II
Temos aqui a razão profunda pela qual Jesus dizia aos Apóstolos: "Quando Eu voltar para o céu, enviar-vos-ei o Espírito».
Jesus Cristo, na Sua natureza divina, é, com o Pai, o princípio do qual procede o Espírito Santo. O dom do Espirito Santo à Igreja e às almas é uma graça inestimável, pois este Espírito é o próprio amor divino. Mas, como ainda há pouco disse, este dom, este envio foi-nos merecido, com toda a graça, por Jesus; é o fruto da Sua Paixão; Cristo pagou-o com os sofrimentos suportados na Sua santa Humanidade. Não era, portanto, de razão que esta graça fosse concedida ao mundo depois de a humanidade que a merecera ter sido glorificada? Esta exaltação da Humanidade de Jesus não se realizou em toda a sua plenitude nem atingiu o seu pleno apogeu senão no dia da Ascensão. Só então é que esta santa Humanidade entrou definitivamente na posse da glória que lhe era devida por duplo título: por ser uma Humanidade unida ao Filho de Deus e por ser Vítima oferecida ao Pai para merecer toda a graça para as almas. Sentada à direita do Pai na glória dos céus, a Humanidade do Verbo Incarnado será assim associada à «missão» do Espírito Santo que será feita pelo Pai e pelo Filho.
Compreendemos agora por que o nosso próprio Senhor dizia aos Apóstolos: «É bom para vós que Eu me vá; porque, se não for, não vos enviarei o Espírito; mas, se Eu voltar para o Pai, enviar-vô-lo-ei». É como se dissesse: mereci-vos esta graça pela minha Paixão; para que vos seja concedida, é mister que à minha Paixão se siga a minha glorificação: quando a glória a que tenho direito me for dada por meu Pai, quando estiver sentado à Sua direita, enviar-vos-ei o Espírito de consolação.
Os Padres da Igreja acrescentam outra razão, relativa aos discípulos. Um dia, dirigia Jesus aos judeus estas palavras: "Se alguém crer em mim, do seu seio manarão torrentes de água viva». O Evangelista S. João, ao referir esta promessa, acrescenta que Jesus «dizia isto do Espírito que deviam receber aqueles que acreditassem n'Ele. O Espírito não tinha ainda sido dado, porque Jesus não fora ainda glorificado». A fé era a fonte, para assim dizer, da vinda do Espírito Santo a nós. Ora, enquanto Jesus Cristo vivia neste mundo, a fé dos discípulos era imperfeita. Não seria total, não poderia desabrochar em toda a sua plenitude, senão depois de a Ascensão ter ocultado aos seus olhos a presença humana do divino Mestre: "Por isso que viste, creste», dizia Jesus a Tomé, depois da Ressurreição; "bem aventurados aqueles que não viram e creram»! « Depois da Ascensão, a fé dos discípulos, mais esclarecida, irá procurar Cristo mais longe, mais alto, sentado junto do Pai, igual ao Pai».
Foi porque a fé dos Apóstolos, depois da Ascensão, se tornou mais pura, mais interior, mais viva, mais eficaz, que "os rios de água viva» se derramaram sobre eles com tal impetuosidade.
Sabemos, efetivamente, com que magnificência Jesus cumpriu a Sua divina promessa; como, dez dias depois da Ascensão, o Espírito Santo, enviado pelo Pai e pelo Filho, desceu sobre os Apóstolos reunidos no Cenáculo; com que abundância de graças este Espírito de verdade e de amor se derramou na alma dos discípulos.
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