18 de junho de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

VI

Quando, nestes santos dias, receberdes a Comunhão, deixai a Vossa alma entregar-se a estes pensamentos de alegria a confiança.
Unindo-vos a Jesus Cristo, incorporais-vos n'Ele; Ele está em vós e vós n'Ele; estais diante do Pai. Não O vedes, é certo; mas, pela fé, sabeis que estais diante de Deus, com Jesus que vos apresenta a Ele; estais com Ele no seio do Pai, no santuário da Divindade. Eis, para nós, a grande graça da Ascensão: participar, na fé, da intimidade inefável que Jesus Cristo possui no céu com o Pai.
Conta-se na vida de Santa Gertrudes que um dia, na solenidade da Ascensão, depois de receber da mão do sacerdote a sagrada hóstia, ouviu Jesus dizer-lhe: «Eis-­me aqui; venho, não para me despedir de ti, mas para te levar comigo ao céu e te apresentar a meu Pai». " Apoiada em Jesus, a nossa alma é poderosa, porque Jesus Cristo lhe comunica todas as Suas riquezas, todos os Seus tesouros»: Quae est ista quae ascendit de deserto, deliciis affluens innixa super dilectum suum? Apesar das nossas misérias e fraquezas, nunca receemos, portanto, aproximar-nos de Deus; pela graça do Salvador, e com Ele, podemos estar sempre no seio do nosso Pai dos céus.
Apoiemo-nos em Jesus Cristo, não somente na oração, mas em tudo o que fizermos. E seremos fortes. Se «sem Ele nada podemos » - sine me, nihil potestis facere - , « com Ele podemos tudo »: Omnia possum in co qui me confortat. Nele encontraremos, com a fonte duma grande confiança, o motivo mais eficaz da fidelidade e paciência no meio das tristezas, contrariedades, provações, sofrimentos por que temos de passar neste mundo até ao fim do nosso desterro.
No momento de terminar a Sua vida mortal, Jesus dirige ao Pai, a favor dos discípulos que em breve vai deixar, uma tocante oração: «Pai santo, quando estava com eles, Eu mesmo os guardava: agora que volto para junto de ti, peço, não que os tires deste mundo, mas que os livres do mal»: Cum essem cum eís, ego servabam eos; nunc autem ad te venio, non rogo ut tollas eos de mundo, sed ut serves eos a malo.
Que solicitude toda divina se traduz nesta oração! Foi por todos nós que Nosso Senhor a disse. E a 
Igreja, que sempre compartilha dos sentimentos do seu Esposo, nela se inspirou na secreta da Missa da Ascensão. «Recebei, Senhor, os dons que Vos oferecemos em memória da gloriosa Ascensão do Vosso Filho; concedei-nos propício a graça de sermos livres dos perigos da vida presente e alcançarmos a vida eterna, pelo mesmo Jesus Cristo Senhor Nosso». Por que é que repete a Igreja esta oração de Jesus?
Porque há obstáculos que nos impedem de ir para Deus; e estes obstáculos resumem-se todos no pecado, que nos afasta de Deus. Nosso Senhor pede que sejamos livres do mal, isto é, do pecado que, afastando-nos do Pai dos céus, é o único e verdadeiro mal: Ut serves eos a malo. Abandonados a nós mesmos, à nossa ingenita fraqueza, não podemos evitar esses obstáculos; mas podemo-lo, se nos apoiarmos em Cristo. Ele sobe hoje até ao céu, vencedor de Satanás e do mundo: Confidite, ego vici mundum . . .  Princeps mundi hujus in me non habet quidquam. Entra, como Pontífice todo poderoso, no santuário divino: Per hostiam suam apparuit. Pela comunhão, Nosso Senhor torna-nos participantes do Seu poder e do Seu triunfo. É por isso que nos devemos apoiar tanto n'Ele e só n'Ele confiar.
Com Cristo, que por nós oferece ao Pai os Seus méritos, não há tentação que não possamos vencer, dificuldade que não possamos superar, alegria insensata de que não nos possamos desprender. Enquanto não nos vamos juntar com Jesus no céu, ou antes, enquanto Ele não nos leva para lá (visto «estar-nos a preparar ali um lugar» ),  vivamos no céu, pela fé no poder ilimitado da Sua oração e do Seu valimento, pela esperança de um dia participarmos da Sua felicidade, pelo amor que, alegre e generosamente, nos leva ao fiel e exato cumprimento da Sua vontade e do Seu bel prazer. É assim que participaremos plenamente deste admirável mistério da gloriosa Ascensão de Jesus: lpsi quoque mente in caelestibus habitemus.

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