29 de janeiro de 2015

No Céu nos Reconheceremos.

S E X T A C A R T A
O homem conhece os anjos, ou a união dos anjos e dos homens no Céu
I
 Deus renovará o Céu e a terra para que gozemos dos seres materiais. – Comparação de S. Tomás. – Comparação de S. João Crisóstomo. – Quanto mais nos fará ele gozar dos puros espíritos! – No Céu, estaremos colocados entre os anjos. – As crianças formarão como que um décimo coro. – Visão de santa Francisca Romana.

 SENHORA,
Deus não se contenta de nos conceder somente a bem-aventurança essencial, a visão e o gozo do bem incriado, que é Ele mesmo.Está tão longe de nos recusar a parte da bem-aventurança acidental, que é o conhecimento e o amor dos nossos parentes e amigos, que multiplicará as alegrias e prazeres para os olhos, língua, gosto, olfato, tato e ouvidos; numa palavra, para todos os sentidos do nosso corpo. “Renovará mesmo o Céu e a terra” (Isai. LXV, 17). – (Apoc., XXI, 1) para que gozemos tanto pelos nossos sentidos como pelo nosso espírito, dos seres privados de razão.
“Se os corpos, disse S. Tomás, nada mereceram por si mesmos, mereceu o homem por eles: mereceu que a glória lhes fosse dada, para aumentar a sua própria glória. Assim, quando alguém adquire uma nova dignidade, é justo que os seus vestidos recebam mais belos ornamentos em testemunho da sua nova glória”.
S. João Crisóstomo emprega duas outras comparações. “Quando um príncipe real, diz ele, toma posse do trono paterno, a ama que o criou não receberá novos benefícios, novas graças? Ora, as criaturas materiais, são nossas amas. Quando um filho deve aparecer em público revestido de alguma dignidade, não tem o pai cuidado para honrá-lo, de dar a seus criados um vestuário mais esplêndido? Assim também quando o nosso Pai celeste nos apresentar no mundo superior, com a branca toga da virilidade, com as insígnias devidas ao nosso grau, aumentará a nossa glória, revestindo dum brilho incorruptível os seres materiais que são nossos servos”. Quanto mais devem gozar os santos, assim antes como depois da ressurreição bem-aventurada, dos puros espíritos que dominam as outras criaturas, e com os quais temos, por parte da nossa alma, um verdadeiro parentesco? Nós já os amamos e honramos. Mas, além disso, então vê-los-emos e cada um de nós conhecerá o seu amável guarda.
Seremos colocados no Céu entre os coros angélicos, num lugar determinado pelo grau dos nossos merecimentos ou pela natureza das nossas virtudes. O quarto abade de Claraval, pregando de S. Bernardo, no ano de 1163, recordava-o aos religiosos como coisa conhecida de todos, e mostrava-lhes como o seu glorioso predecessor merecia ser provido a todas as ordens ou graus angelicais, pelas qualidades que desenvolvera e pelos ministérios que cumprira.
S. Tomás crê que algumas almas bem-aventuradas já têm os seus tronos nas graduações mais elevadas dos espíritos celestes, donde vêem a Deus mais claramente do que os anjos inferiores. Nenhum coro angélico será excetuado; mas todos verão, cedo ou tarde, os tronos vagos pela queda dos espíritos rebeldes ocupados pelos homens.
S. Boaventura partilha esta opinião, e pensa que os bem-aventurados que não chegam em merecimento ao nível dos anjos menos elevados em glória, formam uma décima ordem ou um décimo coro. Neste estão, sem dúvida, colocados os meninos que, arrebatados pela morte, não puderam ajuntar algum merecimento pessoal à graça do seu batismo: anjos benditos a quem suas mães invocam para se consolarem da pena de os não verem mais neste mundo, e que são os protetores de suas famílias. Portanto, de que mal se tornam culpadas tantas mulheres cristãs que recuam diante das dores do parto ou dos trabalhos da educação! E de que alegrias se não privam elas para sempre, recusando povoar o Céu de pequenos anjos, que viriam saudá-las à sua entrada na glória e formariam eternamente a sua corte?
Enquanto vós, mais feliz, vereis os vossos numerosos filhos, os vossos parentes e todos aqueles que amastes na terra, engrossar as fileiras dos anjos e ornar talvez cada um dos seus coros. Possa esta esperança consolar-vos, como consolou uma outra mãe aflita por causa da morte dos seus! Numa visão, Santa Francisca Romana viu subir algumas almas bem-aventuradas que iam tomar lugar no grau que Deus lhes assinalara na glória eterna: Todos os coros angélicos que estas almas atravessavam para chegar a uma ordem mais elevada, prodigalizavam-lhes os testemunhos do mais sincero amor e da mais viva alegria. Sempre assim é. Mas o coro onde a alma novamente chegada ocupa um trono, excede todos os outros em brilhantes felicitações e em transportes de alegria. Entoa um cântico de louvores e ações de graças em honra do Deus de bondade, e prolonga esta doce festa por muito tempo depois dela ter cessado nos outros coros.
Depois desta visão, todas as vezes que a Santa queria exprimir esta alegria dos anjos à chegada das almas bem-aventuradas, com esta admirável união da criatura humana com a criatura angélica, o seu rosto inflamava-se, e toda ela parecia derreter-se como a cera em presença do fogo. Com que alegria não terá sido acolhida, e até que ponto não terá subido a alma da vossa filha que possuía o nome da Rainha dos Anjos, e que foi ela mesma, na terra, um anjo de pureza e dedicação? Todas os dias ela pedia a vossa bênção, e à vista do seu retrato ainda a vossa mão se levanta para a abençoar. Agora é ela que, todos os dias, faz descer do alto do Céu, as bênçãos que pede para vós ao Senhor, todas aquelas que os santos desejam, bênçãos de sofrimento e de cruz, mas de paciência e de amor ao mesmo tempo. Gozai, pois, da sua felicidade que deve ser a vossa; porque Maria está mais bem colocada no Céu do que na terra, melhor entre os anjos do que entre os homens.


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