22 de janeiro de 2009

SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


CULTO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
A.Boulenger
(Doutrina Católica - Manual de Instrução Religiosa - O Dogma)

1º. O Culto. Posto que o culto tributado a alguém se refere à pessoa toda, é lícito considerar, na pessoa, esta ou aquela qualidade, e determinada parte, de preferência a outra. Ora, é evidente que todas as partes da natureza humana de Cristo são merecedoras do culto de latria; podem ser adoradas, desde que são todas unidas ao Verbo. Dentre elas, porém, algumas parece-nos terem direito a um culto particular. Será o caso das suas chagas, do seu preciosíssimo sangue, e, acima de tudo, do seu Sacratíssimo Coração.

2º. Sua legitimidade. Considerando o objeto, o fim e os efeitos do culto ao Sagrado Coração de Jesus, vê-se que este culto é perfeitamente legítimo e deve ser recomendado.

a) seu objeto. O objeto "direto" da nossa adoração é o coração físico de Jesus Cristo, unido a sua alma e a sua pessoa divina. O coração de Cristo é, sem dúvida, a parte mais nobre da sua humanidade. Desse coração é que jorrou o sangue preciosíssimo que remiu nossas almas. O objeto "indireto" é o amor, a um tempo divino e humano simbolizado por esse coração. O amor moveu Jesus Cristo a entregar-se por nós (Ef V, 2). O amor fez que instituísse os Sacramentos, muito particularmente a Eucaristia. Logo, por seu objeto, o Coração do nosso Salvador fez jus a um culto especial.

b) seu fim. O culto ao Sagrado Coração, o que quer, é desenvolver em nós o amor mais ardente a Nosso Senhor e compensar, com atos de adoração, de amor e reparação, as injúrias que lhe são feitas.

c) seus efeitos. Com a meditação da imensa caridade de Cristo, com a recordação dos sacrifícios que inspirou, incendiam-se os nossos corações, abrasados por uma caridade recíproca para com Deus e para com o próximo. Lucramos assim graças mais numerosas e mais excelentes para progredirmos no serviço de Deus, no espírito de sacrifício e na generosa dedicação a nossos semelhantes.

3º. Objeções.

A. Os Jansenistas objetaram que era "culto novo", o culto ao Sagrado Coração de Jesus, e por isso, devia ser proibido.

RESPOSTA – Não era justificada a pretensão, pois informam os "Atos dos Mártires" que não foi completamente desconhecido das origens do Cristianismo o culto ao Sagrado Coração de Jesus, mesmo dirigido a seu objeto material, isto é, ao próprio coração de Nosso Senhor transpassado pela lança de um soldado romano. Na Idade Média, já florescia este culto em diversas comunidades, conforme se pode averiguar dos escritos de São Bernardo, de São Boaventura, de Santa Mechtile e de Santa Gertrudes. Está errado pensar que foram as aparições a Santa Margarida Maria Alocoque, "causa" da devoção ao Sagrado Coração. Causa não foram, nem podiam ser. Difundiram-na. Intensificaram-na. Só. Aliás, não constituiriam motivo cabal e suficiente, caso não fosse legitimado em direito, da forma que acabamos de estabelecer, fora daquelas revelações. Dá-se com as devoções o que se dá com os dogmas. Germinam, brotam e espalham-se na hora designada pela Providência e de acordo com as necessidades e aspirações do momento. O culto do Sagrado Coração, desabrochado exatamente no século XVII, apregoando mais alto que nunca o amor infinito do Verbo Encarnado, não será uma como resposta do Céu que condenava a doutrina fria e árida do jansenismo, com seus Deus insensível, sem entranhas e sem afeto, mas se dignando de entreabrir os braços para lançar a bênção?!

B. Os incrédulos modernos acharam outro terreno, outra tática, contra o culto ao Sagrado Coração. Quiseram abalar-lhe os alicerces, dizendo que a base, o fundamento, era falso, porque o órgão do amor, não é o coração. É o cérebro (...).

RESPOSTA – A objeção é que carece de base. Pouco se importa a Igreja com a questão científica de determinar e provar qual é o "órgão" do amor. O que ela sabe, e com ela todo o mundo, é que não há idioma na terra, em que não seja o coração "símbolo" do amor. Ademais, pode-se afirmar que é a sede das emoções sensíveis. É sabido este fato de experiência pessoal, que o coração se dilata na alegria, e se confrange na tristeza. Portanto, símbolo e sede (...) do amor, bastam estes dois pontos, para a legitimidade do culto ao Sagrado Coração.

C. Mas que necessidade haverá, argüirão alguns ainda, de "recorrer a símbolos" sensíveis para adorar Nosso Senhor?

RESPOSTA – Explica isto a palavra de Pascal: o homem não é animal, nem anjo. Participa de ambos. Têm corpo e alma. Logo, é obrigado, nas suas relações com Deus, a obedecer às condições da sua natureza.

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