alegria.

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