3 de junho de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

I

O mistério da Ascensão de Jesus Cristo é-nos representado de um modo consentâneo com a nossa natureza; contemplamos a santa Humanidade que se eleva da terra e sobe visivelmente aos céus.
Jesus reúne pela última vez os discípulos e leva-os a Betânia, até ao cimo do monte das Oliveiras. Reitera-lhes a missão de pregar a todo o mundo, prometendo-lhes estar sempre com eles pela Sua graça e pela ação do Seu Espírito. Depois, tendo-os abençoado, eleva-se pelo Seu próprio poder divino e pelo da Sua alma gloriosa acima das nuvens, e desaparece.
Esta Ascensão natural. por mais real e maravilhosa que se nos apresente, é ao mesmo tempo o símbolo duma Ascensão cujo termo nem os próprios Apóstolos viram. Ascensão mais admirável ainda, posto que para nós incompreensível. Nosso Senhor sobe super omnes caelos, «sobe acima de todos os céus», ultrapassa todos os coros dos Anjos, até se ir assentar à direita de Deus»: Assumptus est in caelum, et sedet a dextris Dei.
Sabeis que esta expressão - «à direita de Deus» - tem um sentido figurado e não deve ser tomado ao
pé da letra; Deus, como espírito que é, nada tem de corpóreo. Mas a Sagrada Escritura e a Igreja empregam-na para indicar a sublimidade das honras e a majestade do triunfo concedidos a Jesus Cristo no santuário da Divindade.
Do mesmo modo, quando dizemos que Jesus «está sentado», queremos significar que entrou para sempre na posse do repouso eterno que mereceu pelos Seus gloriosos combates; este repouso, porém, não exclui o exercício incessante da omnipotência que o Pai Lhe comunica para reger, santificar e julgar todos os homens.
S. Paulo celebrou em termos magníficos, na sua Epístola aos Efésios, esta glorificação divina de Jesus. «Deus, diz ele, mostrou em Jesus Cristo a eficácia da Sua força vitoriosa, quando O ressuscitou dos mortos e O fez sentar à Sua direita nos céus, acima de todo o principado, de toda a potestade, de toda a dominação, de toda a dignidade, de todo o nome que se possa dar, não só no tempo presente, mas ainda no futuro. Pôs todas as coisas sob os Seus pés, e deu-O como chefe soberano a toda a Igreja.
Desde então, Jesus Cristo é e será sempre para todas as almas a única fonte de salvação, de graça, de
vida, de bênção; desde então, diz o Apóstolo, o Seu nome tornou-se tão grande, tão resplandecente, tão glorioso, que «diante d'Ele se dobra todo o joelho, no céu, na terra, nos infernos . . . toda a língua proclama que Jesus vive e reina para sempre na glória de Deus Pai».
Ora vede. Desde aquela hora abençoada, « a multidão enorme dos eleitos da Jerusalém celeste, cuja luz eterna é o Cordeiro imolado, lança-Lhe aos pés as suas coroas, prostra-se diante d'Ele proclamando, em coro potente como o ruído do mar, que Ele é digno de toda a ventura, de toda a glória, porque a sua salvação e beatitude encontram n'Ele seu princípio e fim».
Desde aquela hora, todos os dias e em todo o mundo, na Santa Missa, a Igreja faz subir nos templos os seus louvores, as suas súplicas, até Aquele que é o único que a pode amparar nas suas lutas, porque é a fonte única de toda a força e de toda a virtude: «Vós, que estais sentado à direita do Pai, tende compaixão de nós, porque só Vós sois Santo, só Vós sois Senhor, só Vós sois Altíssimo, Jesus Cristo, com o Espírito Santo, na glória de Deus Pai »: Tu solus Altíssimus, Jesu Christe . . . in
gloria Dei Patris.
 Desde aquela hora, os príncipes das trevas, aos quais Cristo vencedor arrancou a presa para sempre -Captivam duxit captivitatem -, enchem-se de terror só com ouvir o nome de Jesus e sentem-se forçados a fugir e a abater o seu orgulho diante do sinal vitorioso da Sua cruz.
Tal é o esplendor do triunfo em que entrou para sempre a Humanidade de Jesus, no dia da Sua admirável Ascensão.

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