2 de junho de 2017

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.

Nossa Senhora Menina

Parte 4/4

A mãe leva a sua filha a passear pelos arredores de Jerusalém, e mostra-lhe o cenário dos feitos que leu na Escritura.
O monte sobre o qual está construído o templo, é o monte Mória. Maria recorda a história de Abraão e de seu filho Isaac.
Pobre pai, quanto devia ter sofrido!
Pela ladeira daquele monte subiu acompanhado de seu filho que levava a lenha para o sacrifício. A vitima seria o jovem.
Deus assim mandara, e o pai, obediente, com o coração desfeito, subia ao cume do monte para sacrificar o seu próprio filho. Que pai tão heroico! Que sofrimento tão grande o seu!
Os olhares estendem-se pelos arredores da cidade. A mãe mostra a sua filha outro monte: aquele é o monte Calvário e ali executam os malfeitores.
Ao ver aquele monte, o coração da Virgem menina confrange-se de terror e palpita com emoção estranha. A sua alma enche-se de misteriosa tristeza. Não sabe porque.
No seu passeio vespertino a mãe e a filha contemplam com agrado as obras de embelezamento do templo que Herodes havia empreendido.
Ao ver como se levantam pouco a pouco as paredes de mármore branco, a mãe faz reflexões a sua filha. Deus quer que as almas sejam templos seus, porque deseja viver nelas.
O templo da alma deve ser branco como a brancura da pureza. Nenhuma mancha de pecado deve manchar essa brancura. Os adornos desse templo devem ser as virtudes.
Ao ouvir as reflexões de sua mãe, a Virgem menina recolhe-se dentro de si mesma; e vê o templo da sua alma branco, muito mais branco que os muros de mármore; vê-o sem mancha alguma de pecado e adornado com todas as virtudes e dons do Espírito Santo, e no meio desse templo enchendo-o todo, vê a Deus que habita nele, e fala com Deus e lhe diz: Eu farei o templo da minha alma cada dia mais formoso, para que vivas nele com gosto.

*  *  *
Nos dias festivos, a mãe leva sua filha às solenidades do templo. Era um espetáculo sangrento que emocionava e entristecia a Virgem Menina.
Rebanhos de bois e ovelhas no meio de balidos e bramidos, caíam sacrificados debaixo do cutelo dos degoladores.
As túnicas brancas dos sacerdotes salpicavam-se de sangue.
Soavam os tambores, os címbalos e as trombetas. Uma onda de sangue impregna o ambiente.
Aspira-se o cheiro acre da carne queimada misturado com o perfume do incenso precioso.
O povo que presencia a hecatombe regozija-se e bate palmas pensando que com aqueles sacrifícios ficam livres de toda a desgraça e cumulados de bênçãos.
A Virgem menina pensa que aqueles sacrifícios são símbolo de outro sacrifício e de outra vítima mais agradável a Deus: aquele cordeiro que, segundo os profetas, iria ao sacrifício sem balir.
Enquanto essa vítima não vinha, ela oferecia a Deus o sacrifício do seu coração; e o sacrifício daquele coração subia, subia até ao trono do Senhor. Em casa de seus pais e à sombra do templo de Jerusalém a Virgem menina crescia em idade, em graça e em sabedoria aos olhos de Deus e dos homens.
Que retrato tão encantador o da Virgem menina!
Guarda-o bem na tua alma, recorda-o com frequência e imita-o   

                                               *  *  *
Quando Jesus Cristo pregava pelos campos da Palestina, um dia pegou num menino pequenino e disse aos seus ouvintes: "Se não vos fizerdes como este menino, não entrareis no reino dos céus".
Hoje esse mesmo Jesus mostra-nos a sua mãe Santíssima, menina pequena, e diz-nos: "Se não vos fizerdes como ela, não entrareis no reino dos céus".
Por duplo motivo devemos imitar a Virgem menina.
Por ser menina e ter a inocência e a pureza que Jesus Cristo quer que os homens aprendam dos meninos.
E por ser a menina mais santa que passou pela terra, e na qual se encontram todas as virtudes que deve praticar um cristão.
No quadro de Murilho que os descrevi, dois anjos voam sobre a Virgem Maria sustendo uma coroa de rosas na mão. É a coroa de glória que a Virgem teceu com os seus atos virtuosos.
Imita a Santíssima Virgem. O anjo da guarda também recolhe as rosas dos teus méritos e com elas vai tecendo a coroa de glória que colocará no céu sobre a tua fronte.

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