[Sermão] As palavras de Simeão
Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Consideremos, caros católicos, as palavras de Simeão no Evangelho de hoje. O Evangelho começa após as famosas palavras de Simeão no Templo, ao reconhecer o Menino Jesus como o Salvador, quando seus pais, José e Maria, o trouxeram ao Templo para a sua apresentação. É nesse momento que o velho Simeão canta o belíssimo Nunc Dimittis: “Agora, Senhor, podes deixar partir o teu servo em paz, segundo a tua palavra; porque os meus olhos viram a tua salvação, a qual preparaste ante a face de todos os povos; luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo.” É diante dessas palavras do velho Simeão que se admiravam José e Maria. Evidentemente, eles já sabiam de tudo isso. Por que, então, se admiravam? Porque os mistérios divinos nos causam admiração cada vez que os contemplamos. Cada vez que paramos para pensar nas verdades sobrenaturais nos admiramos e nos enchemos de novo entusiasmo para servir a Deus. A primeira lição que nos traz o Evangelho de hoje é, portanto, a necessidade de pensar nos mistérios, nas verdades sobrenaturais, para nos mantermos fervorosos na prática da religião.
Em seguida, o Evangelho nos diz que Simeão os abençoou. Aqui, isso significa que Simeão os felicitou. Por que o velho Simeão os felicitou? Primeiro, porque obedeceram à Lei de Deus, que prescrevia, então, que o filho primogênito fosse apresentado no Templo e consagrado a Deus. E obedeceram a essa lei sem estarem obrigados a ela, pois, evidentemente, o Menino Jesus já havia sendo consagrado a Deus desde o primeiro momento de sua concepção, em virtude da união, nEle, da natureza humana e da natureza divina, união que se faz na Pessoa do Verbo. Desde o primeiro instante, então, a humanidade de Cristo havia sido inteiramente consagrada a Deus. A Sagrada Escritura diz constantemente que aqueles que obedecem às leis de Deus serão abençoados. Assim, se queremos nós ser abençoados por Deus, devemos obedecer às leis que nos foram dadas por Nosso Senhor Jesus Cristo. É a segunda lição do Evangelho de hoje. Simeão abençoou-os também porque viu José e Maria cumprirem bem o papel de pais, oferecendo o Filho a Deus. Assim serão abençoados os pais que educarem os filhos para que sejam bons filhos de Deus. É a terceira lição do Evangelho de hoje.
Após isso, Simeão disse a Maria: “Eis que este Menino está posto para ruina e ressurreição de muitos em Israel.” Que Ele tenha vindo para a ressurreição de muitos está mais do que evidente. Nasceu no estábulo em Belém e morreu na Cruz para nos salvar. Todavia, como pode o Menino ser ruína de muitos quando Ele mesmo disse (Lucas 9, 56): “o Filho do homem não veio para perder as almas, mas para as salvar”? A resposta está dada no Evangelho de São João: “Deus não enviou seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem nEle crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado porque não crê no nome do Filho Unigênito de Deus.” E continua o Evangelho de São João: “Nisso está a condenação: a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz porque suas obras eram más.” Nosso Senhor não veio, então, condenar ninguém, mas quem não crê nEle faz a sua própria ruína. Assim, podemos dizer que Ele está posto para a ruína de muitos. Podemos usar também a imagem de um padre jesuíta do século XVII, Matias Fabro. Ele dizia que Jesus é como uma escada, posta para que se possa subir. Todavia, alguns, usando essa escada indevidamente, podem também cair. Assim, Nosso Senhor está posto diretamente para a ressurreição de muitos. Mas aqueles que não aceitarem Jesus conhecerão a ruína, a condenação. Nosso Senhor pode ser para nós ruína ou ressurreição. É a quarta lição do Evangelho de hoje.
Simeão diz ainda que Nosso Senhor será um sinal ou alvo de contradição. Pela sua Encarnação, Natividade, Paixão, Ressurreição, presença na Eucaristia; pela sua vida sublime, pelos seus mandamentos e conselhos tão perfeitos, Nosso Senhor conheceu, conhece e conhecerá muitos adversários. Seja porque não quiseram submeter a sua inteligência à Verdade, seja porque, reconhecendo a Verdade, não quiseram segui-la, para poderem seguir suas paixões desordenadas. Preferem, então, continuar com uma vida cômoda a seguir a Verdade e ter que mortificar a carne. Devemos submeter nossa inteligência e nossa vontade a Cristo. É a quinta lição do Evangelho de hoje.
As últimas palavras do velho Simeão dizem que os pensamentos escondidos nos corações de muitos se revelarão. Com a vinda de Nosso Senhor e com a Redenção operada por Ele, não é possível ficar indiferente. Assim, também não é possível ficar indiferente ao Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja Católica. Ou se é contra ou se é favor. Trata-se, verdadeiramente, de um sinal de contradição. Contradição entre Cristo e o mundo, entre cristãos e mundanos. Não pode haver acordo entre Cristo e Belial, entre Cristo e o pecado. É a sexta lição do Evangelho de hoje.
Pouco antes dessas palavras finais, Simeão disse a Nossa Senhora que uma espada lhe transpassaria a alma. Uma espada para demonstrar que a dor de Maria seria longa. Não é uma adaga ou algo curto, mas uma espada, longa. A dor de Maria não duraria algumas horas, alguns dias ou alguns anos, mas duraria e durou, efetivamente, desde o momento da encarnação até o momento da Ressurreição de Cristo. Nossa Senhora já sabia o que deveria sofrer, mas as palavras de Simeão colocaram ainda mais claramente diante dela todo o sofrimento pelo qual ela deveria passar. Essa dor longa na duração é também profunda. Por isso, Simeão diz que é a alma de Maria que será transpassada pela espada. É a dor profunda da mais perfeita Mãe vendo os sofrimentos do seu divino Filho, desprezado pelos homens que Ele veio salvar. Nosso Senhora une seus sofrimentos aos de Cristo. Sétima lição do Evangelho de hoje: a corredenção de Maria, quer dizer a sua participação na obra da redenção de Cristo, em total dependência e subordinação a Ele, claro.
Quantas lições para aproveitarmos, caros católicos, nessa oitava de Natal. São algumas das lições dos Evangelhos da infância de Cristo.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
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